00 | prólogo

 


  O trabalho de um policial já não era fácil ou até mesmo bem visto pela sociedade pelo fato de possuírem métodos um tanto tóxicos de manterem o povo na linha. Quando se é das Forças Armadas a situação tende a piorar. O povo tem medo de você, tem receio até de olhar para você e acabar sendo levado para a prisão pelos cabelos por simplesmente o encararem por muito tempo.

    O ápice do insuportável é ter que conviver com Ethan e seu temperamento assustadoramente sério para um homem de apenas vinte e quatro anos de idade. Membro das Forças Armadas e Vigilante da Fronteira de Westwood, Ethan tem problemas de estresse e isso já é de conhecimento de todos. Apesar disso ele tem um bom coração. Ele só faz questão de esconder esse seu lado carinhoso num lugar de pouquíssimo acesso. E quando digo "pouquíssimo" eu quero dizer pouquíssimo mesmo.

    Aquele parecia ser mais um dia comum de trabalho na fronteira. Nenhum som vinha da Floresta que fosse anormal ou qualquer outra coisa suspeita. Silêncio, silêncio, silêncio; o duro e gélido som do Vazio. Ethan tombou a cabeça levemente para o lado, os olhos verdes e afiados observavam a copa das árvores chacoalharem.

    — Tem algo muito errado aqui.
Realmente tinha.

    Ethan largou a espada que lustrava sobre a mesa e se levantou, colocou o arco nas costas e pegou algumas de suas flechas. Ele desceu da torre de vigilância em passos apressados até chegar ao solo. Caminhou silenciosamente entre as árvores, as orelhas pontudas estavam sensíveis aos sons que surgiam em meio àquele silêncio pertubador da Floresta.

    Alguém se aproximava em passos arrastados e extremamente lentos. Provavelmente calculados, pensou Ethan. O elfo se preparou, tomou uma das flechas e a posicionou em seu arco, mirando a ponta para o meio certo entre duas árvores. Aquilo pegaria direto no invasor.

    Ethan começou a contar.

    — Um. — Outro passo. — Dois. — Mais outro. — Três... — Algo começava a surgir, um sorriso de satisfação surgiu em seu rosto ao ver que estava certo. De novo. — Te peguei.

    Soltou os dedos.

    A flecha branca escapou de sua mão, um som de carne sendo atingida foi ouvido junto à um grunhido de dor.

    Ethan não precisava ver seu alvo para se dar conta de que atingiu uma área perigosa e sensível de seu corpo, mas ele definitivamente não fazia ideia de que seu alvo era uma elfa. E não uma elfa da floresta como ele era.

    Ethan se aproximou do corpo caído no chão e acompanhou todo o rastro de sangue que surgia dele. Não... Definitivamente ela não era como ele. O corpo parecia comum, as orelhas iguais as dele, os cabelos compridos e escuros como muitos — se não, a maioria de seu reino — possuía. Mas... Havia algo nela que o fez, pela primeira vez, ficar estagnado no lugar sem mesmo piscar, de tanto assombro e surpresa.

    Asas.

    Ela tinha asas.

    A maior parte delas eram revestidas por penas cinzas e compridas. Mas a parte de baixo estava queimada e torcida. Era um ferimento horroroso, um simples acidente não seria capaz de detoná-la daquela forma.

    O sangue continuava a escorrer e o coração a bater, fraco, mas batia. Ethan olhou a elfa por mais um momento antes de fechar os olhos com força. O que faria? Em qualquer outro dia, com qualquer outro "visitante" ele estaria encarregado à conduzí-los a dois caminhos:

    Um: Entrada Sul. Ethan abriria a passagem e permitiria que os reais visitantes cruzassem a fronteira e entrassem na Entrada Sul, e dali por diante terem acesso livre a todos os cantos de Westwood.

    Ou, dois: Pesadelo. Ethan as conduziria até a Delegacia onde teriam que se apresentar ao Delegado e dizer por quais razões estavam ali. Mas essa segunda opção geralmente acontecia quando possuíam uma atitude suspeita ou tentavam entrar no território dos elfos sem permissão.

    Ethan abriu os olhos e enfim tomou uma decisão, desejando internamente não se arrepender depois.

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