- Vocês estão de boa então? - Marcos pergunta.

Estamos sentados no bar do Lorenzo e Rita. Ainda é de tarde, o bar só abre de noite mas Lorenzo e Rita continua permitindo nossa entrada.

Algumas coisas nunca mudam. O que é incrível porque meus melhores momentos com amigos e tudo mais foram nesse bar no auge da minha adolescência.

- Acho que nós duas chegamos num acordo de finalmente ter algum tipo de paz - Falei. Estava contando a ele da minha tarde ontem com minha mãe. - Isso não significa que não vamos brigar por motivos bestas, simplesmente não dá. Significa apenas que decidimos deixar os erros do passado pra trás.

- Caramba, Emma - Ele me encarou preocupado - Eu sei que ela é sua mãe mas não consigo perdoar essa história do aborto. Como você perdoou?

- Eu só não quero... Eu acho que não quero mais passar horas do meu dia pensando num assunto e evitando lágrimas, entende? e pra falar a verdade, eu sempre soube. Me magoa ter ouvido aquilo em voz alta, mas...

- Mas você quer seguir em frente.

- Não está sendo fácil pra mim, Marcus. Não mesmo, mas uma hora ou outra devo aceitar que pra conseguir viver o mais plenamente possível vou ter que aprender a aceitar o passado, as dores dele e evitar as futuras.

- Eu tô muito feliz por você, Emma - Ele sorriu lindamente - Eu acho que você finalmente se encontrou.

- Eu também acho - digo, sorrindo delicadamente e então por mera brincadeira solto o elástico no alto da sua cabeça, liberando seus belos cachos que vão até os ombros

- Eu sou apaixonada no seu cabelo desde quando éramos crianças, sabe disso não sabe?

Ele riu

- Eu deixei crescer em sua homenagem - diz

- Eita garoto mentiroso - Diz Rita, passando com alguns produtos de limpeza ao nosso lado. Ela se apoia num rodo e aponta para ele - Joana me disse que vocês apostaram alguma coisa estúpida e como consequência, caso você perdesse, não cortaria o cabelo por um ano!

- Cara Rita, cada dia que passa você passa de uma velha dona de bar a uma velha fofoqueira - ele rebate

- Velha? fiz cinquenta esse ano, garoto!

- Se me chamar de velha de novo coloco você para esfregar meu chão!

- Até você pensar em fazer isso já estou em casa assistindo um filme - ele diz

ela estreita os olhos pra ele

- Rita, deixa eles em paz! - Sr. Lorenzo exclama da cozinha do ambiente - Vem me ajudar aqui, mulher!

Ela bufa

- Homens não sabem fazer nada sem uma mulher do seu lado, pelo amor de deus! - Ela fala, deixa os produtos que trouxe para limpar o chão do bar de lado e se afasta - Se alguém entrar por favor digam que estamos fechados e só abrimos as...

- As 20h - completamos os dois juntos

- Já conhecemos o discurso - Digo

Ela faz uma expressão de desdém e se afasta.

- A mulher tá rebelde - ele comenta

- Sabe que ela odeia que a chame de velha - sussurro

- O que é isso? - Ouvimos, então olhamos para a porta do bar para encontrar o dono da voz.

Jeremy.

Logo atrás, Joana.

Marcos encara Jeremy por longos segundos, antes de olhar pra Joana atrás dele e finalmente voltar o olhar pra mim.

- Que isso, Emma? - Ele me pergunta

- Pedi para Joana trazer ele aqui - respondo, Marcos ergue uma sobrancelha e posso ver Jeremy fazendo o mesmo a alguns metros de distância.

- Por quê? - pergunta confuso

Levantei do banco do bar em que estava e fiquei em pé olhando para os dois. Jeremy me olhava daquele jeito do nosso último encontro.

Completamente bravo.

- Chamei vocês dois aqui para resolver as coisas.

Joana fechou a porta do bar, ficando apenas nós três.

- Resolver as coisas? você destruiu as coisas. - Jeremy rebate - Tudo em nome do seu egoísmo e...

- Chega, Jeremy! - Marcos exclama, ficando bravo pronto para me defender. Foi isso o que causou a briga dos dois.

- Me escutem! - falo mais alto - Já chega dessa merda! - Olhei pra Marcos - Eu sou muito feliz por ter um amigo como você, mas agora não é a hora. - Olhei para Jeremy - Eu sei que estraguei as coisas, que por minha causa meus amigos... se separaram, brigaram. Mas não foi por egoísmo, nem nada do tipo. Eu precisa de um tempo meu, precisava de mim, precisava me resolver. Infelizmente para isso, tive que me afastar e abandonar pessoas que realmente gosto.

