1. Infratores

Wendy estreitou sua vista por cima da construção na qual estava escondida. Seus olhos passeavam pelas ruelas da grande capital do reino dos ventos calmosos, procurava pelos infratores os quais haviam a pouco tempo roubado algumas cargas de melancias frescas da tenda de dona Lucinda.

Pela rua, pessoas caminhavam tranquilamente, algumas mulheres acompanhadas de seus filhos e com grandes bolsas cheias de compras nas mãos. Algumas velhinhas trocavam as suas ocasionais fofocas sobre a vida alheia, porém ainda nem sinal deles.

Droga.

Levantou-se sobre o telhado da mercearia na qual se encontrava e correu para pular sobre os outros telhados. Quando chegava a borda dos telhados concentrava o poder dos ventos sobre seu corpo então saltava, um pulo alto, seu impacto da queda era amortecido pela pressão de ar que lançava sobre as telhas.

Continuou percorrendo os telhados, o calor do sol da manhã ainda era fresco. Suas madeixas verdes eram sopradas pelos ventos calmos comuns do reino que levara o mesmo nome. Sua capa verde era soprada conforme saltava.

Parou entre o cruzamento entre uma construção e outra. Abaixo, pode avistar duas figuras sombrias descarregando de sacos grandes esferas esverdeadas. Eram eles.

Retirou sua espada florete que estava presa nas suas cintas. A arma que escolhera para o processo de polimerização fora uma espada fina, leve e de fácil manuseio, porém mortal se usada corretamente. A chamava de ferroada.

Pulou da borda e repousou no chão, seus ventos lançando rajadas pelo corredor apertado e curto.

— Parados ai mesmo, em nome do poder a mim concedido pela soberana Gyvern, eu, Wendy, a portadora dos ventos, solicito a apreensão de vocês — proclamou olhando para os dois enquanto portava a ferroada os intimidando. — Se não se entragarem por vontade própria terei que usar da força.

Os homens resmungaram baixo, então sorriram maliciosamente.

— Você sozinha vai nos prender? — disse um deles em tom de deboche. — Não sei se percebeu, mas somos dois contra você sozinha.

Wendy esboçou um sorriso sem mostrar os dentes. Não sabia qual a razão de sempre terem de dizer aquele discurso antes de enfrentar os infratores sendo que, em 100% dos casos, eles sempre preferiam o combate. E ela também.

Os dois jogaram os sacos no chão então partiram para cima dela portando facas que haviam retirado dos bolsos. Wendy manuseou a ferroada de modo com o qual a espada fizesse uma espiral e um corte vertical, desenhando no ar o símbolo do golpe apelidado de Tremendous Winds.

Ondas surgiram do corpo de Wendy então rajadas violentas de ventos foram sopradas, enviando aqueles que corriam em sua direção pelos ares. Os dois trombaram contra as paredes, atordoados. Adorava aquilo.

— Terei que repetir novamente, se entreguem logo e evitem combates desnecessários — disse ainda sem largar a fina espada.

Os dois levantaram e se preparam para outra investida. Dessa vez tomaram direções diferentes. Wendy suspirou.

Então fez outro desenho com a espada, repetindo o mesmo golpe que fez anteriormente. No entanto, os dois agacharam no chão buscando não serem levados pela ventania.

Wendy se surpreendeu. Eles haviam achado a forma de evitar o golpe mais rapidamente que os outros, certamente não deveria os subestimar. Sabiam que enquanto utilizasse aquele golpe não poderia se mover. Interrompeu o ataque, não poderia desperdiçar toda sua energia a toa. Os dois se levantaram e voltaram a partir para cima dela.

Voltou a colocar a espada sobre sua cinta então se preparara para o conflito. A espada mais atrapalhava do que ajudava quando se tratava de um combate mano a mano.

Um deles pulava para cima dela segurando firmemente a faca. Wendy se jogou no chão então rolou desviando do golpe a tempo de dar um chute na barriga do homem. Ele ginchou de dor então caiu, arfando. Não esperou ele se recuperar então deu uma cambalhota, desferindo um golpe com o pé em cheio na garganta do infrator, o fazendo desmaiar.

Mal teve tempo de comemorar o feito e sentiu uma faca raspar pela sua orelha, esta a teria atingo se não tivesse desviado a tempo, cortando um punhado de seu cabelo verde. Graças ao fato de ser uma portadora dos ventos, poderia fazer uma leitura analítica da situação em que se encontrava, a ponto de sentir até o menor dos movimentos ao seu redor. Pegou o braço do homem e então o pressionou sobre seus ombros, logo em seguida fazendo uma movimento contrário buscando quebrar o braço.

Ouviu um estalo, o guincho de dor homem confirmava o feito. Ele se jogou no chão e começou a espernear de dor. Wendy se apressou para alcançar seu pescoço. Com seus dedos escolheu a veia certa então aplicou o golpe para o apagar, ele desmaiou.

Os dois estavam estendidos no cão. Enxugou uma gota de suor que descia pela sua testa. Sua capa estava coberta de sangue.

Ótimo, pensou. Já estava prevendo o sermão que levaria do sábio.

Pegou o apito em seu bolso e o soprou. Em seguida esperou alguém da guarda chegar.

— Você não tem jeito mesmo! — disse Robin olhando toda a situação. A olhava com um olhar repreensível.

— O que, eu só fiz meu trabalho — respondeu revirando os olhos. — Não tenho culpa se eles sempre optam pela última opção, eu juro que tento.

Robin era seu melhor amigo e membro da guarda da cidade e aquela não fora a primeira vez que ele havia a intimidou em relação aos seus métodos de apreensão. Pelos seus cálculos, aquela deveria ser a quinta vez no mês que travava um combate com assaltantes.

