Capítulo 21

Por um momento estava tudo bom demais para ser verdade.

Os Loftin estavam felizes com a minha presença novamente na mesa da cozinha deles. Karen não parava de falar das saudades que seu amigo nerd que me lembro muito bem, fazia. Ela me explicou que ele se mudou para a casa do pai dele em outra cidade, e que só o veria se tivesse sorte, duas vezes ao ano quando ele viesse visitar sua mãe em feriados importantes.

Por um momento senti pena dela, sempre foi nítido o carinho entre ambos.

- Vai ensinar meu neto a tocar violão? - Sr.Loftin me perguntou

- Eu quelo! Eu quelo! - Samuel exclamou empolgado, sentado na cadeira ao meu lado

Eu sorrio pra ele, a ideia não me parece nada mal. Meu pai me ensinou e eu adoraria ensinar para Samuel.

- Bruno, seu irmão, tentou ensinar o Samu mas parece que ele não tem jeito pra coisa - Disse Sra.Loftin

- Quem? Samuel? É tudo questão de prática. - Eu digo

- Não o Samu, mas o Bruno. Ele não sabe ensinar de jeito nenhum - Disse Karen rindo - Ele explica pra Samuel como se o menino fosse adulto, além do mais, acho que nem ele entende direito sobre musica.

- Por que você não ensina? - Pergunto pra Dave. Por um momento não parece Emma Hall e Dave Loftin de três anos depois.

Parece apenas Emma Hall e Dave Loftin de três anos atrás.

- Eu nunca aprendi direito - Ele coçou a cabeça, envergonhado - Você sabe que os motivos das aulas nunca foram realmente as aulas.

- O motivo era a professora - Karen disse, sem papas na língua.

Eu sorri envergonhada e Dave também. Ao mesmo tempo que tinha vergonha em nosso sorrisos, tinha nostalgia também. Eu lembro muito bem disso tudo, e sabia também que ele não queria realmente aprender. Mas quando se tratava de música eu sempre fui muito focada, então ensinava mesmo assim.

Ou pelo menos tentava.

- Fica quieta, Karen - Dave disse

- Ficar quieta por quê? não estou falando mentiras.

- Verdade, papai? - Samuel abriu um sorriso bobo para seu pai que abriu outro para o filho.

- Um dia eu estava ensinando seu pai, Samuel - Atrai a atenção de todos - E ele sentou na ponta da minha cama porque não estava sabendo segurar o violão direito e nem percebeu. Papo vem, papo vai, ele caiu com tudo para trás e o vilão bateu no queixo dele.

Todos riram, inclusive Dave, lembrando.

- A culpa foi sua que não me avisou que eu estava sentado mais pra fora da cama do que na cama - acusou

- Culpa minha? culpa sua que mentia que estava interessado em aprender.

Ele sorriu abertamente

- Naquele dia cheguei em casa e contei para todo mundo, na brincadeira mesmo, que você me bateu.

- O merda, eu lembro desse dia! - Karen exclamou rindo alto - Mamãe acreditou e ainda disse bem feito pra ele, mesmo sem saber o motivo da suposta violência.

- Sério que você mentiu assim na cara dura? - pergunto para Dave e olho para Sra.Loftin que estava tomando um café sorrindo divertida - Todos esses anos você me viu como uma namorada violenta?

- Seja lá qual fosse o motivo, Dave merecia. Folgado que só - respondeu

Sr.Loftin riu

- Eu ainda perguntei se ele não queria terminar com você.

Olhei para Dave

- Não sabia que você era tão cara de pau assim.

- Pessoal - Karen chamou, atraindo nossa atenção e apontando para Samuel que estava com um sorriso no rosto observando tudo.

- Está feliz, Samuel? - perguntou Sra.Loftin para o neto

- Sim! - exclamou animado

A gente riu, admirando o pequeno menino. Sra.Loftin levantou o olhar e observou todos nós, parando em mim e por último em Dave.

- Parece que não é o único.

E foi então que algo aconteceu justamente para acabar com tudo isso. Justamente para acabar com cada segundo maravilhoso até agora, e principalmente a leveza e diversão do ambiente.

É como dizem: algumas alegrias duram pouco.

Selina entrou no ambiente, a expressão seria, o corpo rígido, os olhos fervendo.

