Degustação!
– Essa é uma cerveja artesanal feito de trigo cultivado em solo Europeu e colhido de madrugada dando um sabor único a bebida fermentada produzida. – Explicava Erich com tamanha seriedade que surpreendia Amélia, afinal, nunca vira o Tio demonstrar interesse para outra coisa que não fossem automóveis, exercício ou UFC (ou outros torneios de luta em geral). O dito dragão negro segurava a garrafa da cerveja como se essa fosse algum tipo de bebê recém-nascido frágil e verteu o líquido em um copo que foi prontamente entregue ao grande Cezar.
– Interessante. – Disse o dragão marrom bebendo com evidente prazer – Fazia anos que não bebia algo assim...
– E essa não é minha melhor cerveja! Tenho várias outras disponíveis para a degustação. – Erich parecia orgulhoso enquanto falava.
– Irei adorar degustar todas. – Sorriu o ancião expondo dentes reptilianos.
– Vô... – Felipe, o jovem dragão marrom e guardião do Grande Cezar, proferiu aquela palavra como uma advertência.
– O que? Só estou bebendo um pouco! Não tire o prazer de um homem velho! – Ralhou Cezar contrariado.
– Não se preocupe, essas cervejas são de alta qualidade e são quase medicinais! – Garantiu Erich piscando para Felipe que franziu o cenho com aquela informação.
– Cervejas...Medicinais?
– Melhor deixar que seu bisavô relaxe um pouco. – Interpôs Arthur já prevendo que seu irmão iria começar um dos seus longos discursos sobre o benefício do consumo de cervejas artesanais. Erich podia ser bastante apaixonado por algumas coisas...De modo que podia se exaltar ao expor suas paixões e em algum ponto dessa "exaltação" existiria punhos flamejantes que causaram danos físicos tanto aos ouvintes quanto ao mobiliário da sala.
Amélia que observava tudo de uma distância segura ainda estava tentando decifrar mais sobre os dragões marrons, a nova raça que fora apresentada em apenas algumas horas atrás. Felipe ainda andava nuzinho da silva, apesar de ter a decência de ocultar a sua parte "de baixo" com a invisibilidade, mas mesmo assim... O Grande Cezar parecia um ancião amigável e ansioso por sanar a abstinência de bebida e alimento depois de anos gastos na hibernação. Quantas mais raças de dragões ainda existiam? Qual seria seus poderes? Havia tanta coisa ainda para se descobrir e isso a deixava ao mesmo tempo alegre e ansiosa. Queria sair por aí e explorar esse novo mundo!
– Você ainda está aqui? – Questionou Scarlet despertando Amélia de seus devaneios de aventuras futuras. Foi como receber um balde de água fria na cara. Aquela dragão-garota parecia ter assumido que a sua principal diretriz era importunar a vida dos outros, mais precisamente de Amélia.
– Se não percebeu, essa é minha casa, eu vivo aqui. – Respondeu tentando controlar o nível de irritação.
– Eu sei disso. – Scarlet respondeu de forma ríspida – Eu que quis dizer é estar aqui no sentindo de, novamente, se meter em assuntos que não são da sua conta. Sendo mais direta, não aprendeu nada da sua pequena "excursão" na floresta? Você não tem nenhuma chance contra nós dragões. Somos superiores em força e inteligência.
– Pois é... E eu acertei o poderoso e superior dragão marrom com um vidro de Nutella enquanto meus companheiros, mesmo utilizando seus poderes dragonianos não conseguiram afeta-lo. Nossa! Eu sou mesmo uma incapaz!
Scarlet rosnou, seus olhos adquiriram aquele jeito reptiliano, o que poderia ser um aviso claro de "cuidado, estou ficando brava!".
– Você teve sorte! Somente isso! Na verdade, as confusões que você fez parte, só escapou por pura sorte. Não pode depender de algo assim para continuar viva.
– Nisso eu concordo com você...
– E eu digo mais...Espera...Você concordar? – A dragão púrpura franziu o cenho, confusa.
