O despertar da donzela em perigo


Dor...

Essa foi a primeira coisa que veio a mente de Amélia quando esta despertou, sua cabeça latejava e tinha impressão de ver luzes florescentes piscando bem perto dos seus olhos. A segunda coisa que notou foi o fato de ter os punhos amarrados. Tentou puxa-los, inutilmente, estavam presos. Levantou a cabeça, que alias ainda estava muito dolorida, para finalmente observar que suas mãos estavam amarradas por cordas e penduradas logo acima de sua cabeça em uma barra enferrujada. Sua visão já estava melhor de modo que conseguiu identificar o local em que estava: uma espécie de galpão, típicos daqueles filmes de suspense policial, um galpão abandonado, provavelmente nas docas da cidade, perfeito e bastante original.

–Isso é tão cliché...-Resmungou baixinho, bem que deveria ter guardado a observação para si mesmo, pois também notou que não estava sozinha.

–Sem dúvida é um cliché. A jovem indefesa esperando por ser salva pelo o seu herói. –Amélia mordeu o lábio inferior contendo um grito que ficou preso em sua garganta. O rapaz que a estava perseguindo, antes da explosão, o dito dragão verde estava sentando sob umas caixas de madeira, o que a surpreendeu é que grande parte de seu rosto e braço direito estavam recoberto por escamas cor esmeralda, sua camisa estava queimada , deixando evidente a alteração na sua pele. Seus olhos , agora com aspecto felino, emitiam um brilho verde fraco. O que tinha ocorrido? Por que estava assim?

–Pela a sua reação, vejo que nunca viu uma transformação parcial. –Falou calmamente levantando o braço escamoso e exibindo a mão que apresentava longas e grossas unhas negras, pareciam verdadeiras garras.

–T-transformação...Parcial?

–Por ter cheiro de dragão negro e vermelho em seu corpo, imaginei que soubesse mais sobre essas coisas... –A garota observou que na mão "normal" –ou seja, a que não estava recoberta por escamas – do dragão verde segurava o celular perdido de Amélia.

–Ei! Isso é meu! –Falou possessiva, sempre tivera um carinho especial por seu aparelho e um extremo ciúme quando alguém o pegava, mesmo que aquele não era o momento para ficar enciumada! Aquele ser podia mata-la!

–Eu sei...-Aquela estranha calma em sua voz estava deixando a adolescente nervosa, lembrou-se de como ele matou aquele homem moribundo no beco, não havia remorso nem ao menos um vestígio de sentimento. Aquele dragão verde era extremamente perigoso, nada comparado com o dragão púrpuro que já tinha enfrentado, anteriormente – Peço perdão por invadir a sua privacidade, mas eu estava curioso em saber mais sobre uma humana que vive em meio a dragões.

"Então, foi por essa curiosidade que ele ainda não me matou?" Pensou aflita.

–Mas, você parece uma tediosa e normal adolescente. –Disse ainda fuçando o celular, provavelmente vendo as fotos ou o registro de mensagens – Qual é a sua relação com a minha espécie? Por que tens cheiro de dragões? –A atenção do rapaz agora se voltou para a garota, olhos verdes faiscantes a fitavam com interesse.

–Onde está o human...Digo...O cara que você deveria matar? –Ao invés de responde-lo Amélia o questionou, na verdade estava preocupada com o rapaz atrapalhado que tinha salvado, sabia que ele era um dos vilões, mas segundo o seu ponto de vista ele estava sendo usado, um simples instrumento descartável, os verdadeiros culpados estavam representados naquele dragão verde.

–Ele ainda está desmaiado e não eu ainda não o matei, a situação mudou, aquela explosão poderia ter me machucado muito, de modo que se eu não me transformasse parcialmente teria umas feias cicatrizes. –Explicou em um tom monótono – Além disso, atraímos muita atenção devido a nossa "briguinha", não posso parecer em público com as minhas escamas expostas, não é mesmo? Seria difícil de explicar.

"Então, essas escamas são como uma proteção? Transformação parcial significaria que esse é um estágio intermediário entre humano e dragão?" Sua mente trabalhava a mil por hora, gerando questionamentos e conclusões, pelo menos sua curiosidade não foi inibida mesmo diante de uma situação de perigo.

