–...O filme vai ser projetado nesta tela grande e branca! –Explicou Leonard para o curioso Alex que por sua vez observava tudo com um certo fascínio, afinal aquela era a sua primeira vez em um lugar assim. Amélia achava as atitudes do outro de certa forma fofas, tal como uma criança assistindo pela a primeira vez uma apresentação de um mago e querendo saber de todos os seus truques.

–Você pode ver caixas de sons também acopladas nas paredes, diferente de assistir um filme na TV, aqui nós ouviremos melhor e veremos melhor!

–Impressionante...

– E ainda tem algo especial nesse filme, porque ele vai ser em 3D! –Anunciou Felix entregando o óculos escuro ao primo.

–Ah? Eu não gosto de usar óculos... –Resmungou.

–Bobinho, para ver esse filme, vai precisar destes óculos! –Riu o mais velho.

–O que é 3D? –Perguntou para Leonard ignorando óculos dado pelo primo, analisando o objeto como fosse algo alienígena.

–Acho mais interessante quando você vivenciar o que se trata... Daqui a pouco terá essa experiência! –Respondeu o dragão vermelho que olhou para Felix, compartilhando alguma ideia. Pablo suspirou longamente, já podia imaginar que aquela dupla de encrenqueiros estava se divertindo muito com a falta de conhecimento do jovem dragão negro. Amélia continha uma risada, já imaginava também a reação do rapaz... Se Alex estava impressionado com a sala do cinema, como seria a sua relação com o filme 3d?

–Como assim? –Antes que alguém pudesse responder a pergunta de Alex as luzes da ampla sala se desligaram permanecendo unicamente a luz na tela branca. Um aviso foi projetado na tela indicando que devem usar os óculos 3D.

–Tsc... Usar óculos no escuro? O que mais esses humanos irão inventar? –Resmungou o jovem dragão negro colocando os óculos e fitando a tela, logo um trailer começou a ser transmitido.

–AHHHH! Está saindo da tela! –Uma explosão ocorre e Alex se lança sobre Amélia para protege-la, mas logo nota que nada tinha acontecido de fato... Não sentia cheiro de fogo, fumaça...Nada! E por que ninguém estava gritando também? Na verdade, todos estavam rindo... Apesar da imagem de explosão ainda permanecer na tela nada acontecia de fato... Contudo as cenas que eram transmitidas pareciam tão reais, tal como saíssem de encontro ao seu rosto. Aquilo era magia?

–Primeira experiência no cinema 3D! –Um flash proveniente do Tablet de Leonard quase o cegou –Owt! Que coisa fofa!

–Tsc...-Relutante Alex tira o óculos, percebe que era só uma filmagem e que a cena parecia fora de foco ou mesmo borrada quando assistia sem os óculos e quando os colocava a cena transmitida retornava ao que era antes. Definitivamente aquilo só podia ser algum tipo de magia! Seu pai estava enganado quando disse que humanos não sabiam a arte antiga da magia!

–Nos filmes em 3D visualizamos tridimensionalmente, como se o que estivesse ocorrendo fossem reais e estivessem mais próximos de nós. Assim, a ideia é "enganar" nosso cérebro e nossos olhos, fazendo-os pensar que estão diante de um espaço tridimensional e não à frente de uma tela bidimensional comum... –Explicou Pablo para o confuso dragão – Não é nada de sobrenatural... Só é ciência, mais precisamente: física...

–Hum... –Mesmo assim Alex parecia meio inseguro de se afastar de Amélia que tinha conseguindo não rir da reação do rapaz, com muito esforço.

"Nunca fui muito bem em física..." Resmungou em pensamentos.

–Obrigada... –Sussurrou a humana acariciando o braço de Alex que a abraçava –Por me proteger... Digo...Mesmo que não tivesse uma ameaça real...Mas...Enfim...

