CAPÍTULO ÚNICO 💐 . . .ᐟ
SILVERSTONE, GRÃ-BRETANHA
❀ ⸝ 03/07.⠀ ⠀﹙quarta-feira ﹚!
⠀⠀⠀⠀⠀𝐀 PITORESCA VILA DE SILVERSTONE destacava-se como um destino de renome, celebrado por seu turismo vibrante, sua gastronomia refinada e sua rica herança cultural. No entanto, foi o lendário autódromo que realmente lhe conferiu fama mundial. Desde mil novecentos e cinquenta, o icônico circuito de Silverstone acolheu emocionantes competições automobilísticas, mas foi em mil novecentos e oitenta e sete que consolidou seu lugar permanente no calendário do esporte, tornando-se um templo sagrado para os entusiastas da velocidade.
Por ser uma semana de corrida, a vila pulsava de animação. Nativos e visitantes, atraídos especialmente pelo aguardado Grande Prêmio, viviam a euforia do momento. Entre eles estava Dorothea Wimsey, uma jovem de cabelos castanhos, pele alva e um sorriso luminoso. Influenciada desde cedo por sua avó, Dorothea cultivara uma paixão ardente pela Fórmula Um, que agora a levava a partilhar do entusiasmo coletivo que permeava o cenário festivo.
A jovem nutria um amor profundo por aquele esporte. Cada corrida que assistia parecia reacender suas emoções mais intensas, seus sentidos despertando para uma nova dimensão de entusiasmo e propósito. Dorothea, gostava de hiperbolizar que vivia exclusivamente por causa daqueles vinte milionários que, a cada fim de semana, desafiavam a gravidade e o destino em círculos eletrizantes. Era essa paixão que, segundo ela, alimentava sua alma e trazia cor à sua existência.
Seu amor pela Fórmula Um só rivalizava com seu amor por futebol, que era tão grande quanto e talvez até mais.
Além de sua paixão pelas corridas, Dorothea Wimsey nutria um amor incondicional pelas flores. Durante a infância, passava longas horas contemplando o vasto jardim de sua avó, onde cada pétala parecia guardar um segredo encantado. Sentia tristeza quando uma flor murchava, mas sua alegria renascia ao ver outra desabrochar. Com o passar dos anos, Dorothea também floresceu - em beleza e em sabedoria. As flores, sempre presentes em sua vida, tornaram-se um símbolo poderoso de sua jornada, lembrando-lhe que o crescimento é tão importante quanto o desabrochar.
Com o falecimento de sua amada avó, ela agora carregava na memória as cores e texturas das pétalas que conheceu no jardim de sua antepassada.
As flores, frequentemente vistas como um dos mais sublimes símbolos de amor, tinham um papel quase sagrado nos momentos mais românticos da vida. Estavam lá, adornando casamentos, emoldurando pedidos de namoro, ou sendo entregues como gestos de afeto silencioso. Desde que aprendera a decifrar as palavras dos livros, Dorothea entregou-se ao fascínio das histórias de amor. Ao descobrir a íntima ligação entre flores e romance, sua admiração por elas apenas se intensificou. Para ela, cada pétala parecia guardar um verso não escrito, um sussurro de paixão que ecoava nos corredores do tempo.
Por essas e por incontáveis outras razões, Dorothea decidiu transformar sua paixão em ofício. Aos 22 anos, inaugurou sua floricultura, carinhosamente batizada de Delicate. Mais do que um empreendimento ou uma fonte de renda, a loja era uma extensão de sua essência, um reflexo de tudo o que lhe trazia alegria. Trabalhar ali não se tratava apenas de ganhar a vida, mas de alimentar sua alma com beleza e significado. Cada arranjo que criava, cada flor que vendia, era uma manifestação do amor que nutria pelo que fazia. Para Dorothea, a Delicate era mais do que um negócio; era uma poesia viva que ela escrevia todos os dias.
