Capítulo 08

Eu sou uma pessoa boa ou uma pessoa má?

Vivendo em um mundo onde nada é eterno.

♡ People - Agust D


  Felipe vagava pelas ruas de Seaboard. Uma hora estava dando uma volta sem rumo e na outra estacionava na porta da casa de Han­nah McCleary.

  Não sabia os motivos de ter ido parar inconscientemente ali, mas, com certeza, nada tinha a ver com a sensação dos lábios macios dela que ainda estava bem vívida em sua mente ou com a preocupa­ção que surgiu por não ter tido notícias dela durante aquela semana. Ele só estava passando casualmente por aquela rua de uma cidade na qual não morava e resolveu parar para tomar um copo de água por­que uma de suas políticas era se manter bem hidratado.

  Felipe tocou a campainha e a porta foi aberta prontamente. Ele engoliu em seco ao finalmente encarar aquela a quem negava estar constantemente em seus pensamentos.

  — Felipe, o que faz aqui? — perguntou ela curiosa.

  Fazia uma semana que Hannah não pisava nem na rua. Desde a noite que ficou bêbada, seu irmão a colocou de castigo, ou seja, nada de saídas pelo restante do mês. Na verdade, Hannah sabia que se re­almente quisesse sair, Samuel deixaria aquela história de castigo de lado, mas a antiga modelo não se importava com aquilo. Sendo bem sincera, Hannah gostava daquela calmaria e passava a maior parte do tempo intercalando entre pijamas e suas roupas de flanela, assistindo séries ou acelerando algum dos seus trabalhos de marketing. Além disso, ainda podia aproveitar a companhia do irmão.

  Tamanha foi a sua surpresa ao ver Felipe Parker em sua porta em plena dez horas da manhã. De todas as pessoas que ela imaginava paradas em sua frente naquele momento, ele nem mesmo era a última da lista.

  — Estava de passagem — falou Felipe dando de ombros. — O casal do ano quer saber se você não quer participar de um almoço de casais.

  — Ela não vai a lugar nenhum — a voz de Samuel ecoou da sala antes mesmo que Hannah abrisse a boca para responder.

  — Entra — disse puxando Felipe para dentro. — Vou só tran­quilizar ele e nós vamos— murmurou.

  Samuel estava esparramado no sofá mudando preguiçosamente os canais da televisão. Hulk, o pequeno Beagle, estava deitado no chão próximo ao dono. O cachorro olhou preguiçosamente para o vi­sitante e voltou a se acomodar no tapete macio, como se não valesse a pena deixar o seu cochilo de lado para cumprimentar uma mera visi­ta.

  Felipe adentrou a sala logo atrás de Hannah e automaticamente reconheceu o homem de cabelos negros com discretas mechas verde menta como o cara da foto que havia visto no mural da sala e como o provável dono da jaqueta, que ainda não tinha devolvido.

  — Samuel — choramingou Hannah e se jogou sobre o corpo do irmão. — Por favor, é só um almoço com os meus amigos.

  — Eu já disse que não — ditou o mais velho sério e a empurrou para o lado.

  Samuel lembrava diariamente o quão mal física e psicologica­mente Hannah havia ficado naquela noite e todos aqueles efeitos ne­gativos na saúde de sua irmã, ele associava a uma única pessoa, Ma­teus Terry. Por isso, queria deixá-la o mais longe possível do antigo modelo.

  Hannah sabia que tudo aquilo que Samuel fazia era uma tenta­tiva desesperada de protegê-la, por isso optava por não bater de fren­te com ele e simplesmente ficava em casa para tranquilizá-lo. Seu ir­mão podia parecer durão e mal-humorado para muitos, mas, quem o conhecia de verdade, sabia que Samuel era uma manteiga derretida e um poço de preocupação e ternura com aqueles que amava.

  — Prometo me comportar. Não vou mais beber uma gota de ál­cool sem que você saiba e vou atender a todas as suas ligações — ar­gumentou sentada no chão. Ela deitou a cabeça sobre a barriga do irmão de forma que pudesse encará-lo. — Também prometo não fazer nada inconsequente. — Samuel suspirou e se sentou. Hannah apoiou o queixo em sua coxa.

