Capítulo 11 - parte I
Há 6 anos
Diversão garantida, ou "guaranteed fun", é o nome do parque de diversões que é montado a cada dois anos na cidade.
Tem idéia do quanto isso é precioso?
A última vez que fui, foi aos dez anos, exatamente há quatro anos.
Eu fui com meu pai, e foi um momento bom. Um dos melhores que tive com ele. Porquê enquanto minha mãe estava ocupada se elegendo para ser prefeita, ser a senhora bem vista da cidade para conseguir votos, meu pai estava ali comigo e meu irmão.
Sorrindo.
Rindo.
Cantando comigo.
Rindo das birras do meu irmão.
Rindo dos meus medos.
Eu tinha medo de roda gigante, tinha medo de entrar em um carrossel porque na minha visão poderia cair a qualquer momento. Mesmo a velocidade não sendo nada rápida.
Eu lembro de tudo. Meu pai era isso, marcado pelo riso e pela diversão. Totalmente ao contrário da minha mãe.
Depois que meu pai morreu, e o parque foi montado novamente na cidade há dois anos, mamãe estava ocupada resolvendo assuntos da cidade e não permitiu que Bruno e eu fossemos. Segundo ela, éramos pequenos demais, jovens demais para irmos sozinhos. Mesmo sendo acompanhados de amigos.
Hoje aos meus quatorze anos eu tenha essa oportunidade novamente.
Estou ansiosa. Eu quero ir. Quero me divertir e por um segundo que seja, lembrar do meu pai me colocando por cima de seus ombros e correndo comigo para a fila da roda gigante cinco minutos antes da atração ser fechada de vez, subornando duas pessoas para nos deixar passar na frente e sermos os últimos a entrar.
Quero lembrar disso enquanto estiver lá, com meus amigos.
Mas tem um porém. Mamãe não permitiu.
Ela acha perigoso ir para um lugar que claramente estará cheio de pessoas e eu estar acompanhada de outros adolescentes que segundo elas, são tão irresponsáveis quanto.
Mas mamãe não entende que eu entendo.
Quero dizer, eu entendo bem. Sei que o mundo não é um lugar incrível, sei que existe maldade, ruindade, e principalmente perigosos.
Mas eu cresci.
Gostaria tanto de um voto de confiança, mas ela não me dá nenhum.
E é por isso que estou agora chorando de um jeito complemente deprimente. Olhar para as paredes do meu quarto enquanto estou sentada no chão parece mais interessante do que ouvir minha mãe resmungando o quanto sou uma mimada que não sabe ouvir um não.
Esse é o problema. Eu sei ouvir um não. Eu já ouvi vários não durante esses anos, e eu sempre sou compreensiva.
Quando Joana fez seu aniversário de treze anos no ano passado e seus pais resolveram levar ela e amigas para outra cidade visitar seus avós, eu aceitei o não. Entendi bem seu ponto de vista. E se algo acontecer com você, Emma? Você acha que se você se machucar ou correr algum perigo os pais de Joana vão estar prestando atenção sendo que terão outras crianças para ficar de olho?
Eu entendi, entendi mesmo. Por isso quando falei pra Joana que mamãe não deixou justamente por ser em outra cidade, eu soube explicar bem. Fiquei magoada por não poder ir, mas passou rapidamente porque eu fiz o que sempre consegui fazer.
Ser compreensiva.
Mas ouvir esse não e outros nãos que eu poderia citar exemplos, nunca doeram tanto quanto esse.
Ela sabe o quanto esse parque é importante pra mim.
Ela sabe que eu estou crescendo e não sou mais uma criança.
Ela sabe que mal saio com meus amigos porque ela não permite.
Eu tô cansada de ouvir um não. Eu estou cansada de ser tratada como criança!
É óbvio que não sou adulta, mas me diz, quem cresce com experiencias de vida quando é impedida de viver?
Pensar nisso tudo faz minhas lágrimas brotarem com mais velocidade, com mais irá, com mais sentimento.
- Emma! - Minha mãe bate na porta que eu tranquei
- Não quero falar com você! - Grito chorando
- Abre essa porta agora!
- Não!
- Eu vou contar até três, Emma Hall! Até três! - Rosnou batendo na porta - Um, dois...
Levantei do chão e fui abrir a porta. O que menos quero é ficar duas semanas de castigo. Quando a porta se abriu eu não pude esconder a minha raiva.
