only.
Às vezes, você não se apaixona pela pessoa errada. Você se apaixona no momento errado.
Quem já levou um fora, provavelmente já escutou aquela famosa frase "Não é você, sou eu". E, meus caros, ninguém realmente acredita. É bem verdade que em 99% dos casos, a pessoa que disse isso estava querendo dar uma desculpa esfarrapada. Mas tem aquela minoria que realmente se sente dessa forma.
E era nesse grupo que eu me encaixava.
Eu, todo errado, com dez mil constelações de pensamentos bagunçados e pilhas de poemas fracassados espalhados pelo meu quarto, me apaixonei. Era de se esperar que algo assim acontecesse, afinal, que poeta não tem sua fonte de inspiração?
Mas como disse, foi no momento errado. Em plena crise existencial que todo ser humano sofre um dia, ele trouxe à tona um sentimento que eu lutava para esconder naquele momento.
Ah céus, eu era um tolo. E só tolos se apaixonam, ainda mais se estivessem no meu estado.
Eu submergia nas águas profundas da minha solidão e ao mesmo tempo queimava tudo o que já tinha escrito antes. Em algum momento, eu perdi meu foco, minha vontade de viver, porque simplesmente nada dava certo, eu já estava cansado demais para continuar. Então tive de optar pelo caminho mais fácil, e covarde.
Aquela foi minha primeira – e única – tentativa de suicídio. E naquele mesmo dia, eu soube que estava apaixonado por ele.
Jeon Jungkook era o melhor amigo do meu irmão mais novo. Ele frequentava minha casa com mais frequência que nossa própria mãe e era amigo de JiHyun desde muito tempo. Ele se referia a mim como "irmão mais velho babaca". E confesso que me servia muito bem a carapuça.
Jungkook era alegre, meio desmiolado e cuidava de qualquer pessoa que estivesse em sua volta. Seu jeito diferente e protetor me irritava no começo. Eu sabia que JiHyun ainda tinha alguma esperança mas o resto da minha família já estava destruída, e ele queria consertar o que já estava quebrado a muito tempo.
Eu nunca tinha pensado que um garoto de 17 anos fosse mexer comigo daquela forma e quando percebi que o que sentia por ele ia muito mais além do que simples irritação,comecei a agir como se não ligasse para porra nenhuma e muito menos para Jungkook.
Porque só tolos se apaixonam por ele.
No dia do meu quase suicídio, tentei me afogar na banheira. Engoli uma dúzia de comprimidos para dormir e mais alguns outros e submergi calmamente.
E Jungkook me trouxe à superfície, literalmente.
Passado.
"De repente, eu senti meus pulmões se encherem de ar e fui obrigado a abrir os olhos, deparando-me com um Jungkook bastante preocupado.
— Eu não vou deixar você se matar Park Jimin. Saia dessa banheira.
Talvez pelo fato de que eu estivesse atordoado demais para protestar, fiz o que ele pediu.
Em alguns poucos segundos, ele me cobriu com uma toalha e se sentou no chão ao meu lado.
O silêncio de instalou entre nós. Eu não queria me explicar e ele provavelmente só tinha me "salvado" por causa de JiHyun.
— Você deve ter seus motivos para fazer isso mas... — ele disse, suspirando — Você ia acabar tanto com a sua vida quanto à da sua família inteira, Jimin.
Eu ri amargamente.
— E o que você sabe sobre minha família, Jungkook? Só porque é amigo do meu irmão mais novo, acha que tem o direito de se meter em assuntos que não lhe pertencem? — quase cuspi aquelas palavras.
Ele pareceu não se incomodar.
— O Hyun me conta as coisas e eu frequento sua casa tempo suficiente para saber o que acontece aqui. Eu sei que sua mãe trabalha com coisas ilegais, e que você mal consegue sustentar Hyun e pagar a faculdade, e que seu pai...
— CHEGA! — eu gritei. As malditas lágrimas salgadas desataram a descer incontrolavelmente e eu escondi o rosto entre as mãos.
— Me desculpe... — senti sua respiração quente perto de mim. Ele calmamente pegou minhas mãos e fez com que eu olhasse diretamente para ele.
Quando foi que ele ficou tão bonito?
— Eu sei que você não gosta de mim, mas... Jimin, você não pode desistir. E eu não estou falando isso pelo Hyun ou por sua família, mas por você mesmo — uma lágrima escorreu de seu rosto — Você pode não acreditar em mim agora, mas você tem criatividade, é um poeta... Tem o mundo pela frente. Esse ser depressivo não é você. Eu tenho certeza disso. E eu só queria que você soubesse que... Eu acredito em você.
Ele era bom demais para mim.
E mais lágrimas começaram a descer, tanto as minhas, como as dele.
Eu não sabia como reagir àquilo. Poderia simplesmente dizer que o que ele disse não passava de mentiras bonitas, mas no fundo eu sabia que tinha as dito com veemência. E odiava o fato de ele achar que eu não gostava dele, quando na verdade era o contrário.
Já estava fora de mim quando tentei me matar, e estava fora de mim quando fiz aquilo.
Coloquei minha mão em sua bochecha e ele não fez nada além de me olhar surpreso. Pareceram horas até que nossos lábios estivessem colados. Seus lábios tinham um estranho gosto de chocolate e eram suaves. Eu hesitei antes de aprofundar o beijo. Mas quando o fiz, algo cresceu dentro de mim. Assim que Jungkook percebeu, veio mais para perto, eliminando o espaço entre nós.
O que mais me surpreendeu naquele momento não foi o fato de ele ter correspondido, mas sim o fato de eu ter continuado.