  O mais velho desejava desesperadamente protegê-la. Entretan­to, ele sabia que não poderia se intrometer em toda aquela história, não antes que Hannah pedisse seu auxílio. Aquela era a vida dela, eram as escolhas dela e o que Samuel podia fazer no momento era permanecer ao lado da irmã a apoiando e aconselhando.

  — Você tem que me prometer que vai me ligar se qualquer coi­sa acontecer — disse acariciando os cabelos da irmã. — Não se afaste de mim, Hannah. — Os olhos dele nublaram. — Você não precisa li­dar com o peso do mundo sozinha, pode contar comigo quando as coisas ficarem difíceis. — Hannah assentiu comovida. — Lembre que pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, irmãzinha.

  Ela segurou a mão do irmão e inclinou a lateral de sua face em direção à palma dele. Sentia-se tão sortuda por tê-lo, que se pergunta­va o porquê de não ter percebido antes que Samuel sempre tentaria lhe entender e, que mesmo tendo opiniões diferentes das suas, ele lhe apoiaria e estaria disposto a travar as piores batalhas ao seu lado.

  — Obrigada por estar aqui, Sam. — Hannah beijou demorada­mente a bochecha de Samuel e se levantou. — E obrigada por abolir o castigo — brincou sorrindo matreira.

  — Essa é só uma folga, peste — retrucou sorrindo pequeno.

  — Espera, espera. — Felipe, que até o momento observava tudo em silêncio, se intrometeu ganhando a atenção de ambos os McCle­ary. — Você sumiu esses dias porque estava de castigo? — perguntou incrédulo. — Como neste mundo uma mulher de vinte e seis anos fica de castigo? — Ele estava se segurando para não rir.

  — Uma que tem um irmão como o meu — disse Hannah com um sorriso carinhoso.

  — Sou Samuel, o irmão mais velho da Hannah — se apresen­tou. — Você deve ser o Felipe. — O visitante assentiu.

  Hannah havia falado sobre Felipe para o irmão. Claro que omi­tiu a parte em que estava participando de um plano mirabolante de namoro falso com ele, mas contou sobre o outro ser um de seus ami­gos de infância e que vez ou outra saía com ele, Summer e Mateus.

  — Eu vou só tomar um banho e falar com o... — Ela foi inter­rompida pelo toque estridente do celular de Samuel.

  Quem no mundo que conhecia Samuel ligaria àquela hora cor­rendo o risco de acordá-lo e ele xingar e amaldiçoar até a sua vigési­ma geração? Ele não era uma pessoa muito matutina, principalmente por passar noites em claro terminando de compor alguma música ou produzir alguma melodia. Então, quem o conhecia sabia que só deve­ria ligar a partir do meio-dia até, no máximo, uma e meia da manhã, já que era provável que Samuel estaria acordado e enfurnado no estú­dio trabalhando até não aguentar mais.

  — Alô — disse Samuel sem ânimo. — Como assim seu irmão chegou, pirralho? — perguntou alterado. Hannah arregalou os olhos. — Ele disse que só chegaria daqui a três dias. Merda! — Samuel ba­gunçou os cabelos. — Não, não é uma boa surpresa quando sei que ele vai me matar quando ver a casa! — disse nervoso. — Pirralho, ten­ta segurar ele aí por um tempo. Não sei, inventa uma dor de barriga — encerrou a chamada praguejando.

  Os McCleary sabiam que Justin nem tentaria atrasar o irmão. Primeiro porque ele queria saber o que eles haviam feito que poderia deixar Rafael irado e, como o bom caçula agregado à família, ele as­sistiria ao esporro que Hannah e Samuel receberiam do ruivo com um balde de pipoca em mão. Segundo, caso tentasse segurar Rafael no aeroporto, o mais velho perceberia imediatamente que algo estava er­rado e então Justin seria adicionado à lista dos encrencados por tentar encobrir os outros dois.

  — Estamos ferrados — declarou Samuel encarando a irmã.

  Em dois segundos, eles começaram a juntar as roupas limpas espalhadas pelo sofá e a levar os pratos para a pia da cozinha em uma velocidade formidável e olha que os dois eram sedentários até a últi­ma fibra de seus seres.

  — O que foi? — perguntou Felipe seguindo Hannah.

