Café da manhã

A primeira coisa que Amélia notou foi o quanto aquela casa era grande... Ao acordar em seu novo quarto pelo raiar de um novo dia a jovem percebeu as diferenças do seu antigo lar, um pequeno apartamento de dois quartos, uma sala/cozinha e um banheiro, para o atual. Pelo o que observava tinha pelo menos uns 6 quartos, um segundo andar, as janelas eram grandes e amplas permitindo ela observar o grande jardim e o bosque que rodeava a nova residência. Ainda estava explorando a nova casa, tentando descobrir onde era a cozinha...Pois desde a noite anterior não tinha comido nada.

– E ai? Está bom? –Uma voz ecoou pelos corredores, Amélia se sobressaltou, ela conhecia aquela voz... Mas tinha esquecido o nome de quem ela pertencia. Sorrateiramente segue um corredor em busca da voz, logo chega a uma ampla sala, estranhamente faltava vários móveis. Uma cozinha estilo americano, com bancadas onde se encontrava um fogão elétrico e outro utensílios e que permitia as pessoas usarem tais bancada como mesa por ter bancos perto delas, se encontrava em um dos lados da sala. Dois rapazes ali se encontravam.

–Está...Quer parar de perguntar todo tempo! –Rosnou, Amélia logo identifico a voz irritada de Alex, o garoto parecia estar vestido com uma roupa de ginástica, calças folgadas compridas e um casaco de moletom, ambos de coloração azul escura.

–Eu tenho que saber se está realmente bom... –Resmungou o outro rapaz, logo Amélia se lembrou do primo de Alex...Felix. Os dois rapazes eram muito parecidos em aparência, compartilhavam os mesmos olhos e feições, contudo Felix era centímetros mais alto e o cabelo mais longo, sem falar que o semblante relaxado e divertido contrastava com o jeito irritado e sério do primo.

–Fazer um bom café-da-manhã não vai diminuir o prejuízo que você causou ontem! –Rosnou novamente Alex – Você praticamente destruiu a sala!

–Eu? – O garoto saltou a frigideira que estava segurando, Amélia teve que conter o gritinho, pensando que o utensílio iria cair ao chão, para sua surpresa ele continuou aonde estava flutuando e jogando as panquecas no ar e as pegando com perfeição....Só então a garota notou que havia várias coisas flutuando em volta da dupla. Pratos contendo comida, copos com suco...

–Eu não fui o único culpado! Ou será que você esqueceu um homem de uns dois metros, fortão... Com punhos flamejantes? É bem fácil de ser notado! –Falou Felix cruzando os braços diante do peito, quase parecia que ele estava fazendo biquinho.

–Nosso tio participou...Isso é verdade! –Alex pegou um dos copos de suco flutuantes e bebeu – Mas eu sei muito bem quem começou!

–Eu só estava brincando! –O garoto pegou um prato limpo e esperou a frigideira flutuante lançar a panqueca para ar, esta caiu certeiramente no prato vazio – E foi bem divertido provoca-lo... Você viu como as veias na testa dele ficaram? Pareciam que iam estoura!

–Sim...- Alex parecia esconder um sorriso bebendo o liquido do seu copo, não devia incentivar as brincadeiras do primo, mesmo que fosse interessante as reações do seu tio –Mas como consequência não temos mais os moveis da sala...

–Eu já pedi desculpas...Na próxima vez vou procurar provoca-lo em um local seguro!

–Não existe local seguro para o tio Erich! Ele irá quebrar tudo pela frente! –Nisso Alex se levantou do seu banco e começou fazer alongamento.

–Ei! Você não vai esperar os outros acordarem? Tio Arthur queria um café-da-manhã em família!

–Eu vou treinar ... Volto antes de todo mundo ir embora.

–Sei...Estou achando que está fugindo...

– Fugindo? Do que?

Felix sorriu.

–A pergunta certa...Seria "de quem".

–Ah?

– Quem sabe você esteja com medo de encarar uma certa garota...

Alex rosnou. Amélia corou aonde estava escondida observava tudo por trás de uma das pilastras da sala.

