Camuflagem e Camuflagem

Sion estava satisfeito com a evolução de seu cotidiano, fazia poucas semanas que tinha iniciado a sua vida propriamente dita, antes, tudo não passava de sombras, memórias fragmentadas, sensações confusas, medo e solidão... Era tudo que sabia do que seria a vida. Contudo, agora tinha uma família e amigos, podia vestir roupas, comer comida solida (nada mais de cabos enfiados em seus braços), conversar, rir, assistir vídeos engraçados no youtube... Se podia dizer que estava realmente feliz. Ainda mais, o fato de ser dragão também fez redescobrir muitas coisas sobre si mesmo, senhor Arthur tinha se esforçado muito, mesmo no meio de toda essa confusão, em instrui-lo, utilizando livros antigos para tal. Ser o único dragão branco (livre, pelo menos) era uma grande responsabilidade e Sion não queria decepcionar ninguém e, principalmente, queria fazer parte das investigações recentes, por isso se irritara tanto ao ver todos discutindo sobre planos, que indiretamente o envolvia, e nem sequer perguntaram sua opinião a respeito!

Estava com raiva principalmente de um dragão em particular: Tales.

Sion imaginava que ele, mais do que ninguém, deveria apoia-lo, de modo que, esperava que ele não o afastasse dos grandes eventos que ultimamente estavam ocorrendo... ledo engano, pois foi justamente isso que Tales fez! Sua justificativa era que o estava protegendo, mas Sion estava cansado de ficar à margem dos acontecimentos. Por isso, não pensou duas vezes antes de aceitar a proposta de Amélia e adentrar naquele bosque denso. Supreendentemente, estava sendo uma experiência muito agradável, mas para a sua amiga humana nem tanto. Era evidente que ela estava cansada, ainda mais com o aumento da temperatura e umidade, porém, Amélia não pedia que eles parassem para descansar e tão pouco que diminuíssem o ritmo. Isso preocupava o jovem dragão branco.

– Acho que devemos parar um pouco. – sugeriu para seus companheiros.

– Eu estou bem. – frisou Amélia, de forma defensiva.

Sion deu um sorriso culpado para a garota, sabia que ela poderia ser teimosa, mas se ela desmaiasse saberia também que um certo dragão negro iria ser tomado por uma fúria vingativa que afetaria, principalmente, os dois jovens dragões que ali estavam.

– Acho que devemos mesmo parar. – declarou Pietro a poucos metros à frente.

– Até você? – reclamou ela – Eu já disse que estou bem, posso não ser um dragão com super-resistência mas eu era a melhor aluna da turma de Jazz!

– Jazz? – inqueriu Sion, perdido, tombando a cabeça para o lado.

– É um tipo de dança, acho. – respondeu o dragão vermelho dando os ombros.

– Mas não estamos dançando, Amélia. – Sion estava ainda mais confuso, qual era a relação entra a habilidade dançarinas da humana com a caminhada?

– Quero dizer que eu estou em plena forma física! Tecnicamente falando, mesmo que faz alguns meses que não compareço a aula...Mas isso não é a questão! –disse ofegante. O dragão branco podia não saber muito bem o que para um humano seria a definição de "plena forma física", mas acreditava que sua amiga não transparecia que estava bem... Podia até ver as pernas dela tremendo.

– Enfim, não foi por isso que pedi para pararmos! – Pietro cruzou os braços diante do peito – Os rastros estão frescos, significa que estamos muito próximos do outro grupo!

– Isso quer dizer que devemos retroceder? – sussurrou Amélia (ainda ofegante) – Seria mais seguro?

– Eu não sei. – Pietro coçou sua cabeça de cabeleira ruiva deixando escapar pedaços de galho, folhas secas e um besouro. A garota fez uma careta, Sion também compartilhou com aquele sentimento de asco, sabia que a "camuflagem" proposta por seu melhor amigo era importante, nem mesmo sentia o seu próprio cheiro por baixo daquelas camadas de terra, contudo, também sentia uma imensa vontade de tomar um longo e demorado banho – Bem, talvez signifique que chegamos ao local, sabe? Que eles encontraram o dragão marrom!

– Sim! – Amélia parecia menos cansada agora, quem sabe a excitação do momento tenha feito esquecer a fadiga, ou quem sabe seja a sua habilidade como dançarina, a qual ainda era um mistério para o dragão branco.

Enquanto Pietro e Amélia estavam entretidos discutindo possíveis estratégias de "aproximação sorrateira", Sion farejou o ar, tentou pelo menos, ainda estava se acostumando com os sentidos de dragão, principalmente o olfato que era um dos principais instrumentos usados pelos membros de sua raça para sobreviver. Com o nariz reconheceria quem era amigo ou inimigo, podia rastrear o caminho de volta a casa e mesmo...

