• CAPÍTULO 10: O nevoeiro
Anteriormente aquele dia, logo à noite, Calvin e os outros garotos haviam combinado de se juntarem para jogar D&D - o famoso RPG - no porão da casa de Calvin.
Mas para isso, precisariam estocar todas as besteiras que as crianças daquela idade gostavam.
Calvin, Kaden, Bonnie e Steve combinaram de saírem de manhã para comprarem waffles, biscoitos, refrigerantes e outras guloseimas para aquele dia.
Na Rua Mapple, havia o melhor supermercado de Axel, o Craft, criado na década de vinte e que perpetuava dominando todas as ações até hoje.
O local foi erguido um pouco depois do começo dos anos vinte, mais precisamente em 1924 e sofreu várias reformas até hoje, sendo a mais relevante, a adição de um segundo andar, restrito aos funcionários - obra que se deu no final da década de sessenta.
Os garotos se encontraram com suas bicicletas na rotatória da rua principal, que ligava a morada dos quatro.
— O Padre conseguiu uma liberação - disse Kaden. — Vou poder ficar um tempo a mais hoje.
O tempo estava realmente refrescante naquela manhã, era um pouco mais de nove horas.
— Acham que vai ser possível comprar muita coisa? - perguntou Steve.
— Eu consegui tirar uns dólares do senhor Hopper. - respondeu Kaden.
O restante acenou positivamente com suas mochilas nas costas. Estavam todos bem agasalhados naquele dia e Steve obviamente estava com sua touca.
Cada um deles havia vivenciado uma experiência de terror recentemente, mas guardaram para si mesmos e não compartilharam, com receio da opinião dos outros.
— Será que vai chover? — Duvido. Hoje não vai haver chuva. - respondeu Calvin a Bonnie.
— As nuvens nem parecem carregadas, pelo menos isso. - disse Steve.
Para chegarem até a Rua Mapple, era preciso contornar e passar também pela rua da Oldwork.
— Tampem os narizes. - gritou efusivamente Steve.
— E os bolsos! - completou Kaden - a Oldwork era um dos bairros mais pobres e marginalizados de Axel. Era comum ver moradores de rua por todos os cantos, pedintes jogados sob papelões, bêbados dormindo e usuários de droga esquentando suas mãos num latão de fogo.
— Puta merda, como esses caras vivem nisso aqui.
— Eles não têm opção. - Calvin respondeu franzindo a testa a Kaden.
Passaram imediatamente por aquele lugar podre, sem empecilhos.
— Vamos, pessoal. Não podemos perder tempo. - Calvin jogou a bicicleta na calçada, frente ao estacionamento dos carros. - O restante o acompanhou.
Era grande a estrutura, mesclando branco com laranja, havia um letreiro com o título do supermercado em amarelo e o logotipo - uma cesta de frutas com uma nuvem se juntando atrás - quando entraram, receberam o bom dia de dois funcionários que também estavam passando pela porta de vidro.
— Acelera, Steve. - pediu morosamente Calvin.
Os meninos corriam de um lado para o outro dentro do supermercado, indo dos congelados até doces.
Quando se juntaram na ala dos frios, se agacharam no chão, despejando suas notas e moedas. Juntos, haviam somado quase trinta dólares.
— Dá pra encher a barriga de merda. - disse Kaden. — Isso, vamos. - Calvin levantou rápido com sua mochila nas costas.
Kaden disparou pelos corredores e alguns funcionários - que vestiam um uniforme branco com avental vermelho - pediam para que os meninos não corressem e tomassem cuidado.
— É isso que o povo gosta. - Kaden puxou uma garrafa de refrigerante de laranja. - Calvin, jogou três pacotes de biscoito no carrinho. Um de queijo, presunto e outro de cebola.
Steve abriu a estrutura de vidro. Seus olhos saltaram para fora. Pegou três caixas de waffles.
Bonnie puxou pelo menos seis pacotes de bala de morango.
— Hoje vou perder uns dez anos de vida. - Kaden ainda pegou uma caixa de chicletes.
Calvin e Kaden arrumavam as besteiras dentro do carrinho, quando um homem negro colocou suas mãos no ombro esquerdo de Kaden.