–Não devia agradecer... Eu agi como um tolo...-Resmungou, se afastando um pouco e a soltando, Amélia pode ver o corar nas bochechas do outro. Perfeito! Por sua ignorância tinha agido que nem um tolo!

–Não...Eu acho que você agiu de forma muito fofa...

–Fofa?! Um drag...- Ele já iria argumentar mais foi silenciado por um leve beijo sobre a sua bochecha lábios. Alex ficou surpreso com a ação de garota que, agora tinha tirado o óculos e o encarava timidamente, seus olhos de íris de coloração esverdeada pareciam brilhar na escuridão do cinema. Alex não pode conter um certo rosnado de contentamento da situação. A garota corou ainda mais e colocou os óculos, escondendo parte do seu rosto e olhar e voltou a sua atenção para a tela.

–Acho que a único ser fofo aqui...É você...- Sussurrou Alex no ouvido dela adorando ver a reação da humana que consistiu em dar uma cotovelada no outro.

–Shh... V-vai perder o filme! –Gaguejou a adolescente.

–Certo... –Riu baixo o dragão voltando sua atenção para o filme, contudo deixou seu braço envolver os ombros de Amélia, de uma forma protetora, se não dizer romântica.

A garota encostou a cabeça no ombro do outro, suspirando contente, totalmente alheios a três dragões que o observavam.

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–Tsc... Só foi um beijo na bochecha? –Leonard parecia decepcionado, mas mesmo assim levantava o seu tablet pronto para tirar uma foto, mas foi interrompido por seu irmão.

–Já chega, Leo! Dê a eles um pouco de privacidade, sim?

–Mas... Essa foto pode valer alguma grana! Os pais deles podem querer para ver como os filhotes deles são fofinhos em momentos românticos! –Disse sorridente – Nosso pai pagou muito caro pela a foto do seu primeiro beijo com o Felix!

–O QUE?! C-como você consegui...Digo... Como você pode ter vendido isso?! –Pablo controlava a raiva, afinal agora sentia uma grande vontade cuspir fogo sobre o tablet do irmão. Isso explicaria como Theodor sabia sobre o romance entre o chefe dos dragões vermelhos com o jovem dragão negro antes mesmo de revelar a alguém. Na época pensara que era intuição paterna... Mas agora entendia que fora "vendido"!

–Você ainda tem as fotos? –Perguntou curioso Felix, totalmente relaxado com a revelação.

–Tenho! Mas você vai ter que pagar, como todo o bom cliente... –Falou Leonard com um tom profissional, ajeitando os óculos em seu rosto.

–M-mas eu sou seu melhor amigo!

–Como o ditado dos humanos diz: "amigos, amigos, negócios a parte" –Disse em tom bastante sério e para completar ajeitou o óculos como que lhe dando um ar profissional a situação.

–Ah... –Felix fez biquinho –Mas eu queria essas fotos...

–Amor... Para que precisas de fotos deste tipo? –Interpôs Pablo que olhava para o irmão, se de fato os dragões vermelhos tivessem o poder de emitir jatos de fogo pelos olhos, Leonard já tinha virado cinzas naquele momento.

–Ora... Para guardar como lembrança... –Disse corando.

–Você não precisa de fotos para se lembrar do quanto eu amo você... E quanto ao primeiro beijo, se queres se lembrar basta eu te beijar de novo, não é?

–Oh...-O dragão negro sorriu – Você é tão fofo quanto tenta ser romântico e falar essas coisas melosas...

–E-ei...-Agora era a vez do chefe dos dragões vermelhos corar.

–Eu quero me lembrar do beijo agora... Pode?

Pablo sorriu e a resposta para aquela pergunta foi ele se aproximar do namorado e o beijar. Leo rosnou baixinho, sentindo que agora, literalmente, estava "segurando vela" para dois casais. Definitivamente aquela não foi uma boa ideia... Para passar o tempo, já que não poderia tirar fotos e tão pouco estava interessado no filme, resolveu invadir o sistema de segurança do shopping, quem sabe não encontrava algo interessante...

