Ela acordou horas depois, estava um pouco tonta, não se lembrava direito oque havia acontecido. Mas sábia que havia ferido - não só fisicamente - Marco, que ela amava muito. Aos poucos fora abrindo os olhos e, curiosamente, ela não vira o seu quarto de costume. - Este tinha um tom de bege, até bonito, por sinal. - Ainda meio grogue, sorri e pensa.

          - Ha! Meu namorado é tão perfeito que mandou pintar o quarto inteiro só para mim. Ele não é um anjo...

          Pouco depois, duas enfermeiras entram no quarto. Lara logo estanhou, pois estas não usavam o mesmo uniforme verde pacato, que ela via normalmente as outra vestindo - Os delas eram brancos, com detalhes em um bege, levemente rosado, na gola e nos bolsos. - Aos poucos o efeito do remédio foi passando e então pergunta.

          - Onde eu estou? - Mas elas não falam uma se quer palavra com Lara - Porque não me respondem? – Questiona.

          Elas continuam sem dizer nada e Lara - Que não era de desistir fácil - insiste.

          - POR QUE NINGUÉM FALA COMIGO? – Exclama.

          Sem sucesso, passa a examinar melhor o local, para tentar obter respostas. - Era bem agradável; Haviam umas flores sobre a mesa, Peônias, mais especificamente e dois sofazinhos que ornavam com o ventilador de teto - Assim que olha para a janela do quarto, vê uma placa pendurada no teto do lado de fora. Havia algo escrito, ela aperta os olhos para tentar enxergar melhor - "5º Andar: Psiquiatria / Cirurgia", era oque dizia - e Imediatamente indaga.

          - Vocês acham que eu sou louca? - Ela, então, começa a rir de forma histérica e pensa - AH! Eles acham que eu sou louca...

          Assim que as moças olham entre si, de forma estranha, Lara percebe ter dito isso, sem querer, em voz alta. Então logo adverte.

          - Eu não sou louca, está bem?

          As enfermeiras apenas se retiram do local e Lara revira os olhos. Entediada, estica a mão para pegar o seu celular, percebendo que uma de suas mãos estava amarrada a cama - por uma espécie de algema de ataduras.

          - Só pode ser brincadeira... - Resmunga - EU NÃO ESTOU LOUCA! - Berra tão alto que as enfermeiras ouvem e riem no corredor.

          Ela passa alguns minutos arquitetando um plano para alcançar o seu telefone e, então, pega uma lixa de unha da Hello Kitty que encontrara. Mas, sem sucesso, acaba a deixando cair no meio do carpete do chão.

          Sobre a mesinha, havia uma escova de cabelos. - Com as cerdas já bastante gastas - Ela chuta a mesa com o pé, a trazendo para mais próximo de si, e então utiliza a escova para tentar pegar o seu celular. Assim que, em fim, consegue fisga-lo, resolve mandar mensagem para Nick Will.

          - Oi, estás ai? - Pergunta.

          - Oi Amor, tudo bem? - Ele responde, não muito depois. - Está melhor?

          Ela até pensou em contar oque tinha ocorrido entre ela e Marco, - Pois já se recordara perfeitamente de tudo - mas não queria causar mais briga.

          - É, até que vai tudo bem sim. - Ela diz - Estou melhorando, mas pelo visto o médico vai me "prender" aqui por mais alguns dias. - Conclui, ironizando o fato de está literalmente preza a cama.

          - Que chato... - Ele responde.

          Ela não queria ficar falando de hospital, então resolve mudar logo o assunto.

          - E você, Chegou bem de viajem?

          Como sempre, amavam passar horas conversando sobre todo e qualquer assunto. Porém, enquanto trocavam mensagens, uma música extremamente animada começa a tocar repentinamente. - Era "Everything is Awesome" de Tegan & Sara - A letra dizia algo como.

"Tudo é incrível

Tudo é legal quando você faz parte de uma equipe
Tudo é incrível, quando estamos vivendo o nosso sonho

Tudo é melhor quando ficarmos juntos
Lado a lado, eu e você, vamos ganhar sempre, vamos festejar para sempre
Somos iguais, eu sou como você, você é como eu, estamos todos trabalhando em harmonia

Tudo é incrível
Tudo é legal quando você faz parte de uma equipe
Tudo é incrível, quando estamos vivendo o nosso sonho

(Wooo)
3, 2, 1, vai.

