17 de junho de 2017
Quase uma semana.
Seis dias sem conseguir falar com Rebecca. E por algum motivo, o que ela disse, que eu ainda vou entender o porquê dela me afastar, ficou pairando sobre meus pensamentos.
Rebecca não me parece alguém que curte blefar. O que me deixa ainda mais confuso.
Meus argumentos sobre sermos adultos e solteiros foram favoráveis. Agora tenho o apoio de Caiã. E já me resolvi sobre a Ana.
Falando dela...
As coisas ficaram estranhas entre nós no domingo, após a festinha do sábado.
Ela me ligou e disse que tínhamos que conversar sobre nosso relacionamento. Que não podíamos jogar tantos anos ralo abaixo. E percebi que preciso fazê-la seguir em frente, para que EU possa seguir com minha vida.
Marcamos de nos encontrar lá em casa mesmo. O Caiã foi ver nossos pais, então não precisaria suportar as lamúrias da Ana. Afinal, foram duas horas de chororô.
Eu a expliquei que não tenho nenhuma intenção de me casar com ela e acabei falando que estou apaixonado, pela primeira vez. Foi então que ela jogou na minha cara que eu não posso simplesmente substituí-la e então acabei falando que não existe substituição, já que ela nunca significou nada para mim.
Tudo bem. Eu posso ter sido um pouco direto demais e esmagado qualquer fio de esperança dela, mas ao término do chororô, eu vi pela primeira vez em todos esses anos um olhar diferente nela. Como se a realidade finalmente tivesse batido à porta dela.
Finalmente, eu me livrei de Ana. Com a condição de que eu jamais deveria me dirigir a palavra a ela, pois se quero que ela me esqueça, não devo aparecer na frente dela.
Isso não será nenhum sacrifício.
Quando Caiã voltou para casa e eu contei o que houve, ele fez questão de fazermos um brinde. Afinal, 90% dos meus problemas a envolviam.
Um relacionamento totalmente nocivo. E olhando bem agora, eu sempre fui muito filho da puta com a Ana.
É como se eu a mantivesse como uma válvula de escape. Um pneu reserva. Uma segunda opção. Sempre que as coisas estavam ruins para mim, eu simplesmente a procurava para descontar meu mal humor.
Rebecca tem razão quando diz que sou um lixo humano.
Terminar as coisas com Ana fez um peso sair de minhas costas. O que me ajudou a acordar totalmente disposto na segunda-feira.
Assim que cheguei, Maurício me disse que eu deveria esperar na sala de Rebecca, pois precisa conversar comigo. Então fui direto para lá.
Enquanto aguardava a bomba do dia, comecei a observar as caixas empilhadas no escritório improvisado. E enquanto olhava as etiquetas, encontrei uma que me chamou a atenção, que dizia "Pessoal".
Eu sei que tudo indica que não é algo que eu deva mexer, porém minha curiosidade falou mais alto e fiz o famoso truque do: "esbarrei sem querer, as coisas se esparramaram e eu fui legal o suficiente para catar".
Com as coisas espalhadas pelo chão, vi que se tratavam de cartas, pequenos objetos e um caderno médio de capa dura e marrom.
Quando o abri, percebi que é um diário.
Mesmo que todas as aulas de ética do mundo falem que invasão de privacidade é um crime, além de ser horrível, não posso perder uma oportunidade tão única de saber mais sobre a vida de Rebecca.
“Querido Maurício...
Tenho plena certeza de que você será o primeiro a encontrar este diário e quero que saiba que me sinto completamente constrangida por estar fazendo algo tão infantil, mas os fins justificam os meios, não é mesmo?
Estou o escrevendo como um memorial sobre minha patética vida, que você insiste em dizer que é majestosa.
A partir dessa data ('15/05/2017'), irei registrar cada momento que julgar importante e também farei lembrar de outros que já me acometeram.
Não ria de mim. Por favor.
Espero que você mostre ao meu pai e até mesmo para a Celly.
Antes de começar, deixarei aqui uma lista de metas que quero cumprir, e você, Maurício, deve confirmar se consegui seguir como planejado:
1- Construir um espaço para a ONG;
2- Dançar enquanto tomo um banho de chuva;
3- Assistir todos os filmes de Velozes e Furiosos;
4- Fazer uma escalada sozinha;
5- Doar roupas e calçados para crianças de orfanatos;
6- Levar comida e cobertores para desabrigados;”
— Só a Rebecca para ter como metas coisas assim. — Reviro os olhos. — Mas, por que ela faria uma lista de desejos? Aliás, por que ela escreveria algo assim para o Maurício?
Leio novamente esta primeira página e fico me remoendo. O jeito é continuar lendo. Contudo, o som de passos se aproximando me faz juntar as coisas do chão e colocar novamente na caixa.
— O que aconteceu aqui? — Maurício me pergunta ao me ver pegando a última carta do chão e colocá-la na caixa.
— Eu tropecei e acabei derrubando umas caixas.
Maurício me encara desconfiado por uns cinco segundos, mas por fim ele parece acreditar e segue para a mesa de Rebecca.
— Essa semana somos só nós dois, e eu preciso que me ajude com algo.