Foi então que eu percebi.
Era como se eu tivesse escrito um poema sobre o céu. Simples, limpo, sem muitas metonímias ou hipérboles.
E naquele caso, Jungkook era meu céu. Tudo parecia turvo e confuso, mas uma certeza eu tinha: eu estava completamente apaixonado por ele.
Descolei nossas bocas após alguns segundos, e ele se desvencilhou de mim lentamente, como se quisesse que aquilo não acabasse.
— Obrigado. — sussurrei. Eu não sabia pelo que exatamente eu estava agradecendo. Jungkook não fez com meus problemas sumissem ou que eu ficasse menos perturbado da cabeça, mas sua tentativa de mostrar que eu poderia mudar tudo isso... Era até admirável.
Ele riu baixinho.
— Pelo quê? Dizer a verdade?
Mentiras bonitas. Jungkook dissera mentiras bonitas que eram verdade para ele. Mas eu já não ligava mais para isso.
Porém, uma coisa eu tinha de consertar.
— Jungkook-ah... Você está enganado em uma coisa.
— O quê?
— Quando você disse que eu não gostava de você...
— E?
— O que eu sinto é exatamente o contrário."
Aquilo não foi exatamente uma declaração. Eu agia como se não ligasse por tinha medo. Medo do que meus sentimentos podiam nos levar e eu não queria afundar Jungkook comigo.
Porque só tolos se apaixonam por ele.
Depois daquele dia, algo mudou entre nós. Eu não quero dizer que estávamos namorando, mas nossa relação mudou da água para o vinho.
Quando eu estava com Jeon Jungkook, eu era o antigo Park Jimin, um adolescente normal e que a única preocupação era passar na faculdade. Eu não sabia se ele ainda existia, mas Jungkook, mais uma vez, me trouxe à superfície. Naquele tempo, eu pendurei minhas esperanças no alto da torre e não ia desistir. Por ele. E tudo o que eu fiz naquele tempo de um ano, foi por ele.
Tentei ajeitar minha vida. Mas não foi da noite para o dia que as coisas começaram a dar certo, e Jungkook, com aquela mania de querer consertar as coisas, ficou ao meu lado o tempo todo.
Às vezes eu me sentia envergonhado. Park Jimin tinha 21 anos e não conseguia cuidar da própria vida, tanto que arranjou um garoto de 17 anos para fazer isso.
E Park Jimin não sabia nem o que esse garoto sentia por ele.
Eu fingia não ligar para isso, afinal, ele estava comigo e era tudo o que importava. Mas Jungkook nunca dissera aquelas três palavras.
Lembra de quando eu disse que você se apaixona no momento errado? Então... Foi exatamente o que aconteceu comigo a seguir.
Ele tinha um futuro pela frente,e eu não era tão egoísta ao ponto de negar isso. Jungkook não podia ficar em Busan para sempre. Ele precisava sair dali. Em tantas noites, ele me confessava que tinha vontade de agarrar a Terra com as mãos, só para ter a chance de saber como cada pedacinho é.
E o inevitável aconteceu.
Jungkook foi embora.
E devido a milhões de acontecimentos naquele dia, não consegui nem dizer adeus.
Eu achava que tudo ia desmoronar novamente, mas por algum motivo, eu me mantive na superfície.
Agora fazem 6 anos que eu não o vejo. Mudei-me para Seoul e trouxe Hyun comigo, que aceitou de bom grado. Nenhum de nós dois aguentava mais ficar naquele lugar. Terminei a faculdade e consegui um emprego em u a renomada agência de publicidade. Eu ganhava o suficiente para manter a mim e Hyun - que tinha acabado de terminar sua faculdade.
Quem me vê agora, não acredita que tentei me afogar na banheira 7 anos atrás, inclusive meu namorado, Yoongi.
Min Yoongi apareceu de forma sinuosa e rapidamente se tornou alguém importante. Yoongi não fez o que ele fez, simplesmente pelo fato de eu não ser mais aquele Jimin. Eu o amava, talvez não do jeito que amasse ele, mas amava.
Presente.
Chego a empresa no horário normal. A secretária me avisa que o representante da empresa de eletrônicos está me esperando na minha sala.
— Qual o nome dele?
— Jeon Jungkook.
Eu paro de respirar por alguns segundos.
Quantos Jeon Jungkook existem na Coréia do Sul? Não é possível. Não pode ser ele.
Em passos de tartaruga, vou até minha sala. Minha respiração está descompassada e eu rezo para que não seja ele.
Assim que abro a porta, vejo uma figura masculina virada de costas.
— Sr. Park! É um prazer conhecê-lo. — ele fica estático assim que olha para mim.
Eu fico do mesmo jeito.
— De todos os Park Jimin de Seoul... Foi logo você. — ele diz, ainda em choque — Olha onde você está agora, Jimin. Lembra do que eu lhe disse? Eu acredito em você.
Apenas o encaro. A puberdade fez um trabalho impressionante com ele. Sua voz estava mais grossa e ele ainda tinha ficado ainda mais alto do que eu.
Depois de tanto tempo, eu só queria saber de uma coisa.
— Você diz que acredita em mim, mas... Você me amou? Pelo menos do jeito que eu te amei?
Eu não vou deixar Yoongi nem nada por ele. Apenas... Queria saber.
— E-eu não sei Jimin e talvez nunca irei saber — ele aponta para o dedo — Vou me casar com minha noiva em um mês.
Não foi essa notícia que me deixou abalado.
Mas sim o fato de que eu nunca irei saber se eu não passei de mais uma das coisas quebradas que ele precisava consertar.
Porque só tolos se apaixonam por ele.
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