A Delicate operava com uma equipe enxuta e acolhedora: três funcionárias, todas amigas próximas de Dorothea, e a própria proprietária, que dedicava-se a cada detalhe com o zelo de quem trabalha com o coração. Todos os dias, Dorothea seguia seu caminho até a charmosa rua St. Gracy, onde sua floricultura lançava cor e vida ao cenário urbano. Naquela tarde de quarta-feira, a jovem estava no interior da loja, envolvida na confecção cuidadosa de um buquê encomendado por um cliente. Seus dedos delicados entrelaçavam flores com uma graça quase ritualística, pois sabia que cada pétala carregava um fragmento de sua própria história.
━ Daisy, querida, você poderia montar este arranjo para mim? Estou precisando de um suco ━ pediu Dorothea, com sua voz doce e gentil, característica que fazia dela não apenas uma chefe admirada, mas também uma amiga querida. Seu olhar transmitia a mesma ternura que moldava cada palavra, enquanto Daisy, sorrindo, assentiu prontamente, pronta para atender ao pedido.
Assim, a primeira citada dirigiu-se à rua St. Gracy e seguiu seu caminho, os passos leves ecoando pela calçada. Caminhou por alguns minutos até encontrar o estabelecimento desejado, onde comprou um suco de manga fresco. Com o copo em mãos, refez sua jornada de volta para a floricultura, desfrutando da brisa suave que acariciava seu rosto. A cada passo, o sorriso que se formava em seus lábios parecia contagiar o ambiente, e ela, com sua presença serena, retribuía os olhares admirados que cruzavam seu caminho.
Dorothea caminhava absorta na melodia que preenchia sua mente, seus fones de ouvido deixando-a imersa nos versos de Yellow, da banda Coldplay. A doce harmonia da música, entrelaçada com o romantismo das palavras, tocava sua alma de maneira profunda. Fechou os olhos por um instante, permitindo-se perder no encantamento da canção, desconectando-se do mundo ao seu redor.
Até que bateu contra algo bem sólido. Algo não, alguém.
Dorothea abriu os olhos lentamente, e a primeira imagem que capturou foi a de uma figura masculina, que aparentava ter a mesma idade que a sua, caindo pesadamente no chão. Contudo, seu olhar não se dirigiu imediatamente ao seu rosto, mas sim à camisa que ele vestia - outrora branca, agora tingida por tons de laranja. Tons de suco de manga.
━ Meu Deus, me desculpe! ━ exclamou, estendendo a mão em um impulso, ainda sem ousar olhar diretamente para o rosto do rapaz. Suas bochechas estavam coradas pela vergonha, tingidas por um rubor que contrastava com a situação. ━ Você está bem?
━ Estou. ━ respondeu ele, ainda levemente atordoado. Foi então que Dorothea finalmente levantou os olhos para o rosto do rapaz, e, ao fazer isso, se perdeu na imensidão daqueles olhos verde-azulados. Ou seriam azuis-esverdeados? O olhar deles se encontrou, e, num piscar de olhos, o mundo ao redor parecia desaparecer. De repente, estavam sozinhos em meio à multidão, com o tempo parado.
━ Você é linda, ━ ele disse, sem pensar, as palavras escapando de seus lábios com uma sinceridade inesperada ━ qual seu nome?
Dorothea riu, surpresa com a audácia daquelas palavras. O som de sua risada era doce e cativante, o que fez o rapaz, encantado, sentir uma súbita vontade de contar mil piadas, só para ouvir aquele riso novamente, que aos seus ouvidos soou como a mais preciosa das músicas.
━ Dorothea. Dorothea Wimsey. ━ ela disse, estendendo a mão com um sorriso gentil, convidando-o a apertá-la.
Ele, no entanto, não apertou sua mão. Em um gesto inesperado, tomou-a suavemente e a beijou, curvando-se em uma reverência profunda.
━ Arthur Leclerc.
━ Eu sei.
Ela sabia quem ele era? Arthur se surpreendeu. Por um momento, ficou imóvel, observando-a novamente. Foi então que seu olhar caiu sobre a blusa preta que ela vestia, com o símbolo da Red Bull Racing estampado no peito. Estivera tão absorto em sua beleza e na suavidade de seu sorriso que não tinha notado o detalhe antes.
━ Você gosta de Fórmula 1, então? ━ ele perguntou, colocando uma das mãos no bolso enquanto passava a outra pelos cabelos cor de mel.