— Olha quem está aqui, Hobs. - era o xerife Will, junto com o amigo Hobs.
— Bom dia, xerife. - respondeu Kaden e Calvin.
Hobs jogou uma fruta no carrinho. — Essa é pra você ganhar mais algum dia de vida.
Will estava segurando duas sacolas. Era visível um maço de cigarros, vinho, tomates e algumas linguiças. A outra sacola não pertencia ao supermercado. Nela, havia dois tipos de spray, mas não era possível entender se eram de pimenta; um taser; algumas garrafas de vidro e quatro ou cinco panos vermelhos.
Hobs e Will se separaram das crianças logo em seguida. — Espero que os pirralhos não tenham reparado no conteúdo dessa sacola - disse em referência ao conteúdo um tanto quanto perigoso ali.
— A culpa é daquele maluco. - respondeu Will - Aquela compra teria sido feita em relação ao detetive Harvey, sendo seus pedidos para investigar o caso. Havia muita tranqueira e bagulhos ali dentro que ele havia pedido.
O xerife entrou no segundo caixa, na fila à espera de ser atendido. Tinham pelo menos seis pessoas a sua frente.
Calvin e Kaden chegaram logo depois, ficando atrás dos policiais.
— É impressão minha ou o tempo tá mudando? - perguntou Kaden.
Will desviou o olhar para os vidros da frente. Realmente, o tempo estava acinzentado, como se uma tempestade se aproximasse.
As luzes do mercado ameaçaram piscar, até que chegou a vez de Will e Hobs no caixa.
— Senhor, pode me dar um tempo? A caixa registradora parou de funcionar. - disse a moça de pele de morena e cabelos molhados. — Tudo bem, sem problemas.
A funcionária se levantou e as pessoas daquele caixa ficaram em pé à espera. Quando se deram conta, não só aquela caixa registradora, mas todas as outras haviam parado de funcionar.
Bonnie e Steve chegaram correndo logo em seguida, se juntando a Calvin a Kaden com suas sacolas cheias.
Os restantes das funcionárias ficaram à espera da primeira, que havia saído para conferir o que tinha acontecido.
Minutos depois, as luzes se apagaram. Todas juntas.
— Fica ligeiro, Hobs.
Will colocou as compras no caixa e puxou a pistola junto com Hobs.
— Não dá pra enxergar nada lá fora. - gritou um homem de terno. — Isso é fumaça, papai? - perguntou uma criança gorda ao pai, um senhor de meia idade e bem sereno segurando um saco de carvão.
Will estendeu o braço, pedindo que Hobs ficasse e foi até a frente, se aproximando das vidraças.
Era humanamente impossível enxergar algo do lado de fora. Colocou a palma da mão no vidro e encostou seu rosto. Logo, olhou bem de perto.
Não havia nada, apenas um nevoeiro absolutamente gigantesco. Will não conseguia sequer enxergar onde estavam os carros no estacionamento. O máximo que conseguia ver eram alguns metros da calçada.
Muitas outras pessoas moveram seus pés e caminharam até a frente, se juntando ao vidro e olhando para fora.
A funcionária que havia saído do caixa chegou com notícias.
— Não tem energia. Nada funciona.
Bonnie e Steve deixaram suas sacolas num canto e saíram correndo, buscariam chocolate. Calvin e Kaden não viram.
Will ficou preocupado, pois já sabia do maldito nevoeiro que havia aparecido em outros dias. Não era algo comum.
— Ninguém sai. Entenderam? - alertou.
— Amigão, eu não posso ficar aqui. É só uma neblina. - reclamou um cidadão em voz alta.
O xerife tentou evitar que o rapazola saísse, mas ele ignorou completamente Will, que decidiu não apontar o revólver para ele.
Assim que passou pela porta, Will a fechou. O sujeito, que ostentava um belo Black power vestindo uma camisa dos Bulls, saiu com uma garrafa de refrigerante nas mãos e parou olhando para dentro.
— Viu, é só a porra de uma neblina. – abrindo os braços.
Logo depois, virou-se de costas e caminhou como se estivesse indo embora.
