Capítulo 12
E eu tropeço com meus pés descalços até a cozinha
Ainda sonolento, mas acordado para a vida
E eu sei, eu sei, vai ser um dia bom
Hello, You Beautiful Thing – Jason Mraz
Eu flertei com Jackson Scott Hill?
É o primeiro pensamento que atravessa a minha mente quando eu finalmente acordo no dia seguinte, em meio à confusão de cobertores e travesseiros. Sinto a minha cabeça rodar levemente, exatamente como ontem.
Meu. Deus. Eu realmente flertei com Jackson Scott Hill.
Ao me levantar, por fim, e adentrar a minha sala de estar, encontro as duas solitárias taças de vidro sobre a mesinha de centro, ao lado da vazia garrafa de vinho. Lembranças do dia anterior correm diante dos meus olhos.
– Nós quase nos beijamos. – As palavras saem como meras murmurações entre os meus lábios. No mesmo instante eu afundo o meu rosto entre as minhas mãos, sentindo a minha bochecha esquentar. – E a pior parte é que eu não me sinto arrependida.
Mas eu deveria estar arrependida, certo? Afinal, estamos falando de Jackson Scott Hill.
Maggie passa entre as minhas pernas, onde posso sentir o seu macio e sedoso pelo. Ela encosta o seu focinho gelado em meu pé, pedindo por carinho.
– Ontem você sumiu. – Brigo com ela. – Ficou com medo do Jackson? – Fico a encarando, esperando alguma resposta.
Estou esperando a resposta de uma pequena gata em plena manhã de sábado. Balanço a cabeça, rindo sozinha. Caminho arrastadamente até a apertada e simples cozinha, pensando no que farei de café da manhã.
Será que Jackson Hill já está acordado? Será que ele pensou em mim nesta manhã? Será que ele realmente queria me beijar de volta? Ou será que ele inventou qualquer desculpa para não me beijar? Argh! Eu só queria, por um minuto inteiro, não pensar nele. Mas, infelizmente, descobri que essa é uma tarefa praticamente impossível desde o dia que eu conheci o residente Scott.
Um apito ressoa do meu celular, chamando a minha atenção. É a notificação de alguma mensagem. Meu Deus, será que é Jackson?
"Você consegue chegar mais cedo para me ajudar a montar os cupcakes? Halley irá buscar o bolo na confeitaria." É o que diz a mensagem de Ocean, um velho amigo.
Oh meu Deus! Passo a mão em minha testa, respirando profundamente. Hoje é a festa de aniversário da Stella, sua filha, e eu me esqueci completamente. Nem mesmo comprei um presente a ela.
"Claro! Daqui a pouco eu chego aí!" Digito apressadamente em resposta a ele.
✿✿✿
– Tia Sol! – A pequena Stella pula animadamente em meus braços. Ela, então, se pendura em meu pescoço, rindo bobamente. E eu sou completamente apaixonada pelo seu sorriso inocente.
– Oi, Stella! Puxa vida! – Exclamo, fingindo estar sentindo um grande peso sobre os meus ombros. – Como você cresceu. – Levemente, faço cócegas em sua barriguinha minimamente saliente. – Quantos anos você está fazendo?
– Quato. – Ela ergue os seus pequenos e gordinhos dedos para cima, fazendo questão de me mostrar o número quatro.
– Tudo isso? – Arregalo os meus olhos, fingindo estar absolutamente surpresa. – Eu trouxe um presente para você. – Inclino o meu rosto para poder sussurrar em seu ouvido, como se eu estivesse prestes a lhe contar um grande e revelador segredo. – É aquela boneca que você queria.
E ela salta do meu colo para finalmente agarrar a colorida caixa de presente que está em minhas mãos. Vejo–a saltitar de maneira empolgada pela casa enquanto gritinhos de alegria saem dos seus lábios. Os delicados cachos do seu cabelo escuro sobem e descem pelas suas costas a cada mínimo pulinho que ela dá, e os seus olhos castanhos estão brilhando de felicidade.
– Obrigado, Violet. – Ocean respira de maneira completamente aliviada ao me ver. Ele está vestindo o seu clássico suéter escuro e, por dentro, há uma clara camisa social. – Eu definitivamente não sei colocar glacê em cupcake. – Vejo–o arrumar os seus óculos enquanto ele ri timidamente.
Dirijo–me a cozinha, onde bandejas de cupcake mornos aguardam receber a sua cobertura. E o lugar está uma completa zona, com vários utensílios domésticos espalhados pela bancada, o que causa uma discreta coceira em Ocean. Sei como ele detesta bagunça.
– Oi, Violet! – Halley, a esposa de Ocean, caminha em minha direção para me abraçar calorosamente. – Obrigada por nos ajudar. – Há um grande e sincero sorriso em seu rosto. Eu sempre gostei de Halley, e eu sei o quão bem ela faz ao Ocean desde a morte de Saturn. – Vou passar na confeitaria para pegar o bolo e já volto. Sea está ajudando Stella a se vestir.
A mulher alcança a chave do carro que está ao lado dos cupcakes e, em seguida, despeja um delicado selinho em Ocean antes de sair.
Desde a morte de Saturn, há quinze anos atrás, Ocean se fechou completamente ao mundo. Ele mergulhou de cabeça em seus estudos e em suas pesquisas ao lado do professor Miller, e nada nem ninguém conseguia o tirar do seu quarto e dos seus livros. Após a universidade, ele emendou um mestrado e um doutorado. E ele não parecia feliz.
Mas, em um dos seus trabalhos, ele conheceu a estagiária Halley, que auxiliava um dos seus colegas de pesquisa. E, desde a primeira vez que Ocean comentou sobre ela, eu soube que ela era ideal para ele.