Você já ouviu a notícia? todo mundo está falando
A vida é boa porque tudo é incrível
Perdi meu emprego, é uma nova oportunidade
Mais tempo livre para a minha comunidade incrível

Eu me sinto mais incrível do que um gambá incrível
Mergulhei o meu corpo em cobertura de chocolate
Três anos depois eu me limpei da cobertura
Pisei na lama, tenho novos sapatos marrons
É incrível ganhar e é incrível a perder (é incrível perder)

Tudo é melhor quando ficarmos juntos
Lado a lado, eu e você, vamos ganhar sempre, vamos festejar para sempre
Somos iguais, eu sou como você, você é como eu, estamos todos trabalhando em harmonia

Tudo é incrível
Tudo é legal quando você faz parte de uma equipe
Tudo é incrível, quando estamos vivendo o nosso sonho

O céu azul, molas saltitantes
Nós apenas nomeamos coisas incríveis
Um prêmio nobel, um pedaço de corda
Você sabe o que é incrível?Tudo!

Cães com pulgas e alergias, um livro de antiguidades gregas
Calças novas, um colete muito antigo
Itens incríveis são os melhores

Árvores, sapos, tamancos
São incríveis!
Rochas, relógios e meias
Sãoincríveis!  
Figos, modelos e galhos
Isso é incrível
Tudo que você vê, ou pensar, ou dizer
É incrível

Tudo é incrível
Tudo é legal quando você faz parte de uma equipe
Tudo é incrível, quando estamos vivendo o nosso sonho"

          Parecia uma espécie de música anti-depressão. - Algo para tentar influenciar a mente deturpada dos pacientes daquela ala para algo mais "positivo", por assim dizer. - Lara havia lido, há não muito tempo, algo a respeito em um artigo sobre "A Influência Psicologia Musical", para um projeto do colégio. - Foi assim que descobrira que queria ser psicóloga, quando crescesse. - Era a única lembrança que ela tinha que não a fazia detestar a escola, quanto ela realmente abominava. Então, apesar da música ser extremamente irritante, ela sorri e fala, ironicamente, para si mesma.

          - Ah, mas essas vão ser duas semanas mais longas da minha vida...

          15 de Janeiro, dia da alta de Lara. Ela pulava de alegria, a cada andar que o elevador descia, enquanto Marco, - Que havia descido com a mala dela, pouco antes, pelas escadas - chamava o táxi. Eles até estavam se falando, - Não como antes, mas é aquela coisa; Ninguém consegue ficar muito tempo afastado da família. - porém, nenhum dos dois havia tocado, nenhuma vez se quer, no assunto da Briga.

          - Vem logo, Lara. - Marco fala ao vê-la saindo pela porta espelhada do hospital, enquanto abaixava os óculos escuros cor-de-rosa que usava - O carro já chegou. - Completa e o motorista buzina, apressado.

          - Não vejo a hora de ir para bem longe daqui. - Responde e Marco abre a porta para ela. - Obrigada, bom moço.

          - Não há de quê, donzela. -Diz, enquanto ela entra, com um leve tom de deboche que Lara ignorara - Não saia daí. - Completa, indo em direção ao porta-malas.

          Lara logo estranha e, não muito depois, ele arrodeia para entrar no veículo.

          - Relaxa, - Brinca - Eu não vou fugir.

          Assim que ele entra, deixa aparentar estar um pouco tenso, - Marco claramente estava esquisito, mais que o normal, ao ver de Lara - ele fecha a porta e, finalmente, pede.

          - Lara, fecha os olhos.

          - Você bebeu? - Ela hesita.

          - Não é bem essa questão... – Retruca.

          Lara aperta os olho - Como quem desejava respostas - e, ao chegar mais perto, consegue sentir o cheiro de Whisky com Coco na gola da blusa dele.

          - Tá, talvez um pouco. – Ele responde – Mas A) Eu sou quase de maior e B) Fecha logo, vai.

          - Tá tudo bem, Marco? – Pergunta, sem querer ter que confiar, novamente, nele. - Quer conversar...

          - Só faz oque eu estou te pedindo Lara, pelo amor de Deus. – Insiste – Antes que eu perca a coragem.

          Ela obedece - ainda deveras desconfiada – e ele, então, pega delicadamente a mão direita dela e coloca algo sobre ela.

          - Pode ver agora. - Ele Fala.

          Ela abre lentamente seus olhos cor de mel, que brilham ao revelar um ursinho de pelúcia laranja, muito adorável, que vestia uma batinha verde de enfermo, igual a que ela usara logo após chegar ao hospital.