– Idiota...Não sei de onde tiras essas ideias fantásticas! –Continuou a rosnar indo para a porta, contudo se deteve antes de abri-la. Amélia fitava os movimentos do rapaz ainda escondida, para sua surpresa Alex se virou para encarar justamente a pilastra que era o seu "esconderijo"...A menina se encolheu, temendo ser descoberta.

–Eu vou indo...- Disse simplesmente – Avise ao meu pai aonde estou...

Alex saiu e Amélia suspirou aliviada.

–Isso é um tipo de brincadeiras entre vocês dois? Esconde-esconde? –Perguntou Felix assustando a garota, ela tomou coragem e se revelou, meio envergonhada.

–C-como você sabia? –Se aproximou da bancada, onde a comida ainda flutuava sobre suas cabeças.

–Cheiro! – Disse o rapaz apontando para o seu nariz com uma espátula –Eu te farejei, assim como Alex também.!

–Então ele sabia? –O rubor em seu rosto aumentou ainda mais.

–Tenho certeza disso! –Riu divertido – Mas não ligue...Ele é anti-social mesmo! Sem falar que não sabe lidar com pessoas...Ou como ele diz..."humanos"!

Um prato flutuou a frente de Amélia , esperando que a menina o pegasse e assim ela o fez. Ela sentou no banco, talheres voaram em sua direção.

–Er... Você que está fazendo isso? –Perguntou curiosa, sabia que deveria sentir medo, afinal objetos voarem por aí... Não é algo comum de se ver, contudo o jeito relaxado do garoto a deixava segura, além de que já devia estar se acostumando com aquelas coisas estranhas desde a noite anterior...

–Sim! Essa é a minha habilidade, como dragão negro! –Informou orgulhoso –Acho que o tio Arthur deve ter te explicado um pouco sobre a nossa realidade...Não é?

–Sim...Um pouco...Resumidamente... –Começou a comer a panqueca, que aliás estava muito boa- Ele falou da guerra... Do conselho...Traição...

–É...Essas coisas eu mesmo não sei muito! –Sorriu jovial – Eu não presencie a guerra...Entretanto senti as consequências...

–Como assim?

– Meu pai era um dragão negro, irmão mais novo do tio Erich e Arthur... Ele era casado com uma humana... Ambos foram perseguidos e assassinados por algum clã de dragões...

–...Oh... Me desculpe...-Amélia se sentiu mal por ter perguntando aquilo.

–Não...Tudo bem...Eu nem me lembro dos meus pais...Eu era um bebê na época! Para me proteger de possíveis perseguidores tio Arthur achou melhor eu ser criado por minha tia humana, irmã de minha mãe...Eu não podia usar meus poderes...Tinha esconder minha identidade, foi difícil... Quando completei 12 anos, meu tio Arthur veio me visitar e me ofereceu uma escolha...Ir embora com ele e aceitar minha natureza dragão ou permanecer com a minha tia e viver como humano... Como vê...Eu preferi os dragões...Não que eu odiasse os humanos, eu amo a minha tia...Contudo, eu não poderia ficar mais tempo fugindo do que realmente sou...

–Mas pelo menos você teve uma vantagem... És menos bruto e mal-educado...Como aquele idiota do Alex! –Disse Amélia tentando dissipar a tristeza nas palavras do outro garoto.

–Ah! –Riu Felix contudo logo ele ficou sério – Amélia... O Alex tem um motivo para ser assim...Tio Arthur, para protege-lo, pediu para ele ser criado pela a mãe dele, que no caso era uma dragão fêmea de outra raça...Os dragões azuis... Meu tio imaginou que assim o Alex estaria seguro...Mas foi um grande engano... Ele foi maltratado pelos outros dragões que como muitos compartilhavam um ódio contra a raça dos dragões negros... Quando Alex tinha 8 anos sua mãe foi assassinada na frente dele enquanto tentava protege-lo...

Amélia ficou horrorizada com aquela informação... A realidade dos dragões parecia-lhe muito cruel...Ela nunca vivenciou uma guerra, sabia que existia em muitos países, contudo ela nunca sentiu na pele a dor da perda de uma pessoa querida...

–Todos nós temos as nossas cicatrizes... A sua não é maior do que a minha!