–E, acredito, que devo investigar mais sobre a existência de uma humana que sabe da existência dos dragões. –Sorriu, seus caninos ficaram expostos o que gerou calafrios na adolescente.

–O que realmente é você? Digo...Sei que é um dragão verde...Mas...Por que está fazendo isso? E os dragões brancos! Por que comercializa-los como eles fossem algum tipo de mercadoria?

–Hum... Você sabe do dragão branco? Sabe que sou um dragão verde? Isso é muito interessante, sem dúvida. –O rapaz estava animado, como uma criança ao presenciar um truque de mágica, avido em descobrir os segredos por trás dele – Presumo que os dragões vermelhos devem tê-lo pego...Me refiro ao produto. E os dragões negros? Como será que eles reagiram? No passado, dragões negros escravizavam os dragões brancos, sabia disso? Mas isso era na época medieval, lógico. Os dragões brancos são fracos por natureza... Sempre precisaram de algum mestre para protegê-los, eles também são uteis na cura, conferindo vantagens aos seus donos. Ou seja, eles sempre foram uma raça de submissos. O que fazemos hoje, comercializando-os, não é tão diferente do que nossos ancestrais faziam.

–Isso não é justificativa! A época medieval há muito tempo já acabou! –Ok, talvez não seja uma ideia muito sensata discutir com alguém que poderia te matar em segundos, mas não podia deixar que ele falasse daquela maneira, ainda mais , tinha visto como Sion estava feliz com a seu novo estilo de vida, também vira como o pequeno dragão branco estava sofrendo por não saber nada sobre o mundo a sua volta e muito menos sobre a sua raça. Quem iria querer desejar uma vida de escravidão e ignorância?

–Sim, antes da idade medieval, antes que os humanos se tornassem irritantes e se apresentassem como um risco, nossa raça governava soberana sob a Terra. E agora? Somos levados a nos esconder... Ocultar a nossa natureza. Nós tornamos fracos e medrosos.

–Eu acho que vocês se tornaram mais humanos...-Sugeriu Amélia que recebeu um rosnado por parte do dragão verde.

–Humanos? E isso é algum tipo de vantagem? Esse feitiço antigo que nós transformou nisso...-Olhou para o seu braço "normal" com desprezo– Limitou nossos poderes, destruiu nosso orgulho... Ao aceitarmos essa natureza dual que hoje apresentamos, foi como assinar um tratado oficializando a nossa derrota!

–Escravizar dragões brancos inocentes é algum tipo de rebeldia contra a forma como a sociedade dos dragões está organizada? Ainda mais, pelo o que me contaram, o que levou a queda de sua valorosa raça foi as lutas internas entre seus membros, os humanos só se aproveitaram da "brecha" criada por esses combate. Não pode culpar a nós por algo que foi consequência do modo como os dragões antigos agiam!

–Oh! –O rapaz bateu palmas –Estou impressionado...Sabes mesmo sobre a nossa história. Entretanto, parece que os dragões que te contaram isso parecem terem esquecido que mesmo na forma humana temos o sangue dragão nas veias...Não podemos renegar nosso passado.

–Uma coisa é renegar outra coisa é tentar revive-lo!

O dragão riu alto e saltou da caixa em que estava sentado. Jogou o celular da adolescente com força no chão, o reduzindo a pedaços.

–Já chega de tanto falatório. –Resmungou se encaminhando, rapidamente para Amélia, estava tremeu de medo, talvez devesse ter deixado a sua boca fechada e engolido seus comentários, mas agora já era tarde. No entanto, o dragão não se direcionou a ela e sim a um corpo jogado próximo aos seus pés, só então percebeu que o humano estivera ali, amarrado e amordaçado.

–E imaginar que essa missão deveria ser simples e sem contratempos...-Continuou a resmungar enquanto coloca o sapado de bico fino, parcialmente sujo de poeira e chamuscado (talvez devido a explosão) sob a cabeça do humano.

–Não! Não o mate! –Suplicou Amélia, não iria suportar ver a morte de outra pessoa e não ter como ajudar. Ser observadora não fazia o seu estilo.