  — O outro dono da casa viajou há mais ou menos um mês devi­do ao trabalho — disse ela dobrando as roupas limpas rapidamente. — E, como um bom maníaco da limpeza e da organização, antes de ir ele deixou uma extensa lista de afazeres que deveria ser seguida estri­tamente.

  — Hannah! — chamou Samuel sem fôlego correndo como um maratonista olímpico da sala para o corredor. — O estúdio! — Ela ar­regalou os olhos e correu.

  O estúdio de Samuel ocupava apenas metade de um cômodo bem amplo, então ele e Rafael concordaram em isolar o espaço vago para usá-lo como uma pequena sala para ensaios e, antes de viajar, o coreógrafo deixou a responsabilidade de começar a organizar o local nas mãos dos irmãos McCleary, que haviam garantido que ele pode­ria viajar tranquilo que eles cuidariam de tudo. Mas, como de praxe, eles esqueceram.

  — E agora? — Felipe correu atrás dela.

  — Digamos que ele também nos deixou a missão de montar um estúdio de dança improvisado.


  Felipe desceu os degraus a passos pesados. Havia carregado uma mesa de madeira do andar de cima para o bendito cômodo arru­mado às pressas, era nessas horas que ele agradecia por suas horas de investimento e de sofrimento na academia.

  — Onde vamos almoçar? — perguntou Hannah. Felipe parou ao lado da moto a encarando confuso. — Você disse que o Mateus e a Summer estavam nos chamando para almoçar. — Ele quis se estapear por ter esquecido daquilo.

  — Na casa do Mateus — improvisou sorrindo.

  A antiga modelo o encarou desconfiada. Na infância, havia vis­to vezes demais aquele sorriso pequeno dele e sabia que aquilo signi­ficava que Felipe estava aprontado alguma coisa e estava buscando rotas de fuga. Mesmo assim, Hannah deixou o pensamento de lado, pois acreditava que não o conhecia tão bem como quando eram pe­quenos.

  Enquanto Hannah colocava o capacete e mentalizava que estava pronta para encarar novamente aquela moto, Felipe pegou o celular discretamente e mandou uma mensagem para Mateus.

  "Estou indo almoçar aí com a Hannah", enviou rezando para toda e qualquer divindade que fizesse Mateus, uma vez na vida, lhe responder rápido.

  Felipe não tinha tempo para rodeios. Hannah estava terminan­do de arrumar seus lindos e encantadores cabelos castanhos no capa­cete.

  "Minha casa não é restaurante", a resposta do melhor amigo chegou rapidamente.

  "Não seja mal, Mateus. Pense nisso como um adorável tempo com os seus amados amigos!", enviou no momento em que Hannah o encarou.

  — Vamos?

  — Hum, vou só terminar de responder a minha mãe.

  — Está tudo bem com a Tia Liana? —perguntou preocupada, o que fez Felipe sentir uma pontinha de culpa por mentir.

  — Está, ela só... — ele foi interrompido pelo toque do celular dela.

  Hannah pegou apressadamente o aparelho e sorriu de orelha a orelha ao confirmar quem estava ligando.

  — Vou atender rapidinho — disse se afastando sem esperar por uma resposta de Felipe.

  Felipe a encarou curioso, mas voltou sua atenção para o aplica­tivo de mensagens. Mateus estava digitando e muito provavelmente retrucaria. Ele conhecia o amigo bem o suficiente para saber que Ma­teus não daria o braço a torcer facilmente. Mas conhecia as suas fra­quezas.

  "É uma pena que você não queira a nossa ilustre companhia. Pensei que gostaria, já que Hannah saiu do castigo domiciliar, mas vejo que me en­ganei. Que pena, então vou levá-la para almoçar em um restaurante ótimo que conheço", Felipe enviou junto a várias carinhas sorrindo de lado.

  Mateus deveria estar lhe chamando de nomes nada bonitos, pois o melhor amigo lançou uma armadilha da qual ele não poderia escapar.

  "Vou chamar a Summer", foi a última coisa que Mateus respon­deu.


  Após o almoço, os jovens adultos decidiram fazer da sala um ci­nema particular e aproveitarem para maratonarem Harry Potter e dis­cutirem sobre qual das quatro casas era a melhor, sendo Mateus de­fensor ferrenho da Sonserina, Summer da Lufa-Lufa e Hannah da Grifinória. Felipe, que se descobriu um Grifinório após os outros três insistirem para que ele fizesse o teste oficial, acabou entrando na dis­cussão apenas para provocar o melhor amigo.

