Capítulo 27 - Parte III

"Eu quelo dormir com minha mamãe" foi o que Samuel exclamava inúmeras vezes enquanto estava deitado no quarto de Violeta. Por os quartos serem lado a lado, dava pra ouvir.

Todo mundo estava dormindo, pelo menos eu acho. Ao meu lado, Carry estava dormindo profundamente.

"Sua mãe está dividindo a cama com a Carry" - Ela respondeu

" Mas eu quelo!" - Ele respondeu bravo

- Quer que eu durma na sala? - Perguntou Carry me assustando. Apesar da sua pergunta, eu consigo ver que ela está mais dormindo do que realmente acordada.

Então eu tive uma ideia. Deixar a cama pra Carry. Eu levantei da cama pegando meus lençóis e cobertas em silêncio.

- Pode dormir tranquila - respondo, ela volta a fechar os olhos rapidamente e não demora nem meio minuto para ouvir um ronco.

Ela realmente está cansada. O que será que ela e Bruno realmente fizeram para os dois estarem praticamente desmaiados? consigo ouvir o ronco dele daqui.

Caminho pelo corredor escuro e paro na porta da minha mãe. Violeta abre sonolenta e um Samuel também sonolento abre os olhos.

- Eu vou dormir na sala, lá parece mais confortável. Alguém quer ir comigo? - olho para ele que pula da cama animado

- Tem certeza? - Violeta pergunta me olhando curiosa.

Assinto. Eu estou tentando.

- Eu quero! Vamos vovó?

- Não. Prefiro meu quarto. - Ela respondeu sorrindo pra ele

- Não sabe o que está perdendo - digo brincando. Estendo a mão pra Samuel que agarra animado, juntos descemos os degraus.

- Oba! - Exclama animado

- Shiu! Titio tá dormindo. - eu digo

- Tia Carry também? - pergunta

- Sim, ela também. - concordei

Chegamos no ambiente mais escuro ainda, a sala de estar, a única iluminação vinha da rua, através das janelas. Arrumei meus lençóis e cobertas no chão, fazendo uma espécie de cama.

- E o sofá? - Ele pergunta confuso

- Assim é mais divertido - deitei batendo no meu lado pra ele se deitar.

Sim sim. Estou tentando criar uma conexão com o Samuel.

Me sinto meio boba. Mas a intenção é boa, não é?

Ele se deitou e me encarou com os olhos brilhantes

- Por que não dormiu ainda? - pergunto pra seus olhinhos pequenos e sonolentos, ao mesmo tempo, cheios de energia.

- Quelo conversar.

Me arrumei na nossa espécie de cama só pra olhar pra ele, e mostrar que estou ouvindo. Isso está sendo muito difícil pra mim, me aproximar mais dele e mostrar que sou a mãe dele me deixa completamente aterrorizada.

- Pode falar. - eu digo, então ele começa empolgado a me contar, do jeitinho dele, falando algumas palavras totalmente erradas, sobre os amiguinhos dele que moram na casa ao lado da dele.

Ele me contou que no aniversário de quatro anos quer conhecer o papai Noel, mesmo que não seja natal, e que se não for pedir muito que a fada do dente apareça também.

Em alguns momentos eu concordava com o que ele dizia, em outros, pedi explicações detalhadas quando o assunto era suas brincadeiras com seus amiguinhos.

Por fim, Samuel fechou os olhos e inspirou profundamente. Eu sabia que ele já estava dormindo.

Eu fiquei longos minutos só observando cada detalhe do seu rosto.

Incerta, passei a mão em seu rostinho lindo.

Eu nunca vou ser a mãe que você merece, Samuel.

Algum dia você vai descobrir o que eu fiz. Que eu te abandonei, que fui embora e tudo mais. Eu sinceramente não espero que você me perdoe, sinto de todo o meu coração que foi necessário. Só espero que isso não te afete tanto no futuro, eu sei que de alguma forma vai afetar, mas pretendo estar aqui todos os dias pra tentar aliviar seus sentimentos.

Eu prometo tentar todos os dias ser pelo menos o mínimo do que você merece.

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Quando eu tinha dezesseis anos e queria muito sair com meus amigos, mas minha mãe não deixava, eu deitava na sala fingindo que estava irritada demais pra dormir no meu quarto. Minha mãe acreditava, me chamava de menina mimada e ia dormir tranquila.

Eu só deitava na sala porquê poderia acender a luz do abajur da sala de estar. Assim, Dave e o pessoal saberia que estava acordada e próxima da porta.

