Capítulo 7
Você é a única com quem tenho sonhado, entende?
Agora finalmente posso ser eu mesmo
Hey, Soul Sister – Train
– A enfermeira Sun é um exemplo a ser seguido. – A enfermeira chefe anuncia em alto e bom som assim que ela adentra na sala dos funcionários.
Alguns dos enfermeiros presentes me analisam de maneira demorada pelo canto dos olhos e, inconscientemente, eu me encolho sobre o sofá, deixando as fichas dos pacientes de lado. Luke é o único que está me olhando com admiração.
– Oi? – Pigarreio, levemente.
– Ela está chegando vinte minutos mais cedo, todos os dias. – A mulher cruza os braços enquanto passa os olhos por todos os enfermeiros. – Enquanto todos vocês ainda estão se trocando, colocando o uniforme do Lemoine, Sun já está visitando os pacientes.
Engulo em seco, forçando um sorriso agradecido.
– Falando nisso, preciso ir. – Aponto para as fichas dos pacientes que agora estão em minhas mãos e, em seguida, para a porta.
Sem esperar qualquer burburinho acerca da minha impressionante pontualidade, levanto-me e saio daquela sala. Os corredores do hospital estão curiosamente movimentados para uma manhã comum.
A verdade é que, há uma semana, desde que eu finalmente descobri que o residente Scott e o irritante Jackson Hill são a mesma pessoa; eu estou saindo mais cedo de casa. Assim, não há chance alguma de o encontrar no ônibus, a caminho do hospital. Agora eu consigo ler tranquilamente todos os meus livros de romance, sem a sua presença constantemente me desconcentrando.
– Parou de andar de ônibus, lindinha? – Escuto a grave e rouca voz de Jackson Scott Hill perto dos meus ouvidos. Novamente os malditos arrepios inexplicáveis percorrem o meu corpo. – Playboyzinha.
– Sentindo a minha falta? – Finjo estar absolutamente apressada e, na mesma hora, enfio o meu rosto entre as fichas dos pacientes, evitando ao máximo qualquer tipo de contato visual com ele.
A sua risada é completamente sínica.
– Ah, claro. E você? Está sentindo a minha falta, enfermeira Sun? – Jackson também aperta o passo, tentando me alcançar. Mesmo sem encará-lo, sinto o seu olhar percorrer o meu corpo, demoradamente.
O jeito enfático que ele pronuncia "enfermeira Sun" sempre faz o ar pesar em meus pulmões. E eu simplesmente odeio essa sensação.
Ao menos sou capaz de elaborar qualquer tipo de resposta para ele. Então, agradeço mentalmente ao paciente do quarto 512, que necessita de uma troca de curativo, porque é o quarto mais próximo de onde eu estou neste exato momento. E isso significa que eu finalmente posso me afastar de Jackson Scott Hill.
Mordo o meu lábio ao adentrar no quarto 512 o mais rápido possível, fugindo completamente do seu campo de visão. Eu estranhamente não faço a menor ideia do que está acontecendo dentro de mim, mas eu simplesmente não consigo conversar ou mesmo olhar para o residente Scott. Não depois de saber que ele fez parte da minha infância. Não depois de saber que ele é Jackson Hill, o garotinho que enchia a minha paciência.
E, após quinze longos anos, eu finalmente sei que ele continua absolutamente idêntico. Bom, pelo menos as suas atitudes irritantes permanecem as mesmas. Porque a sua aparência está completamente mudada – exceto as suas três pintinhas em bochecha direita.
Será que Jackson sabe que a enfermeira Sun e Violet Stuart são a mesma pessoa? Que eu sou a mesma Violet que ele fazia questão de tirar do sério nos intervalos da escola? Que eu sou a mesma Violet que apostava quem subia mais alto na árvore?
E, ao sair do quarto 512 após trocar o curativo do paciente com câncer de próstata, percebo que Jackson Scott Hill está me esperando. Ele permaneceu encostado sobre o batente, olhando diretamente para mim, durante todo o pequeno procedimento.
– Deixa eu adivinhar. – Ele volta a falar enquanto apressa os seus passos para me acompanhar pelos corredores movimentados do hospital. Por que ele simplesmente não me deixa em paz? – Você está vindo de carona com o enfermeiro Luke.
Sinto-me completamente ansiosa diante da sua presença, assim como todos os dias desde que eu descobri o seu nome completo. Por isso, apenas entro no quarto mais próximo, torcendo para ele ir embora.
– Estou ocupada, Scott. – É tudo o que eu lhe respondo enquanto adentro o quarto 516.
