Capítulo 3: A Criança e a Solidão

As manhãs haviam se tornado um fardo, e Buck não sabia mais como encarar a realidade. Ele acordou na mesma posição do dia anterior, ainda no mesmo caos. Os lençóis enrolados ao seu redor, o corpo pesado, e aquela sensação de vertigem que não o deixava. O silêncio em seu apartamento parecia sufocá-lo a cada respiração. Ele ainda não conseguia acreditar no que havia descoberto no hospital alguns dias antes.

Ele estava grávido. Como isso era possível? Cada vez que tentava entender, uma dor surda invadia sua mente, como se a resposta a essa pergunta escapasse a cada tentativa. Um homem grávido... Isso não deveria existir. Mas os resultados estavam lá, e a realidade, por mais absurda que fosse, se impunha.

Buck se levantou cambaleando, com os pés tocando o chão frio. Foi até o banheiro, seu reflexo no espelho lhe parecia estranho. Seu olhar recaiu sobre seu abdômen, ainda plano, mas, mesmo assim... ele sabia. Aquele pequeno ser estava lá, dentro dele. Ele tinha visto os resultados, ouvido as palavras da médica. Não era um sonho. Era uma realidade que distorcia tudo o que ele conhecia até então.

As náuseas que o acometiam há dias persistiam; ele tinha dificuldade em comer e em manter qualquer coisa no estômago. Os sintomas estavam lá: cansaço extremo, náuseas incontroláveis, tonturas. Era um turbilhão em seu corpo, mas também em sua mente. E ele se sentia incrivelmente só. Seu corpo não lhe pertencia mais. Sua mente também parecia lhe escapar.

Ele se sentou no sofá, com a cabeça entre as mãos, sentindo as lágrimas brotarem. Tudo o que ele havia enfrentado... aquele processo, a solidão, o afastamento de sua família no 118. Todos o haviam rejeitado, e ele não tinha ideia de como consertar o que havia quebrado. Mas essa situação, seu estado... só complicaria ainda mais as coisas.

Ele estava sem rumo. Sentia-se preso em um turbilhão de emoções contraditórias: medo, confusão, vergonha, mas também uma estranha forma de esperança que crescia dentro dele, porque aquele bebê... aquele bebê era um acidente. Mas também era um milagre. Um vínculo. Um futuro, por mais incerto que fosse.

Com um gesto trêmulo, ele pegou o telefone. Ele hesitou durante horas, se perguntando se ainda tinha o direito de vê-los. Seus amigos. Sua família do 118. Mas ele não podia continuar ali, sozinho em seu apartamento, com aqueles pensamentos sombrios o consumindo cada vez mais. Ele precisava ver rostos familiares, se reconectar com um lugar que deveria ser seu lar, mesmo sabendo que não seria recebido da mesma maneira.

Sem pensar muito, pegou suas chaves e saiu às pressas de casa. Entrou no carro e dirigiu pelas ruas de Los Angeles, sem um destino específico, mas sempre em direção à estação. Perguntava-se como iria lhes contar, se teria coragem de dizer algo. Mas, no fundo, sabia que precisava enfrentar. Não podia mais viver naquele vazio.

Quando chegou à estação, o ambiente estava pesado. Ele sentiu uma tensão palpável no ar, como se todos o esperassem, mas sem querer realmente vê-lo. Entrou em silêncio, com o olhar evitando aqueles ao seu redor.

Subiu as escadas em silêncio, sem ousar encontrar os olhos de ninguém. Bobby, que estava preparando uma refeição, levantou os olhos, e sua expressão se endureceu ao vê-lo. Buck parou por alguns segundos no topo dos degraus. Sentiu a garganta apertar, mas se forçou a continuar. O que iria dizer... ele não sabia. Mas precisava fazer isso. Não tinha mais nada a perder.

"Buckley", disse Bobby, com a voz fria, quase cortante. Ele parecia prestes a dizer algo mais, mas se conteve. A atmosfera na sala era densa, e os outros, sem falar, olhavam para Buck como se ele fosse um estranho.

Buck se aproximou lentamente de Bobby, uma parte de si esperando encontrar conforto na voz do chefe, mas sabendo que não era isso que encontraria ali. Engoliu em seco, hesitando sobre o que dizer. Sentia que qualquer palavra só pioraria as coisas.

"Bobby..." Ele começou, com a voz trêmula. "Eu sei que todos vocês estão com raiva. Sei que estraguei tudo. Mas... preciso falar com vocês. Preciso contar algo importante."

Bobby se endireitou, os braços cruzados, sem tirar os olhos de Buck. Eddie, atrás dele, apenas o observava, com os braços cruzados e uma expressão indecifrável no rosto.

"O que está acontecendo agora, Buckley?" perguntou Bobby, com um tom de reprovação na voz. "Você nos abandonou. Nos processou e, depois de tudo o que nos fez passar, acha que vamos simplesmente aceitá-lo de volta?"

Buck sentiu a dor de um rejeição já anunciada, mas sabia que precisava continuar. "Eu estou... estou grávido", disse finalmente, quase em um sussurro. "Eu sei que parece absurdo, mas é verdade."

Ele ergueu os olhos para eles, esperando uma reação. O silêncio que se seguiu foi pesado, quase sufocante. Ninguém reagiu imediatamente. As palavras de Buck ecoavam na sala, mas nenhum deles parecia saber o que dizer.

Hen, finalmente, quebrou o silêncio. "Você... você está o quê?" Sua voz tremia, como se não conseguisse entender o que ele acabara de dizer.

"Estou grávido", repetiu Buck, desta vez mais alto. "E sei que todos vocês me odeiam. Mas esse bebê... é tudo o que eu tenho."

Bobby desviou o olhar, com uma expressão de desespero nos olhos. Levantou-se sem dizer nada, e os outros se olharam em silêncio. O julgamento, o desprezo, a incompreensão, tudo isso atingia Buck como uma onda, sufocando-o.

"Eu vou embora", disse Buck, com lágrimas nos olhos. "Eu sabia que vocês não poderiam me perdoar..."

E, com essas palavras, ele virou as costas e saiu correndo da estação, sem olhar para trás. Sem ver a tristeza em seus olhares e seus gritos pedindo para ele parar.

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