A conversa
Aquela seria a sua primeira vez a encarar uma situação como essa: explicar que tinha se apaixonado por aquele que seria seu futuro irmão, para a sua mãe e seu futuro pai. Sem dúvida, era algo que não estava previsto em seu planejamento de vida. Ok... Também não estava previsto entrar em uma família de dragões que suspostamente não deveriam existir, tão pouco ser sequestrada e quase morta por esses seres meio lagartos e meio humanos. Pois é, a vida não é nada previsível!
Amélia estava sentada no sofá, na ampla sala da mansão, ao seu lado estava Alex, eles estavam separados, cada um em um extremo, já que quando sentaram juntos, Arthur deu um tremendo pigarro e Olivia arqueou as sobrancelhas de tal modo que a adolescente temeu que as mesmas iria penetrar no coro cabeludo de sua mãe.
A situação estava tensa e o pior, ninguém falava nada. Ficam ali, se encarando.
– Qual é o problema, afinal? – Por fim, Alex falou olhando enfurecido para o seu pai – Não fizemos nada de errado!
– Filho...
– Alex! – Cortou Olivia – Eu e seu pai iremos nos casar!
– Eu sei disso. Esqueceu que tivemos um jantar para comemorar justamente isso? Eu me lembro, pois nesse jantar a sua adorada filha me chutou bem no meio das...
– Você foi bastante grosso! – Agora era a vez de Amélia interromper – E não me arrependo!
– Sei, se nossa relação perdurar mais tempo e se meu "instrumento" ficou danificado devido a esse golpe "baixo", aposto que no futuro você vai se arrepender...
– ALEX! – Olivia e Amélia exclamaram em conjunto.
– O que? – O garoto as encarou sem um pingo de vergonha ou ressentimento pela a sua fala.
– Garotas, não esqueçam que dragões encaram de maneira mais abertas esse tipo de coisa. – Argumentou Arthur.
– Então, dragões são indecentes? – Inqueriu Olivia ao seu futuro marido.
– Não...Bem, sim... Digo, Não! Só não temos as limitações sociais que os humanos impõem, um dragão não esconde os seus sentimentos, mas isso não significa que eles irão forçar uma relação com alguém. Vejam tio Erich por exemplo, vocês podem ver o quão "aberto" ele é...
Amélia teve que concordar nessa, Erich era a prova viva da falta de vergonha, andando quase nu pela a mansão, peidando, arrotando e falando que seus sobrinhos deveriam cruzar...
– Eu posso até entender isso, mas ...
– Dona Olivia, sem querer ofender, você pode até casar com o meu pai, eu respeito você, mas não poderei te ver como mãe, do mesmo modo que não vejo Amélia como minha irmã. – Mais uma vez Alex foi demasiado direito de modo que deixou Olivia sem fala – Eu gosto muito de sua filha e não pretendo desistir dela.
Essas últimas palavras acertaram em cheio o coração da garota. Alex podia ter seus momentos.
– E não pretendo copular com ela assim tão cedo. – Acrescentou e o momento se quebrou. Amélia levou a mão ao rosto, escondendo o rubor que já a dominava por completo.
– Ora, que bom que não pretende "copular" com a minha filha. – Disse Olivia fazendo o sinal de aspas com a mão.
– Ainda. – Frisou Alex.
A adolescente jogou o tênis que usava na cara do seu namorado, para ver se ele calava a boca e não piorasse a situação. Entretanto, devido aos seus reflexos de dragão pegou o calçado antes que este terminasse a sua trajetória. Alex fitou a sua suposta namorada com as sobrancelhas arqueadas como não entendendo a sua reação.
– Er... Não vai ter nenhum tipo de cop... Digo... Nada de relações deste tipo entre vocês dois. – Falou Arthur nervoso sob olhares enfurecidos de sua noiva – Ainda são novos e nem deveria estar pensando nessas coisas.
"A mente de um adolescente pensa 99% nessas coisas..." Argumentou Amélia em pensamento, lógico que ela se incluía nessa estatística, não queria ser hipócrita... Contudo, a verdade é que queria que sua primeira vez fosse especial. Não se tratava de uma cópula e sim de fazer amor.
– Exatamente. – Concordou Olivia, ao seu lado Arthur soltou um suspiro de alivio ao ver que tinha acertado em seu discurso anterior – Vocês são novos demais para isso! Com o prazer também vem a responsabilidade!
– Se você está falando sobre a camisinha, eu sei q... – A boca de Alex foi tapada por uma desesperada Amélia, o jovem dragão negro tinha que aprender a ler o ambiente e não falar coisas idiotas assim, do nada!
Olivia pigarrou e continuo.
– Eu posso até aceitar a relação de vocês, afinal, foi tolice da minha parte não notar o que estava acontecendo bem diante dos meus olhos... Eu sabia que havia uma atração entre vocês dois e seria injusto colocar obstáculos por um sentimento natural que se desenvolve. Também entendo que mesmo depois do casamento vocês não podem ser considerados irmãos, esse sentimento fraternal não se desenvolve unicamente ao assinar um documento legal do casório ou algo do tipo. Mas, não posso apenas permitir sem colocar regras. Vocês são jovens e... Eu já fui assim. Durante a minha própria juventude agi de forma impulsiva o que acarretou duras consequências.