— É só me dizer. — Cruzo meus braços e espero Maurício dizer o que quer.
— A Rebecca teve que fazer uma pequena viagem, mas me pediu para que fechássemos contrato com um vendedor. Pelo o que ela me falou ela está comprando um terreno.
— Você sabe para que ela quer o terreno? — Sondo para ver se Maurício já sabe da lista.
— Na verdade não. Eu também achei estranho, pois ela já tem uma casa, que, diga-se de passagem, é muito grande e bonita. O pai dela comprou há dois anos. Ela nunca mencionou que gostaria de fazer algo em específico. Tudo isso me leva a crer que tem algo a ver com a ONG.
— Por acaso a Rebecca está passando por algum problema?
— Por que está me perguntando isso? — Maurício diz assustado.
— Não, nada. Só quero saber mais sobre ela. — Tento disfarçar.
— Sei. — Ele cerra os olhos e me encara por um tempo, antes de falar — Enfim, depois ela nos explica o motivo dessa aquisição. O problema agora é que eu não poderei ir até esse vendedor e ele só ficará na cidade hoje. Segundo a Becca, ele é de Vitória e não poderá ficar mais.
— Ok. Então tudo que tenho que fazer é ir me encontrar com esse vendedor e comprar o terreno?
— Sim. Isso mesmo. Becca disse que o valor que ela ofereceu no terreno é de R$30.000,000, mas o vendedor está achando pouco.
— Fique tranquilo, fecharei esse contrato por esse valor.
— Obrigado, Caio. Fico te devendo essa.
— Vou cobrar. — Estendo minha mão para selar o acordo.
🙈🙉🙊
Assim como prometido, consegui fechar o contrato pelo valor que Becca estipulou.
Por obra do destino, ou não, o tal vendedor era na verdade Gian Toredo, filho de um dos amigos de meu pai. Tudo que tive que fazer foi dizer que tenho um relacionamento com Rebecca.
Não sei se mencionei, mas por algum motivo a família Laubert causa calafrios. Sempre que estamos envolvidos, os acontecimentos fluem a nosso favor.
Meu pai é um gênio dos negócios. Um verdadeiro tubarão.
Segundo Maurício, Rebecca ficou muito feliz quando soube da compra do terreno. Até ficou agradecida.
Tive muita vontade de ligar para ela e ouvi-la dizer que estava orgulhosa de mim, mas não quero fazer isso. Prefiro olhar para ela e resolver as coisas entre nós.
Eu quero namorar a Rebecca.
Só espero que ela também esteja disposta a namorar o Caio Laubert.
🙊🙉🙈
Para meu azar, a tal viagem durou a semana toda e, pelo o que ouvi Maurício falar com Celly, Rebecca só chegará amanhã, dia 24. Mas não virá para cá. Vai direto para casa.
Meu plano é pegar o endereço dela e fazer uma surpresinha. Não sei se é uma boa ideia, mas preciso vê-la. Há algo dentro de mim que anseia desesperadamente pelo brilho dos olhos verdes dela.
Primeiro tentei subornar a Celly com um presente, mas me frustrei ao descobrir que ela não sabe como chegar a casa da tia Rebecca.
Minha segunda alternativa é tirar informações do Maurício, mas para isso terei que dizer o motivo. Só que eu não quero falar para ele que estou apaixonado pela Rebecca.
Orgulho masculino, talvez?
Não sei. Apenas prefiro escutar uma resposta dela primeiro.
Contudo, ele é minha única chance de saber onde fica a casa da Rebecca.
— Maurício, meu amigo do peito... — me aproximo assim que ele sai do banheiro.
— O que você está tramando? — ele me olha desconfiado enquanto enxuga as mãos em uma pequena toalha.
— Sabe o favor que estava me devendo? Então, preciso cobrá-lo agora. — Digo coçando a nuca.
— Tão rápido? — Ele ri abafado. — E o que eu posso fazer por você?
— Preciso do endereço da Rebecca.
Ele me encara assustado.
— Fique tranquilo, não farei nenhuma besteira. Eu só quero acertar as coisas entre nós — digo frustrado.
— Eu não sei se é uma boa ideia ir até a casa dela, mas Rebecca é imprevisível. Talvez para conquistá-la, o cara também deve agir espontaneamente. — Ele leva a mão ao meu ombro. — Eu torço muito para que ela dê uma chance para vocês dois. Sem temer o futuro. Sem as suposições que ela sempre usa como desculpa. Ela gosta de você, cara. Ela está ficando frustrada por não estar conseguindo mais esconder. Até o pai dela já percebeu.
— Eu realmente quero tentar mudar por ela. Pela primeira vez na minha vida estou cogitando namorar alguém. Isso já é uma grande evolução.
Gargalhamos.
— Das grandes — Maurício completa. — Vou te passar por mensagem o endereço dela. Mas por favor — ele aperta meu ombro, como se fosse uma ameaça — não a procure para perturbá-la. Apenas seja sincero e deixe o destino resolver o resto.
— Deixa comigo, man.
Maurício então saiu me deixando comemorando.
Rebecca, meu amor, dessa vez vamos nos acertar.
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