Minha mãe me encarou irritada, com se eu fosse uma criança fazendo birra. Eu não sou uma criança fazendo birra, sou uma adolescente que não pode fazer absolutamente nada. Que não tem um pingo de liberdade.
- Se me pai estivesse aqui ele deixaria eu ir! - Exclamei deixando as lagrimas rolar
Ela revirou os olhos
- Mas ele não está! Enquanto você for menor de idade e morar debaixo do meu teto, acata a mim!
- Mamãe! Por favor, é a cada dois anos!
- Então daqui dois anos quando você tiver dezesseis anos você vai!
- Por favor!
- Não, Emma! Eu disse não!
Minhas lágrimas desceram com mais força e minha garganta se fechou quase que completamente.
- Mãe - Bruno chamo do corredor, atraindo nossa atenção. Ele está com cara de entediado, as mãos no bolso do jeans e claramente cansado das nossas vozes altas.
- Estou conversando com sua irmã, Bruno - ela resmunga
- Eu levo ela.
- Como é? - Perguntou minha mãe e eu ao mesmo tempo
- Eu levo ela para o maldito parque.
- Não quero! - gritei irritada, olhando para minha mãe brava e recebendo um olhar de quem está perdendo tempo ali, do meu irmão.
- Não quer porquê, Emma? - Perguntou minha mãe, cansada
- Porque eu não tenho liberdade nenhuma! Você não me deixa sair com meus amigos sozinha a não que o Bruno vá! Isso é tão chato, mãe!
- Para de fazer drama, garota. Você está falando como se eu jogasse o Bruno em todas suas saídas!
- Joga sim, ele que não concorda com algumas!
- Claro, o que eu quero saindo com um bando de pré-adolescente - Ele responde
- Chega! - Grita minha mãe e então aponta para Bruno - Se você quer ir a esse maldito parque, se troque e vá com seu irmão!
- Mãe... - choramingo
- Fim de conversa, Emma!
Ela saiu andando a passos decididos para longe de nós dois. Eu limpo minhas lagrimas olhando para meu irmão com raiva.
- Acha mesmo que quero ir com você e seus amiguinhos para algum lugar? - Pergunta
- Por que se ofereceu então?
deu de ombros
- O motivo está na sua janela.
Encarei ele, confuso
Ele riu, antipático. Bruno acha que só porque está prestes a se tornar maior de idade pode ser um completo idiota!
- Vai vestir uma roupa melhor, te espero lá embaixo.
Dito isso, Bruno segue o caminho que minha mãe seguiu a poucos segundos. Descendo as escadas e indo lá para baixo.
Fechei a porta do meu quarto e me aproximei da janela, foi então que vi duas pessoas lá embaixo.
Um obviamente impaciente olhando para a rua.
E o outro completamente paciente olhando para minha janela.
Jeremy e Dave.
Quando abri minha janela, notei que estavam perfeitamente vestidos. Quase pude ler um "finalmente" na testa de Jeremy.
Dave abre um sorriso
- O que vocês fizeram? - perguntei curiosa
Dave deu de ombros, Jeremy olhou para o amigo com desgosto. Eu nunca fui 100% próxima de Jeremy, ele sempre foi um garoto popular. Selina inclusive tinha uma queda por ele.
Entretanto, quando Dave chegou ano passado, tudo mudou. Ele sempre esteve presente no meu grupo de amigos e em outros. Ele acabou com essa diferença que existia entre as pessoas que nem mesmo nós enxergavamos.
E quando notei, todos estavam saindo juntos. Jeremy, Dave, eu, Selina, Marcos e Joana.
- Nada demais - Dave responde minha pergunta
- Nada demais? - Jeremy da risada, indignado - Por sua culpa, Emma Hall, vamos ter que limpar o carro do seu irmão por um mês! Agora desce de uma vez que quero ir para o parque ainda hoje beijar umas garotas para esquecer isso tudo!
Eu ri, sentindo meus olhos inchados do tanto que chorei. Antes de me enfiar novamente no meu quarto para me vestir, eu sorri grandemente para Dave.
Agradecida.
Em troca, recebi um sorriso maior e um olhar um tanto, misterioso.
Não tão misterioso assim.
Eu vi afeto. Um afeto diferente, um afeto que me causa borboletas no estômago. Um afeto que me tira completamente o fôlego.
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