Para uma experiência melhor na sua leitura, leia escutando a música. — Beautiful boy (Darling boy) – John Lennon. (Quando o sinal das letras, aparecerem).

                               
                                   💙💚😴

 
          Na mesma manhã, 05:30.
   

"Os mistérios me encantam". D.M.

Silhuetas feitas contra as sombras de um solstício alaranjado, invadindo as janelas contra nós, vindo em nossa direção.

Tento-me desviar do clarão ao amanhecer, mas mesmo assim, dão um jeito de espelhar-se entre o breve e pequeno vão que fazia, em sua cortina desse hotel.

Os longos panos vermelhos, faziam ondas rápidas contra o vento fresco que também percorria pelos vãos deixados provavelmente pela pessoa que havia ficado aqui, saído nas pressas de sua urgência.

Não se preocupe, era o que afirmava para que ele entregue-se, mostrando que eu consigo ser uma moradia para se confiar.

— Não! Faz muito barulho! — Draco exclamou entre os meus braços, estando desesperado ao escutar o pesado barulho do chuveiro.

— Shhh, tudo bem, eu estou aqui com você. — Afirmei, dando um forte abraço contra o seu delicado e trêmulo corpo.

Debatendo por alguns minutos, cedeu assim que me agachei na sua direção, segurei o seu rosto angelical entre as minhas mãos, o acariciando devagar na região de suas lindas bochechas.

— Hey! — Chamo uma vez porém seus olhos dispersos, não conseguiam me encontrar em meio ao desespero de sua mente. — DRACO OLHA PARA MIM. — Engrossando um pouco a voz, grito.

Segundos depois, ele me encara, com muita dificuldade esperando o que tivesse de vir em seguida.

— Vou te colocar no banho, tudo bem? — Sereno, falo sem parar o carinho cuidadosamente.

— Barulho. — Dizia perceptível sua agitação, sendo então esse o problema.

— Não terá barulho, sabe o porquê? — Pergunto, agora retirando um fio de seu cabelo contra as pestanas de seus cílios.

Draco negou com a cabeça, abraçando os seus joelhos contra o seu peito, estando nós dois sentados no chão.

— Porque pode confiar em mim. — Quando entrar de baixo da pressão d'água, não terá nenhum barulho ruim. — Dando uma pausa, calmo, termino de dizer. — Eu prometo.

Sempre irá existir uma trava em seu peito, impedindo de dizer o que deve ser dito, fazer o que deva ser feito, impedido pelo medo e sempre achar que somos insuficientes, culpados de alguma coisa.

Com medo da rejeição, com medo de ficar sozinho, o medo do barulho mas temer mais ainda o silêncio por não conseguir conviver só com a sua própria companhia.

As palavras se repetem ecoando em sua mente, e repetem, em uma tentativa falha de lhe se acalmar.

O barulho dos pássaros, nos avisando alegremente de que um novo dia começou, as brisas ríspidas contra o vidro da janela, imaginando, o que meus pais fariam se estivessem em meu lugar?

Sinto que, iriam me abraçar e eu sentir o calor de seus corpos, sem precisar estar em auto defesa, apenas apreciando seus carinhos com cuidado aos meus cachos.

— Espere aqui. — Sussurro para o loiro fragilizado e vou até o rádio que havia no quarto em cima da mesa redonda e pequena.

Retirando depressa, coloco-o na tomada e ligo na estação favorita de meu pai.

Ele amava ela, onde, toda tarde, em qualquer lugar, meu pai, não perderia o horário de escutar a sua música.

O melhor é, ele sempre á cantarolava antes de me colocar para dormir. Quentinho em meu cobertor.

A melodia então começou, abafando o eco da pressão do chuveiro.

Segurando-o com muito cuidado, entro com nós dois no box e tiro sua blusa suja de seu corpo trêmulo. Draco recuando, me fez perceber, não era só de cuidado que ele precisava, era de afeto e carinho também.

— Tudo bem. — Prefere assim? — Questiono, sem pressiona-lo e quando o mesmo acena em concordância com a cabeça, sorrio afirmando. — Vou entrar contigo, estando igualzinho à você, e quando sentir medo do barulho, eu vou estar bem aqui.

Visto a camisa novamente, não dando a mínima se estaria me molhando ou não, se eu ficaria com frio, trêmulo por um breve tempo, mas seria o suficiente até o mesmo recuperar a sua própria consciência.

Close your eyes

O som começou-se recuar sobre a pressão de água, deixando cair a cada parte do nosso rosto.

Estando ainda meio imóvel, o garoto assustado foi-se relaxando e deixando a água levar toda dor causada por outro.