As palavras ditas por Alex ressoavam em sua mente. Agora faziam sentindo...Ele poderia não ter uma cicatriz evidente como o do dragão púrpura, contudo tinha uma ferida mais profunda em seu coração.

–Tio Arthur o salvou antes que fosse morto! –Continuou Felix – Desde então eles vivem fugindo...Nunca ficam em um mesmo lugar devido a perseguição por outros dragões, todavia... Hoje em dia, muitos dragões já nos perdoaram...Eles entenderam que não adianta culpar uma raça de dragões pelo o pecado de uma minoria... Mas como você viu ontem, ainda existe aqueles que se opõem...

–...Por que está contando tudo isso para mim?

–Para te explicar sobre as atitudes do Alex...Para você entende-lo...Ele não sabe lidar com humanos por que teve muito pouco contato com eles...Além disso, ele tem dificuldade de confiar em alguém... Eu mesmo sofri com isso! Fazer novos amigos seria algo bom para ele...

–Está pedindo para eu ter mais paciência com ele? Bem... Eu posso entender o fato dele não saber lidar com humanos...Mas...Eu não vou passar a mão da cabeça dele sempre que ele me tratar de forma indevida! Eu ainda vou bater nele quando agir como um idiota! Vou brigar quando necessário! –Falou igualmente séria encarando o outro dragão que começou a rir alto. Alguns pratos flutuantes começaram a tremer, deveriam reagir conforme os sentimentos do seu "Mestre".

–Você é demais...Amélia! –Disse ofegante Felix, limpando uma lágrima nos olhos – Eu não queria mesmo que sentisse pena dele! Na verdade...Não conte para ele sobre essa conversa! Ele iria me matar!

–Tudo bem...-Sorriu a adolescente – Sei que você se preocupa com ele... Você é um bom primo!

Felix devolveu o sorriso.

–Você também será a minha prima! –Piscou –Tenho que manter a paz nessa casa!

Amélia corou, até que fazer parte daquela família não lhe parecia tão ruim...Gostara do Felix, lhe parecia um irmão mais velho que nunca tivera.

–Que grande hipócrita... Você que causa as confusões nesta casa...-Resmungou alguém que se aproximava delas, Amélia se virou para encara-lo, mas logo se arrependeu. O dito tio Erich estava só de cueca caminhando para cozinha... Pratos vazios voaram em direção ao homem, cobrindo a sua parte de baixo.

–Tio Erich! Temos uma garota aqui!-Felix estava rubro tal como Amélia.

–E? –Bocejou o dragão.

–Seja um pouco mais educado! –Apontou para a parte de baixo do homem que apenas sorriu.

–Eu fui educado... Eu normalmente durmo nu! –Resmungou abrindo a geladeira buscando uma cerveja.

–Desculpe...- Falou o rapaz para Amélia que apenas sorriu nervosa – Dragões são uma raça que em sua grande maioria é formada por homens...Fêmeas são muito raras! Desta forma... Muito deles não sabem lidar com outras mulheres...-Informou em um sussurro.

–Quanta besteira...- Disse Erich ficando a geladeira, os pratos controlados por Felix ainda cobrindo a sua parte de baixo – A pequena fêmea terá que se acostumar a nós...Então não devemos ficar tratando ela como uma boneca de porcelana! –Nisso tomou a garrafa de cerveja e deu um grande arroto.

–... Tio...Você não é um dragão...É um porco! –Rosnou Felix. O maior deu os ombros, indiferente aquela afirmação, e começou a tirar a cueca.

–TIO! O QUE ESTÁ FAZENDO? – Gritou o rapaz, Amélia tinha se virado para poupar seus olhos de cenas improprias para a idade dela.

–Vou tomar banho de piscina... –Disse simplesmente saindo. Os pratos o acompanharam até um certo momento depois voltaram voando para a cozinha.

–Você lida com isso todos os dias? –Perguntou Amélia tomando o suco de laranja, tentando disfarçar o rubor em seu rosto.

– Sim...E você também terá que lidar! –Riu o jovem dragão, piscando divertido –Mas aposto que fosse o Alex, você não ficaria tão horrorizada assim...

Amélia cuspiu o suco que tomava e encarou o rapaz.