Dorothy sorriu, respondendo com um leve aceno de cabeça em vez de palavras. Derramar suco de manga em um automobilista monegasco havia deixado-a um pouco receosa, temendo as palavras que poderiam escapar de seus lábios. O sorriso, contudo, era uma forma silenciosa de esconder sua leve inquietação, ela achava que o gesto pudesse disfarçar a suavidade da situação.
━ Você não quer... se enxugar? ━ ela questionou, apontando discretamente para a camisa do monegasco, que, por causa do suco, estava colada ao seu corpo. O tecido fino e, consequentemente, transparente, deixava à mostra os contornos de seus músculos, visíveis sob a tensão da camisa, o que fez Dorothea desviar rapidamente o olhar, sentindo o rubor subir por suas bochechas.
━ Onde sugere, querida? ━ Arthur respondeu, sem demonstrar em nenhum momento qualquer decepção ou tristeza pela camisa, que certamente não fora barata, mas agora estava completamente arruinada. Seu tom de voz era descontraído, mais tarde ele diria a si mesmo que o incidente foi apenas uma leve piada do destino, e não um infortúnio a ser lamentado.
━ Na minha floricultura.
Arthur sorriu, um sorriso sincero e descontraído. Ele aceitou o convite com um aceno de cabeça, agradecendo pela gentileza, sem hesitar. Dorothea, embora ainda um pouco embaraçada com a situação, sentiu um alívio ao perceber que ele não se importava com o incidente. Pelo contrário, parecia ter se divertido com a reviravolta do destino.
Eles caminharam juntos de volta até a Delicate, a floricultura de Dorothea, onde o aroma suave das flores se misturava ao ar fresco da tarde. O ambiente acolhedor da loja contrastava com o cenário caótico das ruas movimentadas de Silverstone, criando uma sensação de tranquilidade que parecia acompanhar cada passo dos dois.
Ao entrarem no local, as funcionárias de Dorothea se embasbacaram. As três, Daisy, Rose e Poppy, se entreolharam chocadas ao verem sua chefe e amiga entrar na Delicate com um piloto de automobilismo famoso que neste momento encontrava-se com a camisa manchada de laranja.
━ Socorro ━ exclamou Poppy baixinho, que assim como as outras era fã de Fórmula Um. ━ O monegato Arthur Leclerc abandonou a Ferrari e agora vai correr na McLaren!
━ Esse tom de papaya não combinou com ele. ━ Rose disse enquanto Daisy se encolhia atrás do caixa para rir sem chamar atenção.
Dorothea conduziu Arthur até uma das mesas de arranjos, onde ele pôde se sentar enquanto ela ia buscar um pano para limpar a camisa. O monegasco não parecia incomodado, nem sequer impaciente. Ele se permitiu aproveitar aquele momento simples e encantador, observando os detalhes ao seu redor. Os arranjos de flores eram meticulosamente feitos, cada um com cores vibrantes e formas delicadas, criando uma harmonia visual.
━ Será se eu pedir 'pra Thea o monegato mais novo me apresenta ao monegato mais velho? ━ Daisy, Rose e Poppy ainda conversavam baixinho para que os dois não ouvissem.
Enquanto ela se afastava para buscar o pano, ele aproveitou para admirar a loja mais de perto. O que ele não podia deixar de notar era a forma como cada pétala, cada cor, parecia contar uma história, dando a impressão de que a proprietária inseriu ali parte de sua própria alma. Arthur se pegou curioso, querendo saber mais sobre aquela jovem tão apaixonada pela vida e pelas coisas que a tornavam única.
Dorothea voltou com o pano e começou a limpar a mancha com delicadeza, seus gestos cuidadosos e suaves como se estivesse tratando de uma flor frágil. Ela sentia o olhar dele sobre ela, mas não se importava. Havia algo sobre Arthur que a fazia sentir-se confortável, como se ele fosse alguém de quem ela podia confiar, mesmo após tão pouco tempo de interação.
━ Se não se sentir confortável, eu posso limpar, querida. ━ Ele falou.
━ Terminei, Arthur. Pronto, já está um pouco melhor. Embora, confesso, não tenha como salvar sua camisa completamente ━ disse ela com um tom brincalhão, tentando aliviar a tensão com humor.
