1º Capítulo - Férias de Verão


          Essa história é a de uma adolescente delicada como uma flor, mas tímida como pássaros no inverno, Lara Torres. Tudo começou há exatos três anos, no último dia de aula. Aquele foi um ano muito ruim para Lara, só em colocar os pés para fora da escola já lhe dava um alívio enorme. Assim que chegou em casa, rasgou o roteiro de provas em pedacinhos e se jogou na cama onde estava sua mala - que já havia feito com dias de antecedência - e seu gato Miu - ela dera esse nome a ele porque quando o adotou ele só fazia falar "Miu" sem parar - que deu um pulo de susto e saiu correndo, mas ela o pegou e deu muitos beijinhos nele. Ele sempre a fazia feliz e a ajudava a esquecer de seus problemas, que eram muitos, mas ela, na maioria das vezes, decidia simplesmente ignorar ou fingir que eles não existiam.

          - "O que você não dá atenção, não vai para o coração", não é mesmo Miu? - Ela sempre dizia.

          E também, ela estava ocupada de mais sendo ela para se preocupar, mas apesar disso ela passava por uma crise existencial enorme. Achava-se esquisita, gorda, desagradável, - dentre outras coisas que haviam colocado em sua cabeça - Mas ela não era - Lara é uma menina doce, ruiva, alta, branca como a neve e tinha sardinhas nas bochechas coradas, de 16 anos que inexplicavelmente pesava menos do que uma criança de 13 anos - mas, por muitas vezes, se deixava levar pelas opiniões negativas alheias dos outros que só queriam fazer mal a ela. No fundo, ela só queria ir embora. "Recomeçar", se descobrir e esquecer tudo e todos. - Coisa que ninguém conseguia fazer com ela, esquece-la. Ela marcava a vida, de um jeito ou de outro, de quem a conhecesse. Ela faz bem e era só isso que ela queria; fazer o bem e ficar em paz.

          Lara se mudou no primeiro dia de férias de verão para o interior, ela foi morar com os avós por parte de pai numa velha chácara onde tinha várias lembranças de sua infância.

          Assim que chegou, sua mãe parou o carro e chamou por ela, que estava com o fone e não a ouviu.

          - Chegamos Lara. Filha? - Falou ela, sem sucesso, riu e desceu do carro para abrir a porta de trás para Lara, em seguida ela se abaixou e pegou gentilmente a mão da filha.

          - Chegamos, meu amor - disse ela baixinho.

          Elas se despediram com um forte abraço e lagrimas escorrendo pelo canto do rosto de ambas. Elas poderiam ficar sem se ver por um longo período, pois, apesar da casa de seus avós ficar apenas a alguns quilômetros da cidade onde moravam, elas haviam vendido a casa por um preço baixo e sua mãe estava indo morar com a mãe dela - Avó materna da Lara. - num apartamento na Filadélfia por conta da recente morte de seu marido, causada por um acidente de trabalho. - A explosão de um armazém que não pode ser contida chocou a cidade inteira com a morte de inúmeros cidadãos e bombeiros em serviço, incluindo o pai de Lara, o chefe do corpo de bombeiros.

          Bia, mãe de Lara, estava indo para o norte, para dar rumo a sua vida e sair da casa onde ela já não conseguia mais olhar sem sentir o devastador vazio que sentia em seu peito por seu marido. - No início, até estava nos planos de Lara ir com a mãe, mas percebeu que não se sentia pronta para encarar um novo país, uma nova língua e, principalmente, toda a agitação e confusão da cidade. No momento ela precisava de um tempo para ela, só ela, para pensar se distrair e um pouco, ela só queria paz.

          Sua mãe já havia ido. Agora só restava ela, sua velha mala cor-de-rosa que  arrastava numa mão e seu fone de ouvido azul-marinho que carregava na outra. Ela respirou fundo e andou em direção a casa, mas, distraída, esbarrou num menino que corria em direção a um carro cinza que buzinava do outro lado da rua, atrás dela.

          - Perdão, eu sinto muito - Disse ele, ofegante.

          - Não, a culpa foi minha, eu que sou muito distra... - Disse ela, mas parou assim que olhou para ele; que tinha os olhos verdes mais vibrantes e intensos que ela já havia visto na vida. - Oi..

          Ele sorriu para ela e respondeu.

          - Oi, - Parecia que ele ainda iria dizer algo, quando seja lá quem estava no automóvel toca furiosamente a buzina e ele simplesmente corre em direção ao veículo, sem falar mais nada.

