Capítulo 9


Essa possivelmente foi uma das minhas piores noites.

Não fechei os olhos por um instante. Pensativa. Confusa. Uma confusão sem fim.

Garret não parou de ligar para mim e para Carry, foi preciso desligar os celulares e avisar para a recepção do hotel que caso alguém ligasse nos procurando, me procurando, avisasse que fomos embora há algum tempo.

Eu sei que é errado e totalmente falta de profissionalismo. Eu deveria estar a caminho de Nova York, nesse momento eu já deveria estar lá, tomando meu café, aquecendo minha voz, preparando o figurino e pensando na noite belíssima e entusiasmada que teria.

- Sabe - Carry disse acordando, assim que amanheceu, deitada ao meu lado da cama. Como estávamos só eu e ela e obviamente não viemos para dormir o quarto só tinha uma cama, acabamos dormindo basicamente juntas - Eu já fui assistente de tantos artistas, Garret me contratou pelo meu profissionalismo e agilidade mas... Você é a primeira pessoa que trabalho que me faz ser tão... bagunçada assim.

- Vou levar isso como um elogio - Observo o teto de madeira, vendo a luz do lado de fora invadir as janelas

- Pretende ficar quanto tempo? - ela perguntou, sonolenta

- Não me pergunte algo que nem eu sei.

Ela suspirou

- Não acha que precisa me contar o que está acontecendo? Ou sei lá, o que aconteceu?

Levantei da cama, bocejando e possivelmente, descabelada.

- Talvez um dia.

Ela inspira. Não sei como ela me aguenta, honestamente.

- Sabe aquele aumento que você me prometeu?

- hum?

- Eu vou querer quando isso tudo acabar. Frustração não faz parte do meu contrato de trabalho.

Eu acabo concordando.

Carry levanta da cama, igualmente descabelada totalmente diferente da maneira certinha e arrumada que sempre a vejo. Ela pegou seu celular, então eu praticamente pulo em cima da mesma a assustando.

- Sem celular enquanto estivermos aqui.

- Emma...

- Estou falando sério. - Pensei bem, lhe devolvendo o celular - Pensando bem, faça o seguinte. Precisamos de um plano para dar perdido na mídia e no Garret que vai me caçar como se fosse ouro.

- Você é o ouro dele, não se esqueça.

- Já sei! - estralei os dedos - Você vai ligar esse celular e mandar uma mensagem dizendo que ontem a noite eu a fiz viajar comigo para uma ilha que eu te proibi de dizer o nome, diga sei lá, que estou muito cansada, exausta dessa vida. Garret não vai conseguir me encontrar e principalmente, vai contar essa história para a mídia fazendo assim todos ficarem longe de mim, tentando me encontrar em lugares nada a ver.

- E se o Garret mentir para a mídia? sei lá, inventar uma história da história já inventada?

- Ele não é burro, Carry. Ele sabe que se nem ele consegue me encontrar alguém tentará e se descobrir que ele mentiu do que seja lá qual for as mentiras que ele conte, não só suja minha carreira como obviamente, a dele.

- Está certo.

- Faça isso.

Carry liga o celular que no mesmo segundo recebe inúmeras notificações. Aproveito que a mesma está ocupada, pego minha bolsa de mão, guardo seu tablet e meu celular desligados. Quando Carry envia mensagens para Garret, ela desliga o telefone.

- Joga na bolsa - Peço. Ela joga o celular na bolsa de testa franzida

- Sem celular enquanto estivermos aqui.

- Tem certeza?

- Considere como nossas férias. As minhas longe dos palcos e suas longe da agitação e loucuras como minha assistente.

Ela concordou, hesitante. Fecho a bolsa e guardo na minha mala enorme.

- Carry, você está sem roupas não é?

- Sim

- Muito bem, pode usar as minhas e depois compramos mais.

- Isso está me cheirando a loucura.

- Vamos Carry, vai ser divertido esse tempo dessa loucura toda.

Ela negou com a cabeça e disse:

- A loucura acaba de começar.



Tomamos café no hotel, eu estava com muita fome não posso negar. E Carry não era diferente.

Eu me vesti com um vestido liso, curto, de material sintético preto. Coloquei meus óculos de sol e prendi meus fios castanhos em um rabo de cavalo.

Carry por sua vez, mesmo de férias, como eu declarei, continuou como suas roupas profissionais.

Saímos na rua, posso sentir o sol aquecer minha pele.

- Vamos para onde?

- Vamos caminhar.

- Vai deixar Scarlet presa no hotel?

- Ela está de castigo. A última vez ela me arranhou.

- Coitada, Emma.

- Da próxima vez a levamos.

Começamos a andar na rua, posso sentir os olhares em mim. Cochichos de desconhecidos. Fofocas sobre mim. Crianças parando de brincar, me reconhecendo.

- Devemos encontrar outro quarto para mim - Carry diz

- Tudo bem, vemos isso quando voltarmos.

- E encontrar um lugar melhor para comer, a comida daquele lugar não é das melhores...

- Pois fique sabendo que é a melhor que já provei daqui.

- O que mudou?

- Como é?

- Ontem você estava tendo uma crise de ansiedade para que o show começasse e acabasse de uma vez para nós irmos embora.