  Mateus se sentou no sofá de três lugares rodeado de cobertores e preparou o primeiro filme da saga que assistiriam. Summer se aco­modou entre os braços do namorado, enquanto Felipe se esparrama­va na grande poltrona da sala e procurava algo interessante no celu­lar. Felipe perdia rapidamente o interesse em qualquer que fosse o fil­me e das duas uma, ou dormia ou ficava mexendo no celular e assis­tindo uma cena ou outra.

  Hannah adentrou o cômodo com dois baldes de pipoca, sendo um doce e outro salgado. Entregou o salgado para o casal e ficou com o doce, que estava estrategicamente no balde que tinha desenhos de dinossauros.

  A antiga modelo cogitou se sentar no sofá com Mateus e Sum­mer, mas desistiu imediatamente ao vê-los trocando carinhos e tran­cafiados no próprio mundinho. Agradecia a oportunidade que o Uni­verso havia lhe dado, mas não queria servir de vela pra ninguém. En­tão, o olhar dela encontrou com o de Felipe e ela foi até ele.

  O mais velho entendeu as intenções dela e se ajeitou no estofa­do. A mulher parou em sua frente e avaliou a melhor forma de se aco­modar, mas Felipe foi mais rápido em sua conclusão e a puxou pelo pulso. Hannah se sentou de lado de forma que suas nádegas fi­cassem sobre o estofado mas suas coxas sobre as dele e a sua cabeça apoiada no peito dele.

  Hannah sentiu um calor subir pelo seu pescoço e se fixar em suas bochechas. Felipe por outro lado parecia muito à vontade a en­volvendo com seus braços enquanto mexia no celular com uma mão e acariciava os cabelos dela com a outra.

  Summer os observava atentamente. Ela estava feliz ao pensar que aquele casal havia se acertado após alguma briga que deixou o relacionamento em crise. Já Mateus encarava curioso aquela intimida­de entre os amigos.

  Completamente alheios à plateia que os encarava, Felipe largou o celular e se concentrou no calor agradável que o corpo colado ao seu transmitia.

  — Vou dormir — disse Hannah sonolenta.

  — Sem problemas. Quando for a hora de ir embora, eu te acor­do. — Ela assentiu hesitante.

  Hannah adormeceu antes mesmo de o filme começar. Sentia-se sonolenta devido aos remédios que havia voltado a tomar, isso após Jackson descobrir a crise que teve e ela admitir que tinha largado a medicação. Mesmo do outro lado do mundo, Jackson havia lhe dado um sermão digno de ser arquivado como patrimônio da humanidade.

  Felipe tentou lutar contra o sono, mas também adormeceu.

  Na metade do filme, Mateus encarou os amigos e sorriu frater­no vendo eles dormirem confortavelmente na poltrona. Ele lembrava de que quando eram pequenos, Hannah e Felipe brincavam e briga­vam na mesma intensidade e, quando eram vencidos pelo cansaço, dormiam no primeiro lugar confortável que achassem como filhoti­nhos embolados um no outro.

  O filme acabou e Mateus era o único que realmente havia o as­sistido. A namorada ressonava baixinho deitada sobre o seu peito. Ele sorriu e beijou a testa dela. Depois, se levantou com o máximo de cui­dado para não acordá-la, desligou a televisão e foi a passos silencio­sos até os amigos adormecidos.

  — Felipe — murmurou o balançando pelo ombro. — Felipe — chamou mais alto e o outro abriu os olhos desnorteado.

  — O que foi? — Sua voz estava rouca de sono e um bocejo esca­pou logo em seguida.

  — Pode ir se deitar no quarto de hóspedes, se quiser — disse sorrindo terno e o amigo assentiu se espreguiçando.

  Felipe sentiu Hannah se mexer em seu colo. Ela se agarrou mais a seu corpo murmurando algo indecifrável. Ele riu e tirou uma mecha de cabelo que teimava em cair no rosto dela.

  — Vou levá-la para o meu quarto — falou Mateus pronto para pegá-la, mas Felipe puxou o corpo dela para si.