– Eu tive mesmo sorte e já não posso contar com esse artificio se desejo ajudar a minha nova família. Admito que sou teimosa de tal maneira que fui incapaz de enxergar minhas próprias deficiências. Sou fraca sim, se comparado a um dragão, não tenho poderes, super faro e não posso me transformar em um réptil gigante...Mas hoje aprendi que existe outras formas de lutar, que posso sim ser útil se começar a me empenhar mais em treinar e aprender. – Falou mais para si mesmo do que para Scarlet, já chega de ser impulsiva e criar problemas ao invés de gerar soluções. Humanos lutaram contra dragões no passado usando apenas espadas e escudos! Esses caçadores foram tão eficientes que até no presente os dragões os temem... Por que ela também não poderia lutar?
– Você só pode estar louca...
– Eu não acho. – Interrompeu Bolt sorridente dando uma leve tapinha no ombro da humana – Isso se chama evoluir ou cair na real, se preferir.
– Bolt! Você não pode apoia-la...Digo, ela é apenas uma humana e...
– Peço perdão pela a minha irmã. – Falou o rapaz fazendo uma pequena reverência para Amélia – Ela viveu muito tempo com a parte extremista da minha família. Dragões que acreditam na pureza do sangue, preservar a tradição e toda essa balela...
– Não é balela! – Rosnou a menina – Você ficou tanto tempo entre humanos que acabou por esquecer o que realmente é importante.
– E o que seria? A supremacia da raça dragoniana? Scarlet não foi à toa que te escolhi como parceira nessa investigação, fiz isso para que saísse da influência dos dragões fanáticos e visse verdadeiramente o mundo... Sim, entendo que devemos defender a nossa raça, mas fazer isso inferiorizando humanos? Não. Isso é errado e só irá levar a mais conflitos e não alcançar a verdadeira paz que é o que todos nós queremos...Além disso, devo lembrar que vai existir um dia que os dragões irão se revelar a raça humana e como vai ser? Iremos iniciar mais outra guerra ou buscar tolerância?
Scarlet não o respondeu, apenas lançou um olhar raivoso primeiro para Bolt depois para Amélia, na verdade tal olhar parecia reter muito mais tempo sobre a humana, como se ela fosse a causadora de todos os males. Por fim, a garota dragão se afastou com passos rápidos e firmes.
– Ufa... – Bolt soltou um suspiro – Pensei que ela iria cuspir ácido na gente.
Amélia arregalou os olhos, assustada com a possibilidade.
– Ela...Iria?
– Bem, em uma discussão entre dragões púrpuras sempre existe ácido. Você devia assistir as nossas reuniões anuais! Praticamente derretemos o prédio onde ocorre o encontro! Por isso, hoje em dia, é preferível nos encontrarmos em um local aberto... Menos destruição e prejuízos. – Explicou o outro dragão com bom humor, não compartilhado com a humana sentia calafrios ao imaginar o ácido. Já tinha enfrentado um dragão púrpura, recorda como sua potente secreção foi capaz de liquefazer um poste de metal...Imagine o que poderia fazer com um ser vivo?
– Scarlet parece estar pegando no seu pé... – Continuou falando Bolt agora com ressentimento na voz – Eu realmente peço perdão por isso, se quiser, vou tentar falar com ela novamente...
– Não. Está tudo bem. Digo, vou ser sincera...Ela está sendo mesmo uma chata. Desculpe, sei que ela é sua irmã e tal.
– Sem ressentimentos. – Sorriu Bolt amistoso – Scarlet sempre foi muito séria em relação a tradição e normas, a presença de uma humana que tenta se integrar na comunidade dragoniana vai de encontra a tudo que ela foi ensinada.
– O certo seria mostrar a ela o quanto está errada. – Concluiu Amélia – Até o momento eu fiz muitas besteiras e...Acredito que isso só reforçou a visão dela que humanos só atrapalham.
– Bobagem! – Bolt deu um novo tapa nas costas da garota, quase fazendo a mesma cair para frente devido ao impacto – Eu não vejo dessa forma... Sua persistência e coragem só demonstram quão valorosa guerreira vais ser no futuro! Eu já mencionei antes...Ninguém começa a jornada sabendo de tudo e não cometendo erros. Aprender com esses erros é que nos faz crescer! Você enfrentou muitas coisas que qualquer outro humano iria simplesmente fugir chorando e tentar esquecer toda essa loucura...Mas você continua aqui. Continua desejando ajudar. Eu te admiro por isso.