━ Eu adoraria ficar mais e conversar com você, mas tenho que ir, Dora. ━ O som do apelido a fez corar. ━ Charles precisa que alguém cuide de Leo, e Alex está está com dor de cabeça. Pode me dar seu número? Quero dizer, se você quiser, querida.
SILVERSTONE, GRÃ-BRETANHA
❀ ⸝ 06/07.⠀⠀⠀⠀⠀﹙sábado﹚!
Dorothea estava inspecionando cuidadosamente a nova remessa de buquês vindos da Espanha quando o som do sino preso à porta da Delicate ecoou pelo ambiente, anunciando a chegada de um visitante. Ergueu o olhar, curiosa, já que naquele dia estava sozinha na floricultura. Suas três funcionárias haviam, de forma inexplicável, adoecido no mesmo dia, deixando-a com a responsabilidade de atender aos clientes e cuidar de todos os detalhes da loja.
Seus olhos se depararam com Arthur Leclerc.
Ela sorriu, sentindo um rubor suave aquecer suas bochechas, embora não soubesse exatamente o motivo. Desde o dia do incidente com o suco de manga, o piloto havia pedido seu número de celular, e os dois vinham trocando mensagens desde então. Por vezes, Arthur enviava mensagens que poderiam facilmente ser interpretadas como flertes, mas Dorothea, sempre ponderada, preferia enxergá-las como meras brincadeiras. Ainda assim, havia algo naquela troca de palavras que fazia seu coração bater mais rápido.
━ Dora! ━ ele chamou, usando um apelido que demonstrava certa intimidade. Apesar de terem se conhecido há apenas quatro dias, havia entre eles uma conexão que transcendia as palavras, algo profundo e quase palpável. Dorothea virou-se, sentindo o coração aquecer ao ouvir o apelido carinhoso, enquanto um sorriso suave iluminava seu rosto.
━ A que devo a honra, Arthur? ━ Perguntou, enquanto o outro aproximava-se para abraçá-la.
O abraço foi envolvente, repleto de uma ternura inesperada. O perfume dele a envolveu, um misto de frescor e intensidade que combinava perfeitamente com sua presença marcante. Dorothea sentiu o calor do corpo dele contra o seu, e, por um instante, tudo ao redor parecia desaparecer. Seus braços encontraram o lugar certo ao redor dele, encaixando-se como peças de um quebra-cabeça que, até então, parecia incompleto. Era mais do que um simples gesto; era um encontro de almas, um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar.
━ Vim te dar um presente.
O monegasco remexeu no bolso com um leve sorriso no rosto, seus dedos ágeis buscando algo que parecia importante. Quando encontrou o que procurava, puxou um pequeno objeto e o ergueu à altura dos olhos de Dorothea. Ela inclinou levemente a cabeça, curiosa, enquanto o olhar dele permanecia fixo nela.
━ Mentira! ━ ela exclamou, a voz carregada de incredulidade e alegria, enquanto pequenos pulinhos de excitação escapavam de seu corpo. ━ Um paddock pass? ━ Seus olhos brilhavam, divididos entre a surpresa e a empolgação, enquanto olhava para o crachá nas mãos dele, o bilhete dourado para o mundo dos seus sonhos.
━ Sim, Dora, você vai assistir a corrida de amanhã diretamente da garagem da Ferrari, comigo. ━ Arthur declarou, com um sorriso confiante que iluminava o ambiente. Suas palavras transbordavam entusiasmo genuíno, e ele observava atentamente a reação de Dorothea, certo de que aquele convite significava mais do que qualquer palavra poderia expressar.
━ Mas você tem que torcer pra Ferrari, 'tá? ━ ele acrescentou, observando-a zombar com um sorriso divertido ao ver a incredulidade no seu rosto, assim que as palavras escaparam de sua boca.
━ É claro que eu vou torcer pra minha Red Bull, querido, quem você acha que é? ━ Dorothea respondeu, ironizando o apelido que Arthur já parecia ter se acostumado a usar para se referir a ela. Seu tom era provocante, mas o brilho nos olhos denunciava a diversão por trás da resposta.
