8º Capítulo - Última Chamada
"Quem ama, sofre. Quem sofre, sente. Quem sente, luta. Quem luta, vence?"
Conforme seguiam para o aeroporto, mais nervosa Lara ficava. Então, para se distrair, olhava para o céu. - Ela amava o céu, era como a janela do universo e a ideia de infinidade de opções e probabilidades a representava muito bem naquele momento. - Estava um clima frio e calmo, mas, ao que tudo indicava, iria chover muito ainda. A cada curva ela amassava levemente a barra de seu vestido e se perguntava; Oque exatamente ela estava fazendo? - Oque ela esperava que acontecesse? Ela mal sabia se ele ao menos ainda estaria lá, eram 01:47 da tarde e ele que havia escolhido ir, sem avisar. - Ela não tinha nenhum plano em especifico, mas continuava ali, parada, permitindo que o táxi seguisse destino. Era como se uma força estranha a fizesse ficar e ela até tentava se convencer de que era por que ele havia salvado a sua vida. - Ela ainda não o tivera agradecido - Seria o mínimo, ir até lá, ela acreditara. – mas não era isso.
Sabe, nem todo mundo apostariam todas as suas fichas nessa coisa de "amor à primeira vista" e Lara costumava ser uma dessas pessoas que acreditavam que essas coisas levavam tempo, paciência e dedicação. Como havia aprendido com seus pais - Bia e seu pai brigavam muito na infância. Mas após 12 anos de convivência no colégio, acabaram se apaixonando e se casando. Nem imaginavam o trágico fim dessa linda história de amor. - mas, querendo ou não, há sempre uma parte dentro de nós que no fundo quer que seja verdade, - se apaixonar apenas com um toque, um beijo, um olhar... - apesar maioria das pessoas não credita 100% nisso. - Bem, não até que acontece com você - Até uma troca de olhares ser tão intensa, tão especial que você sente cravar até no fundo da sua alma, fazendo o tempo parar desde o primeiro segundo em que os destinos se cruzam como o laço vermelho de Yuelao.
Era como se tudo fosse diferente após o encontro acidental, próximo a uma moita, de dois estranhos apressados na calçada de uma velha chácara. Sim, podia ser só algo do momento - A magia do mistério de não conhecer a pessoa- ou até algo físico. Mas, – Apesar de não ter tido muito tempo para saber - querendo ou não, ela já havia literalmente apostado cada uma de suas fichas nele e sinceramente, era muito tarde para voltar atrás depois de tudo - do elevador, dos vidros, das escadarias e até do pombo, muito bem vestido, por sinal - e, principalmente, porque o táxi havia acabado de estacionar na porta do aeroporto. Então ela estava, literalmente, pagando para ver até onde aquilo ia dar.
Após pagar ao motorista, Lara desce do veiculo e fecha a porta. Seu coração palpitava forte, como se fosse pular para fora de sua boca e, para aliviar a ansiedade, apertava as mãos tão fortemente que chegava a sentia as suas unhas riscando a carne. – Ela respira firme e então entra. – E lá estava ela, logo após a porta automática da entrada, viu uma placa enorme escrito com letras garrafais azuis "December International Airport, Sempre um prazer voar com você" - Slogan que ela achara péssimo, por sinal, parecia que ao comprar uma passagem você estava levando, também, um encontro romântico com toda a companhia aérea e sim, por um instante, aquilo passou fazendo algum sentido pela cabeça de Lara - em uma placa branca suspensa no teto. Ela olha para um lado, para o outro e nada. Sem sinal dele, só de uma máquina de salgados á direita, que ela nem cogitou em comprar nada. Ela achava um absurdo os preços dos lanches em aeroportos, pois sabia que passavam do triplo do custo normal. - Quem paga R$15,50 Por um Pretzel murcho de açúcar, por exemplo. Pouco depois, ela ouve saindo pelos alto-falantes dos corredores um toque e a voz de uma mulher, que dizia.
- Ding Dong! Atenção senhores passageiros, o voou das 02:00 com o destino à "North Carolina" fora... - Lara volta sua atenção para seu Celular, pois acreditara que aquele era o voou de Nickolas.
Eram 01:50.
- Oh, Meu Deus! Faltam 10 minutos. - Pensou.
Então sai para procura-lo enquanto corria sobre o azulejo, preto e branco no chão do aeroporto, que a fazia lembrar muito de um tabuleiro de Xadrez. - Que ela era ótima, por sinal, cinco vezes ganhadora do campeonato da escola e três do regional.
A estrutura era enorme, assemelhava-se a um shopping com seus muitos corredores e andares. - Três andares, para ser mais exato - Mas, por onde quer que ela olhasse, não havia sinal dele. Ofegante, resolve parar em uma cafeteria chamada "Irish Coffee House" - Casa do Café Irlandês - que ficara próxima a escada rolante principal.
- Oi, Eu... - Tenta dizer.
- Vai querer alguma? - Pergunta a atendente, com um tom levemente rude.
