–Acho que agora é o momento ideal para discutirmos o que iremos fazer agora. –Anunciou Theodor enquanto pegava um marshmallow e soltando um pequeno jato de fogo, derretendo a guloseima e logo depois a comendo, lambendo os dedos em seguida. Pablo tentou não critica-lo, sabia que sua mãe provavelmente não iria gostar de saber que o seu marido estava, novamente, comendo todos os doces reservas da casa.

O grupo estava sentado em uma das salas de reuniões da mansão, diante de uma aconchegante lareira, sofás e poltronas dispostas no centro de modo que todos estariam confortáveis e também poderiam ver uns aos outros. Pablo vasculhava com o olhar o grupo, que atualmente, já não era tão pequeno. Mais dois membros foram adicionados...

–Eles devem participar? –Questionou Tales apontando para os dragões púrpuras.

–Acho que conquistamos o nosso direito de participação do seu "clubinho" ao salvar sua humana e amigos dragões negros, não é mesmo? –Disse Bolt expondo um grande sorriso.

–Ele não são meus amigos. –Resmungou o jovem dragão vermelho.

–Tales! –Ralhou com o irmão –Desculpem pela a atitude do meu irmão...

–Está tudo bem, sei como filhotes podem ser quando atingem essa idade. Querendo parecer maiores do que realmente são, na verdade eu acho essa atitude muito fofa. Não é mesmo Scarlet ? –Piscou para a sua irmã que devolveu o gesto com um olhar furioso.

–O que está insinuando com isso? –Rosnou a garota.

–Quem é fofo? Como ousa dizer isso? –Tales também respondeu com um rosnado e fumaça negra começava a ser emitida de suas narinas.

Bolt apenas ria, até receber uma cotovelada do dragão que estava sentado ao seu lado.

–Pare de provocar os mais novos! E você ainda se acha adulto? –Criticou Leonard.

–Eu tenho o espirito jovem, Leo! – Disse deixando o seu braço, sorrateiramente cair sobre os ombros do outro rapaz – Mas se questiona a minha maturidade, podemos fazer algumas brincadeiras de adultos...

Leonard já iria dar uma outra cotovelada no dragão púrpura. Como ele tem o descaramento de falar aquilo em voz alta e ainda mais na frente de toda a sua família?

CLICK!

Um flash!

O hacker teve sua atenção agora direcionada para o seu irmão mais velho que tirava fotos de seu embaraço.

–Tenho que guardar para posteridade!

Existia um ditado humano que diz " o feitiço virou contra o feiticeiro" era exatamente o que Leonard sentia no momento, depois de tantas vezes segurar vela para o seu irmão e aproveitar para tirar algumas fotos inocentes (dependendo do ponto de vista) e comercializa-las com o seu doido pai, agora era ele mesmo o alvo. Mas aquilo estava errado! Não havia nenhum romance ali!

–Eu quero copias disso! –Falou Theodor, alegremente.

–Não se preocupe, darei uma cópia para cada membro de nosso clã. –Pablo estava se vingando, era obvio.

–Ei! Pode parar! –Ralhou, rosnando. Agora era ele que tinha fumaça escapando pelas narinas.

–Sim! Isso é injusto! –Interpôs Bolt para surpresa de todos (principalmente de Leonard) – Não pode reter essas fotos unicamente para o seu clã, eu também quero uma cópia!

–Pelos dragões ancestrais! Você não está vendo o que está fazendo? Está os incentivando a pensarem que temos algum tipo de relação! Algo que definitivamente não temos!

–Oh! Assim, você me machuca. –O dragão púrpura fez um dramático gesto segurando o coração – Não foi isso que dissestes ontem à noite em nosso ninho de amor...

–N-ni-ni-ninho?!

Pablo soltou uma risada abafado. Tales fez uma expressão de ânsia, como se tivesse querendo vomitar. Scarlet fazia um sinal negativo com a cabeça, como que reprovando a situação.

