Capítulo 30

  

Agora são cinco da manhã.

Estamos deitados nas minhas cobertas na sala, uma espécie de casulo só nosso. Depois de toda emoção na porta, resolvemos deitar com nosso filho.

Dave está dormindo abraçado com Samuel, porém seu longo braço passa por cima de Samuel e se encontra também com meu corpo.

Sua mão segura a minha. E eu estou nada mais nada menos que observando. Os dois.

Samuel solta um bocejo e levanta o pequeno braço, acertando literalmente a bochecha do pai. Dave por sua vez, provavelmente escutando o bocejo dele, boceja também.

Eu solto uma risada baixa. De tão idêntico que foi esse bocejo e os movimentos de ambos.

De repente começo a escutar som forte de pingos fortes caindo sobre a casa, a rua, e tudo lá fora.

A chuva parece engrossar cada vez mais, então eu sorrio dessa vez agradecendo a Deus por isso. Exatamente por esse momento, ele não poderia ser mais perfeito.

Numa madrugada silenciosa e escura, uma chuva caiu bem. Na hora certa.

Samuel se aproxima mais de mim e coloca seu braçinho em meu pescoço, me abraçando em busca de mais aconchego. Dave abre os olhos sonolento com o barulho agora forte da chuva grossa, e encontra meus olhos.

- Ainda acordada? - ele sussurra

- Já estou indo dormir. - sussurro de volta.

Ele sorri levemente e levanta. Trocando as posições.

Desta vez eu ficando no meio do meu filho e dele.

David deita atrás de mim, e ficamos numa espécie de conchinha. Sinto sua respiração em meu pescoço, então ele deposita ali um curto beijo.

É errado pensar no quanto estou feliz neste exato momento?

É errado sentir minhas queridas e não esquecidas borboletas que Dave sempre me proporcionou?

É errado querer que esse momento dure para sempre?

A cada instante sinto meu coração se encher - se possível, ainda mais de amor. Amor por esse momento, amor por Dave, amor pela família. Ao mesmo tempo fico triste, eu perdi isso por todo esses anos?

Seu braço aperta minha cintura me fazendo fugir dos meus pensamentos que são incrivelmente bons, ao mesmo tempo, tristes. Então ele diz: - Quero dormir assim com vocês para sempre.

E eu sorri, sentindo minhas bochechas vermelhas. Mas como não podia faltar, tive que soltar um comentário engraçadinho.

- Para sempre não vai dar. - respondo baixo para não acordar Samuel. Já bastava o som de chuva forte lá fora.

- E por que não?

- Duvido que Samuel com 16 anos vai querer dormir agarradinho com nós dois.

Ele riu baixo

- É, tem razão.

- Mas temos uma solução. - Eu digo virando um pouco o rosto para conseguir ver o seu.

É incrível.

Como depois de anos, ele consegue me trazer essa mesma sensação de quando eu tinha treze anos, e o vi pela primeira vez?

- E qual é? - pergunta ele

- Ele não vai querer dormir assim pra sempre com a gente, mas eu vou querer dormir assim pra sempre com você. - respondo sentindo a timidez.

Anda, Emma. Se recomponha mulher!

Dave analisa meus olhos. Minhas bochechas. Meus lábios. Minhas feições por completo.

Ele fica serio de repente, e em silêncio.

- O que foi? - pergunto curiosa e com medo da sua mudança de humor

- Nada - ele responde ainda sério - Só quero que a gente tenha tempo desta vez.

- Tempo?

- Sim. Tempo.

- Dave - eu susurro - Desta vez eu te prometo... todo o tempo do mundo.

Ele continua me encarando

- Não vou sair do seu lado nunca mais.

- Promete, Emma Hall Larson?

- Prometo. Sabe por quê?

- Por quê?

- Porquê já perdi meu amor uma vez, e não vou deixar acontecer de novo.

Então me da um curto selinho. Eu sorrio e viro o rosto novamente ficando de frente para Samuel. Sinto Dave me abraçando forte. Seu rosto descansa na curva do meu pescoço. Longos minutos se passaram, não sei ao certo dizer se foram 4, 5 ou 10 minutos, mas eu jurava que pela respiração profunda e serena Dave tinha voltado a dormir.

Mas de repente eu escuto:

- Casa comigo, Emma?

Meus olhos que estavam se fechando se abre repentinamente.

- O que você disse? - pergunto para ver se não estou ouvindo coisas mas meu coração diz: "Você não está louca, você realmente ouviu isso!"

- Casa comigo? - ele repete. Firme.

Eu olho para ele novamente, analisando cada detalhe de seu rosto para ver se... Sei lá, encontro um pingo de brincadeira.

Mas não é brincadeira.

Ele está falando completamente e absurdamente, sério.

- Sem igreja, sem vestido de noiva, sem terno, sem buquê. Sei que nunca quis essas coisas - ele diz calmo - mas pelo menos no papel.

- Quer casar comigo no papel?

- Quero. Quero poder te chamar de minha esposa. Quero isso desde os meus 13 anos quando te vi cantando naquela igreja.

Eu solto uma riso baixo

- Não sou mais aquela menina que cantava na igreja todos os domingos de manhã, Dave. - respondo

- Não. Mas continua a minha Emma.

- Como sabe? - pergunto mas meu coração e se possivel, cerebro gritam: "Mulher oque você esta fazendo? aceita logo!!!!!!!"

- Eu tô olhando pra ela agora. - responde - Eu continuo vendo dentro dos seus olhos a pessoa que eu me apaixonei, Emma.

Eu também, Dave. Eu também.

Continuo vendo o garoto de treze anos que não tirava os olhos de mim na igreja. Que se infiltrou no meu grupo de amigos. Que me pediu em namoro. E que me deu a coragem que eu não tinha para viver pequenas aventuras na minha adolescência.

- Não vai se arrepender? - pergunto

- Você vai? - ele rebate de olhos estreitos

- Não. - respondo com a mesma firmeza que ele propôs

- Então você casa? - repete

Eu finjo pensar um pouco. Óbvio que eu não quero um casamento na igreja, com vestido branco, buquê e etc. E para ser sincera não lembro se algum dia sonhei com esse plano, talvez tenha sonhado um dia quando bem mais nova, mas hoje não. E ver que ele sabe disso, que ele consegue me ler tão facilmente ainda me deixa um pouco chocada. Não lembro de em algum momento ter tido essa conversa com ele.

No final, acho que Dave conseguia me ler mais do que eu imaginava. As vezes aquilo que a gente não se importa, mostramos sem querer. Mas quando importa, a gente tenta a todo custo esconder.

Não sei como teria sido o passado se eu tivesse mostrado minhas dores para ele. Não sei como teria sido se eu não tivesse escondido cada pensamento ruim, cada choro e cada sofrimento.

Mas eu não posso mudar o passado.

- É claro que caso. - respondo enfim.

Como eu diria não? Não tem nem porquê dizer não.

Então ele me abraçou mais forte. E eu virei meu rosto sentindo o cheiro do cabelo de Samuel abaixo do meu nariz. Um cheiro doce e gostoso.

Sentindo esse cheiro, sendo abraçada pelo o então agora meu noivo, e ouvindo o barulho forte mais caloroso da chuva, eu finalmente adormeço.

Felizmente não antes de escutar:

- Sabia que você voltaria pra mim.

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