Robin deu de ombros

— Sei... — a ironia transparecia em sua voz. — Quero ver o que o sábio vai dizer quando saber.

— Ninguém precisa dizer a ele.

— Como se alguém precisasse dizer.

Olharam para os dois homens que haviam acordado a agora a fitavam com cara de poucos amigos.

— Você vai ver seu cafetina, um dia irei me vingar de você — ameaçou um deles.

Wendy tampou a boca com as mãos para não rir. Aquele era um trabalho sério e não poderia se dar o luxo de passar uma imagem de anti-profissional, sua reputação já não colaborava com aquilo e muito menos sua aparência. Se um dia pretendesse deixar a imagem de menina piolhenta para trás não podia ter aquelas atitudes.

— Entra na fila — respondeu em um tom sério o qual sempre usava para responder ameaças.

Os outros membros da guarda terminaram de algemar os dois e o levaram no veículo da patrulha.

— Mandem cartas — disse acenando para eles antes de entrarem na parte de trás do veículo. Os dois a olharam com um olhar mortal.

O veículo foi embora. Restaram ele e Robin de membros da guarda parados naquela viela deserta.

— Você não toma jeito — disse Robin rindo. — Por favor, nunca mude.

— Você também cara de peixe. — Bagunçou os cabelos verdes dele.

Os dois sairam daquele lugar e caminharam pelas ruas da capital. Levavam os sacos com as melancias da dona Lucinda que recuperam dos bandidos.

Apesar de ser uma ano mais novo que ela (Robin tinha 17 e Wendy 18), quem via os dois podia muito bem pensar que o mais maduro era ele, porém estariam muito enganados. Apesar de Robin pegar em meu pé constantemente sobre suas atitudes, ele não ficava muito atrás com suas histórias lunáticas e dizeres sobre seu sonho de um dia viajar por toda ilhas flutuantes de Iggledore. Em seus devaneios vivia dizendo que era um animal selvagem e a cidade não era lugar para ele, Wendy apenas ria.

— Ouviu noticias sobre o sábio? — disse ele quebrando os silêncio entre os dois.

— Não desde que ele havia viajado para discutir "assuntos importantes" — respondeu.

— Hum, interessante — disse ele. Parecia que estava tentando a dizer alguma coisa.

— Desembucha — indagou após parar no meio da multidão falante.

— Nada é só que... eu ouvi histórias por ai.

—Que histórias exatamente? — Arqueou as sobrancelhas.

— É sobre a profecia.

— Espera, é aquela profecia. Tipo, profecia mesmo. A profecia?

— Sim, aquela profecia.

Suas linhas faciais eram de pura curiosidade.

— Que histórias são essas, agora estou curiosa.

Ele pareceu exitar.

— Vamos entregar logo isso então eu te conto — respondeu ele levantando os sacos a mostrando e lembrando do seu trabalho.

—Tudo bem... — Então apressou o passo. Agora não dormiria sem saber que história era aquele que o fara estremecer.

Passaram alguns quarteirões então chegaram à frente da  tenda de dona Lucinda na grande feira. Era uma mulher de idade avançada e cabelos grisalhos. Seus olhos azuis desgastados denunciavam que já vira de tudo na vida. Vestia um avental e um vestido quadriculado de modelo antigo. Ela soltou um sorriso amarelo ao os vê-los.

— Bom dia dona Lucinda — disse Wendy a cumprimentando. — Olha só o que eu trouxe de presente.

Então colocou os sacos sobre a mesa da barraca da mulher.

— Ora, mas esses jovenzinhos nunca aprendem a não roubar o que é dos outros — disse ela caduca.

Dona Lucinda já era um velha conhecida de Wendy. Sempre comprava bananas durante sua patrulha em sua banca, mesmo que elas passasem de longe de possuírem o melhor sabor. Sempre a contava histórias interessantes, como a vez que falou sobre a baleia voadora que uma vez habitara o grande vazio, antes de ascender aos reinos dos céus. No entanto sua natureza bondosa sempre a fazia um alvo fácil de bandidos que se apoiavam em sua ingenuidade para surrupiar suas frutas e verduras.

— Robin meu filho, como está? Vejo que anda muito magro ultimamente — disse ela olhando para Robin que corou. — Como está sua mãe?

— Como sempre — respondeu Robin.

— Precisa comer mais verduras para ficar forte, sinto que está muito franzino... — dizia ela o olhando de ponta a cabeça. — Como você pretende ser o futuro noivo de Wendy se não cuida do seu próprio corpo? Olha que pretendentes é o que não faltam, fica de olho ou vai acabar perdendo a vez.

Robin corou ainda mais, agora sua face estava parecendo mais um tomate.

— Bom nós já estamos indo foi muito bom botar as conversas em dias — disse Wendy agarrando e puxando o braço de Robin, o arrastando para longe dali.

— Esses jovens de hoje em dia não dedicam nem parte de seus tempos para conversar com os mais experientes. De qualquer jeito mande noticias para sua mãe — disse Lucinda quando já estavam de costas e se afastando de sua tenda.

Lucinda sabia como ser inconveniente às vezes, principalmente quando encascava em sua cabeça que Wendy precisava arranjar um marido. Se afastaram da feira.

Sairam da feira então foram para baixo da ponte do parque da cidade, local que sempre escolhiam para ir quando precisavam de um momento de paz. 

Pelas paredes do local haviam várias pichações. Algumas citando poemas, outras desenhos e corações com os nomes de duas pessoas.

Sentaram ao chão, levantando suas capas de modo com o qual não a sujassem.

— Agora conta tudo — disse Wendy, agora mal se aguentando de curiosidade.

Robin suspirou.

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