          Ela olha para baixo e percebe que ele havia esquecido no chão um caderno com uma guitarra cinza na estampa na capa.

           - Universitário.  - Ela supôs, pelo porte do caderno. - Ei moço! Você esqueceu... - Assim que se vira, percebe que nem ele nem o carro estavam mais lá.

          Ela guarda o caderno dentro de sua mala, para caso alguém viesse a procurar por ele ou, quem sabe, ter a chance de reencontrar o belo jovem apresado dos olhos verdes.

          Enquanto anda, murmura.

          - Nossa Lara, mal chegou e já está passando vergonha... Sempre distraída. - Ela olhou para a mão e viu seu fone. Irada e sem pensar, ela o jogou numa moita e apresou o passo para chegar o mais rápido que pudera à chácara.

          Assim que chegou, mal bateu uma vez e já viu os portões da propriedade se abrindo e as calorosas boas-vindas de seus avós que fizeram-lhe milhares de perguntas, como de costume.

          - Querida! Como foi a viajem? Você está bem? Nossa, mais como você cresceu, parece mais magra... Não está se alimentando direito? Onde vai querer seu quarto? - E eternas outras coisas mais.

         Quando, no entanto, um rapaz um pouco mais alto que ela, forte, moreno e de óculos - Irritantemente semelhante a seu pai - surge pela direita.

          - Uou, uou... - Disse ele. - Deixem a menina respirar, ela acabou de chegar.

          Lara fez uma expressão de dúvida e então sua avó explicou.

         - Larinha, querida, lembra-se do seu primo Marco? Todo o verão vocês brincavam juntos aqui, durante as férias, quando pequenos.

          Ela pensou um pouco, associou o nome a pessoa e então disse.

          - Ah, claro, como me esqueceria do senhor me chamando de "cabelo de fogo" por estes campos.

          Ele riu e respondeu-lhe.

          - É, eu era meio moleque. - Ele faz uma pausa, enquanto olhava para ela, e então continua. - Você está ótima, muito linda mesmo.

          Ela esboçou um sorriso com o canto da boca, mas antes que pudesse responder algo, seus avós tornam a falar.

          - Quer que eu guarde a sua mala? Está com fome querida? Vai precisar de algum lençol especifico?... - Ela achava tudo isso muito fofo, amava muito os dois, mas estava realmente muito cansada e Marco percebeu isso.

          - Gente, calma! - Ele interrompe. - Lara, quarto de cima ou de baixo?

          - Tanto faz, - Ela responde. - o de cima, talvez.

          - Certo. - Diz ele que, logo após, levanta a mala dela com um só gesto e com a sua mão livre segura a mão de Lara e eles saem correndo. - Subindo os degraus da escada como duas crianças indo comprar sorvete em um parque.

          - Amamos vocês! - Falam, na mesma hora.

          - Voltem em menos de 20 minutos, -  Seus avós respondem, lá de baixo. - tem uma fornada quentinha de biscoitos saindo e chocolate quente esperando por vocês lá na cozinha!

          Assim que chegam ao quarto, ele abre a porta para ela e coloca a mala no chão. Ela observa o quarto - As mesmas paredes cor de pêssego que se lembrara. Ainda tinha até as marcas que fizera com uma chave velha e pequenos rabiscos de hidrocor nos cantos. - e em seguida se senta na cama que, velha, guincha.

          - Precisa de mais alguma coisa? - Ele perguntou.

          Ainda tímida, apenas nega com a cabeça. No entanto, quando ele segue em direção à porta, ela esboça.

          - Obrigada.

          - Pela mala? - Marco pergunta. - Ah, não esquenta.

          - Não. Também... - Continuou. - É que você me elogiou lá embaixo, achei muito gentil.

          - Isso? - Disse ele, que riu - Ah, deve ser algo comum para você. Quer dizer, você não parece ser o tipo de pessoa que consegue passar despercebida.

          - Na verdade... - Lara gagueja, fecha os olhos e então retoma - é, claro.

          Ele assentiu com um sorriso canho, no entanto quando se virou para retornar a seu caminho... ela solta, sem pensar.

          - Marco, você está a cara de... - Em uma curta pausa, cerra os olhos da mesma forma que antes e reforma suas palavras mentalmente antes de findar o comentário que fazia. - Tio Felipe.

