Capítulo 2: O Inesperado
O silêncio no apartamento de Buck era opressor. Ele estava sentado no sofá, com o olhar fixo na parede à sua frente, perdido em um abismo de pensamentos sombrios. Desde aquela noite em que tudo desmoronou, ele se sentia vazio, machucado. O medo e a vergonha o corroíam um pouco mais a cada dia. Ele tentou retomar uma rotina normal, mas cada tentativa foi um fracasso retumbante. Não havia como negar o que aconteceu. Estava gravado em sua pele.
Ele não dormia mais. As olheiras sob seus olhos tornaram-se permanentes, e cada vez que se olhava no espelho, sentia um profundo desgosto de si mesmo. O julgamento, que deveria lhe devolver seu trabalho e sua família, só piorava seu estado. Os olhares acusadores, os sussurros, o abandono daqueles que mais amava... tudo isso o esmagava. Mas, além da dor psicológica, Buck começou a sentir algo diferente.
Ele tinha náuseas. Um cansaço inexplicável. Uma sensação de vertigem que o deixava tremendo. A princípio, ele atribuiu tudo ao estresse. Mas rapidamente percebeu que era mais do que isso. Ele tentou ignorar, mas uma manhã, enquanto lutava para segurar o café da manhã, teve que encarar a realidade: algo estava errado.
Depois de dias de hesitação, Buck foi ao hospital. Ele explicou seus sintomas com relutância, evitando cuidadosamente qualquer contato visual. A médica, uma mulher com um olhar compreensivo, o ouviu atentamente antes de prescrever uma série de exames. A espera foi interminável. Sentado em uma cadeira de plástico, Buck cerrava os punhos, com as unhas cravando em suas palmas. Ele não conseguia parar de reviver o que o havia levado até ali.
Quando a médica voltou, tinha uma expressão séria, mas também um brilho de suavidade nos olhos. Ela se sentou em frente a ele e respirou fundo. "Buck, os resultados dos exames chegaram. O que vou te dizer pode te surpreender... ou chocar. Você está grávido."
A palavra lhe tirou o fôlego. "O quê?" Ele a encarou, com o coração disparado. Aquilo não fazia sentido. Não em sua realidade. "Isso não é possível. Eu sou um homem, eu..."
A médica assentiu lentamente. "Eu sei que é difícil de ouvir. Mas há casos extremamente raros de gravidezes masculinas devido a condições específicas. Ainda não entendemos tudo, mas... é real. Você está carregando uma vida."
Buck balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos. "Não... Não, isso é impossível." Mas, no fundo, ele sabia que era verdade. Cada sintoma, cada mudança... tudo levava a isso.
Ele saiu do hospital em estado de choque. Os dias seguintes foram um turbilhão de emoções. Ele chorou durante horas, sozinho em casa. Pensou em sua família, Hen, Chim, Maddie, Athena, Bobby e... Eddie, o homem que ele amava... aqueles que o rejeitaram. Pensou no julgamento, em tudo o que havia passado. Este bebê não era o que ele queria, mas estava ali. E, estranhamente, era a única coisa que ainda dava algum sentido à sua vida. Ele não podia continuar lutando em todas as frentes. Precisava fazer uma escolha.
Alguns dias depois, ele marcou uma reunião com seu advogado. Quando entrou no escritório de Mackey, sentia-se exausto, mas decidido. Mackey, acostumado com seu cliente estressado, percebeu imediatamente a mudança em seu comportamento.
"Buck, o que está acontecendo?" perguntou, franzindo a testa.
Buck se sentou e respirou fundo. "Estou desistindo do processo."
Mackey piscou, incrédulo. "Você está brincando? Estamos prestes a ganhar. Este é o seu momento, Buck! Você não pode desistir agora."
"Eu posso e vou", respondeu Buck, com a voz trêmula, mas firme.
O advogado se levantou, irritado. "Você não percebe o que isso implica! Todo o trabalho que fizemos, todos os sacrifícios... Você vai jogar tudo fora por quê?"
Buck abaixou os olhos. "Isso não é algo que você possa entender."
Mackey o encarou por um momento, depois seu olhar endureceu. "Você está cometendo um erro."
"Talvez", murmurou Buck ao se levantar. "Mas é meu para cometer."
Ele saiu do escritório sem olhar para trás. Ao chegar em casa, fechou a porta atrás de si, colocou uma mão trêmula sobre o ventre e murmurou: "Eu tenho você." As lágrimas escorriam por seu rosto, mas pela primeira vez em muito tempo, sentiu uma sensação de calor, um vislumbre de esperança. Ele nunca mais estaria sozinho.
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