Capítulo 32

  

    Depois de toda emoção de madrugada e desta manhã, todo mundo seguiu o seu rumo.

Bom, exceto Carry e eu.

Bruno, Violeta e Dave foram trabalhar. Samuel foi junto de Dave que aproveitou para deixa-lo na mãe dele.

Carry e eu não tínhamos absolutamente nada para fazer nesta tarde fria. Minha ideia inclusive era apagar todas as luzes, estourar algumas pipocas e sentar nossas bundas de frente para a televisão.

Porém a ideia de Carry foi outra. Veja só, adoro minha assistente/amiga/cunhada? Enfim, adoro ela. Mas as vezes ela tem umas ideias e vontades que morro de vontade de pegar sua cabeça e bater na parede mais próxima.

"Vamos limpar a casa!!!" Ela falou

"HUM?" Olho ao redor notando realmente bagunça e sujeira, mas veja só, limpei essa casa SOZINHA anos da minha vida. Minha mãe tinha que chegar da prefeitura, igreja ou seja lá pra onde ela tenha ido, com a casa limpa, organizada e brilhando.

Confesso que quando eu era mais nova adorava limpar a casa. As vezes odiava porquê não via as minhas colegas de turma e amigas tendo essas obrigações tão cedo, mas me acalmava quando me sentia ansiosa então não era de reclamar.

O negócio começou a pegar fogo na adolescência. Quando comecei a notar que Bruno bagunçava isso e aquilo, deixava louça suja, garrafa de água vazia fora da geladeira... enfim, uma verdade zona, e Violeta não falava nada. Eu falava mas ele não me dava ouvidos, afinal eu era irmã mais nova.

Quem obedece e liga para os irmãos mais novos? Ninguém!

Lembro uma vez quando tinha dezesseis anos, cheguei da escola 1h depois de Bruno porquê estava fazendo aula de reforço de química. Quando cheguei a casa estava uma zona, tudo largado e jogado na sala de estar, na cozinha, no banheiro... lavanderia então? Roupas sujas simplesmente jogadas no chão ao invés de só colocar no cesto de roupa suja.

Aquele dia eu fiquei muito puta da vida. Sinto meu rosto esquentar de raiva somente de lembrar. Como homens são tão relaxados? E só tinha ele de homem em casa!

Quando percebi o bonitão simplesmente pegou os jogos de vídeo game dele e saiu para jogar na casa dos amigos. Ficando eu sozinha em casa com a bagunça dele, e Violeta se chegasse e encontrasse a casa naquele estado, falaria um monte para mim.

Então mesmo sabendo que meus ouvidos iriam doer horrores quando ela chegasse, deixei. Deixei para ver se ela finalmente tomaria uma atitude sob o meu irmão. Não quer limpar? Ok. Não quer arrumar? Ok. Mas pelo menos mantenha a arrumação, limpeza e organização de quem fez.

Só que não foi bem assim. Ela chegou, olhou a casa naquele estado e me encarou super brava.

"Emma por que não limpou a casa? Olha essa zona!"

"Eu não fiz nada disso, estava na escola nas aulas de reforço que estou fazendo lembra?"

"Cadê o Bruno?" Perguntou

" Saiu para a casa dos amigos dele e disse que não sabia que horas voltava" - respondi

Ela simplesmente olhou no fundo dos meus olhos e falou

"Vou fazer comida, limpe essa bagunça".

Sem mais nem menos, saiu. Não me falou um monte como imaginei, mas também não deu a mínima bola sobre quem bagunçou.

- Emma, acorda! - Carry acena no meu rosto

- Fala minha querida - respondi jogada no sofá. Scarlet folgada e pesada em cima da minha barriga.

- Me ajuda mulher limpar sua casa!

- Só de olhar já estou cansada - confesso

- Larga de ser preguiçosa!

Revirei os olhos e levantei sabendo que ela não largaria do meu pé até eu fazer o que ela queria. Essa era uma das razões pela qual Carry era minha assistente. As vezes eu não tinha a menor vontade de fazar shows.

Sem músicas novas parecia que eu só estava repetindo e repetindo uma coisa que a primeira vista é boa, mas depois... fica chato não sei.

Então ela vinha com aquele Tablet dela na minha direção, sentava diante de mim e falava: "Essa é Emma Larson? Essa mulher desanimada e sem vontades! Música nova ou não, é seu show, é seu público. Vai lá e arrasa!"