Will também deu as costas, mas foi obrigado a virar logo, quando uma das crianças presentes no local deu um berro, apontando com as mãos para fora. — O que é, filho? - perguntou o pai.
A criança apontava sem parar, mas ninguém entendia. — É, é névoa, filho. - brincava.
Will se aproximou do vidro e agachando, viu a garrafa rolando de volta, batendo devagar no vidro.
— Alguma coisa o pegou. Alguma coisa está lá fora.
O xerife levantou agora o revólver, ordenando que todos ficassem dentro. Ninguém sairia.
— Vocês - apontando para as funcionárias do caixa - avisem a todos os outros, estou proibindo a saída de qualquer cidadão. Ninguém entra e ninguém sai. São ordens do xerife da cidade.
Havia um segundo andar, no qual outros funcionários atuavam, seja na embalagem ou em encomendas.
Uma parte subterrânea também existia, ficando equipamentos elétricos, cabos, fiações etc.
— Hobs, a outra arma. Tá com você? — Não, xerife. Não iria trazer para um supermercado. Vim só com a pistola. — Merda, a minha ficou no carro.
— Escuto sons vindos do lado de fora. - disse um rapaz jovial, de aspecto saudável e que carregava uma Bíblia.
Foi o suficiente para o pânico se instaurar. Homens, mulheres e crianças se desesperaram.
— Por favor, fiquem longe dos vidros. Distância, saiam, fique o mais longe possível. - ordenava o xerife.
— O que vamos fazer? - perguntou.
— Não sei, Hobs.
— Espera um minuto. Cadê os outros dois? - Will percebeu que dos quatro garotos, só havia dois ali.
— Puta merda, puta merda. Eles sumiram. - disse repetidamente Kaden.
— Fica com eles, Hobs. Vou buscá-los. - com a pistola na mão, Will disparou pelos corredores do supermercado à procura de Bonnie e Steve.
Hobs piscou o olho, e Calvin e Kaden também sumiram; foram buscar pelos amigos. - — Essas crianças são verdadeiras pestes. - resmungou Hobs, puxando seu revólver e carregando-o.
Estava cedo, é verdade, mas ainda assim, alguns lugares ou corredores ficavam escuros. Will foi pelo segundo andar, do corredor D ao corredor G. Perguntou a alguns funcionários que já estavam saindo para para o primeiro andar para se juntar aos outros, se haviam visto duas crianças de baixa estatura. Ninguém os viu.
Will parou frente a uma das janelas do segundo andar, do lado de uma máquina de empacotar alimentos. Com um olhar compenetrado, ficou ainda mais perplexo.
Nada era visível. — Tem algo lá fora. - o xerife pôde ouvir zumbidos desconhecidos. O lugar era mais alto, obviamente e ainda assim não conseguia enxergar nada.
Will voltou ao primeiro andar, quando visualizou uma briga generalizada entre alguns funcionários e clientes. Disparou para o teto com o revólver, fazendo todos olharem para ele.
— Ouça, eu sei que estão com medo, mas brigar não vai ajudar em nada, ouviram? Fiquem aqui dentro e estaremos todos seguros. — Merda, cadê o Hobs e aqueles outros dois? - pensou quando reparou que nem seu amigo e nem Calvin e Kaden estavam ali.
— Xerife, o que vamos fazer? - perguntou um homem careca, gordo, branco e com uma barbicha enorme.
— Sinceramente? Não sei. - os dois estavam num corredor de bebidas álcolicas, sozinhos. - — Vai pagar por isso? - Will pegou uma garrafa da vodca mais cara e começou a beber.
— Por favor, ninguém nem vai ligar quando isso acabar.
— Acha que tem algo lá fora?
— Acredito que sim. Ouvi coisas. - — É, eu e algumas pessoas lá na frente também ouvimos. Pareciam zumbidos, mas não conseguimos nos localizar.
— Eu também reparei isso. É uma espécie de distorção acústica. - disse. - — Não dá para saber se está perto ou longe. Se está vindo ou indo e se está na direita ou na esquerda.
— Exato, xerife. Exato. Foi a sensação que tive.
