Capítulo 9


Gabriel achou tudo aquilo uma grande piada. As mulheres sempre reclamavam, mas nunca iam longe, e Gabriela era um bom exemplo disso.

Uma mulher sem alma, completamente apática; perfeita para ser uma esposa. Dessa forma, ele poderia continuar suas atividades promíscuas e ter várias amantes, porque Gabriela aceitava seus filhos ilegítimos.

Gabriel achava cômico como aquela mulher ainda conseguia manter sua aparência. Podiam o chamar de cruel, mas seu pai tinha ensinado assim, e tentou ensinar seus filhos a mesma coisa. Porém, Jonatas e Tomas eram fracos; diziam não valer a pena fazer a mãe chorar à noite.

Sua solução foi mandar para os internados, chamando-os de "Maricas". Não precisava do amor dos filhos legítimos quando tinha o dinheiro para comprar seus filhos bastardos; e não precisava da aprovação da esposa, já que podia ter várias outras mulheres na sua cama.

Gabriel tinha uma vida perfeita.

Uma vida que seus amigos invejavam, mesmo que negassem no subconsciente.

...

Foi assim que, no dia seguinte, Gabriela, depois de visitar Manuela, levou todos os seus filhos para comprar roupas para a Páscoa, porque eles precisariam estar bem vestidos no dia do grande evento.

Gabriela tentava dar um bom jeito em cada um dos meninos e meninas, porque mesmo não sendo biologicamente seus, fazia de tudo para que pudessem manter uma boa aparência; poderem brincar com brinquedos novos; e se sentirem aceitos, pois as crianças precisavam de amor, independente de quem os concebeu.

Quando Ricardo falou sobre si e as dificuldades que passava, Gabriel negou com deboche. Não se fazem mais homens como antigamente. Ricardo poderia ser que nem ele, mas tudo que fez foi correr atrás de uma mulher 5 anos mais velha.

Aquilo o fez sentir um certo incômodo.

Era nojento. Uma mulher perdia seu valor quando envelhecia. Rebeca era uma exceção; sabia se cuidar. Mas mulheres velhas eram gordas, cheias de rugas e crianças.

Ele nunca iria cuidar de um bastardinho que não lhe pertencia. Para que gastar seu tempo criando um filho que não era dele? Quanta estupidez! Não era José, e não tinha nenhuma "Maria" que o faria cuidar do seu pequeno "Jesus".

Ele tinha seus próprios planos para garantir que sua esposa nunca o abandonaria. Irritá-la, passar o dia inteiro fazendo-a surtar, e no meio da noite, acalmá-la na cama, como sempre fazia.

A raiva dela era seu divertimento.

Ao visitarem a modista, Gabriel se sentou junto com as crianças, zombando de Gabriela enquanto ela tentava vestir cada um dos seus filhos, combinando estampas e escolhendo peças. No fim, tudo que recebeu dela foi um olhar triste, além dos olhares de reprovação da mulher que os atendeu na loja.

Depois, veio o sorvete para acalmar as pestes. Normalmente, nessas ocasiões, aparecia uma das suas amantes com um bebê nos braços, entregando a criança à sua esposa em plena praça pública, sendo que tudo que ela poderia fazer era concordar e aceitar.

Dessa vez, a amante foi uma ruiva. Gabriel sorriu, lembrando-se dos momentos que passaram juntos, e sua felicidade aumentou ao ver como Gabriela olhava as crianças, que também afetadas, pareciam tristes.

- Vai levar ou não? - A mulher estendeu o bebê que se remexeu e reclamou.

- Não, eu não aceito. – Gabriela virou-se, fazendo-a quase derrubar a criança.

- O quê?! – Foi a vez dele mostrar sua voz, mas a esposa voltou a mordiscar o sorvete como se nada estivesse acontecendo. – Claro que vamos aceitá-la!

- Faça o que quiser, mas eu não quero fazer parte disso. – Gabriela disse alto o suficiente para fazer alguns cavaleiros que passavam ali rir.

Gabriel ficou pasmo, branco de raiva.

- Se não ficar com ela, vou colocá-la na linha dos rejeitados! - A mãe esbravejou.

- Boa sorte, aproveite e faça isso à noite para ninguém te ver passando tanta vergonha, igual hoje. – Gabriela simplesmente terminou o sorvete e voltou aos seus monstrinhos que levantaram rápido para acompanhá-la. – Vamos, queridos. Vamos para casa.

E assim, caminhou para longe, deixando Gabriel irritado e com um bebê nos braços.

...

De noite, Gabriela deitou-se imóvel na cama enquanto Gabriel queria esbravejar. Agora, o bebê ruivo dormia num berço, longe da sua vista.

O que deu nela para falar e agir daquela forma? Ele devia se divertir vendo-a sofrer e depois a encheria de promessas falsas enquanto faziam amor. Mas a mulher estragou seus planos! Parecia simplesmente histérica.

- O que foi aquilo na sorveteria? – Quase berrou a plenos pulmões, mas ela não se moveu.

- Só estava apreciando um sorvete, como sempre. - Levantou-se sobre os cotovelos. – Estou cansada de tudo isso, então não aceitarei mais ninguém nessa casa além dos meus próprios filhos. – E depois, voltou a se deitar.

- Você não tem o poder de querer algo. – Gabriel caminhou irritado para cima de Gabriela, mas antes de poder fazer algo, ela o encarou sob o escuro da noite, fazendo-o recuar um pouco.

- No final das contas, tudo que me jurou foi mentira? – A voz carregada de dor o marcou. – No final, você nunca me amou, não é mesmo? – E assim, Gabriela se levantou.

Indo para a porta, ela levou seu travesseiro e um dos cobertores, deixando Gabriel sozinho.

...

No teatro, Gabriel teve outra surpresa. Gabriela estava bela com um vestido branco cheio de pedras cintilantes, enquanto ele buscava um rabo de saia.

No meio do baile, depois de beber algumas e conversar com muitos homens riscos, ele decidiu que era hora de ir embora, e foi procurar sua mulher no canto das mulheres casadas, mas não a encontrou no meio das damas.

Enquanto rodava à sua procura, a reconheceu conversando com um homem, mas não um qualquer, mas sim, o seu maior inimigo nos negócios: Carlos Umbigo.

Carlos riu de alguma coisa que ela disse, e Gabriel recuperou um pouco da sobriedade ao ter largado o copo de bebida. Gabriela parecia feliz ao lado daquele homem esguio enquanto falava animadamente sobre seus filhos, ajeitava os fios grisalhos atrás da orelha e corava.

Corar? Gabriela nunca corou ao lado dele.

- Ela também pode sair com outras pessoas agora? – Um desconhecido murmurou a Gabriel, fazendo-o encará-lo em busca de respostas. – Era desumano o que fazia com essa bela dama.

- Será que tem uma vaga sobrando para ser seu amante? – Outro gargalhou, o deixando desconfortável.

Aquilo o fez perceber que certamente tinha algo muito errado com as mulheres. Ricardo estava certo.

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