–Oh! Que ótimo! Todos meus filhos estão tão ativos no amor! –Exclamou Theodor – Só falta o Pietro, mas ele ainda é muito filhote para pensar nessas coisas...

–Pai! Não sou ativo no amor! Nós... –Leonard apontou para si mesmo e depois para o dragão púrpura - ... Mal nos conhecemos!

–Bem, se quiser, podemos sair em um encontro e nós conhecermos melhor...

–Bolt! Cala a boca! – Fagulhas saiam de sua boca. Estava prestes a mostrar o poder de um verdadeiro dragão vermelho! Logo aquele cuspidor de ácido iria pensar duas vezes antes de ficar o provocando daquela maneira.

–Ei! Leonard, você vai acabar ativando os alarmes de incêndio. –Alertou Pablo que ainda detinha um sorriso satisfeito no rosto.

"Maravilha! Ele está aproveitando muito bem do momento!" Pensou irritado o jovem Hacker.

–O que está acontecendo? –A porta foi aberta e os dragões negros adentraram para se unir a reunião. Felix observava a cena com ligeiro interesse.

–Felix você é meu melhor amigo, por favor não fique do lado deles! –Suplicou.

–Lado de quem? Vocês começaram uma brincadeira e nem ao menos me chamaram! –Fez biquinho e foi se sentar, justamente no sofá aonde estava Bolt e Leonard, se sentando entre os dois. O Hacker soltou um suspiro de alivio, Bolt fez biquinho, o que era muito estranho tendo em vista o pincerg em seu lábio inferior.

–Vamos parar com essa enrolação! –Ralhou Tales – Chegaram os agregados... –Mirou de relance os dragões negros ignorando o rosnado emitido por Alex –Podemos iniciar a discussão.

–Sim, agora temos provas o suficiente para ir ao conselho. O humano está detido, ainda se recusa falar... Mas isso é só questão de tempo. –Informou Pablo – Ainda mais, temos o carro e... Bem... Sion.

–Não! Não iremos expor Sion ao conselho! –Interveio Tales.

–Nisso eu tenho que concordar. –Falou Arthur – Temo como o conselho irá proceder ao descobrir que dragões brancos existem e vivem.

–Mas não podemos esconde-lo para sempre! Ainda mais, sabem tão bem quanto eu que devemos informar o nosso conselho sobre o tráfico ilegal de dragões, afinal foi por isso que pegamos o carro e buscamos os humanos caçadores! Tais provas não abstém, infelizmente, o nosso dragão branco. Sion terá que se apresentar diante a nossa raça... Precisa ser reconhecido, ainda mais trata-se do ressurgimento de um novo clã. –Argumentou o líder dos dragões vermelhos.

–E o que isso tem de importante? –Inqueriu Erich, mal-humorado.

–Significa que o conselho agora terá mais um clã representante. –Disse Arthur, massageando a testa –É justamente isso que temo... A política dos dragões.

–Mas o mais importante é descobrir qual dragão está quebrando a nossa lei! Não sabemos quanto tempo dragões brancos estão sendo comercializados entre os humanos! Isso põe em risco nosso disfarce na sociedade! – Os argumentos de Pablo eram corretos, mas os dragões negros (incluindo Tales) não pareciam aceitar muito bem a exposição do ainda inocente Sion.

–Então é esse o plano de vocês? –Bolt detinha um sorriso nos lábios como que achando toda aquela discussão inútil – Acham mesmo que o conselho irá fazer alguma coisa?

Pablo o encarou, surpreso.

–E por que não ajudariam?

–Vejamos... Se esse tráfico ilegal ocorre, provavelmente já faz anos. Levando-se em conta a tecnologia empregada para fazer a manipulação genética e inseminação artificial da fêmea dragão branco. Além do comercio com humanos. Acham mesmo que só são poucos dragões trabalhando sozinhos? Para terem se desenvolvido tanto e se alastrado desta forma é bem provável que tenham alguém dentro do conselho que os apoia e os esconde.

–Vocês dragões púrpuras sempre tem mania de conspiração...-Resmungou Tales.