Um dos diretores do supermercado, um rapaz vestindo uma roupa social cinza passou pelos dois. Ele foi comunicar as pessoas que liberaria alimentação e bebida, mas encarecidamente, que não abusassem. Estavam todos no mesmo barco.
Não funcionou muito bem, uma selvageria se instalou. Pessoas correndo para lá e para cá, roubando garrafas de água, pães de cachorro-quente e tudo que se possa imaginar.
Era possível ouvir gritos, risadas, sons loucos e guinchados. As pessoas estavam entrando em surto.
— Essa merda deve atuar nossa psique. Vamos ficar todos loucos, precisamos sair urgentemente daqui. - disse o xerife ao sujeito que estava com ele. - — Com licença, preciso achar umas crianças.
Will saiu em busca dos amigos mais uma vez, mas fora parado por três homens, que o questionavam sobre a situação.
Irritado, Will sentiu-se pressionado e talvez perdido pela primeira vez com o nevoeiro.
— Não me faça fazer isso. - o xerife ergueu um dos homens, assustando aos outros. Por um momento, Will teria perdido a cabeça e pensado em matá-lo, mas voltou ao normal, o soltando da parede e pedindo perdão. Saiu cabisbaixo e se arrastando pela parede branca e amarela.
Sua garrafa de vodca caiu no chão, quebrando e escorrendo álcool pelos chãos.
— Não posso me perder agora. - dizia ele em voz baixa e para si mesmo.
Will entrou no banheiro masculino, que ficara logo à esquerda, ao lado de uma sala pequena. Jogou água gelada em seu rosto, revitalizando-se.
Quando saiu, as luzes piscaram. Parecia que a energia havia voltado. Elas piscavam sem parar e em ordem, como se estivessem tentando dizer alguma coisa a Will.
O xerife a seguiu, caminhou por quatro corredores, até que tudo se apagou novamente.
Ele estava numa escada de dezesseis degraus, mas não conseguia ver o que tinha no fundo. Aquela escada levava ao subterrâneo e aparentemente não havia com o que se preocupar.
Will foi descendo degrau por degrau com o revólver engatilhado para cima. Ele desceu de lado, olhando cada centímetro do lugar.
Quando foi se aproximando, havia um jovem esticado chão. Estava acordado, parecia bem, mas depois Will notou que havia uma ferida aberta em sua perna esquerda, impossibilitando-o de andar. Havia perdido muito sangue e Will não se aproximou, ficando alguns metros de distância, ainda em cima de um degrau.
— Ufa, xerife. Encontrei você! - Hobs chegou com Calvin, Kaden, Bonnie e Steve. - Will pediu silêncio com o dedo e eles logo viram o jovem deitado no chão frente a uma porta dupla, que estava fechada.
O rapaz notou que havia pessoas chegando e com as mãos, pediu para que parassem e não se aproximassem. Parecia saber de algo.
Will desceu mais um degrau, mas foi tarde demais.
Algo grosso, úmido e extremamente ágil passou pela porta com força, puxando o funcionário pelas pernas e o levando gritando para dentro numa fração de segundos. Numa primeira impressão, Will havia imaginado ser alguma espécie de tentáculo.
As crianças caíram sobre a escada assustadas, Hobs levou as mãos a boca e se posicionou frente a elas. Protegendo-as, ergueu seu revólver.
— Xerife, você viu isso?
— Eu te perguntaria a mesma coisa.
A porta voltou sozinha, se batendo entre a parte esquerda e a direita. Havia um buraco no centro, feito pelo que seja lá aquilo que levou a vítima.
Will recarregou o revólver e se aproximou, deu mais três passos. Tentou olhar pelo buraco, mas não via nada.
Sons começaram a ser escutados. Não era de característica humana, se assemelhava muito mais à alguma fera ou besta animalesca. Will e Hobs nunca ouviram algo semelhante aqueles barulhos. Eles vinham de dentro da sala.
— Xerife, não temos chance contra o que estiver ali dentro com essas pistolas. Vamos precisar da Thompson. Não vai ter jeito.
— Não, Hobs. Não vou deixar que você saia dessa merda de supermercado. Você vai morrer lá fora. — Xerife, eu vou por conta própria. Há vidas em jogo, por favor.
