Dragões vs Dragões
O som de vidros serem estilhaçados era ouvido à distância no corredor. Gritos de fúria ecoavam e aumentavam conforme Eric se aproximava da fonte. A porta de um dos quartos se abriu e um jovem rapaz saiu rapidamente carregando uma bandeja de prata e tentando proteger o rosto. Um jarro de água foi lançado à parede. Eric inspirou e expirou longamente, tomando coragem para adentrar na dita sala.
–MALDITOS INCOMPETENTES!
Mais um objeto foi lançado, desta vez parecia ser uma estátua, contudo não foi possível distinguir o formato já que tão rapidamente foi destruído ao colidir com a parede. Eric decidiu que tinha que intervir, quem sabe o que o seu lorde utilizaria como munição quando todos os objetos do seu quarto forem destruídos?
–Meu lorde...-Entrou e rapidamente fez um reverência, que de certa forma o salvou, pois um vaso passou rente a sua cabeça.
–Estúpidos! Malditos! Incompetentes! De quem foi a ideia de utilizar humanos como subordinados? –Rosnava Asley que andava de um lado ao outro usando o seu longo casaco verde com bordados dourados. O tecido se arrastava no chão, se rasgando ao passar por cacos de vidro e porcelana que jaziam no mesmo chão.
–Na verdade, foi a sua ideia... –Eric se arrependeu de imediato, sua boca falou antes mesmo dele pensar nas consequências.
–O que disse? –Rosnou o outro, seus olhos verdes agora pareciam emitir um brilho fantasmagórico no ambiente meio obscurecido (isso porque Asley já tinha quebrado a maioria das lâmpadas).
–Er...Bem... Lorde, eu só vim aqui para lhe informar...
–O que? Se for sobre o desaparecimento da minha carga outro idiota já fez isso! Sabe o prejuízo que tive com relação a essa confusão ridícula? Aquele produto foi vendido por 5 milhões de dólares! Como irei explicar para o humano que o seu remédio não irá chegar? Hein? Sem falar que ele requisitou um garoto jovem...Creio que ele não pretendia tão somente usar o produto para fins medicinais, mas eu pouco me importo! Tivemos prejuízo! E por quê? Por delegarmos o transporte da mercadoria a humanos! Eu sabia que não devia confiar neles... São fracos e indisciplinados! Inúteis? Um pouco, eles só são importantes pelas ferramentais que eles podem nos oferecer, como a engenharia genética e canais de tv a cabo, por exemplo...
–Na verdade a notícia que eu iria lhe dar não era referente a isso...E sim a localização atual do espécime 510-n.
–510-n? Foi assim que o nomeie? Já tinha esquecido...-Resmungou enquanto sentou em seu divã – E aonde ele se encontra?
–No meio do território dos dragões vermelhos, trata-se daquele que investigamos com o dragão púrpura.
–Oh! –Asley saltou do divã sorridente – Isso parece ser interessante...
Eric nada diz, na verdade tinha esperado uma nova explosão de raiva por parte do seu superior, mas pelo o que parece não era o caso.
–Um pequeno dragão branco...Uma raça que a muito tempo se pensou extinta agora reaparece... O que será que eles irão fazer? Não irão mata-lo e sim acolhe-lo como fracos dragões que são.
–Com todo respeito senhor, mas não creio que essa seja uma boa notícia, isso significa que eles podem começar a investigar e isso poderia culminar em nós!
–Hum... Se esse fosse o caso já teríamos a palavra do conselho dos dragões, eles costumam agir rapidamente em situações como esta. Os dragões brancos que produzimos são praticamente desprovidos de memória e não poderá nós identificar e tão pouco denunciar. O problema reside nos humanos responsáveis por transportar o produto...
–Nossa equipe perdeu contato com a dupla e estamos monitorando os meios de comunicação e interceptando os rádios da policia da região onde ocorreu o incidente, até agora nenhum sinal dos nossos funcionários.
–Correção, ex-funcionários. Eu não admito falhas longo esses humanos não devem ser tratados como pertencentes a nossa organização, na verdade creio que os dois se tornaram uma ameaça...Eles são o real problema que temos que eliminar.
–Meu lorde, desejas que mandemos alguém para eliminar esses humanos.
–Não deve ser qualquer um... –Falou pensativo o dragão verde.
–Não podemos mandar um dragão... Eles irão fareja-lo assim que adentrarmos no território deles.
–Não necessariamente, nossa equipe de cientistas desenvolveu um creme que camufla o nosso cheiro, ainda está em faze de testes, mas que melhor oportunidade teremos de testar nossa nova invenção em uma situação real, hum? –Riu divertido Asley.
