Esse é o da Liz ♥
E temos conto sim como não? A LilyMDuncan fez um especialmente pra você xará :)
O SOL QUEIMAVA SUA pele violentamente, mas não porque estava quente demais. Ali, somente naquele lugar, o astro-rei mandava poucas rajadas de calor, de modo que a maioria da população continuava com a palidez usual. Mas ele ainda a queimava sem piedade, sim, porque feridas abertas pelo seu corpo não haviam recebido o tratamento adequado de outrora. Um simples vento arrastando a pele já a fazia se arrepiar.
Apenas um ser humano muito estupido diria que ela podia fazer algo naquele estado. Haviam jogado seu corpo moribundo no meio de uma estrondante população, que aplaudia e gritava conforme via o cenário entrar em caos. Ela, assustada, não entendia sequer uma palavra dita pelos estrangeiros, mas sabia que eles queriam que ela lutasse, após a pequena apresentação sangrenta na praia onde fora encontrada — ela fizera questão de arrancar a orelha de um deles nos dentes, ao perceber que eles pensavam com a cabeça de baixo.
Ela não precisava produzir uma sentença na língua deles para entender uma clara ameaça. Era muito óbvio o tipo de entremetimento que enchia o bolso deles. Depois de perceberem que não a penetraria como apenas um homem sujo podia o fazer, usariam-na de outra maneira: atirando-a em batalhas de vida ou morte valendo ouro.
Ao desembarcar na terra desconhecida, após uma batalha intensa contra o mar revolto na qual quase lhe tirou a vida, ela teve pouco tempo para descobrir as maravilhas do lugar. Para a sua infelicidade, havia dado de cara com aqueles homens, e agora era obrigada a lutar na frente de milhares de pessoas.
A situação era insana e ela não entendia como eles conseguiam achar graça daquilo, tampouco o objetivo além das riquezas. Como poderiam achar que ela venceria algo? Ela mal alcançava um metro e sessenta, o corpo levemente trincado por conta do trabalho pesado que executava em sua terra natal. Mas era demasiadamente magra perto dos outros adversários, os cabelos vermelhos tão longos quanto a folhagem da mais alta árvore do local.
Pelo menos a roupa de couro que lhe haviam dado protegia levemente as partes mais doloridas, e a curta espada encurvada podia lhe salvar a vida — isso se ela soubesse manuseá-la. Talvez fosse como os remos que usava antes, quando saía com o seu pai e irmãos atrás da primeira refeição do dia. Exceto que, naquele caso, o remo era infinitamente cortante e estava com sede de sangue.
Ergueu-se finalmente do chão empoeirado. Ainda era areia, mas não daquelas encontradas em praias — em boas' praias. Era cortante, como se pedregulhos estivessem misturados no solo. Ela se perguntava se haviam feito isso de propósito, considerando o ambiente onde se encontrava.
Assim que puxou a espada um pouco acima do cotovelo, tentando parecer preparada para o que estava vindo, a multidão soltou uma rajada de gritos e aplausos. Um lado parecia apoiá-la, mas a maioria só queria ver a cara daquela jovem espacada sob a lâmina de alguém. Ela ouvia mais vaias, mas não se importava com a situação.
Na verdade, ela não se importava em morrer ali. Claro, preferia que tivesse o seu fim de outro jeito, mas após presenciar o ataque em sua vila e não saber se a família estava viva ou morta, só queria se afundar na dor interna que superava todas as outras. Entrara no pequeno barco sem pensar duas vezes, enquanto os seus vizinhos eram massacrados pelos desconhecidos que haviam descoberto o mini paraíso onde viviam. Lembrava-se, inclusive, de Zian levando uma flechada no peito, mas antes de partir ele ainda estava respirando.
Esperava, porém, que o irmão tivesse escapado da morte violenta. Assim como o gêmeo dele, e o outro irmão mais velho, e os pais, e o caçula. Ninguém merecia morrer dessa maneira, e ela estava desesperada para encontrá-los, mesmo sem forças. Se ao menos tivesse a certeza que eles estavam vivos, talvez pudesse lutar para eles. Mas ela não tinha a mínima força.