– Estamos enchendo balões desde de manhã. – Ele me entrega o saco de glacê rosa. – Quer dizer, Sea está enchendo balões. Eu parei depois de precisar usar a bombinha de asma.
Antes que eu possa respondê–lo, uma notificação soa em meu celular. E eu apressadamente o pego em minhas mãos, esperando qualquer mínima mensagem de Jackson. Fecho os meus olhos em frustração ao notar que é apenas um e–mail sobre a uma confraternização que terá entre os funcionários do hospital na semana que vem.
– Está esperando a mensagem de alguém? – Ele pergunta, e há curiosidade palpável em seus olhos.
– Não. – Finjo dar de ombros, mas sinto o meu coração palpitar. – Sim... – Confesso, de maneira honesta. Ocean espera que eu explique com mais detalhes, mas, de maneira contraditória, simplesmente dou início à cobertura dos cupcakes. – Como você soube que realmente estava gostando da Halley?
– Ah, então você está em dúvida... – Ocean solta uma risada anasalada e, em seguida, balança a cabeça, minimamente. Então, ele arruma o óculos em seu rosto e volta a sua atenção completa aos cupcakes. – Só o fato de você me perguntar isso já mostra que você gosta dele.
– Mas nem eu tenho certeza. – Murmuro, mordendo o meu próprio lábio. Observo o cupcake a minha frente, contente com o resultado.
– É claro que tem, Violet. – Ele continua balançando a cabeça. E ele demora uma eternidade para passar o glacê. – Você só não quer admitir. Eu fiz exatamente a mesma coisa com a Halley. Não queria admitir que estava gostando dela porque, de alguma forma, sentia que estava traindo a Saturn.
– É que... Não faz sentido eu gostar dele. – Aperto os meus olhos, pesando em todos os momentos que eu estive ao lado de Jackson. – Ele sempre zombou de mim, sempre procurou alguma maneira idiota de me irritar, sempre criou apelidos para mim. Ele não me deixava estudar em paz, não me deixa ler em paz, não me deixa trabalhar em paz...
Ocean, no mesmo instante, direciona os seus olhos para mim, com as sobrancelhas erguidas. Ele parece se lembrar de algo e, então, ele inclina levemente a cabeça para o lado.
– Jackson Hill? – Ele pergunta, desacreditado.
– Como você sabe? – No mesmo segundo eu largo o glacê, com os lábios entreabertos em completa surpresa.
– Há muitos anos atrás, após eu ensiná–la a andar de patins, eu lhe paguei um chocolate quente naquele lugar onde Saturn amava ir. – Ocean suspira melancolicamente. Eu também sinto falta dela. – E lá você o descreveu praticamente da mesma maneira. – Ele sorri enquanto analisa o meu rosto de espanto.
– Incrível como ele não mudou absolutamente nada. – Respiro profundamente.
– E é incrível como você não mudou nada, Violet. – Ele apoia as suas mãos sobre o balcão, balançando a cabeça levemente. – Você não percebe? Vocês se gostam desde pequenos.
– Impossível. – Reviro os olhos exageradamente. Mas algo dentro de mim insiste em perguntar: será? E a pequena possibilidade dessa teoria ser verdade causa cócegas em meu estômago, assim como nos livros.
– Crianças sempre se irritam quando se gostam... – Agora Ocean volta a sua atenção aos cupcakes, parecendo estar determinado a terminá–los.
– Não somos crianças. – Murmuro entre os dentes. Sei que Ocean e eu desenvolvemos uma relação de irmãos ao longo dos anos, apoiando um ao outro após a morte de Saturn, mas isso não é motivo para ele ainda me ver como uma criança.
– Mas agora são dois adultos que não querem admitir o que sentem. – Ele arruma o óculos em seu rosto mais uma vez. – Ou seja, é a mesma coisa.
Abro os meus lábios, pronta para o responder, absolutamente nervosa, mas Stella adentra a cozinha saltitando em seu vestido da Branca de Neve. Há uma pequena coroa no topo da sua cabeça, que está torta.
– A Violet tá de Valente... – Ela aponta para o meu vestido verde escuro, escolhido aleatoriamente. – E eu de Banca de Neve. – Agora ela rodopia, mostrando-nos a sua fantasia de princesa. Ela está adorável.
A campainha toca, e ela corre para atender, ao lado de Sea, irmã de Ocean. Ao que parece, os convidados estão chegando. Enquanto isso, continuo a enfeitar os cupcakes, em completo e absoluto silêncio, apenas refletindo minimamente nas palavras de Ocean.
– Você não o odeia. – Ele sussurra próximo ao meu ouvido quando colocamos os cupcakes prontos sobre a mesa da aniversariante. As dezenas de crianças se aproximam, animadas. – Você só odeia o sentimento que ele causa em você.
Aperto os meus lábios, enquanto franzo o nariz. E se ele realmente estiver certo?
Halley, sua esposa, aproxima-se da mesa com o bolo da Branca de Neve em mãos.
– Você tentou fugir desse sentimento por quinze anos. – Ocean ergue as suas sobrancelhas para mim, olhando-me com atenção. – Você vai continuar fugindo por mais quanto tempo, Violet? – Ocean agora analisa a sua esposa com um grande sorriso no rosto. – Eu tentei fugir do amor depois de Saturn, e foi simplesmente terrível. Não cometa o mesmo erro que eu.
As velas estão acesas e, então, todas as crianças presentes cantam "Parabéns para Você" em uníssono. Ao contrário de Ocean, a sua filha parece simplesmente amar a atenção recebida. E isso me lembra a Saturn.
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