Ela usava um uniforme branco e aparentava ter entre 50 a 65 anos. Mas Lara não pode mesmo é deixar de notar o buço suado com pelos em sua face.
- A Senhora vai comprar alguma coisa? - Repete.
- Não... Mas, por um acaso você não viu um jovem de mais ou menos 1,75, cabelo castanho e olhos claros, passar por aqui?
- Nesse caso... Não, - Gritou - Próximo!
- Calma e se eu levar um desses... Humm, - Lara olha para os alimentos expostos sobre o balcão - Chocolatinhos light! - Ela para rapidamente para ler o rótulo. Com o intuito de parecer um pouco mais interessada. - Com 70% de cacau e café aromatizado. Parecem ótimos!
A mulher aperta alguns botões da caixa registradora.
- Deu £09,73.
- QUE! - Exclama - Quer dizer... - Lara fuça os bolsos de seu vestido.
Pouco depois, tira de lá uma nota de £05,00 amaçada, sete cartas de um antigo jogo de tabuleiro e algumas moedas.
- Bem, acho que agora podemos nos comunicar melhor. - Diz e então dá uma leve mordida no chocolate, se segurando para não regurgitar aquilo, que tinha um gosto terrivelmente. Muito semelhante ao cheiro das meias sujas do Marco.
Ela sorri, de uma forma bizarra e duvidosa, levantando a sobrancelha direita. Pouco depois grita.
- SEGURANÇA!
- Ah? COMO! – Lara questiona, sem entender.
Porém, no mesmo instante, surge atrás da velha maluca um rapaz moreno, evidentemente mais jovem que ela, com uma plaquinha vermelha no peito direito da blusa escrita "Gerente".
- Ruth, - deveria ser o nome dela - oque está acontecendo aqui? Lembre-se, "O cliente sempre tem razão!" - Ele sorri exibindo os belos dentes, incrivelmente brancos, de sua boca.
A tal da "Ruth" apenas revira os olhos.
- Olha, eu só estou procurando uma pessoa. O Nome dele é Nickolas...
- Sim, - ele interrompe - eu ouvi lá de trás. Acho que vi uma pessoa com essas mesmas características subindo, a não muito tempo, para o segundo andar.
- Sério? Muito obrigada. - Eufórica, aperta a mão dele várias vezes e então vai correndo em direção à escada que, para a sua desgostosa surpresa, a que ia para cima estava quebrada. Então teve que subir manualmente degrau por degrau.
Haviam muitas lojas naquele anda. Lara o procurou em cada canto, esquina e brecha que ela pudera durante horas, mas não o encontrou. O rapaz do café podia apenas a ter enganado, para que ela saísse de lá - Pensou.
Cansada e sem nenhum sucesso em sua busca, resolve ir para casa. Era tão ruim a sensação de ter que ir embora, ela podia nunca mais o ver e em um estalar de dedos tudo não passaria de apenas uma lembrança.
Enquanto descia, se sentia tão triste que seu corpo reagia com uma vontade incontrolável de chorar. Lara nunca fora muito fã de chorar, - principalmente após a morte de seu pai, pois acreditara que já havia chorado tudo que deveria na vida. Então nada, nunca mais, chegaria a tanto - ela olhava para cima e para os lados, tentando impedir, mas uma pequena lágrima acaba escorrendo de seu rosto e percorre por todo o canto esquerdo de sua face. Mas antes que pudesse se desfazer em seus lábios, acaba caindo sobre o chão quadriculado a fazendo reparar na senhora, estranha, do Irish Coffee House sentada em um banco prata, devorando um Hambúrguer Triplo Bacon com o cheddar derramando sobre sua calça. - Não era uma cena digamos muito bonita, mas a fez ter um flashback no mesmo instante.
- O QUE? Não pode ser... - Exclama.
Acontece que ela era a "velhinha" que Lara saltara mais cedo enquanto corria. Mas antes que ela pudesse processar toda a informação, acaba tropeçando ao fim da escada rolante sobre uma mala cinza. Mas assim que levanta o olhar para que reclamar com o dono, ouve.
- Perdão, eu sinto muito...
Sim, por completa ironia do destino, era ele.
- Nick Will, é você? - Interrompe.
- Lara? Não creio. Como chegou até aqui!
Ele estende a mão para ela.
- Isso não importa agora, oque ainda faz aqui? Eu pensei que já tivesse partido...
- Turbulência grave, todos os voos foram adiados umas três horas para que o tempo melhorasse. – Ela saberia, se não tivesse ignorado o resto do aviso - O meu ficara para as 04:15 e já são... - ele pega seu telefone do bolso - 04:00 Horas! Preciso correr para chegar a tempo.
Ela segura a mão dele.
- Por que você sumiu, sem avisar? - Pergunta, com um leve tom de choro e ele, então, a abraça.
Ela sentia o moletom cinza quente e fofinho que ele usava. O abraço era tão gostoso, que ela não sentia a menor necessidade de ir embora.
- Desculpa eu não queria, é que é complicado...