–Shhh... Estou tentando trabalhar aqui. Não se preocupe, ele não irá sofrer nada. Quando o crânio dele quebrar e seu cérebro for esmagado... Seu corpo não terá tempo para responder a dor. Serei rápido e limpo.

Amélia sentiu vontade de vomitar... Aquilo não seria nada limpo! Mas o que mais a assustava era a falar de forma casual sobre a morte de outro individuo, aquilo era muito errado.

–E-eu te digo como eu conheço os outros dragões! Podemos conversar mais! –Disse ela, nervosa vendo que o dragão verde forçava seu pé sobre o a cabeça do humano que agora já tinha acordado e tentava escapar da pressão que lhe era imposto.

–Ora, não se preocupe, temos bastante tempo para conversar...- Abruptamente, o dragão verde interrompeu o seu ato e farejou o ar –Como?

Ele chutou o rosto do humano, que emitiu um gemido abafado de dor, mas não estava morto. Amélia soltou um suspiro de alivio. O dragão verde agora estava catando os vestígios remanescentes do celular.

–Como eu pude deixar isso passar! –Rosnou.

"Do que ele está falando? O que ele farejou?" pensou tentando farejar o ar, inutilmente, não era uma dragão, o máximo que percebeu via o olfato fora o cheiro de mofo, serragem e água salgada.

–Eu os subestimei...-Amélia notou um pequeno chip avermelhado que o seu oponente segurava.

"O que é isso?".

O som de um carro se aproximando a impediu de expor em voz alta seus questionamentos.

–Parece que sua vida realmente é um clichê... Seu herói chegou.

Novamente, a adolescente estava confusa, mas em poucos segundos entendeu o que estava acontecendo quando viu algumas caixas do galpão flutuarem no ar e depois serem lançadas de encontro ao dragão.

–Telecinese... Felix? –Sussurrou abismada. Como ele a teria encontrado?

Os restos das caixas foram lançadas ao ar, o dragão verde agora tinha escamas nos dois lados do corpo, sibilava tal como uma cobra...Na verdade uma língua bifurcada saiu de sua boca.

"Dragões verdes... Devem ser parecidos como cobras venenosas do mundo dos dragões...".

–Vieram proteger a sua humana? Então, ela é mesmo valiosa... Seria uma pena ter que machuca-la. –Nisso ele tirou a arma, da parte de trás de suas calças. Ele rapidamente mirou na cabeça de Amélia que paralisou de medo. Ele iria mata-la? Sua resposta logo seria dada quando o tiro foi desferido... A humana fechou os olhos, esperando o pior, mas o projetil não alcançou o seu destino.

Amélia abriu os olhos e sorriu... Um campo de força azulado e envolto em brumas estava a protegendo... Sabia muito bem quem tinha feito isso.

–Você é covarde a tal ponto de atacar um humano imobilizado? – Alex estava ali, na sua frente. A garota sentiu um misto de alivio e irritação, em parte estava feliz por estar viva, mas também estava chateada por ter que ser salva... Seu plano era mostrar como poderia se virar sozinha, bem...Tinha sido capturada pelo o vilão, deixando um dos caras morrer e causado uma explosão na cidade. Simplesmente perfeito! Com certeza, os dragões iriam confiar nela nas próximas missões.

–Dragão negro...-Antes que o inimigo continuasse a falar outra caixa fora jogada em seu rosto, esta estava cheia de flocos de isopor colorido que agora dominava a cabeleira escura do outro e até mesmo a sua boca, deixando a aparência intimidante do dragão verde agora meio ridícula.

–Correção...Dois dragões negros! –Agora era a vez de Felix entrar na cena.

–Interessante...-Cuspiu um isopor rosa –Meu mestre irá gostar deste encontro... Principalmente se eu puder trazer a cabeça de vocês comigo...-Ao falar isso emitiu um rugido que fez as paredes de alumínio do galpão vibrarem.

"Oh...Céus... Irei presenciar outro combate entre dragões?" Pensou receosa a garota. Aquele dragão era diferente do louco dragão púrpura... Será que Felix e Alex seriam capazes de contê-lo?


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