8 - Incógnita

Você está trancada num mundo que foi planejado pra você?
She - Green Day

O mês de janeiro chegava ao fim e a última semana passou mais rápido do que Diana imaginou. Entre poucos novos casos e uma audiência ou outra os dias pareciam voar apesar de serem sempre iguais, e quando ela menos esperava chegou o fim de semana da festa de aniversário de seis anos de seu sobrinho Lucca. Na noite do penúltimo dia do mês ela não conseguiu dormir devido a ansiedade em ver sua família mais uma vez.

Diana não estava em seus melhores dias devido à insônia da noite anterior, então vestiu uma calça jeans e uma das poucas blusas estampadas que tinha, colocou seus saltos para tentar ficar mais apresentável e passou uma maquiagem leve, afinal era só o aniversário de uma criança. Maurício estava arrumado demais para uma festa infantil e seu perfume tomava conta de todo o carro, fazendo sua noiva ignorar o ar condicionado e abrir o vidro para conseguir respirar tranquilamente, mesmo com o mormaço do início de tarde invadindo o automóvel.

Ao estacionarem na vaga de visitante do enorme condomínio com um ar luxuoso demais para os moradores classe-média que ali moravam, Diana prendeu a respiração e já começou a ensaiar seus melhores sorrisos. Maurício cumprimentou o porteiro e sua noiva até se surpreendeu com toda a cortesia do rapaz com o homem da guarita. Os dois seguiram até o salão de festas onde tocava alguma música infantil e ela se admirou com a decoração digna de fotos de revistas.

Haviam poucos convidados espalhados e o tema do Pequeno Príncipe se fazia presente em rosas, raposas e trechos do livro por todo o salão. Lucca estava lindo com a fantasia do personagem de Antoine de Saint-Exupéry e Diana odiava admitir, mas sua irmã tinha muito bom-gosto quando o assunto era as festas de aniversário dos filhos.


– Irmãzinha! Cunhadinho! Finalmente vocês chegaram!


Fernanda falou com um sorriso enquanto caminhava com os braços abertos para cumprimentar a irmã e o cunhado. Ela estava linda como sempre, as luzes loiras em seus cabelos longos e totalmente sedosos emolduravam seu rosto harmonizado e o sorriso branco se destacava ainda mais por conta do batom vermelho, além do vestido longo e florido que acentuava suas curvas. Diana se sentia horrível ao lado da irmã e seu sentimento de inferioridade só aumentou quando chegou na mesa de seus pais.


– Meu Deus Diana, que roupa é essa? – Eliane falou antes mesmo de cumprimentar a filha.

– Eu pensei que fosse uma festa infantil – Diana respondeu ao se sentar ao lado do pai – Mas pelo jeito eu me enganei, não é mesmo? – apontou para o vestido discretamente sofisticado da mãe.

– E que cara é essa? Você está com uma cara de doente! – sua mãe segurou seu rosto entre as mãos e analisou cada detalhe.

– Eu não dormi bem essa noite – Diana confessou.

– Não sei o porquê, você quase não tem preocupações na vida, não tem um filho pra criar, seu trabalho é tranquilo... Olha a Fernanda como está linda e ontem trabalhou até tarde no consultório e depois teve que dar conta de duas crianças.


E mais uma vez sua mãe começou com as comparações entre as filhas. Diana sabia que Fernanda era perfeita, que dava conta dos filhos, do casamento, do trabalho e da aparência enquanto ela não era capaz nem mesmo de manter uma planta viva. Sabia que por mais que se esforçasse, jamais chegaria aos pés da irmã. Lembrou-se de Gael dizendo que a achava melhor que Fernanda e torceu para que ele nunca a conhecesse, pois tinha certeza que o rapaz mudaria de ideia no mesmo instante.

Antes que Eliane pudesse voltar a enumerar todas as qualidades da filha mais velha, Sophie Valentina correu em direção a Diana e a abraçou. Sua sobrinha estava com um vestido curto demais que certamente a atrapalharia para brincar e uma sandália com um saltinho que aparentava ser desconfortável para a menina, mas pelo o que conhecia de Fernanda, a roupa foi escolhida especialmente para a filha sair bem nas fotos em família.