Olhou para cima e viu o seu adversário se aproximando. Ele era alto, muito alto, tão careca que sua cabeça parecia a lua. Atrás dele se encontrava um pequeno palco, abaixo de uma boa quantidade de pessoas e protegidos por guardas mil vezes maiores do que qualquer outro homem. Sentados majestosamente, ela pôde notar que o grupo de pessoas era o mais bem vestido de todos, inúmeras jóias adornando o pescoço e pulsos. Como a aparência já dizia tudo, ela podia apostar que eles eram da realeza.
Fitou o suposto rei, que estava um pouco encurvado na cadeira mais alta do palco. Ele possuía longas madeixas brancas, assim como sua barba alcançando os ombros. Os olhos, porém, estava cansados, arrastando-se para se manter abertos. Parecia doente ou simplesmente muito desgastado.
Por ordem de altura, provavelmente de idade também, vinha três belas jovens sentadas ao lado do pai. A primeira, de cabelos longos e platinados como a neve que açoitava lugares mais afastados, encarava-a de maneira quase desafiadora, prestes a descobrir o que a garota podia fazer. A jovem princesa provavelmente não passava da casa dos vinte anos, mas a postura e a maturidade no semblante sério diziam que ela carregava uma extrema sabedoria.
E todas as outras pessoas, inclusive as demais princesas e até a própria rainha, sumiram do mapa. No instante seguinte, após ser arrebatada com o olhar da princesa mais velha, uma forte euforia tomou conta de seu corpo. Havia sido impulsionada a andar em direção ao sujeito de expressão sanguinária, embora a cabeça gritasse para ela se afastar.
Ainda podia ouvir o coro, mas quase nada no mundo existia, e o que havia sobrado se passava em câmera lenta. Era como se ela conhecesse a princesa, apesar de não saber sequer o seu primeiro nome. No fundo, os raios solares não faziam tanto estrago quanto aquele olhar potente que estava recebendo, abrindo todas feridas carnais em seu corpo.
A espada do sujeito pronto para matar quase a acertou em cheio no centro de sua cabeça. Ela teve pouco tempo para pensar em sua ação, pois estava com a mente a um turbilhão agora, de modo que desviou para a direita e caiu sentada no chão. Os contrários à sua vitória comemoraram o golpe, mesmo que não tivesse sido certeiro.
Ela pulou do chão a tempo de escapar novamente de outro ataque, mas dessa vez tentou fazer algo. Saltou para cima do homem, empunhando com ferocidade sua espadinha. Cortou-o acima do cotovelo, assistindo-o gritar com a ferida recém aberta. Ela adorou assistir o sangue jorrando do buraco, mas não pôde parar muito tempo para assistir.
Movido pela fúria, ele transferiu diversos golpes cegos pelo ar, e ela conseguiu bloquear um ou dois com a própria espada torta — que ela havia descoberto ser muito boa para defesa — e usou do reflexo para sair ilesa das demais. Encarou novamente a princesa, a qual mantinha o mesmo olhar intenso, quase inalterável. Observando-a era capaz de dizer que simplesmente nada' a tiraria daquele estado.
Ela teve a barriga cortada precisamente pela ponta da espada dele. Sentiu a maior queimadura de sua vida ultrapassando os polos sensíveis de dor, e o sangue quente brotou da abertura. Pôs instintivamente a mão sobre o ferimento apenas para verificar se era real, desacreditada que algo assim podia acontecer.
A vista embaçou no mesmo momento e ela teve dificuldade de reagir. Conseguiu, pelo menos, defender de outro acerto, mas o adversário não parecia disposto a usar apenas a lâmina para cortá-la no meio. Assim que a espada pesada caiu contra o solo, ele a socou no rosto, envolvendo-a em um aperto sufocante no pescoço.
Ela viu estrelas e chutou o ar como podia, sabendo que seria o seu fim. Tropeçou e caiu em um baque surdo contra a areia cortante, tendo o seu violentador sobre o seu corpo. O pouco oxigênio restante estava se extinguindo de seu corpo, e ela sabia que estava começando a ficar roxa.