–E...Quem deve ir nessa missão? –Eric temeu a resposta, principalmente devido à forma que o seu líder o olhava.
–Ora, quem mais? O meu fiel servo Eric Vierdian.
–Oh...-O jovem dragão engoliu em seco –Isso é um honra.
–E Eric...- O rapaz levantou os olhos e se surpreendeu ao ver o outro ajoelhado a sua frente, seu rosto apresentava um sorriso amável que de alguma forma gerou calafrios –Se você falhar...-Asley acariciou a face do outro, suas grandes unhas arranhavam levemente a bochecha do mesmo – Considere-se morto –Um leve arranhão foi feito, Eric sentiu uma dor extrema o dominando, cai para trás em um urro de agonia, o local ferido ardia tal como tivesse sido marcado com ferro em brasa.
–Entendeu, meu querido Erico? –Asley se levantou e limpou a sujeira inexistente do seu casaco. Observou enquanto o seu servo, ofegante, se levantava, tocando com mãos trêmulas a cicatriz em seu rosto.
–Eu entendi...Lorde. –Tentou conter a sua raiva, um dragão verde podia ser imune aos venenos de outro dragão, mas isso não significava que não doía, além disso, quanto mais forte o dragão pior será a dor... Asley era um dos mais fortes dragões verdes existentes, logo pode-se imaginar a dor que sentiu com aquele mero corte.
–Que bom! Agora vá! Tenho um documentário no Animal Planet para assistir! Os 10 animais mais venenosos! –Disse com excitação tal como uma criança. Eric se curvou enquanto se retirava.
"Ele realmente considera que posso sobreviver em um território repleto de dragões vermelhos? Que posso, sozinho, matar os humanos?" Pensou o jovem servo enquanto caminhava rapidamente pelo o corredor " Não...Ele está planejando algo e eu sou tão somente um peão...".
Eric rosnou e deu um soco na parede ao seu lado, esta tremeu com o golpe e pequenas rachaduras surgiram no ponto do impacto.
–Eu sou apenas um peão...-Sussurrou, o peso daquela conclusão fez seu coração acelerar, sentia que iria ser enviado para a própria morte, contudo nada podia fazer para mudar o seu destino.
***
– Onde vocês estavam? – Olivia recebeu o grupo de recém-chegados com os braços cruzados diante de si e um olhar severo.
–Olá, querida...-Disse Arthur meio que nervosamente.
–Não me venha com esse olá, querida! Quando eu cheguei em nossa casa notei que ninguém estava aqui! Nem mesmo deixaram um recado! Não sabem o quanto fiquei preocupada?
Amélia conteve o riso ao ver os dragões se encolhiam com o sermão que a humana mais velha dava. Até mesmo Erich parecia constrangido.
–Então? Quem irá me explicar o que está acontecendo e... –Olívia se calou ao notar um jovem garoto se encolhendo atrás de seu namorado – Owt! –Se aproximou rapidamente o que fez o menor se encolher ainda mais – Quem é ele? E... Ele está brilhando? –Notou um pequeno faiscar na pele alva do misterioso visitante.
–Ele é o nosso novo membro da família, seu nome é Sion. –Informou Arthur tentando trazer o pequeno dragão branco para frente, mas o garoto realmente estava se mostrando sua força e teimosia se agarrando no blusa de dragão negro mais velho como se sua vida dependesse disso.
–Sion? Que lindo nome! –Sorriu a humana –O meu nome é Olívia, prazer em te conhecer!
–Hum...Você não tem cheiro de dragão...-Sussurrou Sion.
–Oh! Ora, isso por que não sou um dragão e sim uma humana, sou a mamãe da Amélia.
–Sério?! –Isso parece ter despertado a atenção dele.
–Sim! –Riu – Você conhece a minha filha?
–Ela...Ela é minha amiga...-Falou baixinho e com as bochechas coradas.
Amélia sorriu com aquela declaração, era bom saber que o novo dragão já tinha criado um elo de amizade com ela.
–Bem, eu gostaria de ser sua amiga também.
–Jura? –Sion parecia extremamente feliz ao ouvir aquilo.
–Juro. Que tal eu te ajudar a buscar um quarto só seu? Já que irá morar conosco precisa de um quarto.
–Um quarto só meu... –Repetiu como se aquilo fosse inacreditável, Amélia sentiu um aperto no coração, Sion não devia estar acostumado ao conforto, fora tratado como uma mercadoria e não como um ser vivo, ele merece se sentir protegido e amado.
–Isso! E eu quero pentear seus cabelos, eles parecem tão rebeldes! Ninguém nunca penteou para você? –Indagou Olívia enquanto acariciava uma das mechas brancas-prateadas do dragão branco, este parecia confiar na humana e aos poucos começou a sair de seu esconderijo, para alivio de Arthur.