  O antigo modelo encarou o amigo com as sobrancelhas ergui­das. Felipe ainda sorria olhando a face serena de Hannah e, quando encarou os olhos indagadores do amigo, se sentiu saindo de um tran­se.

  — Eu deixo ela lá — disse se levantando com Hannah em seus braços. — Pode ficar com a Summer. — Meneou com a cabeça em di­reção à loira que começava a despertar.

  Apesar de estar desconfiado e preocupado, Mateus não insistiu e voltou para a namorada.

  Felipe foi até o quarto de hóspedes e colocou Hannah na cama. Ela ainda segurava seu pescoço e, quando ele tentou se afastar, ela se agarrou mais, o que o desequilibrou fazendo com que caísse deitado de lado na cama. Hannah se aconchegou em seu peito e ele a encarou atentamente.

  Poderia acordá-la ou se desvencilhar, mas não queria. Dizia para si mesmo que acordá-la vendo-a dormir de forma pacífica seria quase um pecado. Então, se acomodou melhor na cama e ficou escu­tando a respiração calma de Hannah. Antes que percebesse, havia partido mais uma vez para o mundo dos sonhos.


  A antiga modelo se espreguiçava. Ela se sobressaltou quando seu corpo foi puxado por braços fortes, mas relaxou um pouco ao ver que era Felipe. Hannah encarou as feições serenas dele e sorriu cari­nhosa. Sabia que o mais velho era bonito e cativante, a lista de mulhe­res que viviam aos suspiros quando o viam estava ali para provar isso, mas nos últimos dias ele havia a intrigado e Hannah se via bem ciente da presença dele onde quer que estivesse.

  Afastou alguns fios de cabelo cinza que caíam sobre a testa dele. Ela acreditava que caso ele voltasse com a cor natural de seus cabelos, os universitários começariam a fazer seus trabalhos de conclusão de curso sobre a beleza inumana de Felipe Parker.

  — Você deveria parecer um anjo dormindo — murmurou Han­nah. — Muito bonito, mas seu olhar não tem nada de inocente. — Ela cutucou a bochecha dele.

  Se a pequena Hannah McCleary visse aquela Hannah, teria um ataque. Nunca havia se imaginado deitada em uma cama entre os braços de seu fajuto nêmesis de infância, enquanto divagava sobre a beleza quase angelical dele. Ela também não podia imaginar que Feli­pe estava muito bem acordado desde o momento em que a puxou para mais perto.

  Alguém bateu à porta e Summer adentrou o cômodo, mas pa­rou abruptamente ao ver Hannah deitada com a mão no rosto de Feli­pe e ele envolvendo a cintura dela. A loira acreditava piamente que eles eram um casal e torcia para que continuassem como um.

  — Desculpa atrapalhar — disse com um sorriso radiante.

  A antiga modelo estava vermelha até os ombros. Felipe havia aberto os olhos segundos antes de Summer entrar no quarto e ela não conseguia lidar muito bem com homens bonitos demais a encarando fixamente. Então, escondeu o rosto no peito de Felipe, que gargalhou alto com sua reação tímida.

  — O que houve, Summer? — perguntou Felipe. Ele se virou para se deitar com as costas no colchão e puxou o corpo da mulher que abraçava para se deitar sobre o seu.

  Hannah acreditava que poderiam colocá-la no meio da planta­ção de tomates de Lídia West, a adorável mãe de Jackson, e não sabe­riam distinguir quem era a humana e quem era o fruto.

  — Mateus e eu estávamos pensando em irmos até Petersburg para um dos festivais de verão — disse Summer sorrindo animada. — O que acham?

  — Uma ótima ideia — respondeu o mais velho. — Tenho um primo que está passando uma temporada lá, então podemos passar à noite caso ninguém tenha compromisso antes do meio-dia de ama­nhã. — Apertou a coxa de Hannah. — O que acha, gatinha? — Ela as­sentiu envergonhada. — Então, está combinado.

  — Vou avisar o Mateus. — Summer saiu sorridente do cômodo.

  A respiração quente de Hannah se chocava contra o pescoço de Felipe, fazendo pequenos arrepios se espalharem por seu corpo. A mão dele que estava na cintura de Hannah foi dedilhar as costas dela sob a blusa frouxa, enquanto a outra acariciava sua coxa.