Encosto em seus ombros, indo por de trás e peço para que o mesmo deixe às gélidas gotas, tomarem conta de seus pensamentos tempestuosos e o que tiver de aterrorizante, desapareceu dentre o abraço confortante que lhe dei, quando o mesmo começou a ficar meio trêmulo por conta da temperatura e tentar escapar do meu toque.

Have no fear

Entretanto, percebi que não fora só por essa razão que o loiro recuou, foi pela falta de afeto que seu corpo magro não acostumado, sentiu. Mesmo assim, continuei a lutar e não solta-lo do abraço, fazendo-o sentir o verão em meus braços, transmitir para o seu corpo vulnerável, que não iria a lugar algum, a não ser, ficar ao seu lado. 

The monster's gone

Cantarolei baixinho contra a sua orelha direita, o refrão da música que invadia para nos acalmar, começando a fazer um cafuné em seus cabelos loiros, onde quase brancos como um algodão em cetim, e fiz o que meu pai faria se encontrasse um garoto tão perdido quanto ele e seus amigos foram.

Sendo a minha vez de chorar em um completo silêncio enquanto tentava ser forte e terminar o nosso banho, repleto de dor e duas crianças procurando uma aprovação, um lar, que adultos ou se negaram à dar, fazendo-os se perguntar todos os dias, sou tão terrível assim para não ser amado? Ou, o mundo tirar toda a chance de serem feliz, a infelicidade tirar a chance de uma criança ser inocente e amada.

He's on the run and your Harry's here

Afirmando para ele, troco a letra da música para o meu nome, afirmando para o Draco, meu futuro Draco, que eu estou com ele.

Não sei quando o sentimento tornou-se importante, mas os ruídos falho do rádio, o chuveiro de pressão barato, e o frio entre nós, tornou-se quente com um silêncio confortável quando ele relaxou a sua nuca contra o meu peito.

Beautiful, beautiful, beautiful

E como devo escrever sobre algo, que eu mesmo não deixo me permitir sentir?

Por um instante, quase não consegui vencer os meus constantes demoníacos, que chamo de pensamentos.

Beautiful boy

Desligando o chuveiro, depois de ficarmos juntos com ele descansando em meu peito, de costas para mim. O pego delicadamente pelas suas mãos finas e o levanto comigo, não deixando de olhar em seus olhos tristes que agora só estava procurando um conforto em mim, uma confiança.

Beautiful, beautiful, beautiful

Cantando por cima da música, reafirmo o quão lindo ele é, enquanto pego a toalha e enxugo seu cabelo.

Bagunçando, faço uma gracinha enquanto sorrio de soslaio, escuto uma risada curta e sincera sair dele, de repente, a melodia da música que meu pai cantava pareceu entrar em conflito com o seu riso, mas um conflito bom, porque não era só a melodia que estava me trazendo paz, era estar ali com ele, também.

Beautiful boy

Dou privacidade para ele colocar uma roupa seca e aproveito o quarto vazio para colocar uma calça de moletom e uma camiseta meio larga.

Mas a porta trancada não foi impedimento de escutar o refrão recuar contra os meus ouvidos.

Aguardando ele voltar.

Before you go to sleep

Meus batimentos se aceleram por dentro, quando eu o vejo vestindo o meu moletom e uma calça larga, com os olhinhos caídos de sono e um biquinho não proposital para mostrar que estava exausto.

Say a little prayer

Draco não desligou a música, significando que ele gostou, significando que a mesma melodia que me acalmou nos meus piores dias, também estava funcionando para ele.

E isso fez o meu coração se aquecer.

Every day in every way, it's getting

Indo em sua direção, seguro em seus pulsos e o levo até a cama, comigo deitando primeiro e o loirinho em seguida, acompanhando os meus movimentos.

better and better

Acomodados, puxo seu corpo contra o meu, sentindo um aroma hipnotizante vindo do seu pescoço, onde meus pensamentos pareceram sumir e o meu corpo se deixar fluir.

Na aquele momento, eu me senti completo.

— Evans. — Draco me chama, ainda se ajeitando ao meu lado, — pode cantar para mim? Sua voz consegue me manter calmo.

Após escutar o loiro confessar com essas palavras, eu não sabia como reagir, onde a ventania contra o vidro, a cama encostada na parede e ambos sem um lar, fez a minha espinha se arrepiar, ignorando o lugar, ignorando a melodia, me concentrando somente nele.

Era o que eu pedia ao meu pai, quando estava com medo, precisando de alguém.

Sua voz me acalmava, me dava tranquilidade, uma casa que eu não tenho, e escutar o Draco me pedir isso, significava mais do que uma pintura valiosa em uma exposição.

Porque ele era a pintura, resolvendo se expor à mim.