Amélia mordeu o lábio inferior, seu coração apertou, sabia muito bem que era uma destas duras consequências.
– Lógico, que tive uma maravilhosa alegria. Ter a minha filha foi uma dádiva, apesar de meus pais me expulsarem, meu suposto namorado me abandonar... Enfim, eu era apenas uma adolescente, mãe solteira, sozinha nesse mundo... E não quero que o mesmo ocorra com vocês! Quero que vivam a sua juventude plenamente! Quero que terminem seus estudos, se divirtam, conheçam o mundo... Amadureçam aos poucos e que entram na vida adulta em seu devido tempo. – Terminou de falar com um sorriso, mas havia lágrimas em seus olhos. Arthur colocou a sua mão sobre as mãos frias e meio trêmulas de sua noiva, a apoiando. O aperto no coração foi substituído por um alivio, Amélia sempre sentira que fora um fardo para a sua mãe nesses primeiros anos de sua forçada maternidade, vê-la classifica-la como "maravilhosa alegria" naqueles tempos obscuros a emocionou profundamente. Ainda mais, podia ver o quanto Arthur a amava, durante todo aquele pequeno relato o dragão negro a observava com admiração e orgulho, como se Olivia fosse uma verdadeira heroína... De fato, era.
– Olivia está certa. – Disse ele – Como dragão e pai, não irei impedir o namoro de vocês, mas temos que ter regras. Vocês não poderão ficar sozinhos, nesta casa. Devem ficar acompanhados.
– Como é? – Alex estava transtornado – Eu... Pai, te dou a minha palavra que...
– Filho, o amor nós faz agir de forma impulsiva. O que pode começar como um beijo pode terminar com algo... – O dragão mais velho pigarreou, deixando bem claro o que queria dizer – Enfim, só não queremos que vocês dois fiquem sozinhos sem supervisão.
Amélia não sabia o que dizer, em parte estava feliz por saber que seus pais não iriam proibi-la de namorar o Alex, mas também sentia que iria adentrar em uma nova fase de sua vida, onde o romance entre eles seriam bastante difícil.
– Eu não me lembro de você agir dessa maneira em relação ao Felix! – Rosnou o jovem dragão.
– Primeiro, Felix já era maior de idade quando Pablo começou a corteja-lo. E segundo, achas mesmo que não tive uma conversa semelhante com o seu primo? Eu mesmo ameacei Pablo com uma magia antiga e poderosa capaz de triturar todos os seus ossos e consumir a sua alma se ele machucasse o meu sobrinho. – As colorações das pupilas de Arthur assumiram, por alguns segundos, uma cor dourada. Porém, o líder dos dragões negros se controlou, rapidamente.
– Eu não sabia disso... – Sussurrou cabisbaixo e acrescentou em um tom ainda mais baixo – Me desculpe.
– Tudo que fazemos é para o bem de vocês. – Falou Olivia.
Os dois adolescentes nada disseram, em silêncio concordaram com o novo estilo de suas vidas. Por enquanto...
– Agora vamos comer. – Anunciou Arthur se levantando e indo para a porta da sala – Temos um longo dia pela fren...
Ao abrir a porta um amontado de pessoas caiu ao chão. Pelo visto, a conversa que ali aconteceu não fora nem um pouco privada. Felix que estava logo na dianteira, se levantou e deu um leve aceno para todos.
– Então, tio... Eu não sabia que você tinha ameaçado o meu namorado. Agora entendo por que ele agia todo nervoso em nossos primeiros encontros. – Piscou malandro para Pablo que também estava ali, todavia, não fazia parte da massa que jazia no chão. O líder dos dragões vermelhos estava na porta segurando um copo de vidro (vazio) nas mãos, provavelmente usado para espionar a conversa, o copo foi jogado para lado, o som de vidro se quebrando foi ouvido ao fundo.
– Senhor Arthur... Er... Nós estávamos indo avisa-lo sobre o café da manhã.
– Aham, sei. – Arthur arqueou elegantemente as sobrancelhas enquanto mirava cada um dos bisbilhoteiros. Tales, Bolt, Leonard, seu querido sobrinho Felix e Sion – Será que devo fazer uma demonstração ao vivo da magia que mencionei anteriormente, aquela sobre ossos triturados?
O dragão negro nem terminara de falar quando os dragões vermelhos e púrpuras fugiram. Dragões podiam ser rápidos, principalmente quando estavam com medo.
– Essa magia não existe. – Felix fez biquinho.
– Não existe?! – Sion tinha ficado, mas isso por que tinha paralisado de medo.
– Eles não precisam saber disso, não é? – Sorriu o chefe dos dragões negros bagunçando os cabelos prateados do dragão branco.
Amélia segurou a vontade de rir da cena que presenciara, mas internamente estava ansiosa, um dos seus problemas tinha se resolvido (bem, quase) agora faltava somente a fuga secreta rumo a montanha do dragão adormecido! Um título perfeito para um plano quase que perfeito...
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