Aos Laços Inquebráveis
— ESPERO QUE EU TAMBÉM possa fazer parte disso. — Khalled me diz, fazendo com que eu tenha um leve sobressalto com o repentino som de sua voz.
Bastante tempo havia se passado desde que tínhamos deixado o campo de treinamento de Arasdil e agora nos encaminhávamos de volta ao castelo. O homem ao meu lado tinha ficado em silêncio durante todo o percurso até então, presente apenas de forma física, completamente imerso em pensamentos.
— Do que você está falando? — pergunto, sem entender a que ele se refere.
— Da sua rebelião. — o príncipe declara, dando alguns passos a frente antes de se virar e me encarar com seus místicos olhos verde-jade, um tom mais escuros que o normal e repletos de uma intensidade elétrica que eu nunca tinha visto nele. — Eu espero que você me tenha incluso em quaisquer que sejam os seus planos para retomar sua posição, porque eu faço questão de participar disso. — fala, cada palavra sendo proferida com tamanho fervor e determinação que me arrepia dos pés à cabeça. E eu o vejo, então. O comandante por trás de sua fachada descontraída. A certeza dilacerante em sua voz, que sei que foi usada muitas vezes antes para dar apoio e confiança a quem precisava.
Khalled dá um passo em minha direção e sol parece brilhar mais forte atrás dele, formando um halo ao redor de sua cabeça e tingindo de dourado seus cabelos cor de mel. Prendo a respiração, não querendo deixar meu assombro aparente: o príncipe de Asgoldien simplesmente resplandece em toda a sua altura, um guerreiro feito de ouro e luz solar. Tento acalmar as batidas do meu coração descontrolado e falho com sucesso.
Neste momento, tudo em que consigo pensar é que Khalled é a coisa mais linda que já vi.
— Aquelas pessoas... As que estavam na base. — sua voz me traz de volta do meu estupor. — Mesmo depois de tudo o que a sua mãe fez para te afastar, elas continuam te seguindo, independente de quem agora carrega o título de comandante. Elas são leais à você. Porque foi você quem fez com que elas se tornassem parte de algo importante. — diz ele, pegando minha mão entre as suas com uma delicadeza quase chocante para alguém com o seu tamanho e força.
A sensação de sua pele em contato com a minha exerce sobre mim um efeito tranquilizador que provavelmente nunca admitirei, mas pelo qual no íntimo da minha alma, tão fundo onde ninguém pode saber nem suspeitar, sou imensamente grata. Cada pequeno toque de Khalled e cada pequena interação... Cada um desses gestos são apreciados por mim com tudo o que sou.
Sinto seu aperto em meus dedos e ergo meus olhos para os dele.
— Todo o trabalho que você fez e tudo que você representa para aquela legião... Isso é precioso, Esther. Não poderá nunca imaginar o tamanho do orgulho e admiração que senti em vê-la sendo tão valorizada. Como você sempre mereceu ser.
Levo um momento longo demais para compreender o que ele acabou de dizer, e quando o faço, um bolo se forma sem permissão em minha garganta.
— Você... — eu começo, com cuidado, piscando e engolindo várias vezes para afastar as emoções que lutam para escapar de dentro de mim. — Você acha mesmo? — indago, pela primeira vez não me importando com as lágrimas quentes que transbordam de meus olhos. — Mesmo com uma irmã melhor que eu em todos os sentidos e que ainda assim morreu para me salvar? Mesmo com um pai que me evita para não ter que lidar comigo? Ou com uma mãe que faria qualquer coisa para mudar quem sou? Você acha mesmo... Que eu mereço ser valorizada?
— Sim. Eu acho. — Khalled diz, acariciando meu rosto com a dobra dos dedos, levando uma das minhas lágrimas junto com o toque. — Todos nós merecemos ser valorizados. E qualquer um que não valorize você só pelo fato de ser você é um completo idiota. Eu valorizo você. Muito. E está na hora de você também começar a se valorizar. Estamos entendidos? Hum?
Balanço a cabeça afirmativamente, incapaz de fazer mais que isso sem a confiança de não cair no choro feito criança.
— Venha cá. — ele me puxa para perto, dando um beijo demorado em minha testa e em seguida me envolvendo em um abraço que nem sabia o quanto precisava até receber. — Minha Estrelinha. — murmura, com um carinho e preocupação tão grandes que me fazem querer baixar a guarda para que ele entre.
Passo meus braços por debaixo dos de Khalled, segurando-o apertado junto a mim, meu rosto pressionado contra seu peito. Inspiro seu cheiro. Sinto a solidez de seus músculos mesmo através das roupas. E ele retribui o meu abraço com tanta força que sinto o ar me faltar por um segundo, o que me provoca uma estranha vontade de sorrir.
— Obrigada — eu digo, com um suspiro. — Obrigada, Khalled. Por não desistir de mim.
— Felizmente — ele começa, passando as mãos pelos meus cabelos. — Parece que você deu sorte. Porque eu nunca desisto. Principalmente das garotas que eu acho desmaiadas por aí pelas estradas.
Desta vez não resisto à vontade e um sorriso realmente se estende por meus lábios. Ao ver a expressão estarrecida de Khalled, franzo a testa:
— O que houve?
— Nada. — ele balança a cabeça, sorrindo embevecido para mim. — Só que... Eu nunca tinha visto você dar um sorriso acompanhado de dentes.
— E...?
— E que agora eu com certeza sei o motivo de você não sorrir assim para todo mundo. — ele disse, erguendo os cantos da minha boca com os dedos e me encarando com seriedade. —Pobrezinha. Olha essas covinhas. Deve morrer de medo de que homens e mulheres se apaixonem aos montes por esse rostinho.
Reviro os olhos, dando um tapa no seu braço para que ele pare de segurar meu rosto.
— Mais uma dessas piadinhas e está fora da minha rebelião — ameaço.
Ele sorri, erguendo as sobrancelhas.
— Isso quer dizer que eu tenho um lugar na sua rebelião?
— Você tinha um lugar desde o começo. — respondo, mesmo sabendo que ele acabará ficando convencido.
Porque tinha mesmo.
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