–E por que será? –Os olhos de Scarlet mudaram para um tom roxo brilhante – Afinal, nosso clã nunca sofreu por erros de julgamento do conselho, não é mesmo? –O sarcasmo em sua fala era tão ácido quanto a própria saliva dos dragões púrpuras.

–Eles estão certos... –Interveio Arthur – Não seria a primeira vez que o conselho condiz ou até mesmo tentar ocultar uma conduta errada. Vejamos o exemplo dos dragões púrpuras, eles foram acusados de traição sem ao menos ter uma investigação aprofundada a respeito. Meu pai...Ele se aproveito desse erro de julgamento do conselho para tentar conquistar o poder. Além disso, após a queda de meu pai...O conselho não fez nada para impedir a chacina dos dragões negros inocentes. Eu mesmo lutei contra o meu próprio progenitor para destituí-lo do poder, mas nada disso garantiu a segurança de minha família, meu irmão mais novo e sua mulher foram mortos cruelmente. –Felix cerrou o punho quando ouviu falar de seus pais –E minha amiga, mãe de meu filho, sendo uma dragão azul também foi morta seguindo esse mesmo princípio. –Agora foi a vez de Alex emitir um baixo rosnado - Se não fosse por Theodor e outros amigos dragões vermelhos ainda estaríamos vagando pelo o mundo buscando proteção.

–Mas o que devemos fazer então? Se não podemos confiar no conselho... –Perguntou Theodor, já tinha deixado de lado os doces, aquela conversa tinha feito que perdesse o apetite.

–Acho que precisamos de mais provas. –Sugeriu Felix –Digo, o que temos realmente é o suficiente, mas talvez se tivéssemos o nome do dragão verde. Quero dizer, só sabemos que o nosso inimigo é um dragão verde, mas existem centenas pelo mundo! Até que o conselho os encontrem temo que...Outros dragões como Sion sejam mortos ou ocultados para esconder as evidências.

–O humano deve saber alguma resposta. Se quiserem eu posso me encarregar do interrogatório. –Sugeriu Erich fazendo um dos seus punhos ficar flamejante.

–Não creio que possa ajudar muito... Temo que o nosso humano é só um "peixe pequeno" pouco saberá sobre os seus mandantes. –Comentou Bolt coçando o queixo.

–O outro humano...Aquele que me atacou e iria machucar o Sion. Aquele que foi morto pelo dragão verde. Ele sim parecia saber o que era um dragão. O outro estava meio confuso com relação a toda a situação. –Relatou Tales, meio cabisbaixo – Bem possível que não possa mesmo nos informar de nada...

Um sentimento de desanimo se propagou no grupo. Parecia perdidos e cheios de dúvidas.

–De qualquer forma, quem quer que seja esse dragão verde, ele deve estar pensando em uma forma de nos prejudicar já que o assassino não completou o seu trabalho. –Analisou o dragão púrpura –Todos nós estamos agora em perigo...

–Toda a nossa raça pode estar em perigo devido as ações desse grupo de dragões. Se a sociedade humana souber de nossa existência... Temo que comece outra era de perseguições. –Pablo, que até o momento estava em pé andando para um lado para o outro, finalmente se sentou em uma poltrona –Precisamos mesmo de ajuda.

–Eu tenho uma sugestão. –Bolt levantou a mão, animado.

–E qual seria?

–Ao invés de ir ao conselho poderíamos pedir apoio de um ex-membro.

–Um ex-membro?

–Cezar.

Os dragões miraram Bolt como ele fosse louco.

–O mestre Cezar estar morto... Digo...Ele é um dragão ancião. Fez parte da primeira geração de dragões após o feitiço que nos converte em humanos. –Balbuciou Leonard sem entender de onde o dragão púrpura tinha tirado aquela sugestão.

–Morto? Não...Ele só está dormindo. Sendo um dragão marrom ele decidiu hibernar e isso já dura algumas centenas de anos.

–E como você sabe disso? –Inqueriu Pablo desconfiado.