Tateou o chão atrás de sua espada, que havia caído durando o soco no meio da face, mas não encontrou nada além da poeira. Desesperada, usou-a mesmo assim, jogando-a contra os olhos deles. O homem soltou uma das mãos para afastar os grãos sobre sua visão. O ato a ajudou a respirar por um momento, o suficiente para fazê-la pensar de novo. Socou-lhe o rosto, livrando-se do aperto, e desejou profundamente nunca ter entrado naquele barco de princípio.
O corpo estava moído, e era óbvio que a luta mal havia começado. Pôde se afastar e encontrar sua espada, mas o corte em sua barriga sangrava muito, anunciando que ela não teria muito tempo de vida se ficasse brincando de dançar. Arqueou a cabeça para ver se ainda a assistiam, e percebeu que a princesa, finalmente, havia mudado de posição; a perna direita estava sobre a perna esquerda, diferente de antes.
Por que ela não esboçava uma reação? E por que queria que a desconhecida o fizesse? Ninguém devia nada para ela ali, tirando os malditos homens que a jogaram de cara para morte. Não podia cobrar certas reações de pessoas que não tinham nenhuma ligação com a sua vida, principalmente alguém vindo da realeza.
Havia ficado um pouco mais difícil de enxergar e também de desviar das investidas. Depois de alguns minutos desgastantes de luta, dava para notar que o oponente estava demasiadamente cansado, assim como ela mesma. A dança macabra estava incisiva, tirando as forças de ambos pouco a pouco. Apenas a multidão continuava entusiasmada com a luta que haviam jurado que duraria menos de um minuto.
Em mais um golpe do homem, agora encontrando a carne do braço esquerdo dela, havia sido o necessário para derrubá-la. Ela podia até tentar se livrar dessa vez, mas com um braço a menos e sangue saltando de seu corpo ficava extremamente difícil nocauteá-lo.
Mas um grito de salvação soou do outro lado. O homem sequer teve tempo de socá-la novamente, porque os guardas vieram com rapidez apartar a briga. Ela levantou a cabeça levemente para ver quem tinha soado tão decidida, e conseguiu ver a princesa de olhos lascivos vindo em sua direção.
Ela não sabia se era normal sentir vergonha de seu estado, mas não podia fazer muito para mudar. Permaneceu atirada no chão, pois não tinha estômago (quase literalmente) para se erguer. Mas naquela posição tinha uma bela visão da princesa.
Ouvia-a dizer algo para os guardas, e depois para o homem causador daquilo. Ele sorriu vitorioso. Julgou que coisas boas haviam saído da boca da jovem mulher. Eles falavam em velocidade, palavras sobre palavras, mas ela não entendia uma sequer. Malditos estrangeiros de língua corrida, pensou, sozinha, enquanto ria sem pensar de sua desgraça.
A princesa a encarou, por fim, indicando um dos guardas para levantá-la. A garota a fitou com curiosidade, mas também com respeito, à medida que a autoridade ali fazia o mesmo.
— Dè an t-ainm a th 'ort? — a pergunta saiu de seus lábios grossos, encantadores, esperando o momento certo para mordê-la e destilar o veneno.
Ela não soube como reagir, pois a princesa falava a sua língua e aquilo era uma surpresa enorme. Em sua cabeça, gente rica só sabia ficar sentado ouvindo poetas cantando e comendo uvas, porque eles não precisavam estudar ou fazer o trabalho duro.
"Como é o seu nome?", a princesa havia perguntado. Por um momento, ela havia esquecido do nome de batismo. Só conseguia se concentrar em olhá-la profundamente, perguntando-se o porquê de ter sido poupada.
— Astrid — respondeu, após hesitar brevemente.
No instante seguinte, a princesa estava falando algo para a multidão, que parecia ouvi-la muito atentamente. No término, as pessoas aplaudiram, outras se desanimaram, mas estava claro que ninguém se colocaria contra a filha do rei por mais que discordassem do que haviam acabado de ouvir.
E, assim, um dos guardar a arrastou para fora, seguindo a princesa de passos precisos e cabelos decorados com fitas douradas.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top