Capítulo 23

- Voxê volta? - O pequeno menino pergunta para mim enquanto está parado diante da porta principal, os olhos esperançosos.

Atrás dele, sua tia e seus avós me encaram. Cada um perdido no seu próprio pensamento.

Depois do tumulto por causa da presença de Selina e da discussão que ela e Dave iniciaram por minha causa, o clima que ficou entre os adultos era pura tensão.

Os dois haviam ido embora há meia hora, talvez mais, porém os efeitos ainda estavam presentes no ar.

Agora chegou a minha hora de ir embora.

Foi um dia muito cheio, todo mundo precisa descansar e assimilar cada acontecimento do dia.

E eu preciso deitar a cabeça num travesseiro e adormecer não só meu corpo mas principalmente o meu coração.

O meu coração que dói.

Caramba, como dói.

Será que dói por causa da dor que deixei em todos?

Será que dói pela minha própria dor?

Será que dói por todo esse sentimento angustiante que tenho toda vez que olho pra Samuel?

Ele é tão novo, tão pequeno, como ele pode ser tão amaldiçoado assim pra ter nascido de mim?

Por que eu sou tão egoísta?

Por que eu nunca quis e não me vejo como mãe?

Por que eu fui embora e perdi o amor da minha vida?

Era o amor perfeito. Era o namorado perfeito. Era a minha pessoa perfeita. Quando digo perfeita, não digo que era tudo perfeito. Tinha seus defeitos, seus problemas, mas cada coisa era o que me fazia amar Dave Loftin com todo o meu coração. Mas do que acharia impossível amar alguém.

E eu perdi isso.

São tantos questionamentos, tantas respostas. Na verdade, todas essas são as respostas para a dor no meu coração.

Não é ficção, não é fútil, é realidade. Dor no coração realmente existe. E dói bastante.

Como dói.

- Ei! - Samuel exclama, fazendo bico de bravo. Eu abri um lento sorriso observando ele.

- Que foi?

- Voxê volta? - pergunta de novo

- Volto - respondo

- Quando? - seus olhos brilham

- Você não vai se livrar se mim tão fácil, Sr. Samuel. - Brinco, mas não é tão brincadeira assim.

Ele sorriu grande, e então abriu os pequenos braços me abraçando. Bom, abraçando minhas pernas.

E por um momento eu fiquei completamente, desenfreadamente, sem jeito.

Eu Emma fiquei/estou sem jeito com uma criança de quase quatro anos.

Por um momento fiquei sem reação, então eu lembrei o porque estou aqui.

Ele me prende.

Samuel literalmente me prende aqui. Desde que o vi a sensação que tenho é que devo... ficar aqui.

Mesmo que eu não me enxergue como mãe, eu sou a mãe dele. Pensar nisso me faz abaixar, ficando quase na sua altura, e abraçar seu pequeno corpo.

Ele me abraça apertado.

- Até mais, Samuel - sussurro em seu ouvido

Ele me aperta e diz:

- Até, mãe.

Então eu levantei me soltando de seus bracinhos. Eu tenho consciência que nunca vou ser a mãe que ele merece, mas eu prometo fazer o meu melhor. Está na hora de seguir em frente, porque se eu viver pelas minhas dores, nunca terei uma vida.

- Ei, Emma - Sra. Loftin diz, quando estou prestes a acenar para ela, sua filha e seu marido.

- Sim?

- Só não suma, querida. - Pede, e eu assinto.

- Nunca mais. - respondo, apesar de tudo, sentindo minha pequena determinação ficando cada vez maior. Mais forte. Mais intensa.

Eles sorriem, eu aceno e vou embora.

   Carry está nervosa. Completamente, intimamente, nitidamente, claramente, nervosa

Não é preciso ser um observador nato para entender que suas batidas irritantes a cada segundo com o pé no chão, é nervosismo.

Não é preciso observar com mais detalhes e mais foco para entender que a cada instante que ela esfregava as mãos - num período curto de minutos - é nervosismo.

Abri a porta de casa, da minha antiga casa. Escura, mas não silenciosa. Consegui ouvir no segundo que coloquei o pé para dentro a voz de Violeta Hall e Bruno na cozinha, jantando.