— Tudo bem. Vai em frente. - Era possível ver - se reparassem bem - lágrimas pelos olhos de Will, que sabia que seu amigo estaria em risco assim que colocasse os pés para fora. — Hobs, é o terceiro carro da faixa B. Conto com você. - Hobs colocou a mão no ombro direito de Will e saiu com a chave do carro em mãos.
Hobs subiu os degraus novamente, passou por todos os corredores, mas não saiu pela porta da frente. Evitou que o restante das pessoas o visse, já que a ordem era ninguém sair.
O policial beijou seu crucifixo que carregara no punho esquerdo e passou por uma das portas de emergência.
Quando saiu, não enxergava nada. O nevoeiro era muito forte, espesso e tinha um cheiro de enxofre.
A porta de emergência usada por Hobs dava direto ao estacionamento, o que pôde facilitar um pouco sua busca. Sem conseguir enxergar um palmo a sua frente, tentou se localizar pelo chão, lendo as letras pintadas que significavam as vagas. Caminhou com muito medo, era como se estivesse andando em cima de uma mina.
Se guiando pelas letras, conseguiu chegar até a faixa B. Passou por dois carros, não conseguiu sequer ver qual modelo era, mas sabia que não eram aqueles.
Quando chegou ao terceiro, já estava trêmulo de nervoso e deixou a chave cair. Agachou-se com medo e a pegou de volta.
Puxou a Thompson do banco de trás e quando bateu à porta, um corvo decolou junto. Hobs quase teve um ataque do coração.
De longe, Hobs pôde ver um objeto no chão, perto da entrada. Pela direita, sua visão estava turva, não dava para entender o que era, mas forçando a vista, percebeu que era um corpo - provavelmente o rapaz de black power que havia saído cedo do supermercado - Hobs estava com o estômago embrulhado, sequer pôde ajudar e nem sabia se estava morto ou vivo.
Hobs retornou calmamente, sem movimentos bruscos e com passos sutis pelo estacionamento até passar pelo lugar que havia saído. Fechou a pequena porta e estava dentro do supermercado novamente.
Hobs chegou junto às luzes, que voltaram a piscar sem parar. Ele passou a metralhadora para o xerife.
— Valeu, Hobs.
Eles começaram a olhar para os globos amarelos de luz no alto, projetadas no teto e que não paravam de piscar. Quando pararam, abaixaram os olhares para o buraco na porta.
Algo havia passado, algo olhando não para eles, mas para o fundo de suas almas, como um predador mortal e fora da realidade. Eles não perceberam de imediato, mas Will pensaria a respeito mais tarde.
Will passou sua pistola para Hobs, que ficou com as duas apontadas para a porta. A dupla se posicionou a frente das crianças, que estavam no chão da escada.
O xerife e o policial desceram, indo em direção a porta.
— Tá pronto? - perguntou Will, terminando de ajeitar a espécie de cinto enrolado no pescoço que a Thompson tinha. — Sim, xerife. Vamos lá.
— Quando eu chutar a porta, você dispara. Abre fogo contra o que tiver aí dentro. — Rápido, Hobs.
As crianças ficaram em pé atrás de uma das paredes que ficava à esquerda da escada, observando de longe.
Hobs chutou a porta e Will apertou aquele gatilho como se fosse de papel. Girou a arma para todos os lados da sala, destruindo qualquer coisa presente. Foram quase dois minutos de disparo, até que as balas no pente terminaram e só restou fumaça.
Hobs entrou na sala, havia muitos fios, objetos tecnológicos e estoque de alimentos. Mais nada.
Will vasculhou cada lugar, até que uma das vidraças estava destruída. — Não fui eu. Não atirei naquela direção.
— Seja lá o que for, fugiu. - afirmou Hobs.
As crianças entraram na sequencia e Calvin puxou do chão um tecido branco, semelhante a de uma roupa, mostrando ao xerife.
— É do rapaz. Foi o que sobrou dele. - disse lamentavelmente.
— Xerife, o sol. - Hobs apontou para o vidro, a neblina havia ido embora e os raios de luzes do sol já entravam pela janela quebrada.
Alguns gritos foram escutados do outro andar, as pessoas celebravam que a neblina havia se dissipado.