  — Pensei que você estivesse acostumada à nossa proximidade — sussurrou. — Você pareceu lidar muito bem com isso no parque de diversões — provocou mordendo o lóbulo da orelha dela.

  Hannah choramingou. Aquilo era malditamente constrangedor. Felipe riu e decidiu que por ora não a provocaria mais.

  — Vem cá, gatinha. — Ele a acomodou melhor sobre suas coxas. — Você parece um anjo tanto dormindo como acordada — murmu­rou a encarando nos olhos.

  Hannah engoliu em seco ao não conseguir decifrar o que se pas­sava por aqueles olhos azuis como o céu noturno. Mas de uma coisa tinha certeza, Felipe Parker estava bagunçando os seus sentimentos, que já eram um caos por si só.

  — Como foi em Boston? — perguntou buscando um tópico se­guro.

  — Como da primeira vez, acho. — Ele deu de ombros desvian­do o olhar.

  Os pais de Felipe eram divorciados desde que ele tinha oito anos. A mãe dele, Liana DeLuca, e ele haviam se mudado para Gum­berry no ano seguinte ao divórcio. Todavia, quando estava acostuma­do à nova rotina, a cidade e aos novos amigos, seu pai foi até o tribu­nal e conseguiu sua guarda. Damian Parker o arrastou de volta para Boston para viver com a família que estava construindo ao lado de uma "amiga" de Liana e nem ao menos se importou com a opinião ou os sentimentos do filho. Ele só queria fingir ter uma família perfeita ao lado da nova esposa.

  Felipe morou com o pai até alcançar a maioridade e conseguir voltar para Gumberry. Quando voltou, se estabeleceu em Richmond e começou a trabalhar como administrador para uma empresa de ven­das. Contudo, teve que voltar para Boston quando a empresa o trans­feriu.

  — Não foi bom — concluiu Hannah. Ela começou a acariciar os cabelos dele e teve um deslumbre de um sentimento que nunca ima­ginou ver estampado naqueles olhos, mágoa.

  — Ainda é complicado pra mim — confessou com um sorriso triste. — Não sei nem se um dia vai ser fácil lidar com ele.

  — Sempre é complicado lidar com a decepção e com o abando­no. — Ela sorriu fracamente. — Principalmente vindos de quem você ama e admira.

  — O que vocês estão fazendo? — a voz de Mateus reverberou pelo cômodo. A antiga modelo se assustou e se desequilibrou indo di­reto ao chão.

  Timing ótimo, amigo, Felipe pensou suspirando pesarosamente. Há anos, seu melhor amigo parecia ter um dom para aparecer nos momentos mais inoportunos para si.

  — Nada — respondeu Hannah se levantando.

  — Mesmo? — perguntou o recém-chegado desconfiado.

  Mateus cruzou os braços e arqueou a sobrancelha enquanto olhava desconfiado de um amigo para o outro. Hannah riu ao se lem­brar que desde que eram crianças, o antigo modelo odiava ser o último a saber de alguma coisa que envolvia os melhores amigos.

  — Óbvio, Mateus — disse ela indo em direção à porta. — Vou pra casa falar com o Samuel sobre nosso passeio em Petersburg. — Devido ao costume, depositou um leve selar na bochecha de Mateus e saiu do quarto acenando para Felipe.

  — Olha, Felipe, eu realmente não tenho o menor direito de me intrometer na sua vida amorosa e, muito menos, na da Nana — falou Mateus encarando seriamente o outro. — Mas quero que você enten­da uma coisa, a Hannah não é mais uma das suas e nem vai ser. — Felipe o encarou curioso. — E, você sendo sério ou não quanto a ela, se você machucá-la, eu acabo com você — ditou ameaçador.

  Desde que eram adolescentes, Mateus sempre deixava claro para qualquer um de seus amigos e conhecidos, que se machucassem Hannah, teriam que se ver consigo e, quando se tornou Mateus La­fonter, as consequências para quem a ferisse haviam se tornado mais sérias.

  — Não se preocupe. — Felipe sorriu arteiro quando Mateus saiu do cômodo. — Ela não vai ser só mais uma, isso eu posso garan­tir.

Olá, docinhos!

O que acharam do irmão coruja Samuel L. McCleary? 

Acham que o Felipe está começando a se apaixonar?

Espero que estejam gostando e que continuem acompanhando

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