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– Droga! –Um homem vestido um macacão negro começa a dar chutes no interior do veiculo tendo como alvo rádio a qual parecia estar aos poucos perdendo a sintonia e emitindo um som irritante.

–Pare de fazer isso, idiota! –Rosnou aquele que dirigia.

–Eu não acredito que iremos ficar sem rádio!

–Isso é o que acontece quando você molha um aparelho eletrônico, seu idiota!

–Pare de me chamar de idiota!

–Então pare de agir como um!

O outro homem cruzou os braços e deu mais um chute no rádio que por fim se quebrou emudecendo finalmente.

–Ótimo...Agora teremos uma longa viagem pela a frente e terei que ficar ouvindo a sua voz esganiçada! –Resmungou aquele que dirigia.

–Podemos parar na próxima cidade e consertar...

–Não! Esqueceu o que o chefe disse?! Nada de paradas! Temos que levar essa carga até o destino...

–Você nunca ficou curioso o que tanto transportamos? Tipo... E se for drogas!? Se os policias nós pararem e pedirem para avaliar a carga? Seriamos presos!

–O nosso chefe nós garantiu que não seremos parados por nenhuma autoridade. –Respondeu automaticamente o motorista, como já estivesse acostumado em responder aqueles questionamentos de seu parceiro.

–Sim...Mas...Ainda teremos que viajar por mais 5 horas! Sem rádio será...Como um inferno!

–Não estaríamos nessa situação se não tivesse quebrado.

–Então eu irei cantar o resto da viagem... Espero que goste de música sertaneja.

Um silêncio constrangedor se fez no veículo, era evidente a tensão trocada entre os dois homens.

– Iremos a cidade mais próxima e você vai ter meia hora para comprar algum rádio... –Falou por fim o motorista, nervoso com aquela decisão. Seu companheiro, por outro lado estava extremamente feliz com aquilo, quase dançando aonde estava sentado.

O veículo saiu da autoestrada rumo a cidade mais próxima... Só seria por pouco tempo, não ocorreria nada de ruim, não é?

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"Fortificar o nosso perímetro... Investigar nossa fronteira... Como se nós tivéssemos problemas com outros clãs de dragões vizinhos! Não antes destes dragões negros se agregarem ao nosso clã!" Pensou irritado Tales, hoje estava responsável por patrulhar uma parte da cidade, mas precisamente o centro da mesma, desde do ataque do dragão púrpura o seu clã aumentou as equipes de patrulha de modo que hoje era o seu turno, o que o deixava bastante irritado. Agora tinha que trabalhar mais unicamente por que um dragão solitário adentrou no território buscando vingança...

–Aposto que teremos mais problemas... Nossa tranquilidade e paz se findará com a presença dos dragões negros, eles foram os causadores da guerra e continuaram a trazer o caos aonde estiverem! –Resmungou para si mesmo, contudo não adiantava ficar deprimido daquela forma, sua família tinha aceitado aqueles desgarrados e sua opinião não contava.

–Ficar acordado até tarde em uma noite de sábado trabalhando... Ninguém merece! –Iria morrer de tédio em sua vigila no alto dos prédios da cidade.

–Ah? –Sentiu o cheiro estranho no ar, não era advindo da poluição, muito menos mudança no tempo indicando que haveria alguma tempestade... Não...Era um cheiro de...

Uma explosão ocorreu em um das ruas abaixo, Tales pode ver a nuvem de fumaça subir no ar, pessoas gritando de surpresa e desespero.

–Um dragão... –Sussurrou, logo buscou o celular para informar os outros membros da patrulha sobre o ocorrido, entretanto não sabia o que dizer... Não conseguia identificar o tipo de dragão a qual advinha aquele cheiro... Nunca tinha farejado algo assim antes.