–Os dragões marrons foram os primeiros a defender os dragões púrpuras quando estávamos sendo caçados e castigados por um crime que não cometemos, foram eles que primeiro investigaram a morte do líder do conselho e também foram esse clã que nos inocento. Além disso, são um clã que é conhecido por sua paciência... Pensa muito antes de tomar uma decisão. São analistas e observadores por natureza. Cezar é um sábio e tem muita influência em toda a sociedade dragoniana. Se falarmos com ele e pedir que nos dê seu apoio diante do conselho, não teremos nada a temer sobre a nossa segurança e principalmente em relação ao Sion.

–Mas o grande Cezar irá acordar de sua hibernação para falar conosco? –Duvidou Leonard.

–Acho que esse assunto é importante. E o que mais Cezar defendia era a paz entre os dragões e o que está ocorrendo é o preludio de outro conflito... E não sei quanto a vocês, mas eu não gostaria de presenciar outra guerra entre dragões.

Aquilo era verdade. Era bem capaz que a notícia do tráfico de dragões seja a bomba necessária para o início de mais uma disputa entre os clãs. Um acusaria o outro e no final o caos reinaria.

–Como iremos contata-lo? –Perguntou Alex, curioso por conhecer um dragão ancião.

–A pergunta não é como e sim onde. Cezar está hibernado na sua forma de dragão nas montanhas próximas a essa cidade. Na verdade ele é parte destas montanhas.

Theodor cuspiu um marshmallow que foi parar no meio da testa de Tales.

–Nas montanhas!? Oh! É verdade... A habilidade dos dragões marrons. Como pude esquecer!

–Sim... –Assentiu Pablo que agora mirava a janela do escritório, a paisagem fora mostrava o bosque que rodeava a propriedade e ao fundo as montanhas – Podem se transformar em rochas e se camuflar ao ambiente. Não sabia que Cezar escolheu justamente os limites do nosso território para sua hibernação... Eu nunca senti o seu cheiro ou sua presença.

–A camuflagem de um dragão marrom é praticamente perfeita. –Assegurou Bolt –Mas ele está ali... Um grande dragão adormecido.

De fato, um grande dragão... O clã marrom era conhecido também pelo o imenso tamanho de suas formas dragão, logo podiam facilmente se passar por montanhas.

–Pois está decidido... Vamos visitar ancião Cezar. –Concluiu Pablo mas esperançoso quanto ao futuro deles. Um ancião poderia guia-los e sugerir uma forma de ação que não envolva guerra ou mortes de dragões.

***

–Eles irão para a montanha...-Sussurrou Pietro para Sion e Amélia que ouviam tudo escondidos na sala ao lado.

–Um dragão que é uma montanha! –A humana levou a mão a boca para abafar a sua exclamação. Os dragões parecem sempre surpreende-la ainda mais. Na verdade, sentiu uma louca vontade de conhecer esse tal de Cezar. Quantos anos ele deve ter? Centenas? Milhares?

–Eles deveriam me deixar participar da reunião...-Resmungou Sion fazendo biquinho –Afinal, eles falavam de mim!

–Sim, eles deveriam. Mas não se preocupe. Meio que participamos, afinal ouvimos tudo o que eles disseram. –Tentou anima-lo Amélia.

–Eu vou para a montanha com eles! –Disse decidido o jovem dragão branco – Sei que ainda não sei muita coisa sobre o mundo, mas eu quero ajudar...

Amélia o entendia totalmente. Também não gostava de ser excluída das reuniões e tão pouco das decisões.

–Iremos a essa montanha...-Falou a garota por fim –Com ou sem o consentimento deles.

Pietro e Sion sorriram animados com a ideia.

Amélia sabia que não deveria participar de outra aventura perigosa, mas simplesmente não podia retornar a sua rotina normal depois de tudo que viu e sofreu. Sentia que aquela missão era tanto dela quanto dos dragões.

"Bem provável que Alex fique bravo comigo...Mas eu não sou o tipo de garota que fica só observando! Tenho que participar e ajudar!".