–Não...-Respondeu cabisbaixo, Olívia olhou para o seu namorado emitindo um pergunta silenciosa, o outro apenas negou com a cabeça.
–Oh... Isso não importa! Agora eu vou cuidar do seu cabelo! –Disse animada –Amélia já está crescida o suficiente para pentear o dela, apesar de eu não gostar dos penteados estranhos que ela usa.
–Mamãe! M-meus penteados não são estranhos! –Falou indignada a humana mais nova.
–Enfim...-Olívia ignorou totalmente a reclamação da filha –Vamos? –Ofereceu a mão ao menor que sorridente aceitou –E acho que deve tomar um banho também!
Os dois começam a subir a escadas para o primeiro andar, Amélia suspirou aliviada, sua mãe iria ajudar na adaptação de Sion a vida normal, ele precisava de figuras paternais (Arthur tinha se encaixado nesta categoria ) e maternais... Ele precisava da estrutura de uma família para compensar os anos que passou sem ter nada disso.
Arthur pigarreou e isso chamou a atenção de Amélia que logo notou que todos os outros dragões a encaravam, era como um pedido silencioso para que ela deixasse a sala, provavelmente iriam discutir sobre o que iriam fazer agora, o plano de captura dos humanos que mantinham Sion em cativeiro.
–Er...Acho que vou ajudar a minha mãe! –Disse rapidamente já se dirigindo as escadas.
"Isso é injusto!" Pensou enquanto subia "Eu também deveria participar, digo, até o momento eu participei! Mesmo que eu penso que talvez eu estivesse no lugar certo e na hora certa e por isso pude participar das reuniões e eventos... Mas, eu também quero ajudar o Sion." No final estava indecisa, o que poderia fazer para ajudar? Não era forte o suficiente para fisicamente auxiliar... Sem falar que esses homens devem estar armados e foram capazes de atirar no Tales e o ferir, sendo ele um dragão. Aquilo era perigoso! E se um dos seus familiares se machucasse? Nunca se perdoaria se algo assim ocorresse.
–Familiares... –Ficou surpresa com a própria linha de pensamento, tinha considerado aqueles dragões negros como parte de sua família? Bem, era verdade... Apesar de quão estranho e irreal tudo aquilo parecia, no final estava feliz por fazer parte de uma família.
–E eu não quero perde-los... –Sussurrou. Definitivamente iria fazer algo para ajuda-los. Podia não ter força física, mas era esperta o suficiente para servir de alguma forma.
***
O ônibus azul estacionou em uma das vagas designadas na pequena rodoviária, o ar quente advindo do motor gerou uma fumaça densa que praticamente ocultou o movimento de abertura da porta e a descida dos passageiros.
–Então, essa é a cidade? –Perguntou um homem careca e com tatuagens roxas em sua nuca, ele era muito alto e de certa forma gerava uma áurea de apreensão aos outros passageiros que rapidamente saiam do seu caminho, o casaco de couro com desenhos de caveiras flamejantes nas costas não suavizava a sua imagem.
–Pelo o relatório que recebemos seria essa sim... –Um garota de cabelos negros e uma mecha purpura o acompanhava, usava roupas negras e suas unhas também eram pintadas da mesma cor, sem dúvida era uma dupla estranha –Lembre-se que trata-se de uma missão diplomática.
–Diplomática...-Repetiu o mais alto.
–Exato, e isso significa?
–Perguntar antes de bater? –Sorriu expondo os dentes serrilhados.
–Não...Seria melhor não haver nenhum tipo de "batidas".
–Eles podem bater em um dos nossos e nós não podemos revidar? –Falando isso cuspiu com desgosto em uma lata de lixo próximo –Dane-se a diplomacia.
–Irmão! Devemos ouvir o que eles tem a dizer! Além disso, não é como aquele desgarrado fosse nosso amigo ou familiar. –Resmungou a mais nova.
–Deus! A lixeira! Ela está derretendo! –Falou uma pessoa o que chamou atenção das outras que estavam próximas.
–O que será que aconteceu?
–É como alguém tivesse jogado ácido dentro...
–Será que devemos chamar a polícia.
–Não se faz lixeiras como antigamente...
–Tsk...-A garota olhou furiosa para o seu irmão que apenas deu os ombros, não ligando para a confusão que tinha causado.
–Vamos logo, Scarlet! –Bocejou, um piercing na língua se tornou evidente.
–Idiota...-Resmungou seguindo o mais velho e tentando ignorar os humanos que usavam extintor de incêndio na lixeira.
Os dragões purpuras tinham chegado na cidade.
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