- Não sei o que mudou- Falo a verdade - Não quero mais falar sobre isso.

- Ok, mas me diz mais uma coisa - Ela fala, olhando para longe

- Você fala demais.

- Quem é aquele casal te olhando? - ignora o que eu disse

- Deve ser alguém que me conheça dos palcos ou aqui da cidade mesmo.

- Não sei, parece que te conhecem de outra maneira. Olha eles vindo pra cá.

Eu levantei a cabeça pensando em quem seria, foi quando vi duas pessoas que eu não fazia idéia de que sentia tanta saudades até esse momento.

Joana e Marcos.

Evoluídos.

Adultos.

- Meu Deus, Emma. É você mesmo! - Exclama Joana boquiaberta

Eu concordei, vendo-a se aproximar com velocidade.

Joana me abraça como se a salvação do mundo dependesse disso. Eu sinto meus olhos lacrimejar, pela primeira vez desde que cheguei. Logo em seguida Marcos me tira de seus braços e me puxa para outro abraço.

Mais forte.

Fraterno.

Eletrizante.

Cheio de amor.

- Senti sua falta, Emma. Pra caramba. - Ele disse, inspirando meu cheiro

Me afastei deles sorrindo grande. Pude sentir o olhar de Carry, posso imagina-la pensando que essa era a primeira vez que me via sorrindo com tanta sinceridade e carinho.

- Você finalmente deixou seus cachos crescer - Observo Marcos com seu cabelo cacheado batendo nos ombros

- Estou mais charmoso? - abriu um sorriso incrível

- Como eu sempre disse que ficaria.

- Demorou pra voltar - Joana disse, enxugando as lágrimas dos olhos

Eu senti as minhas, pensando em todos os momentos que passei com eles. No quanto eles foram importantes na minha vida. Do quando ainda são.

De todo apoio que eles me deram, sempre.

- Ouvimos que você fez um show de última hora ontem e mesmo assim lotou de gente, eu jurava que era mentira das pessoas. Quer dizer, quais as chances? - Joana exclama

Ela abraça Marcos em busca de concordância, posso ver o brilho no olhar dos dois. Minha boca se abriu, pasma

- Você estão juntos! - Afirmo

Se entreolharam rindo com vergonha.

- Desde quando? - Pergunto pensando em todos os momentos que passamos juntos, será que isso já rolava antes?

Marcos deu de ombros

- Estamos namorando há quase três anos.

- Uau, tô chocada - Falo, nunca imaginei os dois juntos. Eles viviam se chutando quando criança, se insultando e aproveitando qualquer oportunidade para debochar do outro na adolescência.

- É amiga, o famoso amor está onde você menos espera, como diz você - Joana diz, feliz

- Você escuta minhas músicas!

- Todas. Sou sua fã completamente!

- Somos. - Marcos corrigiu - Você finalmente é tudo aquilo que sempre sonhou em ser.

- Sempre soube que você teria futuro amiga. Que iria alcançar seus sonhos. Lembra Marcos?

Marcos assente, e então notam a presença de Carry

- Desculpa, não te vimos aí - ele pede

Carry aperta a mão dos dois, sorrindo agradavelmente

- Ela é Carry, minha assistente. Carry esses são Marcos e Joana, estudamos juntos e somos amigos desde os 7 ou 8 anos de idade.

- Talvez até antes - Marcos fala, tentando lembrar

- É um prazer conhecê-los.

- Eu estava dizendo Carry, que ela - Joana apontou para mim, eufórica- Eu sempre soube que nossa Emma Hall Larson se tornaria uma estrela. Ela sempre cantou, sempre se jogou quando estava nos palcos, com essa voz incrível.

- Seu pai com certeza estaria orgulhoso de você. - Marcos diz, me fazendo sorrir de um maneira. Inexplicável.

Carry está olhando pra mim. E eu sei porque. Ela ouviu meu sobrenome e ligou os fatos.

Bom, isso me poupa explicações.

- As coisas mudaram, caramba, como mudaram- Eu falo, impactada ainda pelo fato de descobrir que estão juntos

- Mudaram, muito- Joana diz e fecha seu sorriso, tensa- Você... hum, sabe sobre...

- Selina, sim - corto e concordo com a cabeça, passando a língua pelos lábios. Sentindo a tensão se espalhando pelo meu corpo só de lembrar.

- Como foi que descobriu? - Marcos pergunta, mostrando a preocupação deles comigo. Do jeitinho de antes.

Dei de ombros tentando ser o mais inexpressiva possível

- Eu encontrei com Samuel no parque.

Eles abrem a boca, surpresos

- De primeira não sabia quem ele era... Mas ele cresceu. Levei ele até o casal que ele disse que era o pai e a namorada, então vi que era Dave e ela.

- Tudo aconteceu tão rápido - Joana pega na minha mão- Você foi embora e ele ficou tão perdido, Emma. Era de partir o coração. Todos tentamos apoiar ele e bom, Selina foi a que esteve ali pra ele a todos minutos.

- Pro Samuel também? - Me vejo perguntando

- Sinceramente?

- Sim.

- O foco dela sempre foi o Dave.

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