Capítulo 33
Recebi uma mensagem de Joana me convidando para um café da tarde. Eu quase solto uma gargalhada.
Café da tarde.
Parecemos duas velhas se encontrando para fofocar.
Carry foi dormir, e eu... preciso sair para pelo menos me distrair. Minha cabeça está a milhão mais uma vez.
Então um café da tarde não vai nada mal.
Iria levar Scarlet para sair um pouco de casa, porém não dá mais para carregar ela no colo igual cachorro de madame. A bichinha está bem pesada, mais do que o normal.
Também só come e dorme.
Até chamei ela, falei "Vamos, Scarlet passear?". Ela simplesmente me olhou com desdém e saiu andando lentamente (e rebolando) pro andar de cima. Provavelmente indo fazer companhia para Carry.
Então era só eu e eu.
Caminho pelas ruazinhas da cidade. Não parecia que ia chover mas o vento gelado estava forte.
Folhas voavam para todos os lados, mas apesar do clima caótico, as ruas estavam quase vazias. Uma pessoa ou outra. Não tinha criança correndo como sempre, não tinha senhoras sentadas na frente de suas casas fofocando. Não tinha adolescentes caminhando e rindo alto pro mundo inteiro ouvir.
Era só mais um dia, sereno. Vamos dizer assim.
Passo em frente a praça da cidade, e sorrio. Foi aqui que encontrei Samuel pela primeira vez depois de tanto tempo. Crescido e esperto.
Encantado com Scarlet.
Como se nunca tivesse visto um gato na vida.
Lembro exatamente dos meus olhos arregalados para ele. Olhar para Samuel era quase olhar para uma miniatura de Dave. E na hora que coloquei meus olhos nele soube exatamente quem era.
Que aquele menino era meu filho.
Eu só não quis acreditar.
Quer dizer, quais as chances?
De eu vir parar na praça e a primeira criança que encontrar, ser exatamente o meu filho?
A praça está vazia exceto por uma pessoa.
Selina.
Ela está sentada exatamente no banco que tinha visto ela sentada aquele dia com Dave.
Olhando para a árvore na sua frente. Observando as folhas desprendendo e voando levemente até cair no chão.
Aperto meu casaco no meu corpo e me aproximo devagar.
Não tinha uma expressão de tristeza no seu rosto. Nem de felicidade. Na verdade, ela não mostrava nenhum sentimento.
Só olhava para aquela árvore.
- Já fiquei sabendo. - ela disse assim que parei do lado dela
Não sentei no banco, apenas fiquei de pé. Olhando a árvore a nossa frente igual ela estava fazendo.
- Sabendo de quê? - pergunto
- Que vocês voltaram. - disse tranquila
Assenti mesmo sabendo que ela não estava me olhando
- Sinto muito que as coisas tenham sido assim, Selina - digo depois de alguns minutos
Ela inspira
- Ele terminou comigo - disse com os olhos preso nas folhas que caíam - no dia que você chegou.
Arregalo os olhos. Como assim?
- Eu só não quis aceitar, Emma. - disse finalmente me olhando - Você pode pensar que não mais eu sempre, sempre gostei do Dave. Me julgue, vocês namoravam, mas você se lembra de antes de vocês namorar?
- lembrar do quê?
- Que eu era afim dele. Realmente nunca viu? Nunca me viu dando em cima dele? Ou tentando fazer ele ficar mais ao meu lado do que qualquer um do nosso grupo?
Assenti
- Tinha vezes que você realmente fazia questão de puxar ele pro seu lado. - não vou mentir
- Sim. E eu pensava que você como minha amiga teria visto. Até a Joana viu e você não? - ela riu - mas você era tão acostumada a ter todas as atenções diante de você apenas por ser a filha da prefeita que era incapaz de olhar ao redor.
Fico calada. Não estou bem para discutir com ninguém.