Sion paralisou, esperava que fosse sentir o cheiro de Tales, não que estivesse o buscando, afinal ainda estava chateado com o rapaz, mas não podia negar que o aroma de carvão queimado e um perfume adocicado, uma mescla tão contrastante, se destacava em relação aos outros cheiros, logo o utilizava como ponto de referência para saber se realmente estavam perto do outro grupo ou não... Contudo, não fora o peculiar aroma do dragão vermelho que lhe chamou a atenção e sim outra coisa. Era bem suave, como a fragrância que anunciava as chuvas, algo sutil, mas que estava ali para ser sentida por alguém que realmente prestasse atenção.

– Pessoal... – sussurrou, começou olhar a sua volta, porém por mais que sentisse o odor não sabia dizer a sua direção ou se era algum tipo de paranoia sua, afinal, era algo tão fraco... Quem sabe tenha se enganado? Ao contrário dos outros dragões, não era muito experiente no rastreio e também em muitas outras coisas.

– Acho que devemos colocar mais terra e nos arrastar até eles! – explicou incisivo Pietro.

– Se sujar é algum hobbie secreto seu? – questionou a garota cruzando os braços – Olha, eu entendo a necessidade de camuflagem, mas...

– Mas nada! Se eles sentirem nosso cheiro estamos ferrados! Isso significa um mega castigo para mim e tipo, tecnicamente, eu já devo estar de castigo por ter roubado toda aquela comida da cozinha...

Amélia soltou um suspiro, nisso ela podia concordar, também (tecnicamente) estava de castigo e mesmo assim lá estava ela, quebrando mais uma regra!

"Me sinto uma verdadeira rebelde..." pensou sarcástica, pois sua maior motivação foi mesmo a curiosidade e também a necessidade de fazer parte da família, necessidade essa não tinha cessado devido a experiência traumatizante anterior, na verdade, surtira o efeito contrário, se sentia mais compelida a ajudar, sabia que podia ser útil de alguma forma (ainda estava na busca do como). Além disso, queria conhecer mais sobre esse mundo fascinante dos dragões... Adquirir conhecimento significaria não "furar na bola" e ocasionar outro evento catastrófico futuro.

"Não sou o tipo de garota de ficar só observando enquanto o garoto luta e vai ser o herói!" concluiu.

– Pessoal! – agora o chamado de Sion era mais aflito e fora o suficiente para chamar a atenção dos amigos.

– O que foi? Quer ir no banheiro? – perguntou Pietro, afinal, o garoto já tinha se "aliviado" algumas vezes nas árvores, para o embaraço de Amélia.

–N-não! Acho que tem algu... – Amélia já vira dragões negros voar, mas isso era devido a magia, logo de início não se surpreendeu quando Sion fora erguido alguns centímetros do chão. Demorou para o seu cérebro concluir que aquilo não era uma levitação normal (em termos de magia dragoniana), afinal, era a mochila do garoto que estava sendo puxada para cima, levando consigo o seu assombrado dono.

– Um fantasma? – murmurou, sendo essa a única explicação! Não havia nada ali!

– ME SOLTA! –gritou Sion, sua pele, mesmo suja de terra e lama, começou a se iluminar, nem mesmo aquelas camadas de "camuflagem" conseguiam ocultar a aura reluzente do dragão branco.

– Pietro, faz alguma coisa! – mandou Amélia ao seu outro aliado, contudo Pietro parecia ainda mais apavorado que a humana.

– E-eu... Não sei ... Digo... Se eu soltar fogo posso acertar o Sion!

A garota teve que concordar nesse argumento, mas uma coisa também deve-se levar em consideração: a luz de Sion. Ela estava se tornando cada vez mais forte, pode ver que algumas folhas começaram a murchar, como se a irradiação luminosa fosse demais para suportar, não demoraria muito para que os alvos da luz fossem Amélia e Pietro.

"Espere!" enfiou a mão na mochila que Pietro tinha nas costas e retirou um pote grande de Nutella (já devia imaginar), com o excesso de luminosidade pode ver algo discrepante... Uma sombra. Algo, não...Alguém estava segurando Sion.

– Ali! – gritou quando lançava o pote em direção a sombra.

– Ai! Essa doeu! – reclamou uma voz masculina. Sion fora solto e caíra no chão. Sua luz aumentando o brilho de forma perigosa.

– Esse garoto não tem botão de desliga, não? – a voz continuou a reclamar.

– Quem é você? – ordenou a humana.

– Eu vim cheio de boas intensões, guia-los em segurança para seus amigos e é assim que sou recebido? – podia jurar que a voz parecia estar os provocando.

– Boas intensões? Você nos assustou!

– Foi um susto com boas intensões também! – se defendeu.

– Ele estava nos testando...É um dragão marrom! – concluiu Pietro afoito.

– Dragão marrom? – Amélia sussurrou, até o momento só sabia que um dragão estava hibernando e que sua forma poderia ser confundida como parte da montanha, fora isso... Não sabia mais nada.

Sion ainda não tinha se recuperado do susto, isso significava que estava ficando difícil de enxergar.

– Sério? Por que ele brilha tanto? Eu nunca vi um dragão fazendo isso! – a voz novamente rezingou.

