Capítulo 14
Algo me aproximando dos lábios dela
Imagine minha surpresa quando eu
Tentei me inclinar para um beijo
Classy Girls – The Lumineers
Adentro o belo e elegante restaurante. Longos e chamativos lustres enfeitam o lugar, que possui o dourado envelhecido como cor predominante. Cadeiras de veludo e mesas de madeira legitima compõem o restante da decoração.
É claro que o lugar escolhido para a confraternização, com a presença de médicos e investidores do Lemoine, seria em um lugar como esse. E, bom, isso explica o "traje social" exigido no fim do convite que recebemos por e-mail.
Sinto uma leve corrente de ar atravessar o meu corpo quando eu finalmente me aproximo do lugar onde os meus colegas estão. Avisto o enfermeiro Luke me observar com devota atenção.
– Oi, Sun. – Escuto a sua tímida voz atravessar a sua garganta.
– Oi. – Sorrio educadamente.
– Puxa vida... – Ele suspira. – Você...
Quando os meus olhos finalmente encontram Jackson Scott Hill, som algum é capaz de atravessar os meus ouvidos. Vejo-o a tempo de o flagrar vagando os seus olhos sobre o meu corpo, demoradamente. Um perceptível "uau" escapa dos seus lábios e, no mesmo instante, sinto cócegas em meu estômago.
– Já volto, Luke. – Anuncio enquanto direciono os meus pés para o caminho que me leva ao Jackson.
A sua beleza é completa e absolutamente injusta. Os milhares de personagens que conheci ao longo dos anos, seja em livros de romance, seja nos mais diversos doramas, jamais se comparariam a ele. E, como se isso não bastasse, Jackson veste uma camisa social branca, evidenciando ainda mais o seu corpo.
Um sorriso discreto preenche os seus lábios enquanto ele analisa, mais uma vez, o meu longo vestido lilás.
– Oi, lindinha. – A sua voz é baixa e rouca.
– Oi, lindinho. – Devolvo, rindo.
– Você está... – Jackson admira o meu rosto por um momento, respirando profundamente. Os seus lábios se abrem, mas som algum escapa da sua boca.
Uma simples maquiagem e uma rápida finalização em meu cabelo ruivo foram o bastante para deixá-lo absolutamente sem palavras? A Violet de quinze anos atrás jamais acreditaria nisso.
– Você também. – Sorrio timidamente, entendendo o que ele estava tentando dizer. No mesmo instante, sinto a minha bochecha queimar, e é extremamente desconfortável.
Dou um passo para frente quando alguém passa ao meu lado com uma bebida em mãos, com medo de derrubá-lo em meu vestido. Pelo canto dos olhos, observo a residente Fortier conversar com o enfermeiro Luke, e ambos olham para nós.
Então, lembro-me de como as minhas amigas da escola costumavam sussurrar umas às outras quando viam Jackson Hill ao meu lado, seja no intervalo ou no parquinho. E, de maneira curiosa, os seus amigos faziam o mesmo.
– Quando você descobriu que eu era a Violet? – Pergunto de repente, voltando a minha atenção completa a ele, que está a minha frente.
– Desde o momento em que eu a vi no ônibus, pela primeira vez. Eu sempre soube. – Jackson balança os ombros imperceptivelmente, como se a resposta fosse óbvia o bastante para qualquer explicação.
– Impossível. – Balanço a cabeça em negação. – Não nos víamos há quinze anos.
– Eu sei que eu mudei. Eu era apenas um menino magrelo, com dentes tortos e cabelo despenteado. – Ele franze os lábios, como se lamentasse a sua aparência de criança, o que me faz rir. – Mas você não mudou nada, Violet. – Os seus olhos castanhos encontram os meus. – Os mesmos olhos azuis, as mesmas sardas... E eu... eu simplesmente soube que era você.
Um homem se aproxima de nós com uma bandeja metálica em mãos. E ele nos oferece taças de champanhe, que estão simplesmente deslumbrantes. Mas, no mesmo instante, eu me lembro de Jackson dizer que gostaria de me beijar sóbrio.
– Não, obrigada. – Dispenso. Então, Jackson olha para mim e, em seguida, morde o lábio inferior, também se lembrando. E ele também dispensa a bebida.
– E quando você soube que eu era o Jackson Hill? – Ele pergunta quando o homem finalmente se afasta de nós.
– Quando você mencionou que eu não gostava de red velvet para o enfermeiro Luke. – Abaixo os meus olhos por um momento, observando os meus pés. – Só você e Cindy sabiam disso.
Oculto a parte de pesquisar o seu nome completo no servidor do hospital Lemoine.