–O que está querendo dizer com isso?!

–Nada! –Cantarolou divertido – Você e Alex tem reações tão fofas!

Amélia limpou a boca, seu rosto já estava totalmente vermelho...Contudo, dentro de si havia uma sensação boa, sua família estava aumentando, mesmo que seja composta por dragões meio inconveniente a mal-educados. Sempre sonhou ter uma família grande com vários irmãos...Tios...

–Bem vindo a família dos Dracorions! –Falou Felix alegremente oferecendo outra panqueca que flutuou até o prato de Amélia, esta sorriu aceitando.

"Uma nova família... Dragões... Isso tudo é tão novo...Mas...De certa forma...Eu estou gostando!" Pensou um pouco mais otimista com aquela mudança em sua vida.

~~~~**~~~~MY*BOYFRIEND*IS*A*DRAGON~~~~**~~~~

–Eu...Fugindo de uma humana? Que besteira...-Rosnou Alex, recuperando o fôlego depois de correr por uma trilha na floresta. Se apoiou em uma arvore tentando se acalmar, nem entendia por que estava irritado, era consigo mesmo ou em relação ao Felix?

Alex se abaixou rapidamente vendo que uma bola em chamas fora lançado contra ele. O dragão negro rosnou, olhos com íris vermelha buscando seu atacante.

–Que droga! Pensei que desta vez eu iria acertar! –Falou um garoto de cabelos ruivos, pele morena e olhos intensos de cor castanho, quase vermelhos, que estava sentando sobre um galho alto de uma árvore.

–Precisa se esforçar mais do que isso para me pegar desprevenido... Pietro! –Rosnou Alex relaxando um pouco, pensou realmente que fora uma ameaça... Já estava acostumado com os "ataques" daquela criança.

–EI! Eu me esforcei! Você poderia ter me dado pelo menos um "Parabéns" ou "na próxima você consegue"! –Choramingou o menino saltando de cima da árvore e pousando com leveza no chão.

–Para ganhar um elogiou meu...Terá que se esforçar muitas vezes mais! –Sorriu convencido o dragão negro vendo o menor fazendo biquinho- Pietro o que está fazendo aqui? Seus irmãos sabem que está aqui?

–Ah! Eu quase esqueci! Fui mandando para lhe dar um recado! –Disse a criança dando saltinhos alegres, pegando um graveto no chão. O menino fez o som como fosse cuspir, e de fato o fez...Mas o que saiu de sua boca foi uma jato de fogo queimando a ponta do graveto – Como era mesmo o recado?

–Pietro...-Alex resmungou, não tinha muita paciência com crianças–Era bem mais fácil se seus irmãos ligassem para mim ou o meu pai...

–Ah! Me lembrei! Vocês estão convidados para o nosso churrasco! Não é legal? –Falou o menor agitando o seu graveto em chamas.

–Só isso? –Alex estava desconfiado, afinal pensava que o motivo de um filhote de dragão vermelho está ali era para avisar que eles estavam encrencados...

–Ah...Espera...Acho que o Pablo falou algo... Sobre...-O menor pensava cutucando o graveto em chamas no seu queixo, dragões vermelhos não sofriam queimaduras, eram resistentes ao fogo...Afinal eles o manipulavam e controlavam – " Temos que ter uma conversinha..." Acho que foi isso que ele falou!

Alex suspirou, sabia que Pablo iria questiona-los sobre os atos da noite anterior, sendo o chefe e líder dos dragões vermelhos que tomavam conta daquele território.

–Você vai vir ao churrasco, não é? –Perguntou o menor, ansioso.

–Sim...- "Acho que não teremos muita escolha com relação a isso..." completou em pensamento.

–Eba!! –Falou o menor dando saltinhos de alegria – Depois vou te mostrar meus novos golpes! –Disse antes de saltar para um galho de árvore logo acima deles –Tchau! Alex! –Acenou alegre, antes de começar a saltar de um galho para outro sumindo da vista do jovem dragão negro.

–Churrasco com os dragões vermelhos... Isso vai ser uma confusão...-Resmungou enquanto reiniciava a corrida agora em direção a sua casa...

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