━ Redbull é energético! ━ Leclerc provocou, entrando na brincadeira.
━ E Ferrari é museu.
━ Não, ma belle, agora você pegou no meu ponto fraco.
━ Você sabe que eu falo francês, não sabe, Arthur? ━ Dorothea respondeu, aproximando-se do piloto.
━ É claro que sei, ma fleur.
Dorothea sentiu o coração acelerar ao ouvir o apelido suave, carregado de um toque íntimo. Seu sorriso se ampliou, mas ela manteve o olhar firme, procurando testar até onde aquela química entre eles poderia ir. Ela estava diante de Arthur, em meio a provocações e brincadeiras, mas havia algo mais ali, algo que ela ainda não ousava nomear. Seus olhos se encontraram novamente, e, por um breve momento, o tempo pareceu desacelerar.
━ Eu... Eu tenho muita coisa para fazer, sabe? Daisy, Rose e Poppy faltaram hoje, estou muito ocupada. ━ Dorothea gaguejou, as palavras saindo apressadas, enquanto ela tentava, sem sucesso, esconder o nervosismo que agora tomava conta dela. Seus dedos brincavam nervosamente com as pontas do avental, e ela evitava o olhar de Arthur, embora sentisse seu magnetismo puxando-a para mais perto.
━ Eu posso ajudar.
━ Você? ━ Dorothea riu, sua voz leve e divertida, enquanto se afastava para retomar o trabalho de contar as flores que haviam chegado da Espanha. ━ O que um rico sabe sobre flores?
━ Eu sei o significado de algumas delas! ━ Arthur respondeu, fingindo estar ofendido, com um sorriso travesso no rosto.
O Leclerc caminhou até onde estavam uma caixa de rosas brancas, e pegou uma delas, voltando até onde estava a Wimsey. Ele se sentou no chão da floricultura e a observou durante alguns minutos, até que se aproximou dela e estendeu a única flor em sua direção.
Dorothea pegou a flor delicadamente, seus dedos tocando as pétalas suaves enquanto um pensamento lhe vinha à mente. Lembrou-se do que sua avó lhe dissera certa vez: a rosa branca simbolizava um amor puro.
━ Rosa branca, Leclerc? ━ Ela sorriu.
━ Pois tudo que é amor, parece com você.
SILVERSTONE, GRÃ-BRETANHA
❀ ⸝ 07/07.⠀⠀⠀⠀﹙domingo﹚!
O dia havia chegado. O céu de Silverstone, pontuado por nuvens preguiçosas que pareciam flutuar sem rumo, contrastava com a energia vibrante que emanava do circuito. Era dia de Grande Prêmio. Dorothea ajustava seu cabelo diante do espelho, a ansiedade dançando em seus olhos enquanto o reflexo revelava sua escolha de roupa para a ocasião: uma camisa polo discreta da Red Bull Racing, acompanhada de jeans e tênis confortáveis.
Sim, ela iria assistir ao GP de Silverstone com o piloto monegasco Arthur Leclerc, direto da garagem da Ferrari, usando uma camisa da Red Bull.
━ Abençoado seja esse suco de manga ━ proclamou Poppy, que junto com as outras duas vieram ajudar Dorothea a se arrumar - ou fofocar enquanto ela se aprontava.
━ Pois tudo o que é amor, parece com você, pois tudo que é amor, parece com você... ━ Rose cantava sem parar com uma voz extremamente fina.
━ Pelo amor de Deus! ━ Dorothea segurava a vontade de rir e ao mesmo tempo, de bater nas três amigas.
Arthur chegaria para buscá-la a qualquer momento, e ela ainda tentava processar a surrealidade da situação. Assistir a uma corrida da Fórmula Um era um sonho que cultivava desde criança, mas estar na garagem da Ferrari, ao lado de Arthur Leclerc, parecia algo tirado diretamente das páginas de um livro romântico.
O som de uma buzina discreta rompeu o silêncio de sua rua. Ao espiar pela janela, viu um elegante carro vermelho estacionado à porta. Arthur saiu do veículo, seus cabelos dourados refletindo a luz do sol matinal, e o sorriso caloroso que exibia ao acenar para ela era suficiente para acelerar seu coração.