Eu não fazia isso direto, eram raras as vezes. Apenas em aniversários importantes, comemorações importantes e tudo mais. Íamos sempre, ao bar do Lorenzo e da Rita. Eles por si só, fingiam que não nos conheciam, e muito menos que éramos menos de idade para frequentar tão tarde da noite, por isso ninguém da cidade comentava e minha mãe, nunca descobria.

Eu pensei que poderia estar imaginando coisas quando ouvi batidas curtas e o mais baixas possíveis na porta principal. Eram aquelas as batidas que Dave, Joana, Marcos, Jeremy e até Selina faziam pra eu saber que estavam aqui e que vieram me buscar.

Foi então que notei que eu acendi o abajur, em algum momento eu acendi e não apaguei. Olhei no relógio, quase três horas da manhã. Apaguei o abajur e fechei os olhos de novo, com certeza estou imaginando coisas.

Então as batidas na porta vieram,
de novo.

Eu abri os olhos, já estava claro que não era minha imaginação. Alguém realmente estava batendo na porta. Meu coração começou a disparar, sem freio, sem calma, completamente ansioso.

Eu levantei da cama que criei no chão a base de lençóis e cobertas, o mais cuidadosa possível para não acordar Samuel ao meu lado. Por fim, em pé, me aproximei da porta.

Outra batida.

Mais outra.

- Emma? - Eu ouvi, baixo, quase que um sussurro

Por mais baixa que está voz possa estar, sempre vou reconhecer. Eu abri a porta, e me deparei com Dave.

Seus olhos estava perdidos, quando me encontraram, eles brilharam.

Por mais brilhantes e intensos que sejam seus olhos, eu posso ver todo e qualquer tipo de sentimento passando por eles.

Raiva.

Dor.

Magoa.

Saudades.

Amor.

Os cabelos castanhos completamente bagunçados, igual seu coração, seus olhos e sua alma.

Dave Loftin sempre me deu a chave para poder abrir e ler ele sem a menor dificuldade. Eu nunca pedi a chave, ele que sempre me deu.

Olhei pra trás dele, três horas da madrugada e a rua atrás dele não passa de um escuro completamente silencioso. O doce som e bela visão da madrugada em qualquer lugar do mundo.

- Dave... você... - passei a língua pelos lábios, nervosa. Seus olhos não perderam cada segundo desse meu movimento simples - Veio buscar o Samuel? agora?

Ele negou com a cabeça, se aproximando de mim. Seu peito subia e descia. Nervoso, tenso, ansioso.

Ver seu corpo, seu rosto, seu calor se aproximando de mim com tanto cuidado, cautela mas acima de tudo, bastante ansiedade, me deixa completamente nervosa.

- Selina e eu terminamos.

- Por quê? - ignorei a sensação de felicidade que surgiu dentro de mim

- Por que nós dois sabíamos que eu não amava ela. Nunca amei.

fiquei em silêncio, ouvindo apenas nossas respirações e as batidas intensas do meu coração.

- Eu nunca vou deixar de amar você - Ele disse, baixinho.

Meu coração deu um salto. Estou realmente ouvindo isso?

- Não importa quantas vezes eu tente, e olha que eu tentei - Ele continua

- Dave...

Ele coloca o dedo nos meus lábios, me impedindo de falar qualquer coisinha.

- Você faz idéia do quanto tentei te odiar, Emma? Faz idéia de tudo que passei, de tudo que aceitei passar só pra tentar te esquecer?

engoli em seco

- Como? caramba... - Ele inspira, olhando fundo nos meus olhos, intercalando nos meus lábios - Como você conseguiu?

- Como consegui o quê?

- Como você conseguiu fazer eu me apaixonar por você aos treze anos de idade e até hoje sentir esse amor, essa paixão, essa porra toda por você?

- Dave... eu...

Ele negou com a cabeça, deixando claro que não quer ouvir. Ele quer falar. Quer por pra fora. Quer desabafar.

Então eu vi uma coisa que sinceramente? foram raras as vezes que vi. Eu vi lágrimas.

Os olhos de Dave Loftin se encheram de lágrimas e começaram a descer com toda força e velocidade por suas bochechas macias.

Meus olhos se encheram de lágrimas também. Dor. De ambas as partes.

- Por que você faz isso comigo, Emma? - Ele soluça - Por que você continua aqui? Por que eu não consigo te tirar daqui?

Sua mão estava no seu peito, indicando o coração. Eu passei aos mãos por seu rosto, tentando enxugar suas lágrimas velozes e quentes.

Ele engoliu em seco, passando a língua pelos lábios.

- Eu tentei te esquecer. Aceitei as investidas da Selina pensando que iria te esquecer, que tudo iria passar, que conseguiria seguir em frente.

assenti. Ele quer desabafar, então que ele desabafe.