–Droga... –Rosnou tomando uma resolução, iria primeiramente investigar a ocorrência para depois informar o seu clã... Quem sabe não tinha se enganado? Talvez a explosão tenha causa unicamente humana... Pelo menos assim esperava.

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Fugir...

Esconder...

Sobreviver...

Era a única coisa que pensava enquanto corria pelos becos sujos da cidade. Tremia de frio e de medo. Onde estava? O que fazia ali? Como escaparia? Será que estava sendo perseguido? Não se lembrava de nada a não ser do cativeiro... De estar trancando em uma jaula apertada... Lembrava-se de sentir muita dor... Contudo, fora isso, todas as suas memórias não passavam de um nevoa por sobre a sua mente.

–Ei...- Uma voz fez o jovem se sobressaltar –Está perdido?

Um mendigo cambaleou em sua direção, o cheiro forte de álcool e urina praticamente fez o seu nariz sangrar.

–Ei! Eu falei com você! –Continuar a falar o homem, com um tom de irritação em sua voz embargada.

–Para trás... –Sussurrou em resposta –Eu não quero te machucar...

–Até parece que tenho medo de um moleque... –Nisso o mendigo pegou o pulso do garoto desconhecido, de forma bruta de modo que o capuz que cobria a cabeça do jovem caiu para trás revelando a longa cabeleira de coloração branca e olhos azuis que pareciam brilhar na penumbra.

–Um fantasma! –Disse o homem horrorizado, de fato aquele garoto não parecia real, pele alva e quase parecia emitir luz própria... O que era aquilo?

–Me solte...Por favor... –Suplicou.

–Fantasma! –Rosnou o mendigo levantando a garrafa vazia de vodka que segurava na outra mão, pronto para atacar o menor –Você não irá me levar para túmulo!

–NÃO! –Gritou e um flash de luz se fez no beco, tão forte que o homem sentiu seus olhos queimarem e soltou o menor.

–AHHH! Estou cego! –Gritou em agonia, tapando os olhos, contudo nada parecia impedir a luz que dominava o ambiente.

Tão rápido quanto foi o início do flash foi o retorno a escuridão. O mendigo caiu no chão ainda cobrindo os olhos, lágrimas de sangue escorriam de seu rosto sujo e cheio de rugas advindos da idade avançada.

–Cego... Estou cego... –Choramingava.

–E-eu...Eu... Disse que... Não queria te machucar... –Disse o garoto que observava as próprias mãos que tremiam–Eu...Eu posso te curar... –Se ajoelhou ao lado do homem –Sei que posso... –Falou incerto, como sabia? Nem ao menos entendia como produzira tanta luz do seu próprio corpo.

–Não! Para trás! – O bêbado se afastava da fonte de voz, se arrastando debilmente pelo beco –Não me mate! Monstro! Demônio! Fantasma!

–Eu...Eu não sou um monstro...

–Não! Me deixe em paz! Já não basta o mal que já me fez! –Bradou o mendigo –Me deixe em paz!

O jovem não sabia o que fazer, sentia culpa... Medo... Dor... Não queria tê-lo machucado, não era um monstro... Ou será que era?

–Ele está ali! –Uma voz distante foi ouvida, era um dos homens que o haviam trancafiado... Eles iriam prendê-lo e levar de volta a escuridão da cela aonde teria mais dor... Não! Ele não podia voltar para aquilo.

–Me desculpe... –Falou baixinho se levantando e puxando o capuz do casaco que usava e cobrindo o seu rosto –Eu...Bem... –Não sabia mais o que dizer ao homem, não tinha tempo, logo começou a correr.

Mas para onde?

Será que iria causar mais dor a inocentes?

E... O que de fato ele era?

"Dragão..." Essa palavra surgiu em sua memória, contudo não sabia qual era o significado. Realmente não tinha tempo para analisar o que era... Tinha que sobreviver... Se esconder... Fugir...