Eu não precisava demais nada, naquele exato momento, algo em relação a ele, ficou mais intenso e eu só sabia sorrir, segurando o seu corpo contra o meu.

E antes de começar a cantar em voz baixa, só para que ele escute, deixo um beijo casto em sua testa.

Beautiful, beautiful, beautiful

Minha voz sai em forma de sussurro, começando então mais cafunés no seu cabelo úmido.

Beautiful boy

Sussurro novamente, realizando o que eu tinha vontade de fazer na aquele momento,  selar meus lábios contra os fios de seu cabelo.

Beautiful, beautiful, beautiful

Meus lábios agora passeiam para perto da sua nuca, deixando outro selar casto, lá.

Beautiful boy

Vou para a sua bochecha, e acaricio com o meu dedo indicador toda aquela parte de seu rosto, não deixando de dar um beijo demorado e delicado no canto de seus finos lábios.

Percebendo Draco fechar seus olhos, observo a pele nua de seu pescoço se arrepiar.

E eu não parei de cantar nem por um segundo.

Out on the ocean sailing away

Corando com a sua atitude, quase fico sem voz por não saber como reagir ao que ele fez em seguida.

I can hardly wait

Draco se deita contra o meu peito pela primeira vez, e ergue seu rosto na minha direção, demonstrando em seu olhar brilhante dentre o azul gelado, uma certa admiração e outro sentimento do qual não sabia explicar.

To see you come of age

Ele imita os meus movimentos anteriores, ficando cada vez mais próximo do meu rosto, beija de forma demorada no canto dos meus lábios, conseguindo sentir o quão macio é.

But I guess we'll both just have to be patient

Logo após, ele desloca do canto dos meus lábios, indo para a ponta do meu nariz, dando um beijo fofo e desengonçado.

Fazendo-me rir enquanto eu o permitia fazer o que quiser comigo.

'Cause it's a long way to go

Continuo com os cafunés, que antes eu havia dado uma pausa e me permito cuidar e ser cuidado por ele.

A hard row to hoe

Os seus braços se apertam em minha cintura mais forte ainda, percebendo que queria ter a certeza de que eu não iria a lugar algum.

Yes, it's a long way to go

E eu não vou.

Ainda mais tendo que fazer um cafuné em seu cabelo macio e esquentar a sua pele gelada contra a minha.

But in the meantime

Before you cross the street

Deslocando o seu rosto do meu pescoço, o loirinho apenas direciona o seu olhar contra o alaranjado que nós indicava o entardecer.

E o iluminado indescritível, se tardia contra as suas íris acinzentadas, fazendo o oceano ter inveja de seu olhar lindo e admirável.

Take my hand

Ainda estando a cantarolar baixo, sinto os seus dedos finos se deslocarem de minha cintura e pegar em minha mão delicadamente, sendo assim, o mesmo as entrelaça, e apertando por um breve momento, onde eu imito o movimento, porquê quem queria ter a certeza de que o que estava acontecendo, não era um sonho, sou eu.

O meu estômago parece ter uma tempestade de borboletas e o meu coração acelerado, parecia querer contar a reação que ele causou em mim.

Life is what happens to you while you're

busy making other plans

E Draco percebeu, onde, ele levou as nossas mãos entrelaçadas até o meu peito nu, não só com a minha mão o acompanhando, mas o seu olhar também.

Que me encarava profundamente enquanto sorria.

Beautiful, beautiful, beautiful

Voltando a me concentrar na canção, sorrio de volta anestesiado pelo seu lindo sorriso, e continuo a cantar, só que dessa vez, nos olhando profundamente, parecendo-nos estar em um universo ao nosso dispor.

Onde o tempo parou, e eu só me concentro em cantar para ele e Draco se concentra e sorrir de forma fofa para mim.

Beautiful boy

O sol se pondo, não parecia nada mais do que um realce para nós enxergamos melhor, e perceber que não era só eu que demonstrava a paz que estava em nossa cama, mas também a confiança e a paixão da presença sendo demonstrada pelo olhar.

Beautiful, beautiful, beautiful

Canto novamente, fazendo um cafuné com a outra mão, a mesma do braço em que ele estava deitado em cima.

Beautiful boy
Before you go to sleep

Não desvinculando as nossas mãos, em nem os nossos corpos.

Say a little prayer

Eu não sou um ser de crer, mas na aquele momento, o meu peito e cérebro, involuntariamente buscava uma prece de jamais acabar o que estava tendo nesse quarto.

O quarto de um motel barato.

Every day in every way, it's getting better and better

Seus olhinhos, caem aos poucos se deixando domar finalmente pelo sono e cansaço que as drogas e a festa o havia causado.