- Eu realmente pensei que tinha conseguido te superar, mesmo por acaso ouvindo seu nome nas rádios, na televisão e tudo mais. Eu só... - olhou pra dentro, especificamente para onde Samuel estava deitado - Pensei que estávamos indo bem juntos.

- Você sempre foi bom o suficiente, Dave. Nunca pense que não foi. - Limpei suas lágrimas, não queria interromper mas ele precisa saber disso - Você sempre foi e vai continuar sendo a melhor pessoa que conheço. A melhor pessoa, o melhor amigo, o melhor namorado.

- Então por que isso não foi suficiente?

- Porquê eu não era suficiente. - Respondo, em sussurro - Como eu posso ser suficiente pra você, se não estava feliz comigo mesma ou com a situação? Se eu me autodestruia todos os dias?

- Eu deveria ter visto, Emma.

- Como você pode enxergar algo que alguém esconde?

Seus olhos continuaram escuros, fundos, vidrados nos meus.

Ele colocou a mão nas minhas bochechas, mais próximo de mim.

- Eu aceitei as investidas dá Selina porque pensei que poderia sentir em frente, e porque pensei que você de alguma forma saberia e iria voltar. Por um momento eu quis que você ficasse com raiva de mim, e que voltasse de alguma maneira. Mas não foi certo, não foi certo por causa dela. Ela realmente acreditou que tinha algo entre nós. Por um momento eu também pensei, mas então você voltou. E foi completamente diferente do que ouvir seu nome no rádio ou na televisão. Você estava aqui. Eu não podia desligar o rádio ou sair de perto da televisão. Você estava aqui, perto de alguma maneira. Foi por isso que Selina começou a pirar, porque ela sabe que eu ainda amo você, Emma.

Agora foi a vez dele enxugar minhas lágrimas

- É só que... - Ele respira fundo - Eu tenho medo de te amar.

- E você tem razão.

- Emma - Ele respirava fundo, coração a mil - porra Emma, eu quero muito te amar.

- Então... me ame.

- Eu não posso - Soltou as mãos das minhas bochechas, se afastando ligeiramente - Eu não posso.

- Me desculpa, Dave - meus olhos arderam - Me desculpa por tudo que te fiz. Por te deixar, por te machucar, por te quebrar.

Ele apertou os olhos, aquilo parecia doer também.

- Eu sei que desculpas são só palavras e não muda nada. Mas elas são sinceras. - continuo

- Emma...

- Eu não consigo enxergar um mundo sem vocês. - falei, para a surpresa dele - Eu não consigo. Eu passei anos da minha vida sem vocês, foram os anos mais tristes da minha vida. Eu precisava me encontrar, mas uma vez que eu me encontrei, eu perdi tudo que mais amava. Perdi amigos, familia, você. E Eu sinceramente não sei como vai ser o dia de amanhã, ou depois de amanhã. Eu sei que a incerteza te mata, porque ela também me machuca. Mas quero te dizer que... o que puder fazer para não te machucar nunca mais, vou fazer. Te amar e te quebrar, é o mesmo que me perder de novo. E Eu não posso e eu não quero te perder nunca mais. Perder, isso. - Apontei pra dentro, simbolizando Samuel, simbolizando família.

- Você nunca me perdeu, Emma.

- Então me dá uma segunda chance - me vi pedindo.

Eu nunca imaginei que pediria isso. Mas eu vou pedir quantas vezes for necessário, não posso mais deixar o amor da minha vida escapar por entre meus dedos. Eu fiz isso uma vez, não posso fazer de novo.

Ele não respondeu. Ao invés disso, Dave Loftin se aproximou com tudo.

Me puxou com um braço.

E me beijou com força.

Eu quase choro de emoção ao sentir seus lábios nos meus, mais uma vez. Tão bom, tão meu.

Ele me empurra um pouco pra trás fazendo minhas costas encostarem na porta. Suas mãos me seguram, firme e forte no lugar. De uma maneira intensa e envolvente, eu sinto meu coração se abrir do jeito mais incrível possível.

- Eu te amo, Emma - Ele desgruda nossos lábios pra dizer, beijando meu pescoço, minhas bochechas, meus labios - Por favor, só não me quebra de novo.

- Eu não vou, nunca mais - Respondo, olhando nos seus olhos - Eu também te amo, eu sempre amei, desde o momento que você entrou naquela escola pela primeira vez e arrancou o meu fôlego só de te olhar.

Ele riu baixinho

- Eu tirei seu fôlego?

- Você sempre tira.

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