Capítulo 15 - parte I
Violeta foi dirigindo durante o caminho de 30 minutos, em silêncio.
Bom, ela estava em silêncio, como eu nunca ousei ver. Lembro bem que na minha infância, minha mãe vivia gritando por mim e Bruno. Quando cresci e era capaz de entender mais as coisas, ela chamava alto, ela vinha conversar com a gente, ela exclamava coisas.
Ela nunca ficava em silêncio.
Eu fui no banco de trás com Samuel e eu fiquei um pouco... impressionada. Samuel é um menino muito animado, muito alegre. Suas risadas são fáceis, seus sorrisos são doces e inocentes e seus olhos são brilhantes de um castanho brilhante.
Me lembra os meus.
- Voxê vai gostar? - Ele pergunta, após falar de maneira empolgante sobre seu desenho favorito
- Acho que sim - respondo, mas eu não estava muito focada na conversa em si. Ou quase conversa.
Eu estava focada, nele. Unicamente nele.
Não consigo descrever a sensação que sinto. Se é o fato de estar impressionada com o tanto que ele cresceu, se é o fato de que ele me faz sentir... afeto. É, ele me faz sentir isso, afeto.
Eu ainda lembro a última vez que o vi, ele tinha meses de vida. Era pequeno, chorão, mas acima de tudo, muito lindo e fofo.
Hoje ele está maior, ele não é mais um bebê. Seu rostinho pequeno, suas maçãs vermelhas, seus cabelos de um castanho vibrantes igual do pai, os olhos brilhantes, igual os meus. As mãozinhas gesticulando enquanto falava com animação.
E eu senti. Senti o afeto, durante todo o percurso até minha antiga casa, enquanto ele conversava comigo sobre suas coisas favoritas e enquanto sorria pra mim quase como se sentisse o mesmo.
Pode ser loucura da minha cabeça, talvez uma mera ilusão causada por esse sentimento que resolveu vir a tona mas... eu acho que ele sabe.
Não, eu tenho quase certeza que ele sabe.
Sabe que sou a mãe dele.
Quando o carro de Violeta Hall parou em frente à meu antigo lar, ela respirou fundo antes de fazer qualquer movimento.
Então ela olhou pelo espelho retrovisor, observou Samuel falando comigo por alguns segundos, por fim, saiu do carro.
Quando ela saiu foi minha deixa para colocar a mão na porta para também sair. Quando eu sai, Violeta já estava vindo para o meu lado, e eu só percebi o porquê quando Samuel abriu os braços pra mim.
- Ele quer que você pegue ele. - ela baixou os braços
- Por que se ele é grandinho e consegue descer do carro sozinho?
Foi só uma pergunta, não saiu de maneira grosseira, de maneira irônica, de jeito nenhum. Foi apenas uma pergunta, por mera curiosidade.
Porém, o fato da pergunta ter vindo de mim, fez Violeta me encarar irritada.
Revirei os olhos, sem paciência para xilique. Eu me inclinei para perto do carro, e peguei Samuel nos braços.
- Misericórdia, que menino pesado - Eu disse sentindo o peso, ele riu e entrelaçou os braços em meu pescoço, olhando pra mim. - O que você anda comendo?
- Cumida.
- Venham, vamos entrar - Violeta chamou, e foi quando percebi as vizinhas fofoqueiras na rua, me observando
Eu sorri, acenei (nem aí pra elas) e entrei com Samuel pra dentro da casa que por sinal não mudou absolutamente nada, está tudo na mesma.
Tipo, tudo na mesma, de verdade. Até as fotos. As fotos das paredes, as fotos dos móveis, em que a maioria eu estava.
- Olha - Samuel aponta pra um quadro em que estamos eu e Bruno - mamãe.
Eu paralisei. Não é possível que ele... que ele seja tão esperto assim. Quer dizer, é uma foto entre várias fotos em que estou. E eu confesso que a única coisa que me difere da menina de dez, cinco ou quatro anos atrás é o estilo.
Meu estilo era tão menina. Hoje quando me olho no espelho eu vejo uma Emma mais madura, meu novo jeito de me vestir marca isso.
- O que você disse? - Eu perguntei a ele, incerta se ouvi certo
- Mamãe. - repetiu, olhando pra mim
- Ela é sua mãe? - perguntei apontando para a menina da foto, no caso, eu.
- Sim - respondeu rindo, como se eu fosse louca. Mal sabe ele que estou quase.
A curiosidade estava me perseguindo, de alguma maneira, ele sabia. E eu precisava confirmar isso.
Mesmo sabendo que se sim, Samuel me reconhecer como mãe, estar no fundo do poço como estou agora não é verdadeiramente o fundo.
O fundo ainda está chegando, e tenho medo de chegar até ele de verdade.
- Quer alguma coisa, Srta. Larson? - Violeta veio da cozinha, eu nem tinha notado que ela havia se distanciando por um momento
Neguei com a cabeça, focada em Samuel.
- Samu? - Perguntou pra ele, ele negou apertando ainda mais seus braços em meu pescoço.
- Tudo bem, eu vou... - Violeta parecia incerta sobre me deixar com ele - Preciso lavar a louça, mas deixa pra...
- Pode ir, Violeta - Eu falei - Eu fico com ele na sala.
Ela ficou parada, me encarando. Ainda incerta sobre. Por fim, assentiu e se distanciou.
Eu coloquei Samuel no chão e fomos juntos para o sofá no centro da sala. Observei a sala, os móveis, tudo. Pensei que nunca mais veria nada desta casa.
Sentei no sofá, Samuel sentou ao meu lado com um brinquedo.
- Então Samuel, onde está sua mãe? - resolvi perguntar de uma vez
Ele riu, levantando o brinquedo que só então pude ver direito, no ar. Era um avião vermelho de plástico.
Ele ergueu o avião, desceu, focado nele. Então respondeu:
- Ela está ali - Apontou pra outro quadro, da minha formatura do fundamental. Suspirei, ele continuou: - e aqui.
Apontou pra mim com seus dedos pequenos.
Eu não sei como reagir, saber que... uau, saber que ele... sabe, me deixa tensa, preocupada, e talvez, aliviada.
- Brinca comigo? - Ele perguntou, com sua voz fofa, nem parecia que tinha acabado de soltar uma bomba no meu colo.
- claro - Eu respondi. Assim que as palavras saíram dos meus lábios, Samuel levantou, puxou minha mão, e me fez sentar com ele no chão.
Ele foi correndo buscar seus brinquedos do outro lado da sala de estar, então trouxe um caminhão, dois carros, um caminhão de bombeiros, um ônibus, dois dinossauros e um urso de pelúcia.
- ele, mau! - Ele aponta para o urso, deixando ele no centro. Ele coloca o avião que carregava antes consigo, de lado, me dá o caminhão de bombeiros, um dinossauro e um carro.
- Já entendi - Eu sorriu, ele fez um rugido segurando seu outro dinossauro - Vamos atacar!
- Atacar!!!! - Ele exclama, e juntos atacamos o ursinho mau.
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