A menina ficou sentada no colo da tia comendo alguns salgadinhos de festa e tomando mais refrigerante do que sua mãe permitia. Sophie era carinhosa e também muito carente, pois quando seu irmão nasceu todas as atenções se voltaram para ele e ela se sentiu deixada de lado. Fernanda dizia que era ciúme bobo, mas Diana vivia isso na pele há trinta anos e temia pelos futuros traumas que isso poderia trazer para a sobrinha.

Sophie só deixou o colo da tia quando sua mãe a repreendeu dizendo que ela já era grande demais para se portar daquela maneira e pediu para a filha ir brincar com seus amiguinhos do condomínio, mas a menina não estava confortável e muito menos com roupas adequadas para poder se divertir feito a criança que era.


– Como você quer que a Sophie brinque se ela mal está aguentando andar nessa sandália e está desconfortável com esse vestido? – Diana falou sem pensar e se arrependeu no momento em que recebeu um olhar fulminante da mãe.

– Fique tranquila, Di, a Sophie Valentina está acostumada a se portar com etiqueta – Fernanda sorriu para a irmã.

– E por isso ela não pode se vestir como uma criança de 8 anos? – Diana a encarou.

– Irmãzinha, quando você tiver os seus você vai me entender. Eu só quero o melhor para os meus filhos e eu sei que no futuro ela vai me agradecer.


Fernanda abriu um sorriso largo e pediu licença para conversar com os demais convidados. Eliane continuava com um olhar duro sobre a filha mais nova e Diana sentiu vontade de sumir, mesmo tendo a certeza de que a irmã não levou aquilo como uma ofensa, apenas esfregou mais uma vez em sua cara que já tinha dois filhos enquanto ela ficava para trás.

A festa não durou muito mais do que quatro horas e acabou antes mesmo do anoitecer, mas estar na companhia de seus pais fazia parecer durar uma eternidade. Eliane falava o tempo todo sobre o bom gosto da filha mais velha na decoração da festa enquanto Armando cobrava a mais nova sobre quando ela lhe daria netos. Por sorte Maurício passou boa parte da festa zanzando pelo salão na companhia de seus cunhados e não teve a oportunidade de contar aos sogros que ele decidiu que o casal não teria filhos.

Diana chamou o noivo inúmeras vezes para ir embora, mas como sempre ele se sentia tão à vontade com a família Andrade que queria ser o último a sair. Negou o convite da irmã para subir até seu apartamento, mas Maurício aceitou. Podia parecer estranho, mas ela nunca havia visitado a casa de Fernanda. Já esteve algumas vezes naquele condomínio durante os aniversários dos sobrinhos, mas nunca teve vontade de passar do salão de festas. Até aquele dia.

O apartamento de Fernanda era muito bem decorado e o tempo todo ela elogiava a mãe de Maurício, pois foi a arquiteta que o planejou. Diana conhecia o trabalho da sogra e não podia negar que ela tinha talento, mas seu apartamento antigo no bairro da Santa Cecília foi comprado praticamente mobiliado e o projeto da mulher se fez presente apenas em seu escritório.

Eliane enalteceu cada canto da casa da filha como se nunca tivesse colocado os pés ali. Elogiou desde o tapete da sala até o arranjo de cravos coloridos sobre o aparador. O ego de Fernanda inflava a cada elogio vindo de seus pais e de Maurício. Diana também teceu um comentário ou outro acerca do bom gosto da irmã apenas para não soar arrogante, mas era visível que ela não estava à vontade naquele lugar.

Diana demorou a convencer seu noivo a deixar o caríssimo cachorro de estimação de sua irmã em paz e ir embora, mas Maurício finalmente deu ouvidos a ela e se despediu. Durante o caminho de volta ele falou inúmeras vezes sobre como a cunhada tinha bom gosto e o quanto a festa foi divertida, fazendo sua noiva questionar-se se eles estavam no mesmo lugar – a verdade é que ele aproveitou muito mais que ela, que ficou apenas ouvindo as reclamações de seus pais.


– Princesa, você está bem? – seu noivo soou preocupado.

– Eu não vou te falar de novo sobre esse apelido, Mau – Diana suspirou – Mas eu estou bem, só cansada mesmo.