- Enfim, vocês começaram a namorar e eu desisti de tentar. Mas realmente me senti traída por você e mesmo assim tentei esconder o que sentia por ele por causa de você. Em respeito a você.
Não é bem assim que eu me lembre.
- Então você engravidou e eu vi o tanto que Dave ficou mais apaixonado por você. Eu sabia que nunca seria o amor da vida dele igual você foi. Sabia que ele nunca olharia pra mim igual olhava pra você. Sabia que ele nunca estaria disposto a mim igual era disposto a você!
Respiro fundo olhando pra ela
- Quando você foi embora eu tentei mostrar pra ele que pelo menos em mim ele teria um ombro amigo, uma companheira e alguém que ele pudesse contar que não fosse embora. Eu realmente estive lá em todos momentos que ele precisou, nunca soltei a mão dele.
Não respondi nada e sinceramente acho melhor assim.
Ela ficou em silêncio, e então falou:
- Mas a culpa não é totalmente dele. - disse num tom triste
Ergui uma sobrancelha
- É minha também. Ele nunca tocou no seu nome pra mim depois que você foi embora, Emma. Pra ninguém. Mas toda vez que alguma notícia sobre algum show, ou algo sobre você passava nos rádios e na televisão, ele escutava. Só desligava quando via alguém por perto. - olhou novamente para a árvore - Sabia que se você voltasse algum dia isso iria acontecer. Eu só não acho justo você largar a mão de alguém que esteve do seu lado no seu pior, justamente por quem te deixou na pior.
E eu concordo.
Também não acho justo. Não acho certo.
E eu no lugar dela iria odiar o Dave. Dar tudo de si para alguém te dispensar no segundo que alguém do passado volta?
Só que é aquilo.
Toda história existe suas versões. Cada um com seus pensamentos, sentimentos, medos e vontades.
Eu tive os meus.
Dave teve os dele.
E esse é os dela.
- Mas o coração quer o que ele quer não é? - riu - E eu tentei, tentei várias vezes mas o coração dele nunca me quis.
Eu não sabia o que falar. Ela realmente estava se abrindo sem gritar, sem fazer escândalo. Só ela falando o que sente e o que pensa. Não vou negar, estou sem jeito.
- No dia que você voltou, fomos o caminho todo em silêncio. Eu pensei que ele estava com raiva de você e por isso não queria falar, mas quando chegamos em casa ele me disse que era melhor eu seguir minha vida e procurar alguém que me amaria de verdade.
Olhei para ela
- Por quê no segundo que ele te viu sabia que o que sentia por você, apesar do que aconteceu, não tinha morrido e não achava justo me prender a ele. - olhou para as próprias mãos - Mas eu recusei. Falei que não iria embora por causa de um momento doido que ele teve com os pensamentos dele. E todo esse tempo enquanto você está aqui ele tentou me convencer do jeito mais doce que eu merecia mais.
Eu sorrio. Dave é assim mesmo. Doce.
- Eu sei que eu mereço - ela aperta os lábios - Só é uma pena não ter sido com ele. Eu queria tanto que fosse ele.
Ela levanta do banco passando a mão em suas pernas alisando sua calça.
- Vou embora daqui. Ir morar com a minha tia em Seattle. - disse me encarando
- Vai embora por que, Selina? - pergunto - você não precisa desistir da sua vida aqui.
- Eu não tenho vida aqui, Emma. - ela disse exausta - nunca tive. Só fiquei por causa dele. Então se é pra seguir minha vida e encontrar um caminho novo, preciso sair daqui.
Assenti com a cabeça
- Tá bom.
Ela passou por mim para ir embora. Respirei fundo com tudo que acabei de ouvir, e olhei novamente para a árvore, dessa vez não parecia ter nada de especial nela.
Era só uma árvore.
- Emma - Selina me chama
Viro para ela que já está a uns 10 passos de distância.
- Oi?
- Cuida deles. - Diz - cuida muito bem deles. Por favor.
Eu concordei com a cabeça, e ela foi embora.
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