Há 3 anos

- Que foi meu garoto? - Dave pergunta para nosso filho, com apenas um mês de vida.

Samuel observa o pai em silêncio, a cada movimento dos seus lábios desde os olhares divertidos e amorosos que ele lança para o bebê.

As meninas vieram nos visitar hoje. Dave foi trabalhar e só chegou agora, e mesmo cansado, arruma um tempo para Samuel.

Por enquanto, estou morando na casa dos pais dele, mas especificamente no quarto dele. A escola acabou, muitos foram fazer faculdade e Dave e eu ficamos pra trás.

Meus planos era esperar Samuel crescer mais um pouco pra procurar emprego. Mas quem ficaria com ele enquanto nós dois trabalhamos?

Minha mãe disse que estava providenciando um emprego pra mim na prefeitura, só pediu para que eu esperasse Samuel crescer mais um pouco.

Minha mãe é extremamente ocupada com assuntos da cidade, Bruno viajou com alguns amigos, as meninas tem as vidas delas, e... enfim, eu fico o dia inteiro com Samuel.

Ele acorda de madrugada, ele mal dorme. Quando dorme, é porquê Dave está aqui.

Assim que Dave se afasta, ele chora por um bom tempo. Eu tento ninar, eu uso a minha voz de fofa, eu tento brincar com ele, eu alimento, eu dou banho...

Mas nada que eu faça deixa Samuel calmo e sereno como quando Dave está perto.

Eu acho que ele sente.

Acho que ele sente o meu desconforto, o quanto não estou a vontade, o quanto me sinto mal. Ninguém ao meu redor nota, mas ele nota.

É triste perceber que ele sabe que tudo isso me deixa tão mal. Que eu não estou bem. Que eu não consigo lidar com isso.

Acho que por isso ele chora quando ficamos sozinhos. Por ter uma mãe idiota igual eu, e talvez, por dó de mim.

Ok, ok, Eu sei que ele é apenas um bebê de um mês de vida e não desenvolveu sentimentos e observações do tipo: "Minha mãe está triste", mas é essa a impressão que me dá.

- Você está bem? - Dave se aproxima com Samuel no colo, ele beija minha testa me fazendo abrir um sorriso cansado.

Estou muito cansada. Cansada fisicamente e... emocionalmente.

- Estou - digo, não querendo preocupar ele. Dave trabalha demais, está cansado demais, é muito egoísmo da minha parte falar de mim quando eu sei que ele está fazendo de tudo para que a gente evolua não só financeiramente mas como casal e principalmente, Família.

É por isso que me pego pensando as vezes que Dave Loftin merecia uma namorada melhor. Merecia que a mãe dos seus filhos fosse alguém melhor.

Todo mundo merecia alguém melhor do que eu.

Eu ocupo posto na vida das pessoas que não podia ocupar.

Porquê sou egoísta, fraca e completamente um monstro por não conseguir sentir felicidade por tudo isso.

Dave sentou ao meu lado na cama, fazendo carinho no meu cabelo com uma mão, enquanto com o outro braço segura Samuel que tem os olhos no pai completamente, encantados.

- Ele ama muito você - Eu sussurro, observando

Dave abre um sorriso pra mim, e diz: - E eu amo vocês mais que tudo na minha vida, Emma. Porque vocês são a minha vida, Então não existe palavra nenhum que descreva meu amor por tudo isso.

Eu passei a língua pelos lábios, umidecendo eles.

- Você sabe que não estamos na melhor situação agora - ele faz uma pausa, pensativo - Mas só temos dezoito anos, Emma. Temos muito tempo para errar, aprender e crescer. Nós vamos passar por isso, vamos ter a nossa casa, você vai ser uma cantora famosa e eu... vou ser seu empresário.

Eu ri

- Desde quando quer ser empresário? - Pergunto, sentindo meus olhos brilhando. Eu amo o Dave, não só por ele sempre estar ao meu lado, ou por acreditar em mim, mas simplesmente porquê amo ele.

- Desde que te conheci, Emma Hall. - Ele sussurra, me dando um selinho - Ou você acha que não soube no momento que coloquei meus olhos em você cantando que você algum dia irá realizar seu sonho?

- Por que estamos sussurrando? - perguntei baixo

- Parece que nosso garoto dormiu - Ele disse, sorrindo abertamente. Ele se afasta de mim indo até o berço o colocando lá. - Ele parece você dormindo.

- Como assim?

- Quando dorme, apaga complemente.

Mostro a língua, sentindo todo o sentimento ruim que me rondava completamente longe agora.

- Você está falando o que de mim, Dave Loftin? você ronca!  - Acuso

- Ronco, mas não babo - Ele se aproxima, provocativo. Seus lábios tocam omoseus, e seus braços rodam minha cintura.

Ficamos assim por longos segundos, coladinhos um no outro apenas ouvindo o som das nossas respirações e das batidas do nosso coração.

Então Dave começa a balançar nossos corpos, devagar, enquanto canta em sussurros com os lábios no meu ouvido uma música que gosto bastante. Hadaway - What is love?

- O que é o amor?
oh querida, não me machuque, não mais

Soltei uma risada, tentando agitar nossa dança lenta

- Oh querida, não me machuque, não mais - Eu canto, Dave entra no meu ritmo, dançando um pouco mais rápido mas ainda sim juntinho ao meu corpo.

- O que é o amor? - Ele canta

- Oh eu não sei, por que você é tão injusta, eu te dou meu amor mas você não se importa - canto junto com ele - Então o que é certo e o que é errado, me dê um sinal...

- O que é o amor? - Dave me inclina, divertido - Oh querida, não me machuque, não mais.

- Whoa, Whoa, Whoa, Whoa, ooooh  - canto

- Whoa, Whoa, Whoa, Whoa, Oooooh - cantamos juntos

Dave me levanta, me gira e canta em sussurro em meu ouvido. Em nenhuma momento seu corpo de afasta do meu.

- Emma? - Ele para por um instante, me olhando com aqueles olhos, aquele olhar apaixonado.

Deus, que eu nunca perca esses olhos. Esse olhar.

Que eu nunca perca o meu amor.

- Sim?

- O que é o amor? - pergunta

penso

- O amor... o amor é o sentimento que nos une e eu espero que nunca... nos separe. - respondo ainda pensativa - O amor é que me mantém bem, Dave.

Ainda.

Essa é a verdade. Eu amo o Dave, sou complemente apaixonada por ele há muitos anos, e ele me ajuda sem nem saber.

Consegue ver o impacto disso?

eu consigo. O que eu sinto no meu peito quando olho pra ele é um sentimento incrível e poderoso.

Acima de tudo, poderoso.

- O que é o amor? - pergunto pra ele segundos depois

- O amor é tudo aquilo que sinto por você desde o segundo que te vi pela primeira vez naquele corredor, cercada de amigos, mas incrivelmente... você. Sendo você o tempo todo. É o isso que me faz te amar, Emma. O fato de você ser você.

Então eu o beijei.

- Eu te amo, Dave - digo - sempre vou amar, não importa o que aconteça.

Seus olhos assumiram uma expressão de confusão

- O que aconteceria?

Dei de ombros, e deitei a cabeça em seu ombros. Então voltamos a dançar silenciosamente, qualquer música que passasse em nossas  cabeças.

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Está é a música:

Hadaway - What is Love (1993)