Sou comunicação
Sou toda texto

Calada morreria
Tenho de falar
Não só com língua, com boca, com som
Mas com tudo que há
Com letras, com sinais, com mãos,
Com gestos, com feições, com rosto,
Com passos, com saltos, com pés,
Com linhas, com cores, com texturas,
Com o material e o imaterial,
Com o real e o fantasioso

Se me cortares a língua,
Que não me cortes as mãos
Se me cortares as mãos,
Que não me cortes a cabeça
Se me cortares a cabeça,
Que não me cortes os pés
Se me cortares os pés,
Que não me cortes a língua

Se me proibires de falar ou cantar,
Que não me proibas de escrever ou desenhar
Se me proibires de escrever,
Que não me proibas de sorrir ou gesticular
Se me proibires de sorrir,
Que não me proibas de dançar ou encenar
Se me proibires de dançar,
Que não me proibas de falar

Ou tudo em mim morrerá
Sou todos os gêneros textuais
Sou comunicação
Sou expressão
Sou ideia
Esvaída pela janela
Grafada em bilhete
Disfarçada na risada
Exibida na calçada

Não me arraques a expressão,
Se não me quiseres arrancar a alma, a vida
Sou toda texto, meu corpo é texto
Decomposto do passado de minha comunicação

Fevereiro de 2023.

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- Flaira Flor.