Calvin e os outros correram para ver e os policias foram atrás.
— Tinha um corpo, Will. Eu vi quando saí para pegar a arma.
— Que Deus o tenha, Hobs. Vou chamar uma ambulância.
Will reuniu as pessoas por alguns minutos e acalmou a todos, explicando o que havia acontecido e contando que uma ambulância já tinha sido chamada para retirar o corpo que estava do lado de fora do supermercado.
— Todo lugar que vocês estão, acontece alguma coisa. - Will depois chamou Kaden no canto para explicar e avisar sobre o que havia acontecido ali para as funcionárias do orfanato, entendendo que ele havia até mesmo passado da hora permitida fora do local.
— Sortudo é o Paul, que teve folga justo hoje. - brincou Hobs, aliviado pelo fim do nevoeiro ou neblina, já que ele nem sabia o que havia acontecido exatamente.
Havia pelo menos três ambulâncias do lado de fora. Equipes médicas examinaram cada pessoa e logo foram liberadas a voltarem para suas casas.
O corpo que estava frente a entrada foi retirado numa das macas, acompanhado por duas enfermeiras. Tratava-se de Billy, um jovem afro-descendente de vinte e quatro anos que passava as férias em Axel, Iowa.
O prefeito Max estava à espreita, do lado de uma das ambulâncias e trocou olhares quando Will saiu pela porta da frente. Em seguida, Max se retirou em seu carro.
Fontes afirmaram que o nevoeiro começou pelo leste, se intensificando até que ocupasse toda a Rua Mapple. Não foi visto em outros lugares e especialistas trataram de afirmar que era um fenômeno nunca antes visto.
Jornais locais intensificaram as manchetes, reproduzindo falas e entrevistas dos envolvidos no acontecimento. As lideranças políticas receberam críticas de todos os lados e Hargrove não se pronunciou desde então.
Will se despediu de Hobs logo depois de ser examinado. — Vou ter uma conversinha com o doido. - se referindo a Harvey. — Ainda não me apresentou ele. - brincou.
Os dois se separaram, cada um indo para sua casa. - As crianças, retornaram em suas bicicletas logo depois, tomadas por medo e desconfiança.
Will parou o carro - a luz do farol refletia dentro da sala, o que acordou Harvey, que dormia no sofá - quando entrou, jogou as sacolas de compras na cozinha e voltou para a sala.
— Já chega. - desligou a televisão. — Temos um trabalho a fazer. Não dá pra tolerar mais.
— O que é? - Nossa, estou dormindo tem horas. - comentou com os olhos agarrados e cheio de ramela.
— Mais uma pessoa morreu.
— Cadê o corpo?
— Dessa vez sem corpo.
— O assassino o levou?
— Não é assassino, ok? Não é nem gente. Tenho minhas dúvidas se é daqui. - se referindo a ser uma criatura de outra dimensão, planeta ou qualquer outra coisa.
Harvey se ergueu do sofá excitadamente. — O que houve? Precisa me contar.
— Uma neblina fechou a Rua Mapple, ficamos todos presos no mercado. Havia algo no subterrâneo. - acendeu um cigarro para relaxar. — Um funcionário morreu. Nós vimos morrendo. Algo o puxou, parecia uma perna, um tentáculo, entende? Grande, forte, não era humano.
— Fascinante. Não acredito que perdi isso! – deu um murro no móvel da televisão. — Começo a gostar dessa cidade. - respondeu com um sorrisinho.
Harvey pegou a segunda sacola - a que ele mesmo havia pedido para Will comprar - e a colocou no centro da sala, mas não a abriu.
— Xerife, amanhã iniciaremos nossa busca, abrindo as portas da curiosidade! Até à vitória, sempre, cowboy!
Will esfriou a cabeça enquanto tomava um banho depois do diálogo com o detetive, que por sua vez, levou a sacola plástica cheia para os fundos - deduziu que faria muita bagunça se abrisse na sala - sentou-se ao chão com ela e jogou todo o conteúdo para fora.
Harvey usaria da garrafa de álcool até uma lata de refrigerante. Absolutamente tudo lhe era utilizável.
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