Ele abre a boca pra falar e eu continuo, não dando deixa para ele falar algo.

- Eu sinto muito por ter deixado todos vocês. Sinto muito se pareceu que não dei valor a cada um de vocês nesse lugar ou fora daqui, sinto muito por deixar o Dave, por abandonar vocês meus amigos e simplesmente ir embora. Mas existe coisas que você não sabe, Jeremy. E mesmo sabendo eu duvido que você vá entender. Então pra mim tudo bem se você não quiser me perdoar, eu gostaria muito que o fizesse mas se você não está disposto a isso, tudo bem. Só não fiquem brigados, só não briguem mais por minha causa, só não destruam uma amizade que vocês construíram ao longo dos anos por causa de mim, entenderam?

Ele ficou quieto, desistindo de falar o que ia falar

- Eu realmente sinto muito - olho fundo nos seus olhos - Me desculpe se pareceu que não dei valor a cada um de vocês, mas o que vocês não sabem é que foi graças a força que vocês sempre me deram que eu não fui parar no fim do poço muito antes. Simplesmente chegou uma hora que... não deu mais, e eu precisava me afastar.

Ele abre a boca de novo e eu interrompi, de novo

- Ir embora não teve nada a ver com a minha carreira de cantora. Teve a ver com a minha saúde mental. Ser cantora famosa sempre foi meu sonho sim, minha ambição sim, mas isso foi apenas uma coisa que foi se realizando ao longo do tempo. Eu não deixei ninguém de lado para ser a Emma Larson. Deixei todos de lado para encontrar a Emma Hall!

ele franziu a testa

- Você não precisa tentar entender o que estou falando, Jeremy. Só não deixa a minha presença destruir as coisas importantes pra você, como suas amizades. - Apontei para Marcos

Por fim, eu respirei fundo, e comecei a caminhar para a saída. Eu já disse o que tinha que falar e acho que se ele continuar na minha presença nunca vai se resolver com o Marcos.

É só o que eu quero aqui e agora. Que eles se resolvam. E bom, se não acontecer, eu pelo menos tentei. Apesar de que sei muito bem a angústia que vou ficar de saber que tudo isso é culpa minha e não conseguir concertar.

- Onde vai? - Jeremy pergunta de repente

- Vocês têm muito o que conversar. - Eu digo já abrindo a porta de saída

- Então quer dizer que você vai embora e deixa a sujeira pra gente limpar? de novo? - ele diz, me fazendo parar no meio do caminho.

O que interrompeu a minha saída não foi o que ele disse, foi como disse.

Quando olhei pra trás, eu vi uma coisa diferente.

Jeremy não estava bravo como antes.

Ele estava sorrindo.

- Pelo menos trás uma pá pra me ajudar - ele diz, colocando as mãos no bolso da jaqueta.

Joana olhou pra mim e sorriu, uma clara mensagem silenciosa de "Você conseguiu, Emma".

Então nós duas olhamos pra Marcos que permanência sério.

- Marcos? - Joana incentivou

Marcos revirou os olhos. Jeremy olhou pra ele, ele olhou para Jeremy.

Os dois se encararam por um bom tempo. Sem sorrisos, sem um olhar de simpatia, nada do tipo.

- Se você está achando que vou levantar do banco para ir até você, cara, está muito enganado. - Marcos diz

Então Jeremy se aproximou e os dois se cumprimentam.

Meu coração se encheu de alegria.

Todos nós resolvemos perdoar e seguir em frente.

Não prefiro esquecer o passado. Acho que eu prefiro enxergar o passado como lição de vida e principalmente me inspirar todos os dias na pessoa que quero ser.

No quesito Amizade eu sei muito bem que fui privilegiada e continuo sendo. O que parte meu coração é pensar em outras meninas e mulheres que tenham passado por situações iguais às minhas ou venha passar futuramente, não ter isso que tenho. Eu sei que muitas estão sozinhas de companhias, não tem apoio, não tem amigos verdadeiros, não tem algo para se prender nem por um segundo, e eu espero que cada uma delas no final das coisas consiga encontrar a si mesma, se prender a si mesma, amar a si mesma e saber enfrentar cada obstáculo da sua vida.

Se não saber também, tudo bem. Você pode ficar atrás de um obstáculo, pode chorar, pode sofrer, mas não desista.

Por favor, não desista.

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