– Sério? – Amélia inqueriu tentando conter a vontade de chorar. Aquele incentivo dado por Bolt estava apagando a chama da insegurança que persistia queimar dentro do seu íntimo.
– O que vocês estão fazendo? – Quis saber Alex que se aproximou já rosnando e pronto para brigar– Você fez Amélia chorar ?!
– Bolt! – Leonard também havia chegado com um olhar de reprovação lançado para o "namorado" – Eu não acredito que você tenha feito uma garotinha chorar! Isso é tão malvado... Estou tão decepcionando.
– Eu não estou chorando! – Disse a garota passando a costa das mãos no rosto meio úmido. "Droga! Não é o momento de ficar tão emocional!".
– E-eu... – Bolt parecia desesperado – Não foi intencional! Só estamos tendo uma conversa amigável! Juro... Por favor, meu fudge de chocolate!
– Se você fez a minha Amélia chorar... – Alex continuava a impor como machão o que era ao mesmo tempo irritante e encantador.
– Eu já disse que não ocorreu nada... – Insistiu a adolescente segurando o braço do namorado que, no momento, já estava começando a formar uma crosta de gelo.
– Opa! Briga! – Felipe, o dragão nudista e meio-invisível, apareceu ao lado do grupo, ansioso por assistir.
"Ele meio que gosta de um barraco, não é?" Analisou Amélia em pensamentos vendo o quão feliz estava o dragão marrom com a possiblidade de presenciar o evento.
– Não vai ter briga nenhuma. – Esclareceu Bolt passando a mão por sua careca, contrariado – Ainda mais... Se tivesse algo assim, seria tão rápida que nem poderia ser considerada uma briga. – Acrescentou dando um meio sorriso exibindo seus dentes serrilhados.
– Hã. Como assim. – Alex rosnou, sua respiração exibia pequenas nuvens esbranquiçadas, vapor d'água advindo dos seus pulmões que estava se resfriando rapidamente provando tal efeito. Amélia achou fascinante, mas logo sacudiu a cabeça tentando se concentrar, não era hora de admirar o poder dos dragões, ainda mais o poder do seu namorado.
– Ora, pimpolho! Não querendo ofender, mas acho que eu venceria esse combate.
– Pimpolho?! E você baseia tal conclusão em que?
– Vejamos! Tenho mais experiência em combate que você... Sou mais velho...Mais forte...Mais belo... – Bolt dizia isso contando nos dedos as suas "qualidades", Alex não tinha paciência para aquilo...
– Eu já lutei contra um dragão púrpura antes!? E se meu recordo bem, me sai muito bem! – Falou com certa altivez.
– Oh! Ouvi falar disso... Mas aquele dragão estava louco, enquanto eu estou totalmente são e no auge da minha forma!
Leonard soltou um suspiro, Amélia sentiu o ar quente advindo daquele ato, contrastando com o frio advindo de Alex, aliás a garota já estava tremendo e os dentes chegavam a bater. Por que aqueles rapazes tinham eu expor sua testosterona com brigas sem sentindo?
– Vocês são muito idiotas. – Comentou Leo ajeitando os óculos sob seu rosto com enfado – Bolt pare de provoca-lo e Alex pare de ser cabeça dura! A Amélia já tinha dito que esse bobão não fez nada de errado...Se falei aquilo antes era só para provocar, pois sei que esse cuspidor de ácido tem um tremendo coração mole!
– Owt... – Bolt levou a mão, dramaticamente ao coração – Também de adoro, meu Tortellini de Bolonha.
– Aw... – Felipe estava decepcionado.
– E você! Não tem nada melhor para fazer do que incitar brigar? – Leo resolveu ignorar a referência a comida ou talvez já estava se afeiçoando a tais apelidos.