━ Está pronta, ma fleur? ━ Ele perguntou assim que Dorothea abriu a porta, sua voz carregada daquele tom sedutor que ela já começava a reconhecer.
━ Mais ou menos. ━ Ela respondeu com um sorriso nervoso, fechando a porta atrás de si.
━ Você está linda, Dora. ━ Arthur beijou sua mão exatamente como fizera cinco dias atrás, quando se conheceram.
O caminho até o circuito foi repleto de uma leveza inesperada. Arthur falava sobre a temporada, sobre como era ser parte do mundo da Fórmula 1, enquanto Dorothea absorvia cada palavra, fascinada. Ele parecia gostar da atenção que ela dava às suas histórias, e ela, por sua vez, sentia-se à vontade na presença dele. Pareciam amigos de longa data.
Chegando ao paddock, o ambiente era elétrico. Pessoas andavam apressadas, engenheiros, pilotos e equipes se movendo como peças de uma coreografia perfeitamente ensaiada. O cheiro de borracha e gasolina pairava no ar, misturando-se ao entusiasmo de fãs e profissionais. Arthur a guiou pelo paddock com a naturalidade de quem já conhecia cada canto daquele lugar.
━ Bem-vinda ao meu mundo, Dorothy. ━ Ele disse, abrindo os braços, apresentando um reino mágico.
Dorothea não conseguiu conter o sorriso, impressionada com a grandiosidade do momento.
━ É ainda mais incrível do que eu imaginava.
Logo, estavam na garagem da Ferrari. Charles Leclerc, o irmão mais velho de Arthur, estava lá, conferindo os últimos detalhes do carro. Ele levantou os olhos ao ouvir a voz de Arthur e sorriu ao perceber quem o acompanhava.
━ Você deve ser a famosa Dorothea. ━ Disse Charles, estendendo a mão para cumprimentá-la.
━ Famosa? ━ Ela perguntou, surpresa, enquanto apertava a mão dele.
━ Arthur não parou de falar de você nos últimos dias.
— Não acredite em tudo o que ele diz. — Arthur rebateu, tentando suavizar a situação.
O Leclerc mais novo, ao lado, ficou visivelmente embaraçado, mas manteve o sorriso. Dorothea sussurrou algo baixinho, que nenhum dos dois ouviu.
━ O que disse?
━ Nothing, just an inchident.
Charles desatou a rir, e a Arthur o acompanhou. Logo, os três estavam com a barriga doendo de tanto gargalhar.
Conforme a corrida se aproximava, a tensão no ambiente aumentava. Dorothea observava tudo com fascinação, absorvendo cada detalhe. Quando o som ensurdecedor dos motores preencheu o ar, ela não conseguiu conter a empolgação.
━ Está pronta para torcer pela Ferrari? ━ Arthur perguntou, com um sorriso provocador.
━ Nem sonha. ━ Ela respondeu, rindo. ━ Max ainda vai ganhar essa corrida.
━ Veremos, querida. Veremos.
O ronco dos motores tornou impossível qualquer conversa, especialmente por conta dos protetores de ouvido que usavam. Dorothea deixou-se levar pelo momento, a energia da corrida invadindo sua alma. E, por um breve instante, ao lado de Arthur, ela sentiu que aquele era o lugar onde sempre deveria estar.
Max Verstappen não ganhou a corrida.
E também nenhum dos dois pilotos da Ferrari, o que fez com que nem Arthur nem Dorothea ganhassem a aposta que fizeram. Tendo ganho a pole position na qualificação do dia anterior, Lewis Hamilton largou em primeiro e permaneceu ali até a última volta.
O céu de Silverstone estava salpicado de estrelas, e a brisa noturna soprava suavemente enquanto Arthur guiava seu carro pelas ruas tranquilas da vila. Dorothea, no banco do passageiro, observava a paisagem passar, mas sua mente estava distante, perdida nos acontecimentos do dia. O coração ainda batia acelerado, e o sorriso que ela carregava parecia impossível de conter.