          Ela não estava pronta para falar o nome do pai. Não sem chorar e, naquele momento, isso era tudo que ela menos desejava que acontecesse. - Por seu pai e seu tio serem gêmeos idênticos, sentiu que não faria muita diferença a quem ela se referisse. - Porém, Marco responde.

          - Meu pai não usa óculos, quem usava era tio... - Lara muda rapidamente o olhar sobre ele, que logo presume que havia dito algo de errado, então faz uma pausa e torna a falar. - É, vovô William... Ele usa óculos, sim.

          Ela expirou aliviada e ele se volta novamente para a porta.

          - Falando no vovô, eu já vou indo. Sou fã de carteirinha do chocolate quente dele, sem falar nos biscoitos da vovó. - Do corredor, completou. - Não demore! Garanto que esses biscoitinhos não vão sobreviver muito tempo no prato.

           Lara riu e respondeu alto.

          - Desço em 15 minutos!

          Não fazia meia hora que ela estava ali, mas já estava se sentindo em casa. - Mais até que na sua própria casa.

          - "Acho que agora tenho um irmão". - Pensou, para si mesma.

          Em seguida Lara sorri, tira as sandálias dos pés e se deita na cama. Ela pega o seu celular e começa a vasculhar a pagina online da sua futura escola. - Ela sai curtindo todos os alunos que pôde para, talvez, causar uma boa primeira impressão.

          - "Vai que eles se lembram disso quando as aulas voltarem em fevereiro". - Brinca.

          Foram tantas fotos que seus dedos começaram a doer, então, ela larga o celular e fecha os olhos. No entanto, segundos depois, seu celular vibra. - Alguém havia lhe mandado mensagem.

          - Ah? - Ela Bocejou. - Não estava esperando mensagem nenhuma.

          Mas assim que pega o celular ela abre a mensagem.

          - Oi, linda. - Leu ela.

          Lara esfrega os olhos e se senta. Pensando em causar uma boa primeira impressão, ela respira fundo e o responde da forma mais simples e simpática que encontrara.

          - Olá pessoa.

          Segundos depois ele responde.

          - Você curtiu minha foto...

          - Ah? - Ela pensa.

          Segundos depois ela lembrara que havia saído curtindo várias pessoas seguidas ainda pouco. Ela olha a foto de perfil dele, para ver se reconhecia dentre as tantas, mas está não dava para ver quase nada. Apenas que era um cara de costas ao lado de numa árvore, ele tinha a pele clara e cabelos pretos em um topete. Seu usuário estava cadastrado como as iniciais "N.W.", deduziu que esse era o nome dele e, também, ela não iria fazer uma pergunta obvia dessas "Então, qual seu nome?".

          - Ele pode muito bem responder "Sua cega, leia ai em cima!" - Pensou, insegura.

          Então só responde.

          - Sim, sim... Como vai você?

          Eles iniciam uma conversa e ele torna a elogia-la. Por mais inexplicável que seja, era diferente conversar com ele. Era como se existisse uma energia diferente ali e, quanto mais eles conversavam, mais ela queria falar com ele. No entanto, Lara não estava colocando muita fé nisso. - Não se pode chegar a uma conclusão dessas com menos de 10 minutos de conversa. - Para ela, aquilo não passaria de menos de um dia e, mais tarde, cada um iria dormir e acordar no dia seguinte sem nem se lembrar da existência um do outro. Era a ideia que ela tinha sobre conhecer pessoas online... Entretanto, mal sabia ela o que o futuro lhe reservara.

          Ela pergunta se ele iria estudar na mesma turma que ela e ele responde com uma mensagem de voz. Lara revira os bolsos de seu short, procurando por seu fone, porém, ao perceber que não estava mais com o mesmo.

          - AH, NÃO!

          Ela sai desesperadamente correndo do quarto até as escadas.

          - Calma Larinha, ainda não devorei todos os biscoitos. - Disse Marco - Pode vim mais devagar.

          Mas ela nem conseguiu prestar atenção na piadinha dele, apenas voou em direção à porta e disse.

          - Eu não demoro!

          Acontece que aquele fone havia sido um presente de aniversário dado pelo seu pai, pouco antes do acidente. Era o último presente que ela havia ganhado dele, a última lembrança, os últimos sorrisos. Ela corre pela rua até chegar à moita, mas ele já não estava mais lá. Alguém o havia pego. Por um segundo ela quis chorar, mas respira fundo e desconta chutando a moita e, irada, grita.

          - DROGA, EU NÃO FAÇO NADA QUE PRESTE MESMO NESSA VIDA!- E voltou resmungando para a chácara.

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