Então aquela vontade que de repente tinha ido embora de ser cantora, voltava.

Carry perguntou onde ficava os produtos de limpeza e juntas colocamos a mão na massa. Ela começou pela cozinha e eu pela sala. Tirei panos velhos e coloquei para lavar, limpei os móveis com pano úmido, afastei todos os móveis e joguei água diretamente no chão com produtos de limpeza pesada, esfreguei até sentir dor no braço, puxei a água, passei pano. Depois de chão seco, coloquei os móveis novamente em seus devidos lugares, coloquei panos e tapetes limpos e senti o cheiro no ar.

Cheiro de limpeza.

Me julgue, limpar é terapêutico pra mim.

Fui para a cozinha ver se Carry precisava de ajuda mas a cozinha estava brilhando, não tinha nem sequer um prato para guardar porquê ela já tinha feito isso.

- Lá em cima agora? - pergunta

- Fica com o quarto do seu namorado e eu fico com o meu e da Violeta.

Carry cora.

- Não fala essas coisas na frente dele, Emma! - brigou

Eu sorrio e juntas subimos. Limpamos cada móvel lá em cima por incrível que pareça, rápido. Mas não deixamos nenhum detalhe escapar.

Quando tudo estava limpo, inclusive o banheiro que lavei, Carry juntou todas cobertas e lençóis que tiramos lá de cima para lavar.

Depois de umas 2 ou 3 horas, sentamos as duas no sofá, respirando fundo

- pra quem não queria limpar você deu um trabalho e tanto! - ela disse

- É o costume.

- Nesses anos todos que te conheço nunca te vi pegar uma vassoura, Emma.

Eu sorrio

- Os costumes da Emma Hall, não dá Emma Larson - completo

- Bom... eu estou morta e você? - pergunta com os olhos caídos de cansaço

Eu sorrio

- Eu estou elétrica!

Ela riu

- Já estamos começando a ficar entediada, não é.

- Se como minha minha irmã. - desabafo. Todo mundo vai trabalhar, Samuel vai ficar com a avó e eu fico aqui sozinha com a pobre Carry, mais cansada que eu.

Bom, isso só me mostra que está chegando a hora. Preciso urgentemente decidir minha vida principalmente depois do pedido de Dave.

Já era meu desejo nunca mais sair da vida de Samuel, e agora recebendo de Deus ou do destino mais uma chance com o Dave, é outro sinal que não posso ir embora.

- Como vai ser, Emma? - pergunta Carry, parece que leu meus pensamentos, minhas preocupações - Você adora estar nos palcos. Adora ser Emma Larson cantora famosa, cantora inovação. Como vai ser?

Mordo o cantinho do lábio, não sabendo como responder

- Está disposta a desistir do seu sonho desta vez? - pergunta

- Desistir? Acha que vai ser necessário?

- Bom... me desculpa mas Dave não parece o tipo de cara que vai desistir de tudo que ele tem nesta cidade, da tranquilidade, do aconchego, enfim... de tudo que ele tem aqui para te seguir viagens a fora.

Aperto as mãos em minhas pernas. Realmente não tinha pensado nisso.

- E o Samuel qualquer dia vai começar uma escola de verdade. Ou ele te segue pelo mundo também pulando de ensino e ensino, ou ele fica aqui e longe de você mais uma vez.

- Carry.

- Eu sou sua assistente, Emma. É meu trabalho te fazer pensar em todas opções - respira fundo, também preocupada com a situação - mas não é a assistente falando. É a amiga. Consigo ver o seu medo de desistir do que você correu atrás pra conseguir, mas também de desistir do que você conseguiu reconquistar.

- O que acha que eu deveria fazer? - peço um conselho

- Acho que se eu fosse você... conversaria com o Dave.

- E como eu conversaria com ele sobre isso? Ele vai achar mais uma vez que quero deixar ele.

- Não acho não, Emma - ela me encara - Vocês são adultos maduros agora, vocês tem um filho esperto e tem famílias que estão apoiando 100%. O negócio é por as cartas na mesa, ver aonde cada um está disposto a ir pela relação e por si mesmo.

Concordo com ela. Mas mesmo concordando sinto uma pitada de medo na minha espinha.

Medo de conversar.

Medo de onde vai parar essa conversa.

Medo de não saber o que fazer a partir de agora.

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