Capítulo 12 - parte I

- Você está bonita - Diz Joana, assim que saio do banheiro do quarto do hotel. Ela segura Scarlet preguiçosa em seus braços, que por mais que esteja recebendo carinho de Joana seus olhos famintos miram em mim.

Depois do jantar em sua casa, Joana acompanhou eu e Carry para o hotel, para nos vestirmos de um jeito muito melhor do que estávamos e irmos para a comemoração do aniversario do Jeremy.

Por algum motivo, Marcos não quis ir.

Marcos, meu amigo do passado, meu amigo do presente (não importa o que tenha acontecido, ele continua sendo incrivelmente especial quanto antes) recusou o meu convite.

Horas, vamos ser honestos, vai acontecer num bar, não é como se fosse ser uma comemoração privada. Se for como costumava ser, provavelmente vai ser só um bando de pessoas reunidas, enchendo a cara, rindo, jogando sinuca e conhecendo bem o aniversariante, cantadas furadas de sua parte na maior parte das mulheres presentes no local.

Então não existe o mínimo problema em eu ir. Ué, posso só estar querendo beber, encher a cara, rodar a baiana... Ok, não é para exageros, mas acho que estou explicando bem o porquê minha presença não deve em hipótese alguma ser questionada em local aberto ao público.

Respira fundo, Emma Larson.

Respira fundo.

Minha presença não deve ser questionada mas vai ser muito bem questionada. Então, se for para ter todos os olhos na garota que foi embora, na garota que fazia parte de tudo aquilo, na garota que hoje é uma mulher, que ela pelo menos esteja bem vestida.

Eu sorrio para Joana agradecendo o elogio. Não é como se eu estivesse usando o vestido mais caro do mundo, os saltos mais invejados ou o cabelo mais brilhante, não é pra tanto. Minhas roupas não passam de uma calça jeans escuro, conturnos de saltos e uma camiseta simples.

Eu sou apenas eu.

Essa sempre fui eu.

As pessoas que não estão acostumada com essa eu.

- Por que seu namorado não quis vir? - Perguntou Carry colocando comida num pote para Scarlet que pulou dos braços de Joana no mesmo instante, correndo em direção a sua comida.

- Você não alimenta essa gata, não? - Perguntou Joana observando um leve arranhão em seu pulso

- Alimento até demais - Falo, recebendo um par de olhos felinos estreitos, antes de voltar a comer. - Daqui a pouco eu volto.

Aviso Scarlet que parecer acenar com o rabo pra mim, focada ainda em sua ração. Saímos do quarto e do hotel conversando sobre o quanto aquele animal tem fome.

Joana como boa amante dos animais, a defende. Mesmo tendo sido arranhada, Joana diz que minha pobre gatinha pode estar precisando mais da minha atenção e como ela não consegue se expressar, toda vez que ela se aproximava de mim criei o costume de alimenta-la, fazendo assim ela se acostumar com mais comida que o normal.

- Você ainda não respondeu minha pergunta - Diz Carry para Joana, enquanto caminhávamos pelas ruas pouco iluminadas nesta noite em direção ao bar.

- Qual pergunta?

- Pelo que entendi vocês todos, mais essas pessoas que vamos encontrar no bar, eram amigos. Então por que seu namorado não veio?

Joana deu de ombros

- Ele e Jeremy não se dão bem... há muito tempo. - Respondeu ela, para minha surpresa.

- Como assim? - Pergunto observando Carry balançar seus cabelos, soltos. Gosto de vê-la assim, sem aquela imagem de assistente estreitamente e perfeitamente professional. Hoje ela está mais solta, mais descontraída. Mais ela.

Apesar de ainda estar fechada. Talvez seja apenas seu jeito.

- Complicado de explicar - Respondeu Joana e então prendeu os cabelos negros em um coque no alto da cabeça, como se o assunto lhe causasse dor de cabeça

- Os dois eram bem próximos - lembrei, e então sinto aquele sentimento estranho. Como as coisas mudam tão rápido assim?

Quer dizer, não tão rápido... Se passaram três anos. Em três anos muita coisa pode acontecer, só não imaginava que caso voltasse encontraria tanta coisa diferente.