- Que foi, Carry? Você está quase tendo um derrame! - Falo puxando sua mala

- Tem certeza disso? - ela pergunta pela milésima vez desde o curto trajeto que fizemos a pé da casa de Joana e Marcos até aqui. - Quer dizer, tem certeza que sou bem vinda?

- Você é. Eles não tem nada contra você.

- Mas...

- Mas nada, Carry! Já combinamos, você é minha assistente e eu preciso de você 24h por dia!

Você Carry, é minha amiga acima de tudo. Mas não vou te falar isso, já deu a minha conta de emoção hoje.

Puxo ela pra dentro, fechando a porta. A mulher parece uma estátua de tão dura e reta que está.

- Emma, vocês claramente não estão num bom momento como família, acho que mais uma pessoa se intrometendo não vai cair bem...

- Você não está se intrometendo em nada, Srta. Carry - Ouvimos e olhamos para o lado. Violeta está olhando pra nós, ao seu lado, Bruno da mesma maneira.

Carry fica em silencio, analisando as palavras de Violeta. Devo admitir que até eu estou analisando, pensei que haveria uma discussão no segundo que contasse que Carry ficaria em casa comigo.

- hum... tem certeza? - pergunta Carry tímida

Deus, Carry é uma gracinha e eu claramente não sou a única a achar isso. Posso ver no rosto de Violeta e Bruno uma certa...

como posso dizer?

Simpatia.

- Temos certeza. - Disse Violeta, assentindo e olhando pra mim - Bruno pode dormi na sala e ela pode ficar no quarto dele.

- O quê? Magina! Eu posso ficar no sofá! - Carry se apressa a dizer

- Não tem problema, eu fico com o sofá e você com meu quarto. - Bruno diz, tranquilo. Carry observa Bruno atentamente.

Caramba, Mulher! Não deixa na cara sua queda!

- Não, não vou te tirar do seu quarto!

- Bruno não se incomoda.

- Minha mãe tem razão - ele abre um pequeno sorriso pra ela, observando ela detalhadamente. - Eu não me incomodo.

Essa com certeza é a primeira vez que vejo Bruno sorrindo desde que voltei. Claro que o sorriso não foi pra mim, mas ainda sim, foi um sorriso.

- Está decidido, então. - Violeta diz

- Não, Não está! Não vou ficar no seu quarto. - Carry diz novamente

Reviro os olhos, é mais forte que eu. Já me sinto um pouco impaciente com essa discussão.

- Carry, dorme no meu quarto e eu no sofá. Fim de conversa. - Falei, puxando sua mala, ela me impediu

- Você não vai dormir no sofá!

- Eu já falei, eu durmo no sofá! - Bruno diz também ficando impaciente, acho que é mal do nosso sangue.

- Ninguém dorme no sofá! - Carry exclama, respirando fundo. Então olhou pra mim - Vamos fazer o combinado.

- Tudo bem. - concordo

- qual é o combinado? - Pergunta Violeta de sobrancelha erguida

- Vamos dormir juntas - Respondemos, praticamente, ao mesmo tempo.

Violeta e Bruno ficaram nos olhando, parados.

- Relaxem, não gostamos da mesma fruta! - Carry faz uma tentativa de brincadeira, nervosa ela se corrige - quero dizer, gostamos da mesma fruta, mas não gostamos das nossas frutas.

Ninguém respondeu

- Quando digo nossas frutas, hum, vocês sabem, temos a mesma coisa então basicamente não gostamos disso e...

- Carry - digo, interrompendo. Ela está gesticulando muito, muito, muito nervosa. Incrivelmente estranho, foram raras as vezes que a vi assim.

Acho que na verdade, é a primeira vez.

Quando olhei para Violeta, pude ver claramente que ela se sente confortável com a presença de Carry. Quando meus olhos pousaram em Bruno, eu vi seu pequeno sorriso.

De quem acha graça.

De quem gosta.

Então eu percebi. Seu nervosismo é por causa da presença do Bruno. E só pelos efeitos que ela está causando nele como: sorriso fácil, tranquilidade, etc... De uma coisa começo a ter certeza,

É Carry, parece que você tem chances.

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