Capítulo 12 - parte III

- Você está bem? - Pergunta Rita para Joana após a breve saída do nosso lado para ir atender um grupo de adolescentes que acaba de chegar.

- Não vendeu álcool para eles, vendeu? - Joana aponta com o queixo para o grupo de cinco pessoas, três meninas e dois meninos.

Rita não respondeu

- Mulher, eles parecem ter quinze anos! - Joana exclama

- O que que tem? vocês começaram a frequentar esse lugar com essa idade se não me engano.

- Com a gente era diferente - eu digo mais calma, mais tranquila depois de tanta tensão a poucos minutos

- Diferente por quê? só por que eram vocês? - questiona Rita com a mão na cintura - Você sabe que se sua mãe descobrisse ela tinha todo o poder e ainda tem de fechar esse lugar.

- Por que vendia para elas então? - Carry pergunta confusa

- Eu não vendia - deu de ombros - Eu dava, mas um copo apenas, dois no máximo, caso contrário eu mesma proibiria a entrada de todos eles nesse lugar.

- Ainda bem que não fez - Eu disse mas focada em analisar o lugar, fiquei tanto tempo sentada aqui e bebendo que mal analisei as mudanças - A propósito o bar ficou ótimo.

- Obrigado - Sr. Lorenzo vem até nos, ele não ficou muito conosco desde que chegamos. O homem estava de lá e pra cá levando bebidas e por vezes, comida a seus clientes - Me desculpe a correria, mas você sabe como é.

- Sei, lembro bem - digo

- Quria que Marcos tivesse vindo - Joana disse sorrindo um pouco triste. Há poucas horas ela pareceu não se importar com o fato de seu namorado/meu amigo se negar de todos os jeitos nos acompanhar. Porém, muitos copos de bebidas depois, mais do que eu possa contar, não o tanto para que fique bêbada mas o suficiente para ficar sentimental, Joana finalmente fica.

Eu coloco a mão em seu ombro

- Por que ele não quis vir em? - insisto mais uma vez

Ela apenas sorriu sem mostrar os dentes. Sei bem que tem coisa aí que ela não quer me falar, mas tudo bem, não irei insistir mais.

Bruno Hall estava em cima do palco cantando novamente, dessa vez um pouco mais meloso, com a boca grudada ao microfone. Quase ninguém do bar prestava atenção no meu pobre irmão, até porque todos estavam ocupados rindo, falando alto, bebendo, jogando sinuca ou coisas parecidas.

Entretanto, uma pessoa estava extremamente focada nele. Tanto que toda vez que Bruno Hall sobe naquele palco, ela para de conversar conosco para fazer nada mais nada menos do que observa-lo.

Carry Lockwood. Umideço meus lábios, me machuca um pouco pensar que ela talvez nunca tenha uma chance com ele.

Por causa de mim.

Bruno tem raiva de mim e claramente está me evitando de todas as formas, imagino o que ele faria se soubesse do interesse da minha assistente.

- Pobre, Bruno - Sr Lorenzo segue meus olhos e observa meu irmão - Ele nunca vai cantar tão bem quanto você.

Eu sorrio sem mostrar os dentes

- Ele nunca foi tão interessado na música - respondo

- Ele canta bem - Carry murmura ainda vidrada

- Você já está vendo coisa, Carry - Joana murmura nada impressionada com meu irmão

- Por que o interesse repentino? - Não pude evitar pensar alto.

Pois aquilo me confunde. Meu pai, nosso pai, sempre nos fez escutar todos os tipos de música, sempre nos incentivou, e comigo deu certo de todas as formas. Eu sempre tive a música em primeiro lugar, no entanto, Bruno mal se importava.

Mal se interessava, então por que o interesse repentino?

- Depois que você foi embora - Disse Rita, como se fosse resposta a minha pergunta

- Como é?

- Rita! - Sr. Lorenzo deu uma cotovelada nela, um claro sinal para ela não se intrometer em nada. Rita ignorou

- Que foi, homem? Ela tem que saber. Olha Querida - Virou totalmente para mim, atraindo todas as atenções. Minha, de Joana e inclusive da Carry. - Você é muito querida, ok? e sempre vai ser aqui, no meu coração. Só que do mesmo jeito que você sempre será querida para mim, você é para Joana, e era para todos. Seu irmão, sua mãe, e aquele garoto.

Não precisei olhar para trás para saber que se referia a Dave.

- Sua partida repentina, de repente, em meio às circunstâncias, afetou a todos. Bruno principalmente.

- Engraçado, pois vocês não eram muitos próximos, você odiava que sua mãe o colocasse para te acompanhar em todos os lugares. - Joana lembra

- Mesmo assim, ele ainda é irmão dela - Rita diz e abre a boca para falar mais uma coisa, porém olha para Joana, e então ela mesma se interrompe. Ela respira fundo, abre um sorriso enorme e pergunta: - Querem mais bebidas?

- Assim vai acabar com o nosso estoque - Sr. Lorenzo brinca

Olhei para Joana que olhava para Rita. Tem alguma coisa aí, elas estão me escondendo alguma coisa.

- Acho melhor a gente ir, está tarde - Joana diz, se levantando

- O que aconteceu? - Pergunto, ela sabe bem sobre o que.

- Vamos, Carry? - chama Joana, me ignorando

- Mas já? tão cedoooo - resmunga Carry se levantando igual uma menina mimada

- Parece que temos alguém altinha aqui - Joana diz, pegando na cintura de Carry para apoia-la caso invente de cair - Vocês querem dormir em casa?