- Agora pronto - Karen sussurrou, bebendo um longo gole de café quentinho.

Eu olhei para frente em silêncio, evitando olhar pra Selina sabendo que sua raiva é principalmente, se não unicamente, pela minha presença.

- O que essa mulher está fazendo aqui? - rosna ela

- Se acalma e toma um café também, Selina - Sra.Loftin convida

- Não quero café, eu quero uma explicação!

- Karen - Dave chama sua irmã que olha pra ele atenta - Leva Samuel para o seu quarto.

- É pra já.

- Não, eu quelo ficar! - Ele choraminga, tentando segurar no meu braço quando Karen o pega no colo

- Vai brincar com sua tia - Eu digo

- Eu quelo ficar aqui com voxê! - chora

- Eu já vou subir para brincar com você, tá bom? - aperto sua mãozinha, ele concorda ainda chorando, Karen o leva pra cima.

Quem diria, como a vida é completamente aleatória e engraçada. Há um mês, seja num palco, seja numa suíte de hotel numa cidade completamente linda, eu não imaginaria que um mês depois estaria aqui retornando para tudo aquilo que fugi.

- Como vocês deixam essa maldita entrar na casa de vocês depois de tudo que ela fez? - Exclama Selina, me fazendo repentinamente lembrar da sua presença.

Olhei bem pra ela, além da ira destinada a mim, ela vestia um belo par de botas e uma parka branca.

- Selina... - Dave começa

- Selina um cacete, Dave! Eu não consigo acreditar no que estou vendo!

- Pois acredite, porque acho que você não é cega - Falei, atraindo atenção de todos.

Eu dei de ombros, deixando claro que nao sou mais tão bobinha quanto antes.

Selina riu, debochada

- Você é uma desgraçada! O que pensa que vai conseguir aqui, hein? O Dave está comigo agora! Samuel está comigo agora!

- Para com isso, Selina! - Dave grita se levantando da cadeira - Vamos conversar só eu e você em outro lugar.

- Que mané outro lugar o quê! Emma destruiu todos vocês e vocês simplesmente aceitam ela de volta como se nunca tivesse metido o pé?

- Selina - Sra.Loftin se levanta da cadeira, claramente de saco cheio - Se você quer discutir com alguém aqui, façam isso da porta pra fora. Se tem uma coisa que sempre detestei na minha casa foram brigas.

- Tudo bem, tudo bem! - Ela exclamou tentando se acalmar, me queimando com os olhos - Vamos embora, Dave, agora!

- Espera, Selina...

- Chama o Samuel e vamos embora!

- Não! - Ele fala alto para a surpresa de todos

- É sério isso? Você está mesmo gritando comigo por causa dessa... dessa aí!

- Eu não estou gritando com você.

- Que seja! Está totalmente diferente desde que ela deu as caras de novo.

- Só me escuta, caralho!

- Eu não quero escutar, Dave, Eu quero ir embora! Não aguento olhar para ela, não aguento ver ela sentada na maldita mesa dos seus pais como se fosse uma integrante da família feliz! - ironiza - Será que você não vê o quanto isso é doentio? como você permite que alguém que abandonou você e seu filho volte para sua vida quando bem quiser?

então eles ficaram em silêncio, todo mundo ouvindo a respiração um do outro. Me sinto tão mal por concordar com Selina em algumas partes...

Dave respirava fundo, um pouco, transtornado. Ele bagunçou ainda mais seus fios escuros, pensativo.

- Mãe, pai, Samuel pode dormir aqui? - pergunta ele sem olhar pra mim

- Você sabe que sim. - Respondeu Sra.Loftin

Ele assentiu, e olhou pra Selina.

- Vamos embora.

Então saíram, indo embora, sem mais nem menos.

A única coisa que me magoa em saber que Selina estava certa em quase tudo o que disse, é lembrar que minhas ações, meu sofrimento, minha dor... Me tirou o melhor de mim.

Me tirou o amor.

E agora o meu amor estava com outra pessoa, discutindo com outra pessoa, discordando com outra pessoa, indo embora com outra pessoa.

Isso me faz lembrar algo interessante sobre nós dois, amor certo, hora errada.

Sempre foi a hora errada.

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