Beautiful, beautiful, beautiful

Não paro o meu carinho, nem por agora que sinto a sua mão contra a minha, pesar e o seu rosto se ajeitar novamente na curvatura do meu pescoço.

Sentindo então, a sua respiração ficar pesada conforme a música chegava ao fim.

Beautiful boy
Darling, darling, darling

Sussurro em seu ouvido, mesmo sabendo que ele não escutou, por ter caído no sono, mas não deixo de sussurrar, mesmo com a letra no final mudada, era para significar que naquele momento, nesse momento, ele passou a ter um significado para mim.

— Darling Dray...

Eu não sei o que é, mas o meu peito pareceu transbordar em anseio para descobrir.

Tendo o rádio e seus ruidos, como uma única fonte de barulho naquele quarto, porque, me ajeito também e durmo depois, caindo em um sono pesado ao lado de Draco.

Horas depois, perdendo a noção do tempo, acordo primeiro não me movendo para não sair daquela posição gostosa com ele, quando eu sinto o mesmo se mexer, sendo um sinal de que o loiro já havia acordado também.

— Harry. — Draco chamou, quase em um sussurro. — Quero que seja totalmente sincero.

Dessa vez ele disse o meu primeiro nome, atingindo mais um nível de intimidade entre nós.

Ele mal me deixou concordar, quando perguntou algo do qual, me fez ficar em silêncio refletindo, por alguns longos segundos. — Qual o seu maior medo?

Penso, mesmo sabendo a resposta e concedo a mais sincera verdade, mesmo meu consciente inseguro me ordenando á mentir. — Não cumprir a minha missão, da qual venho lutando a tanto tempo.

Ajeitando o meu braço estendido que estava servindo como um lugar de descanso para a sua cabeça, começo um cafuné novamente em seus fios macios e aproveitando a oportunidade para sentir o perfume do seu cabelo, era a minha parte favorita, de todo o seu corpo, depois do seu centaurea oceânico olhos azuis.

Devolvo-lhe a mesma questão, sendo sincero da minha parte em querer saber algo tão íntimo e delicado, onde ficaria dentro desse quarto de paredes meio surradas e barata, e irá morrer aqui.

— E qual é o seu? — Sussurro entre a sua orelha, puxando então seu corpo contra o meu enquanto ô abraçava por de trás, para sentir mais o seu toque de sua pele macia e fria.

— Ser esquecido e jamais amado verdadeiramente. — Continuou à contar, com sua voz serena, como se estivesse tirando um peso de seu peito. — Sabe, enquanto a minha mente luta a qualquer custo que está tudo bem ficar sozinho, tudo bem não ser amado e tudo bem ser só você, me volta a consciência dura de que, não está. Não deveríamos normalizar a solidão, porque ela machuca, me machuca todos os dias. Sei que vou ficar velho e cheio de rugas, e isso me aterroriza também, não só pela vaidade, mas por estar vivo a tanto tempo e não ter tido ninguém que olharia para mim e me enxergasse além da beleza, me amasse de verdade. E isso, é o meu maior medo Harry, não ser amado como devo ser e acabar aceitando qualquer amor, mesmo o mais dolorido, — pelo meu medo de acabar sozinho, na pior solidão, sem ninguém ao meu lado.

Fico abismado, o quão diferente e profundo o Draco é.

Tornando-se quase um labirinto que aclama para não se perderem nele e sim ser descoberto.

Chegando a conclusão que, há um abismo entre o sensacionalismo e a calmaria. Ambos romantizado pela sociedade mas nenhum sendo vivenciado verdadeiramente.

Esse foi o meu sinal, viver como deve ser, e permitir-se a sensação estranha da adrenalina e o conforto de uma noite pós entardecer agitado. Me deixar ser quem eu escondo tanto tempo, como uma auto-defesa.

Esse foi o meu sinal, de me permitir apoiar a minha cabeça contra a sua nuca e dar uma cafungada para adormecer ali.

Então, depois de esperar em ambos em silêncio, o sono aparecer, adormecemos novamente assim, comigo só desvinculando meu braço já dormente de baixo do seu pescoço e o virando para ficar contra a mim, sendo a concha menor, com os meus braços abraçando a sua cintura; na cama média que mal cabia nós dois e não achar um problema em relação a isso, são só detalhes que resolvemos ignorar apenas para estarmos agarrados, comigo sendo a concha maior e o loirinho virar, aconchegar-se em meu peito, sentindo então seu peito subir e descer calmamente após falar algo tão profundo e tão verdadeiro.

Sendo esse, mais uma memória intensa e sensacionalista guardada, que escrevo em meu diário.

E eu estou feliz, feliz e quentinho em um hotel, com o meu darling boy.