- Não, obrigada. Vamos voltar para o hotel.

- E vão ficar as duas naquele quarto? vamos, Emma. Na minha casa tem quartos para que durma em paz.

- Não precisa, de verdade - Eu digo, pegando a blusa de frio que nem notei que Carry trazia consigo. Joana e Carry foram na frente, em direção a saída. Eu acenei para Lorenzo e Rita, prometendo voltar para ve-los ou caso eu venha ir embora mais cedo que o planejado, me despedir.

Enquanto eu saia, eu olhei para Bruno. Cantando baixo, de olhos fechados. Olhei para o outro lado, Dave e Jeremy jogando sinuca. Jeremy estava zombando de Dave, e Dave estava sério.

Nem um sorriso. Nem nada. Ele só estava sério. Não me viu olhando para ele, mas sei que sentiu meu olhar, e fez de tudo para evitar olhar de volta.

É Dave Loftin, eu sei que doi.
Eu sei que machuca.

Bruno Hall, eu sei que fui uma péssima pessoa, pelo menos no conceito de vocês. Mas vocês nunca vão entender o que se passava na minha cabeça, muito menos o porque eu precisei ir embora.

Quanto a você Dave Loftin.

Sei que te machuquei.
Sei que doeu.
Sei que ainda machuca.

Mas infelizmente é assim, em um mundo onde todos colocam o amor em cima de um pedestal, sinto informar que até os pedestais quebram.

E as vezes só é preciso empurrar.

E no nosso caso, eu empurrei.



Depois de deixarmos Carry deitada na nossa cama de hotel, pois ainda não pedi pelo quarto do lado para ela, e cada uma ter sua privacidade, Joana quis ir embora.

Mas eu não deixei.

Eu precisava saber.

Eu precisava ouvir.

- Eu sei que você é minha amiga, eu sei que você se importa - Começo

- Emma...

- Mas toda vez que tocamos no assunto da minha ida, eu vejo você me julgando. Tudo bem, Joana. Eu fui horrível, eu sou horrível, eu sei lidar com os olhares que ando recebendo, com o ódio que venho recebendo, mas por favor, não ache que me privar das coisas vai me fazer ficar melhor, ou sei lá o que esteja passando na sua cabeça.

- Eu só não quero falar sobre isso, ok?

- Não, Joana. Não está, ok! Eu consigo lidar com a raiva e com o deprezo de todos, eu e você sabemos o motivo, mas caramba, tem muita coisa que você não me conta. A começar por, por que Marcos não quis a festa do Jeremy? vocês todos eram amigos. O que a Rita iria falar que só bastou olhar para você que fez ela calar a boca? eu tenho o direito de saber!

- Foi por sua culpa, Emma - respondeu ríspida. Mas eu já sabia. Eu só precisava de uma confirmação - Foi tudo sua culpa.

Eu assenti, ciente disso. Ela virou para mim totalmente, com expressão de cansada

- Eu ouvi sua breve discussão com o Jeremy e com o Dave e isso me fez lembrar tudo. E essa é a verdade, é sua culpa Dave e Selina estarem juntos, é sua culpa o seu irmão ter começado a ser um cantor de meio tigeja para sentir uma conexão com você, mesmo que mínima, é sua culpa o seu filho ter crescido sem a mãe, é sua culpa o Marcos e o Jeremy terem brigado no soco e hoje em dias eles nem se falarem mais!

Ela explodiu, e tudo bem, eu mereço essa explosão.

- Por que eles brigaram? - perguntei minutos depois

- Por que assim que você foi embora, o Dave se arruinou. Sua mãe se arruinou. Seu irmão se arruinou. Todo mundo ficou aos pedaços, e quando você começou a aparecer na mídia, poucos meses depois sendo conhecida como a nova sensação do momento, foi aí que o Dave caiu de novo, e pra pior. Por que essa foi a resposta que precisávamos para saber o motivo. Esse foi o motivo pra todos entender seu egoísmo. Tentamos juntar os cacos, tentamos manter nossa amizade ainda acima de tudo entre todos, mas já não concordavamos, entende? então um belo dia o Jeremy te xingou de todos os nomes possíveis, irritado pelo jeito que Dave estava por sua causa, Marcos não gostou e os dois brigaram no soco. Foi uma briga feia, Emma. Nunca na minha vida vi o Marcos tão irritado daquele jeito. Eu entendo porque, porque ele te ama. Eu amo você, e por isso estou tentando ser tranquila, compreensiva e sempre feliz com você, mas as vezes não dá pra esquecer o que você fez e o que isso causou a todos!

Ela secou as próprias lágrimas, nervosa. Finalmente desabafando. Eu respirei fundo, incapaz de dizer qualquer coisa.

Eu me sinto incapaz sempre. Sempre quando eles falam a verdade. Sempre quando falam a realidade. Sempre quando dizem o impacto das minhas escolhas.

- Quando sair fecha a porta por favor - Foi o que respondi, para sua surpresa. - Eu vou tomar banho.

Não queria soar seca. Não com ela. E a verdade é que não estou magoada por causa da sua explosão e sim as palavras que saíram nesse momento.

Pela primeira vez em muito tempo, eu precisava fazer o que nunca mais fiz.

O que nunca mais me permiti fazer.

Eu precisava chorar.

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