Capítulo 6

Quando éramos mais jovens pensávamos que
Todo mundo estava do nosso lado
Então nós crescemos um pouco
Flowers In Your Hair – The Lumineers

"Cada toque, cada sorriso compartilhado entre Hugo e Camille era como uma faísca que incendiava os seus corações."

– Com licença, lindinha. – A sua voz me puxa para a realidade, retirando qualquer vestígio da atenção que antes eu depositava no livro em meu colo.

Respiro profundamente ao encontrar os seus cabelos escuros levemente úmidos pelo banho. Por que o residente Scott tem que ser tão lindo? Os seus olhos castanhos me fitam profundamente, aguardando qualquer mínimo movimento meu.

– Tem outros bancos livres. – Aponto para os demais acentos vazios pelo ônibus. Obviamente eu dou preferência para evidenciar os que estão o mais longe possível de mim.

E, sem esperar qualquer resposta do residente ao meu lado, os meus olhos recaem sobre as páginas amareladas do livro, ignorando-o.

"O desejo era claramente mútuo, mas o orgulho feria os seus corações como uma letal arma."

– Mas eu quero sentar aqui. – A sua grave voz me acorda novamente.

Reviro os olhos lentamente enquanto inspiro fundo. O meu único desejo é saber o que acontecerá entre Hugo e Camille, mas infelizmente a presença do Scott muda completamente os meus planos.

Então, sabendo que o querido residente jamais me deixará em paz enquanto eu estiver dentro deste ônibus, viro-me absolutamente frustrada. E eu decido mostrar todo o meu descontentamento ao suspirar em alto e bom som enquanto Scott se acomoda no acento ao meu lado, sem ao menos se importar com o meu protesto.

Vejo-o colocar o seu fone de ouvido de playboyzinho, o que me faz sorrir. E, enquanto ele mexe em algo em seu celular, parecendo estar absolutamente concentrado, penso que, talvez, inexplicavelmente, Scott me deixará ler. Por isso, abro novamente na página em que eu havia parado.

E, antes que sequer os meus olhos possam voar pelas frases impressas sobre a página, escuto o som abafado de uma música. The Lumineers, novamente. Flowers In Your Hair, especificamente.

E eu simplesmente odeio o fato dele gostar de ouvir a minha banda preferida.

Meus olhos vagueiam entre palavras aleatórias, mas a minha mente se esquece completamente de buscar o sentido delas, porque, inconscientemente, estou focada na canção que chega aos meus ouvidos. Sinto um olhar indiscreto da parte de Scott, mas não me deixo intimidar.

– Aqui. – É tudo o que ele me diz, de repente.

– O que foi agora? – Pergunto, absolutamente sem paciência. Mas, ao baixar os meus olhos, encontro um dos seus fones de ouvido em suas mãos. – Não quero. – Murmuro.

– Deixa de ser orgulhosa, enfermeira Sun. – Percebo que ele está revirando os seus olhos para mim, demoradamente. – Você acha que eu não estou vendo você cantar?

– Não estou cantando. – Defendo-me.

– Ah não... – Consigo sentir a ironia palpável em sua fala. – Está apenas movendo os seus lábios no ritmo da música. Toma. – Ele insiste, erguendo a mão em que está o seu fone de ouvido.

Por fim, dedico aceitar a sua oferta, com total desconfiança. Porque é absolutamente estranho presenciar Scott sendo gentil comigo. Então, ao colocar o fone em meu ouvido, automaticamente penso que ele mudará a música e a banda. Mas, para a minha surpresa, ele apenas reinicia a canção que eu tanto gosto.

– Você tem bom gosto. – Murmuro, baixinho.

– É claro que eu tenho. – Ele ergue os seus ombros, como se não pudesse haver outra resposta. – O que me impressiona é você ter bom gosto, lindinha.

E, para a minha total surpresa, o resto do nosso caminho ao hospital foi exatamente desta maneira: eu ao lado de Scott, dividindo o seu fone de ouvido ao som de The Lumineers.

✿✿✿

"Camille percebeu que as diferenças que antes poderiam ter a separado de Hugo apenas fortaleciam o silencioso vínculo entre eles."

– Sun. – Escuto uma voz distante me chamar. Mas os meus olhos continuam rolando apressadamente pela página do livro, ansiando em terminar aquele parágrafo. – Vi que você não pegou a sobremesa...

Quando eu finalmente ergo o meu rosto em direção ao som que insiste em retirar a minha preciosa atenção da leitura, encontro o enfermeiro Luke, com um discreto rubor em sua bochecha, olhando gentilmente para mim. Entre as suas mãos há um pote de plástico com um pedaço de bolo red velvet.