– Mas estou a meses sem assistir novelas e nem os programas como casos de família... Estou em abstinência! Eu ainda quero rever pela décima vez "Maria do Bairro" ou " A Usurpadora! Mas na floresta não tinha acesso a TV e nem internet! – Amélia não sabia se existia abstinência por falta de barraco ou melodramas...Mas pelo visto tais coisas eram viciantes ao ponto de fazer aquele dragão em particular ansiar por aquilo.
Leonard rolou os olhos com aquela confissão.
– Ei, meu doce Cannoli, por que não empresta seu tablet para o meu "primo"? Assim ele se diverte um pouco. – Sugeriu Bolt.
– Se ele quebrar o meu tablet você terá que comprar um novo. – Resmungou o Hacker entregando o aparelho com relutância para o dragão nudista.
"Problema resolvido!" Pensou a garota feliz pelo o conflito não ter evoluindo por uma luta, ainda mais diante do grande Cezar!
– Desculpe. – A garota sentiu algo quente sendo colocado sobre os seus ombros, Alex tinha desabotoado a sua camisa... Sendo que essa mesma camisa agora estava esquentando a ainda trêmula Amélia – Eu me deixei levar pelo meu temperamento.
"Ele é mesmo musculoso..." Os olhos dela navegaram pelo tórax escultural do dragão negro, mas prontamente se conteve e virou seu rosto agora corado para o lado.
– Está tudo bem... – Sussurrou, o cheiro do rapaz impregnava a camisa, aquilo a estava distraído – Digo, você estava me defendendo... Mesmo que não houvesse nada ocorrendo!
– E por que estava chorando?
Ela deu os ombros.
– Estava só emotiva... Na verdade, você recorda de me prometer me treinar...
– Sim. Se quiser desistir...
– Eu não quero desistir! Eu quero saber quando começamos! – Falou mais convicta o que de certa forma tomou Alex de surpresa, mas ele logo se recuperou revelando um pequeno sorriso.
– Que tal amanhã cedo?
– Me parece ótimo.
– Espero que saiba que sou bastante rígido em relação ao treinamento e não é porque eu gosto de você que irei facilitar as coisas.
– Eu não esperaria menos de você. – Disse ela meio receosa do porvir.
– E além disso, quem sabe eu me transforme em dragão em alguma fase desse treinamento.
Amélia assentiu sentindo o rubor retornando ao seu rosto. Reconheceu de imediato o novo sorriso estampado no rosto do seu namorado. Pura malícia!
"Ele está prometendo ficar pelado em alguma fase desse treinamento?" será que isso era um incentivo?
~**~
– Essa cerveja é artesanal de banana. – Ofereceu Erich o copo cheio para Cezar.
– Banana? Sério? Que estranha escolha para uma cerveja.
– Não julgue a cerveja antes de prova-la. Ela pode te surpreender com seu sabor...– O dragão negro parecia um religioso falando de seu objeto de adoração. Arthur rolou os olhos quanto aquela declaração mística.
– Er... – Pigarrou Arthur tentando, educadamente, acabar com aquela degustação – Grande Cezar...
– Sim, meu jovem... – O ancião falava enquanto bebia – Já irei tratar do assunto envolvendo o pequeno dragão branco. Não se preocupe... Posso parecer estar relaxando, mas estou analisando nossas opções futuras. Como em um jogo de xadrez, não devemos ser precipitados e sacrificar peças importantes que beneficiem nosso inimigo... A política dragoniana é um vestígio de nosso legado passado, ainda é violenta de um jeito burocrático de ser. Você deve saber disso, sendo filho daquele dragão negro.
Arthur e Erich ficaram tensos com a menção do seu pai, traidor e causador da guerra.
– Não iremos jogar o jovem Sion na cova dos leões, como os humanos dizem. Ou cova dos dragões, se achar mais conveniente. Iremos protege-los e não só a ele, mas toda uma raça... Por isso, mestre Erich, mais cerveja, sim? Preciso de incentivo para meus neurônios. Tenho que formular um bom plano!
~~Palavras da autora~~
Retornei!! Obrigada pelo incentivo pessoal!
Esse cap mostrou mais sobre Erich (seu passatempo com cervejas) e Felipe (o dragão marrom) .
Espero que tenham gostado!
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