E, dessa vez, ele não me espera ao lado da porta, o que me faz respirar completamente aliviada.
O restante da minha rotina se divide em trabalhar ao lado dos pacientes e fugir do Jackson, assim como todos os dias desde o episódio do red velvet. Se eu o vejo andando em um corredor, eu automaticamente mudo todo o meu caminho, apenas para não passar ao seu lado. Se ele está conversando com algum paciente, procuro não entrar no mesmo quarto.
E isso felizmente tem dado certo, porque mal nos falamos e vemos durante o dia.
Quando estou próxima do fim do meu expediente, entro no apertado quartinho de produtos hospitalares. Acendo a luz e procuro pelas máscaras descartáveis, que estão em algum lugar.
– Por que você está me ignorando, lindinha? – É a primeira coisa que Jackson Scott Hill pergunta quando ele abre a porta e me vê ali dentro. Quanto mais eu corro dele, mais ele aparece em minha frente.
Uma tosse seca e atrapalhada preenche a minha garganta quando eu, sem querer, me engasgo com a minha própria saliva. A sua simples presença me deixa ansiosa. No mesmo instante, Jackson fecha a porta atrás de si.
– Não estou te ignorando. – Viro o meu rosto na direção contrária, desviando os meus olhos dos seus.
Arqueio as sobrancelhas e respiro profundamente em alívio ao finalmente encontrar as máscaras descartáveis.
– Não minta para mim. – Ele apoia as suas costas sobre a porta de madeira enquanto cruza os braços. – Há uma semana você tem me evitado. Você pensa que eu não te vejo mudar o caminho somente para não andar no mesmo corredor que eu, lindinha?
– Impressão sua. – É tudo o que eu respondo. Em seguida, aponto para a porta, pedindo passagem. – Preciso ir.
E é claro que o Jackson Hill continua parado na minha frente, com os seus braços cruzados.
– Você nem consegue olhar para mim. – Pelo seu tom de voz, sei que ele está sorrindo sarcasticamente.
Então, eu finalmente ergo o meu rosto em sua direção. Respiro profundamente ao encontrar os seus olhos castanhos me observando com devota atenção. No mesmo momento, eu me lembro da maneira exata como ele segurou o meu cachecol lilás anos atrás, quando estávamos nos equilibrando sobre a árvore. E, então, eu noto que, após quinze anos, o seu olhar permanece o mesmo – penetrante, viciante e perigoso.
– Eu tenho duas teorias. – Ele ergue dois dedos.
– Meu Deus. – Murmuro enquanto reviro os meus olhos lentamente. Por que ele simplesmente não vai embora?
– Uma: você está apaixonada por mim.
Eu me apaixonar por Jackson Scott Hill?
Agora é a minha vez de rir sarcasticamente. Mas os olhos de Jackson apenas vagueiam sobre o meu rosto, e a sua expressão automaticamente fica séria.
– Vai sonhando, lindinho. – Mesmo com a caixa de máscaras em minhas mãos, cruzo os braços, completamente impaciente com ele. – Agora me deixe ir. – Ordeno.
– E a segunda... – Ele sorri preguiçosamente. E, infelizmente, Jackson Scott Hill fica desgraçadamente lindo dessa forma. – Você descobriu.
Engulo em seco, dando um pequeno passo para trás. As minhas costas encontram as prateleiras de madeira.
– Não tenho tempo para as suas gracinhas, Scott. – Atento-me a chamá-lo de Scott, porque não quero que ele descubra que eu sou a mesma Violet de anos atrás. Encosto a minha mão livre sobre a maçaneta, tentando abri-la.
Jackson se aproxima lentamente de mim e, no mesmo instante, eu sinto o meu coração pulsar rapidamente abaixo do meu peito. Ele está tão acelerado que causa uma curta falta de ar em meus pulmões. Faço uma careta mínima ao notar o incômodo dentro de mim.
Mesmo após quinze anos, sinto essa mesma sensação estranha tomar conta do meu corpo todas as vezes que ele se aproxima.
– Violeta, violeta. – O seu sussurro faz cócegas em meu ouvido. A minha respiração se torna falha e ofegante. – Para de fazer careta.
E Jackson Hill canta na mesma melodia irritante de quinze anos atrás.
Nossos olhares se encontram por um curto segundo. E estamos tão próximos um do outro. Tão próximos. Sinto-me a mesma Violet Sun Stuart confusa e indefesa de quinze anos atrás.
De alguma forma, eu passo ao seu lado e abro a porta daquela minúscula sala. Os meus pulmões finalmente encontram o ar que tanto procuravam, mas a minha cabeça ainda roda.
Ele se lembra de mim.
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