Quem eu quero enganar? Eu nem pensava em voltar.

- Estamos muito longe? - Carry pergunta mexendo em seus cabelos de novo

Eu ergo uma sobrancelha

- Isso é sedentarismo, dona Carry?

- Não faço academia.

- E tem esse corpinho lindo? - Joana olha desconfiada e então olha pra mim - aposto que é mentira.

- Estou falando sério - respondeu Carry

- Pior que é verdade - confirmo - Carry nunca mente.

- Eu nunca minto.

Joana dá risada. Aquilo de alguma forma realmente soou engraçado.

Então ela lambe os lábios e arruma os cabelos pela milésima vez.

- Está vendo o que eu estou vendo? - me vejo perguntando a Joana que também analisa Carry

- Você tem algum tique nervoso? - Joana pergunta a ela

Carry franze a testa confusa

- Não, por quê?

- Bom, ou você tem um tique nervoso e não sabe ou está afim de alguém - respondeu

Eu abro um sorriso ao notar o rosto vermelho da minha assitente

- Joana ataca novamente - Eu digo lembrando de todas as vezes que sua falta de papa na língua fez alguém ficar timido ou envergonhado como Carry está agora

- Amiga, você não viu nada - piscou pra mim - Ao longo dos anos só fui afiando este meu dom.

- Não estou afim de ninguém se vocês querem saber - Carry diz seriamente - Eu só pensei em ficar mais relaxada já que vou ficar aqui por tempo indeterminado.

- Vai mesmo ficar? - Perguntou Joana. Eu quase vejo um pingo de esperança em seus olhos

Dei de ombros

- Por pouco tempo.

- Ah. - sua esperança some e então ela aponta para um bar que mesmo a gente estando do outro lado da rua, é possível ouvir o barulho.

Risadas.

Vozes.

Gritaria.

Diversão no geral.

- É ali? - Carry pergunta já caminhando na direção do bar, deixando Joana e eu para trás.

Bom, eu para trás. Joana apenas resolveu me esperar.

- Tudo bem? - Pergunta ela

Eu assinto, observando o bar. Desde que voltei para a cidade tudo que consigo ver a cada lugar que frequentava antes, é eu.

Eu com dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis, dezessete e dezoito anos. Na infância, correndo. Na adolescência, andando com meus amigos.

- Sim, tudo ótimo - Eu digo, balançando a cabeça tentando de alguma forma tirar estes pensamentos de mim. Em melhores palavras, lembranças.

- Vamos, Emma. Você quem teve a ideia, viemos para nos divertir, esqueça o resto.

Concordo com a cabeça, então começo a caminhar atrás de Carry que nos espera na porta do bar fechado.

Então ela abre a porta.

Eu vejo muitas pessoas. Bebendo, rindo, flertando, conversando.

Vejo Sr. Lorenzo, dono do bar, entregando bebidas para um casal. Vejo sua esposa, Rita, no balcão rindo de algumas pessoas.

Vejo Bruno Hall em cima do pequeno palco cantando baixinho, com a voz rouca e de alguma forma envolvente. Não preciso estar perto para saber que seu rosto está suado. Enquanto eu sempre fui a louca pela música, Bruno só o fazia, raramente, para descontrair.

- Alguém precisa falar para ele que ele é péssimo - Joana sussurra em meu ouvido

Mas eu não estou prestando totalmente a minha atenção. Pois minha atenção está no grupo de pessoas rindo, conversando e se desafiando diante de uma mesa de sinuca.

Então, para ver quem ou porquê a porta do bar estava aberta, seu Lorenzo levanta a cabeça e abre a boca num perfeito "o" ao me ver.

- Emma Hall - Ele exclamou, abrindo um sorriso evidenciando suas poucas rugas

Foi só o Emma Hall sair de seus lábios, que meu querido irmão parou de cantar tão serenamente. Que as pessoas pararam de falar me olhando com curiosidade.

Que dona Rita arregalou os olhos.

E que o grupo que a princípio me chamou bastante atenção, ficou em silêncio e me encarando.

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