          - Que lindo Marco, – Ela diz, com um tom que saiu leve e suave em sua voz - eu amei.

          Seus olhos, lentamente, começam a encher-se de lágrimas e ela o abraça pela cintura. Com a tentativa – Obviamente falha - de que ele não repara-se o choro.

          - Parece com você. - Ele brinca e Lara ri.

          - É, - Diz - eu percebi isso.

          Eles ficaram alguns segundo em silêncio. Aquele tinha tudo para ser o tipo de momento que você simplesmente sente, sem ter que dizer nada, por que tudo já havia sido dito de outras formas. - Mas, nesse caso, algumas coisas precisavam sim, serem ditas e já há muito tempo.

          - Cuide dele como eu pretendo cuidar de você, agora. - Marco torna a falar - Lara, eu sei que não tenho sido o primo que você precisava, muito que eu fosse, nesse momento tão complicado da sua vida. Eu estava pensando, não consigo nem imaginar oque você passou, mudar sua vida toda do dia para a noite, o lance com seu pai... – Ela aperta a lateral da camisa dele, como quem pedia que, por tudo, ele parasse – Enfim, você precisava viver. Se divertir um pouco para esquecer essa dor, sem ter que se preocupar e, acima de tudo, você precisava de alguém para cuidar de você.  Você está certa; eu fui um babaca imbecil que achou que um cara era oque você que precisava para se distrair e quando você se apegou, eu fiquei com muito medo. Não que não confiasse nele, Nickolas é uma pessoa muito do bem, um amigo sensacional. Mas a gente nunca sabe... Tinha e tem grandes chances de não dar certo, eu fiquei com medo de você acabar se magoando e achei que essa era uma dor a mais que você, realmente, não precisava. Eu tentei proteger você, mas não tinha o direito de fazer oque eu fiz. Você, independente de tudo, deve tomar suas próprias escolhas Lara, eu disse isso no dia da festa e continua sendo verdade. Tens que fazer as coisas por você e ir sempre pelo que acredita. Se isso de amor a primeira vista funciona para você, se é ele que você quer... Então vá. Você sabe seus, verdadeiros, limites. Você sabe até onde consegue ir, então só vá em frente, minha prima. Queria dizer, também, que eu vou melhorar. Desculpa por, as vezes, falar as coisas sem pensar. Quando eu soube, naquele no consultório, como você se sentia... Nunca foi a minha intenção, MESMO, – Ele pronunciou, lentamente, cada sílaba – fazer você se sentir assim, nem por um seguindo. Eu te amo, sabe, você é a minha Família, Lara...

          Acaba deixando escapar algumas lágrimas das palavras sinceras que dizia.

          - Eu sei. – Lara interrompe - Marco eu que peço desculpas, eu falei coisas horríveis... Você não é um imbecil, você é um anjo da guarda-guarda e eu te amo, muito mesmo - Ela diz o apertando o mais forte que pudera.

          As Lágrimas de ambos escorriam, se entrelaçando sobre braço de Marco, - Que havia ficado com uma cicatriz, curiosamente em formato de exclamação. - ela se lembraria disso para sempre. Alguns segundos depois, ela conclui.

          - Eu tenho muito orgulho de ser sua prima, muito mesmo. Nunca mais, jamais, de jeito nenhum, não, never ever... SUMA E... Opa, quer dizer... – Ela Brinca – Marco, nem pense em se esquecer disso e eu não quero que você mude quem você é. Você é uma comédia, é o seu charme...

          Ele sorri, envergonhado.

          - Tá certo, mas vou pegar um pouco mais leve, de qualquer forma. – Conclui.

          Pouco depois, pergunta.

          - E então, qual vai ser o nome dele?

          Lara pensa, por alguns instantes e, por fim, anuncia.

          - Marco Torres, conheça o senhor Blueberry. - Ela acena com a patinha do brinquedo para ele.

          - Muito Prazer, senhor Blueberry. – Marco responde, o cumprimentando com um aperto de mãos.

          Eles riam juntos enquanto brincavam e, então, seguem viajem. Lara deita a cabeça sobre o ombro dele. Esse sim, era um daqueles momentos que você só vive e que apenas um olhar já diz uma frase, - Que, apesar de tão pequena, tem um significado maior que o oceano inteiro; do Atlântico ao Pacífico, do Ártico ao Antártico e Índico... - "Eu te amo".