- Eu sei. O lance com sua mãe. - Sussurra, com a cabeça deitada sobre seu peito - Foi tudo tão rápido, a gente nem teve tempo. Não consegui nem te agradecer direito me tirado debaixo d'água naquela noite.
Pouco depois ela ouve, novamente, a voz da moça do aeroporto dizendo.
- Ding Dong! Última chamada para o voou com destino à "North Caroline" das 04:15. Senhores passageiros, por favor, dirijam-se imediatamente para a sala de embarque.
- Fica aqui. - Ela o aperta um pouco mais firme.
Após alguns segundos de silêncio, ele fala.
- Vem comigo! - Ela desfaz o abraço, com uma expressão de dúvida - Eu tenho um dinheiro guardado, para caso de emergência, a gente pega o próximo voou e foge junto para a Carolina.
Por um instante, Lara até cogitou a possibilidade de ir. Mas apensas balança a cabeça e sorri.
- Não é assim que as coisas não funcionam, Will. - Diz.
Ele assente e abaixa a cabeça, sábia que ela tinha razão. Um tempo depois, ele solta as mãos dela.
- O que vai fazer?
O Aeroporto ainda estava com a decoração do Natal. Ele vai até uma arvore e retira de lá uma fita amarela que estava amarrada nela.
- Lara Torres, - Ele se ajoelha e, aos poucos, vai se formando um pequeno aglomerado no local - eu sei que não nós conhecemos há muito tempo e que é repentino, mas eu soube na primeira vez que eu te vi, que você era diferente, que era uma menina especial e isso me fez buscar por você. Eu preciso ir agora, mas eu sinto que a distância não vai ser maior que isso; maior que os fogos que eu vejo quando você sorrir, maior que colorido que o mundo fica quando caminhamos juntos na rua, maior que a beleza que é ver você dançar ao som de uma vitrola. Não sei se você acredita em destino ou algo assim, eu também não acreditava muito, até o dia que eu te vi. O ruivo de seus cabelos, a maciez de sua pele e o brilho castanho de seus olhos... Dizem que isso é amor; Quando você conhece uma pessoa e dês da primeira troca de olhares seu coração acelera, seu corpo treme, seu mundo para. Eu sei que é muito cedo, até para dizer eu te amo, mas já dizia Rubem Alves "Somos donos dos nossos atos, mas não donos dos nossos sentimentos", a verdade tem que ser dita, porque é como um pássaro no cativeiro de uma gaiola, precisa ser livre para voar. Pensarei em você todos os dias e prometo que assim que as coisas melhorarem a gente vai se ver. Quando o colégio acabar eu me mudo para a gente ficar junto, eu sei que esses três anos irão passar voando por que... Lembra a metáfora do balão? Você é o hélio que eu sinto transbordar dentro de mim e se você sentir também, não for só algo que eu criei na minha cabeça. Lara, por favor, aceite namorar comigo.
A aquela altura, o aeroporto inteiro os assistia. Talvez por impulso ou o calor do momento... Mas ali, - ao lado da cafeteria e na frente de todos - ela diz, sem nem precisar pensar duas vezes.
- Sim, Nicolas William, eu quero sim! - Ele então faz um laço com a fita e arrama sobre o dedo dela.
Eles se abraçam, no pé da escada, enquanto ele a gira no ar. Era tudo tão lindo, tão perfeito que ela guardaria para sempre aquela cena em sua memória. Todos aplaudem e abrem caminho para que ele pudesse passar e Lara assiste o avião decolar pela janela do aeroporto, antes de ir embora.
Estava muito tarde para que ir ao hospital e ela estava sem dinheiro nenhum para passagem. Então revolve ir andando até a chácara, que não era muito longe da li.
Ela andava na rua tão leve que sorria enquanto dançava. Tudo parecia brilhar, das aves no céu a o guidão da bicicleta azul de uma garotinha loira que passara. Ela nunca havia reparado o quão lindas as flores naquela estação ficavam, os brotos até pareciam se abrir enquanto ela passara.
Pouco depois, ao chegar a casa, lembra-se de que ainda não tivera tirado uma cópia das chaves para si. Mas ela sabia que, quando criança, vira sua avó guardar uma chave reserva em algum lugar pelo jardim. Ela procura e, então, logo a encontra escondida de baixo do tapete felpudo da entrada escrito "Baile, Sweet Baile!" - "Lar, Doce Lar!" em Irlandês.
Lara coloca a chave na fechadura do portão, gira a maçaneta e então entra. Estava aliviada por, finalmente, estar em casa. Ela vai até a cozinha, para esquentar um chá e, em seguida, vai direto para o seu quarto. No caminho, lembrara-se de Marco - Que há essa hora, já devia ter colocado o corpo de bombeiros inteiro para procura-la. - então, resolve mandar uma mensagem para ele.
- Lara: Estou bem, fui ver o Nickolas. Como está tarde, vou passar a noite na chácara e de manhã vou direto para o Vera Cruz e não saiu mais de lá, tá? Amanhã conversamos, beijos.
Ela desliga o celular e se joga na cama.
- E amanhã é mais um dia, mal posso esperar... - Brinca e então adormece.
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