– Quando é que você não está cansada, não é mesmo princesa? – ele fez questão de enfatizá-lo.

– Quando eu estou sozinha e sem ninguém me enchendo o saco.


Diana tinha plena consciência de que foi rude, mas ter o seu noivo não respeitando sua vontade – mesmo que em um simples apelido – depois de um dia exaustivo a fez agir com grosseria, fazendo o restante do caminho ser mais silencioso do que o normal. Maurício a deixou em frente ao prédio com cara de poucos amigos e ela respirou aliviada ao entrar em sua casa. Tirar sua roupa não foi tão relaxante quanto tirar sua máscara de "filha feliz" que tentou pintar durante toda a comemoração do aniversário de Lucca.

Após um banho demorado, Diana estourou pipoca no micro-ondas, colocou um filme de terror aleatório – seu gênero favorito – e aproveitou seu fim de noite de domingo deitada em seu sofá antes de iniciar mais uma semana de rotina, escritório, coques firmes, maquiagens, saltos, terninhos e enxaquecas. O mês de fevereiro ainda nem havia iniciado e ela já torcia pelo seu fim, assim como fazia todos os meses do ano.

Não tão longe dali Gael atendia as mesas do bar com seu bom humor rotineiro, mesmo estando exausto. Aquela semana não foi das melhores, Bento contraiu uma virose forte e precisou ficar afastado por uns dias, fazendo seu amigo trabalhar dobrado. Normalmente o rapaz trabalhava no estúdio de tatuagem de segunda a sábado e no bar de quarta a domingo, mas devido ao afastamento do proprietário precisou trabalhar os sete dias da semana.

Quando terminou a limpeza diária junto dos demais funcionários, Gael finalmente seguiu para sua casa. O banho antes de deitar era a melhor parte do seu dia e esticar-se na cama de casal era a segunda melhor parte. Quando ele finalmente aconchegou-se no colchão macio, pegou o celular e entrou em suas redes sociais. O perfil de Diana apareceu como sugestão de amizade e como curioso que era, ele clicou.

A foto do perfil certamente era mais bonita que a do WhatsApp, pois nessa ela dava um sorriso aberto. Não havia muita coisa para se ver ali, apenas algumas fotos de viagens, uma ou outra da moça ao lado de Maurício e pouquíssimas fotos de rosto. Na linha do tempo poucos compartilhamentos se faziam presentes e ele deduziu que ela não costumava usar muito o Facebook. Mas já que estava ali, enviou a solicitação de amizade.

Ainda no perfil da advogada, foi até a página de Maurício. Ele definitivamente fazia mais publicações do que ela, todas sobre Direito, política e sobre meritocracia – o que Gael definitivamente não concordava. As fotos do homem eram praticamente iguais e ele teve a certeza de que os dois combinavam, pois ele exalava sobriedade e elegância mesmo através das imagens.

Entediado, decidiu procurá-la no Instagram apenas por curiosidade. Gael sequer pensava em Diana desde o dia em que levou o lanche até sua casa e a viu de baby-doll, mas se interessou em ver suas fotos assim como fazia quando encontrava algum antigo colega de escola ou os amigos de bairro dos tempos de adolescência. Não foi difícil encontrá-la, mas seu perfil era fechado apenas para seguidores. Sem medo de parecer um stalker, ele a enviou mais uma solicitação.

Diana ainda era uma incógnita para o rapaz. Por mais que ela afirmasse que era exatamente daquela forma polida e quase robótica, Gael acreditava que havia muito mais por trás da advogada totalmente séria e reservada. Era como se ela tivesse medo de ser quem era. Ao se dar conta que estava se preocupando demais com a vida de uma desconhecida às quatro da manhã e que acordaria dali algumas horas, decidiu colocar um fim em suas suposições e finalmente dormir.

Olá meus amores! Como estão?

Nossa, como esse capítulo me cansa! A família da Diana é exaustiva demais, não aguento esses Andrades, cada capítulo que eles aparecem, podem ter certeza que foi difícil de escrever kk

Espero que tenham gostado, apesar do capítulo fraquinho.
Nos vemos em breve!

Beijinhos 

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