– Minha vez. – Respiro profundamente, gostando do nosso silencioso jogo de perguntas. – Por que você mudou de escola? – Ergo a minha sobrancelha, lembrando-me da maneira como eu fiquei extremamente triste quando me contaram que ele havia mudado de cidade, mesmo odiando ele.
– O meu pai foi transferido para uma empresa em Quebec. – Após quinze anos ele finalmente explica. E eu posso sentir a pequena Violet de oito anos de idade dentro de mim respirar aliviada. – Depois eu voltei aqui para Toronto para fazer faculdade.
Jackson passa a mão em seu cabelo escuro, parecendo estar se lembrando de algo que, no passado, deixou-o desconfortável.
– Já que estamos perguntando coisas de quinze anos atrás... – Ele fecha os olhos brevemente, balançando a cabeça. – É verdade que Paul roubou um beijo seu no recreio?
Ah, eu me lembro de Paul. Ele era o melhor amigo de Jackson mas, por algum motivo, os dois brigaram na sala de aula e a professora foi obrigada a os separar. Ambos receberam três dias de suspensão e, depois disso, voltaram a serem amigos.
– Sim... – Lembro-me do dia em que o garotinho me roubou um beijo. O meu primeiro beijo. Jackson havia dito aos seus amigos que meninas ruivas e de olhos azuis eram o seu tipo e, naquele mesmo dia, Paul me deu um selinho, de repente. E eu ainda posso me lembrar da maneira como eu passei as mãos em minha boca e saí correndo pelo parquinho, com nojo. E, no dia seguinte, Jackson e Paul brigaram.
Jackson revira os olhos lentamente enquanto murmura algum xingamento, sozinho. Mas eu apenas o ignoro.
Pelo canto dos olhos, observo a residente Fortier sussurrar algo no ouvido do enfermeiro Luke. Há inúmeras taças de champanhe vazias em sua mesa, e eles parecem rir de algo.
– Por que você não saiu com a residente Fortier? – Quero saber, porque essa é uma pergunta que martela a minha mente dia e noite. Lembro-me, inclusive, da maneira como eu me senti obrigada a pintar um quadro após vê-lo chamá-la para sair.
– A intensão nunca foi sair com ela... – Jackson parece estar absolutamente relutante diante de suas próprias palavras.
– E qual era a real intensão? – Pergunto, confusa.
– Não é claro? Chamar a sua atenção, Violet. – Ele confessa, praticamente sussurrando. E, antes que eu possa respondê-lo, Jackson abre os seus lábios, preparando-se para a próxima pergunta. – E você? Você saiu com o enfermeiro Luke?
– Não. – Balanço a cabeça em negação. No mesmo instante, eu me lembro da maneira patética como eu me comparei à residente Fortier. Da maneira patética como eu comparei a cor dos nossos olhos e a cor dos nossos cabelos. Lembro-me da maneira como eu, pela primeira vez, senti-me insegura em relação a minha própria aparência. – Qual é o seu tipo, Jackson? De verdade.
– Você é o meu tipo, Violet. – Um sorriso mínimo preenche o canto dos seus lábios. E o ar falta em meus pulmões ao finalmente me dar conta de algo que sempre esteve estampado em minha frente. Algo que a minha própria e momentânea insegurança foi capaz de me cegar.
– Então você sempre falou a verdade? – Sussurro de volta, apenas pensando alto.
Jackson dá um pequeno e tímido passo para frente, em minha direção. Os seus olhos castanhos observam os meus com delicada atenção, e o meu coração palpita aceleradamente abaixo do meu peito.
– Você é e sempre foi o meu tipo, Violet. – É o que ele sussurra próximo ao meu rosto.
Posso sentir o calor da sua mão em meu queixo enquanto Jackson puxa, delicada e demoradamente, o meu rosto em direção ao seu. Arrepios correm pelo meu braço enquanto o meu coração se descompassa calorosamente dentro de mim.
– Você não faz ideia do quanto eu esperei por isso. – A sua voz é baixa, rouca. E, então, eu me dou conta de que eu também espero por isso a anos, mesmo que inconscientemente.
Os seus lábios são macios. São leves. São delicados.
Algo explode em meu peito, e eu não sei exatamente o que é. A única coisa que posso afirmar com toda a certeza do mundo é que as simples e vagas palavras impressas sobre as páginas amareladas dos livros são completamente incapazes de descrever a sensação que sinto neste momento.
Será possível sentir que você foi feita para beijar alguém em específico? Porque eu sinto que fui feita para beijar Jackson Scott Hill.
– Quer ir embora daqui? – É a primeira coisa que ele pergunta quando infelizmente nos afastamos.
– Por favor. – Respondo, ofegante.
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