Uma Sina se Forma
A RAINHA KEYSE encarava a imensidão de terras além do enorme muro de pedra que cercava toda a propriedade Arasdilany, pensando em tudo que aquele lugar significava. Na dor que ele guardara e na maldição que carregava.
Então fechou os olhos, fechando os dedos ao redor da fria grade de ferro de sua varanda, sentindo o ar gelado tocar-lhe o rosto.
Havia aprendido a se tornar dura desde que Angeline morrera. Ela tinha se tornado mãe muito jovem; tinha sido totalmente irresponsável e descuidada. Não a tinha protegido o suficiente. Não fizera tudo o que estava ao seu alcance.
Mas os deuses haviam lhe dado outra chance, deixando Maria Esther para que ela pudesse corrigir seu erro. E a Rainha tentava de tudo, mas sua filha tinha crescido e se tornado uma mulher de gênio difícil e arrogância incomparáveis. Fora criada em meio aos garotos brutais do Exército, se transformado na líder deles e - isso era o que Keyse menos aprovava - noiva de um homem que sequer era da realeza.
E agora, as duas estavam realmente brigadas. Maria Esther fazia pouco de tudo o que significava ser da linhagem Kihastian - Arasdilany e não dava valor à sorte que tinha de nascer em um berço de ouro. E como sempre fazia quando estava emburrada, tinha saído à cavalo.
Ontem.
E ainda não retornara. Nenhum aviso, nem mesmo um sinal de fumaça. Quem ela pensava que era para fazer isso com a própria mãe?
— Ela está bem, Keyse. — disse seu marido, aparecendo na entrada da varanda. — Ela é forte. Sabe se virar.
A Rainha fechou os olhos com mais força, respirando fundo.
— Quando ela voltar, você vai deixar bem claro que essa vida desregrada de soldado acabou de uma vez por todas para ela. — disse Keyse, se virando para encarar o Rei. — E vai cancelar o compromisso dela com o filho do Priestly.
Marcus, o Rei, franziu a testa, chegando mais perto da esposa.
— Mas pensei que ela gostasse dele.
Keyse cruzou os braços, encarando-o com frustração:
— A Maria Esther não sabe do que gosta. Não sabe o que quer. Não sabe como ser princesa. — estalou a língua, visualizando a expressão sabe-tudo de sua filha, os olhos violetas brilhando de malícia e sarcasmo, as duas armas que ela mais gostava de usar depois de suas espadas. — Ela não sabe de nada. Foi criada em uma redoma de vidro. E está mais que na hora de retirá-la.
— Keyse. — seu marido a chamou, de modo terno, fazendo com que os músculos contraídos do rosto de sua esposa se tornassem menos tensos. — Não precisa ser desse jeito.
Só para então endurecê-los como pedra mais uma vez.
— Precisa sim, Marcus. — ela declarou, resoluta. — Eu vou achar um Príncipe para ela. De um Reino longe daqui e que esteja livre de maldições, onde ela possa ser uma Rainha de verdade e aprender os seus deveres para com seu povo e sua Corte. Arasdil não é seguro para ela - nem nunca vai ser.
O rosto de seu marido se tornou obscuro pelas lembranças dolorosas.
— Você tem razão. — disse, apenas.
Longe dali, uma princesa exausta se esgueirava pelas sombras com um cavalo que não era seu, o qual ela roubara de um homem estranho que encontrara na estrada e que esperava nunca ver novamente.
Ela não poderia estar mais enganada.
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