– Então eu peguei para você. – Ele completa a sua fala no exato instante em que se acomoda confortavelmente na cadeira a minha frente, diante da cantina do hospital Lemoine.

Ergo as minhas sobrancelhas em surpresa e respiro profundamente. Forço o aparecimento de um sorriso amigável em meus lábios enquanto decido aceitar o pequeno pedaço de bolo que estão distribuindo no almoço de hoje só para deixá-lo feliz.

– Obrigada, Luke. – Agradeço o seu gesto, verdadeiramente.

No mesmo instante, sinto o olhar fulminante de alguém recair sobre mim. E, ao virar a minha cabeça para o lado, encontro o residente Scott me encarando com um sorriso convencido em seu rosto. Ele está dividindo a mesa próxima a nossa com a residente Fortier, mas, curiosamente, aparenta estar mais interessado na minha curta interação com o enfermeiro Luke.

– O que é tão engraçado agora, Scott? – Reviro os olhos lentamente, já me arrependendo de dar corda às suas provocações.

– Ela não gosta de bolo red velvet. – O residente finalmente dirige a palavra ao Luke, que está sentado logo a minha frente, comendo o seu almoço.

Automaticamente eu sinto os músculos do meu rosto se enrijecerem. Pisco algumas vezes, absolutamente confusa com a revelação. Como o residente Scott, que eu infelizmente tive o prazer de conhecer a poucas semanas, sabe acerca deste pequeno detalhe sobre mim?

– Como você...? – Pergunto, completamente desconfiada. Nem mesmo a minha avó, que me criou desde pequena, sabe que eu não gosto deste bolo. Apenas Cindy, minha melhor amiga da escola, e Jackson Hill sabem disto.

– Não sei. – Scott inclina os ombros, como se não desse muita importância ao assunto. Mas, pela maneira como ele rapidamente volta a comer a sua comida, sei que ele está minimamente ansioso. – Você deve ter mencionado no ônibus.

– Eu nunca falei sobre isso. – Aperto os meus olhos em direção ao residente ao meu lado, e ele continua a comer normalmente, o que sinceramente me tira do sério.

Lembro–me, então, que dias atrás Scott assinou a ficha de Max com J. Scott H. No mesmo instante, a minha mente roda, e eu sinto o ar parar em meus pulmões.

– E então? – Luke alterna a sua expressão perdida e levemente abalada entre mim e Scott, aguardando qualquer resposta. – Você realmente não gosta?

– Desculpa, Luke... – Franzo o nariz, levemente. – Não sou fã de red velvet. – Decido admitir em voz alta.

– Tudo bem. – Ele balança a cabeça, minimamente. Gosto do jeito que o enfermeiro Luke é compreensível em todas as situações. – Então agora eu tenho dois pedaços. – Ele sorri.

Minutos mais tarde, quando finalmente termino a leitura daquele capítulo, juntamente com o meu delicioso almoço, levanto-me da mesa, pedindo licença ao Luke. Caminho apressadamente em direção à sala dos enfermeiros, onde temos alguns computadores para atualizar o quadro dos pacientes e alguns sofás para descanso.

Eu preciso descobrir o nome completo do Scott. Porque isso tudo deve ser apenas uma coincidência maluca. Certo?

Sento em frente a um dos monitores para vasculhar o computador. E, enquanto procuro pela lista de residentes do hospital Lemoine, a minha mente se afunda em lembranças antigas.

Quando eu tinha aproximadamente sete anos de idade, os meus avós "contrabandeavam" algumas comidas para mim enquanto eu estava internada por conta do tratamento da leucemia. Entre as comidas que eles costumavam trazer escondido, estava o famoso bolo red velvet. Mas a quimioterapia alterou o sabor de alguns alimentos, e desde então, o bolo de massa vermelha adquiriu um gosto metálico terrível. É claro que, após eu ser curada, os sabores voltaram ao normal. Mas eu simplesmente não consigo mais comer nada que envolva red velvet.

E, um belo dia, a minha avó colocou um pedaço deste bolo em minha lancheira, afinal, ela não sabia que eu deixei de gostar daquele sabor. E, durante o intervalo, revelei à minha melhor amiga que eu não gostava de red velvet. Jackson Hill, que estava perto de mim, ouviu a minha murmuração e, após tirar sarro de mim por qualquer motivo idiota, decidiu trocar o lanche dele comigo.

A foto de residente Scott aparece em uma das fichas que eu abro no computador, na aba de funcionários do hospital. Respiro profundamente antes de ler o seu nome completo.

E algo dentro de mim borbulha, ferve, deixando-me simplesmente inquieta. Agora a minha respiração pesa enquanto o meu coração inexplicavelmente dispara em meu peito.

Jakson Scott Hill.

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