– SION! – Desta vez ouviram uma voz conhecida, era Tales. O dragão vermelho corria com uma surpreendente rapidez, usando as arvores como impulso para saltar. Logo estava ali, lançou um olhar crítico para Amélia e Pietro, mas depois fora amparar o dragãozinho branco.

– Ei... Está tudo bem... – a humana ainda não estava acostumada com o jeito doce que Tales trava Sion, afinal, não combinava com a personalidade ácida do adolescente, mas (não que fosse admitir em voz alta) achava fofo a relação dos dois.

– Eu estou bem! – respondeu ríspido, Sion, afastando a mão do outro que queria acariciar seu rosto sujo.

– Você está brilhando.

– Eu sei!

– Você brilha quando está assustado... É um mecanismo de defesa.

– Eu sei... – resmungou, teimosamente, o mais novo.

– Então...

– Já estou controlando! – inspirou fundo e expirou, a luz estava diminuindo, aos poucos.

– Por que está aqui? Eu tinha te aviso que deveria ter ficado em casa, não é segu...

A luz voltou a aumentar.

– Er... Tales, não me leva a mal, mas... – interpôs Amélia – o brilho do Sion nem sempre está relacionado a medo, sabe?

De fato, aquela luz parecia ter uma tonalidade diferente, meio rubro.

– Eu não pedi sua opinião, humana. – rosnou.

– O nome dela é Amélia. – agora era a vez de Sion rosnar, e com um movimento brusco se afastou do rapaz para ficar do lado da dita humana. Amélia pode ver uma expressão de dor dominar o rosto de Tales, mas tal semblante durou apenas alguns segundos – E eu estou bem, como podes ver! Não preciso ser salvo todo o tempo, sabe?

– Aham...Sei. Pareciam estar lidando muito bem com a situação, não é mesmo? E se o stalker invisível resolvesse pegar realmente pesado com vocês? Será que saberiam lidar com isso?

– Sou mais forte do que você imagina! – insistiu Sion.

– É mesmo? – Tales ergueu as sobrancelhas, incrédulo. A luz agora se tornou ainda mais vermelha.

– Sim! – rosnou o menor.

– Er, o stalker invisível ainda está aqui ouvindo tudo isso e... Caras, não me envolvam em sua briga de casal, capiche?

– Não somos um casal! – responderam os dois dragões para o "vazio". Amélia sentiu um leve Déjà vu, de alguma forma, essa cena lembra...

– Então, era você mesmo... – Chegara mais um "macho irritado" para a festa...

Alex parecia mesmo irritado, pois a manga de seu casaco de couro estava congeladas...O que não deveria ser um bom sinal. O dragão negro deve ter acompanhado Tales, deveriam querer ser os primeiros a dar sermão.

– Oi. – Amélia tentou sorrir.

– Espero que tenha uma boa explicação por estar aqui.

– Mais uma briga de casal? Isso aqui é o que? Uma novela mexicana? – aquela voz gostava mesmo de expor sua opinião.

– E por que ainda está invisível? – disse Alex – Já não existe mais necessidade para manter a sua camuflagem! Já avaliou a todos nós, não é mesmo?

– Oh! Sim, tem razão!

Em um canto próximo aonde estava Amélia, algo começou materializar. Primeiro um braço, logo um ombro... Torax, pescoço... Rosto. Cabelos castanhos. Era um rapaz bonito, musculoso, pele morena, olhos de íris amarelada, quase como um olho de tigre. O dragão marrom era um pouco mais alto que Alex e exibia um sorriso torto nos lábios. Havia mais uma coisa que exibia...

– Ai meu deus... – Amélia virou o rosto para o lado ao perceber a evidente nudez do novo personagem.

– Hã? O que? Não dá para ficar invisível com roupa, babe?

Dragão e sua falta de pudor... Já devia estar acostumada com isso.

– Pois bem. – Alex parecia não ligar para o embaraço da garota – Estou esperando uma explicação.

Era melhor pensar mesmo em uma boa explicação, não só para o seu namorado, mas para o resto do grupo que aos poucos se aproximava.

– Oba! Briga! Finalmente algo interessante para ver! Nada contra a minha missão honorável de vigiar o grande ancião e bla-bla-bla...Mas não tem nada para fazer aqui! E meu game boy está sem baterias, então... Podem começar a se pegar, sim? Tipo, igual ao programa "caso de famílias"! – o dragão marrom estava animado, pelo menos alguém estava se divertindo com a situação.


~~**~~ Notas da autora ~~**~~

Ola, sim, demorei... Ultimamente não estou tendo muito tempo para a escrita, sinto muito pessoal ( estudo/faculdade/estágio/escrita de artigos cientificos) enfim... Sorry mesmo!

Espero que o novo cap tenha compensando um pouco a espera!


E uma pergunta pra vocês? Qual é o melhor casal da história?

Bolt x Leonard

Pablo x Felix

Sion x Tales (?) => não oficial (ainda)

Amélia x Alex


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