A corrida fora uma experiência indescritível. Estar no paddock, sentir a energia das equipes, ouvir o som ensurdecedor dos motores... Tudo parecia um sonho. Mas o que realmente tornara aquele dia especial era a presença de Arthur. A forma como ele a guiara pelos bastidores da Fórmula Um, apresentando-a a pessoas, rindo com ela, provocando-a carinhosamente sempre que podia.
Quando chegaram à frente da casa de Dorothea, ele parou o carro suavemente, deixando o motor ronronar por alguns segundos antes de desligá-lo. A jovem virou-se para ele, com o olhar ainda brilhando de emoção.
━ Obrigada por hoje, Arthur. Foi... ━ Dorothea buscou as palavras, mas nenhuma parecia suficiente para descrever o que sentia. ━ Foi perfeito.
Arthur sorriu, aquele sorriso despretensioso que fazia o coração dela acelerar. Ele se inclinou levemente para frente, apoiando um braço no volante enquanto a encarava com intensidade.
━ Foi perfeito porque você estava lá, Dora.
Ela riu baixinho, tentando disfarçar o rubor que subia por suas bochechas. Ele a chamava por aquele apelido com tanta naturalidade que parecia ter sido feito só para ela.
━ Você sabe me deixar sem palavras, não é? ━ brincou, mexendo nos fios soltos de cabelo que caíam sobre o rosto.
━ Não quero te deixar sem palavras. Quero te ouvir falar, sempre.
O silêncio que se seguiu foi preenchido por algo mais profundo, uma conexão que dispensava explicações. Arthur estendeu a mão, seus dedos roçando os dela suavemente, e Dorothea sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Ela olhou para suas mãos unidas e, em seguida, ergueu os olhos para encontrar os dele.
Arthur inclinou-se devagar, dando tempo para que ela recuasse, caso quisesse. Mas Dorothea permaneceu imóvel, seu olhar fixo no dele, como se soubesse que aquele momento era inevitável. Seus lábios se encontraram em um beijo doce, carregado de emoção. Não havia pressa, apenas a sinceridade de dois corações que se encontravam pela primeira vez.
O beijo era suave e ao mesmo tempo profundo, transmitindo tudo o que palavras não conseguiriam expressar. Quando finalmente se afastaram, Arthur manteve o rosto próximo ao dela, seus olhos ainda fechados por um breve instante, como se quisesse prolongar o momento.
Dorothea sorriu, um sorriso que transbordava felicidade, enquanto abria os olhos para encontrar o olhar brilhante de Arthur.
━ Acho que agora sim você me deixou sem palavras ━ disse ela, a voz baixa e quase tímida.
━ Então deixa eu te dizer uma coisa. ━ Arthur segurou o rosto dela com as mãos, acariciando delicadamente sua bochecha. ━ Não sei o que o futuro nos reserva, Dora, mas sei que quero descobrir ao seu lado.
━ Eu também quero, Arthur.
Ele sorriu mais uma vez, aquele sorriso que a fazia sentir-se a pessoa mais especial do mundo, e beijou sua testa com delicadeza antes de se afastar.
━ Boa noite, ma belle.
Dorothea entrou em casa com o coração transbordando. Quando fechou a porta atrás de si, encostou-se nela, levando os dedos aos lábios, ainda sentindo o toque suave do beijo de Arthur.
Naquela noite, enquanto se deitava, sabia que algo mudara. Seu mundo, que já era cheio de cores e flores, agora tinha um brilho especial. Um brilho que vinha do coração de um monegasco que, de forma inesperada, havia tornado sua vida ainda mais vibrante.
Os dois haviam se conhecido há pouco tempo, mas a conexão entre eles era inegável. Seria cedo para chamar de amor? Talvez, mas ainda assim havia algo nos olhos dele, no som da sua risada, na maneira como a voz dela suavizava sempre que ele estava por perto, que tornava impossível ignorar.
Eram os olhares demorados, as conversas que fluíam sem esforço, os sorrisos que surgiam sem aviso, como se suas presenças bastassem para iluminar o momento. Talvez não fosse amor ainda, mas era algo genuíno, palpável, e ambos sabiam que, qualquer que fosse o nome disso, valia a pena descobrir juntos onde os levaria.
Mas era amor. Um amor florido.
FIM.
BJAO MANU TE AMO 💥
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