Capítulo 05

Eu tento ser feliz, mas às vezes é difícil.

Minha cabeça está em algum lugar longe de todos.

♡ Hard Sometimes – Ruel


  Hannah milagrosamente estava se arrumando para sair em ple­na noite de sexta-feira. À tarde, concluiu mais um de seus trabalhos ao entregar o lindo site da floricultura de um dos seus clientes e se sentiu nas nuvens por ele ter amado o resultado. Depois disso, rece­beu uma ligação de Mateus a chamando para sair com ele e a namo­rada para celebrarem a mudança de Felipe para Seaboard. Mesmo re­lutante, aceitou o convite.

  Estava ansiosa para ver o antigo amigo de infância e para fazer um programa que não fazia há muitos anos, ir à balada. Todavia, também estava apreensiva. Fazia anos que não frequentava lugares tão lotados e sua ansiedade estava querendo atacar. Mas Hannah fa­zia questão de reprimi-la, mesmo sabendo que isso seria ruim e só fa­ria tudo acumular e explodir quando menos esperasse.

  Ela olhou mais uma vez o reflexo no espelho e sorriu. Não era mais aquela mulher que usava maquiagem para cobrir cada uma das marquinhas de expressão ou de espinhas como se devesse ter vergo­nha delas, também não usava mais as roupas extravagantes e nem ti­nha mais cada um de seus gestos calculados. Naquela noite, ela era apenas uma mulher de vinte e seis anos arrumada para sair com os amigos e que podia gargalhar ou falar alto sem se importar se no dia seguinte suas fotos estariam em algum tabloide.

  Quando Hannah desfilava, estar perfeita não era uma opção, era sua obrigação. Roupas caras, cabelo bem-arrumado, unhas e so­brancelhas feitas e uma maquiagem "natural", eram o mínimo que deveria aparentar ao ser flagrada pelas câmeras independentemente da situação. Ir para a padaria com roupas de ficar em casa, um coque e chinelo? Jamais!

  Mesmo que se esforçasse ao máximo, ela sentia que nunca era boa o suficiente. Parecia que sempre estava faltando algo em si, algu­mas pessoas faziam questão de lembrá-la disso.

  O celular tocou. Hannah sorriu abertamente ao ver quem era.

  — Como foi o seu dia? — perguntou assim que atendeu.

  — Cansativo. Passei à manhã provando os figurinos e à tarde fazendo a passagem do som — disse Jackson com a voz arrastada. Ele estava em algum lugar barulhento. — Me desculpe por não ter ligado antes, Hane Honey.

  — Tudo bem, Jackie — disse sorridente. Era bom ouvir a voz dele.

  Todos os dias se falavam, fosse por ligação, chamada de vídeo ou mensagem. Fazia um pouco mais de um mês que Jackson estava em turnê e a cada dia sua agenda estava mais lotada com shows, en­trevistas, sessões de fotos e encontros com os fãs. Entretanto, ele sem­pre encontrava um tempo para conversar com ela e escutar como ha­via sido o seu dia.

  — E como foi o seu? — perguntou ele. Hannah escutou o baru­lho de vozes do outro lado da linha diminuir.

  — De manhã, eu e Samuel levamos o Rafael até o aeroporto em Richmond, ele foi fazer aquela viagem que te falei. Depois, almocei com o Mateus. — Jackson bufou.

  Mateus e ele nunca estiveram em bons termos. O cantor respei­tava Hannah e sua história com Mateus, mas não podia evitar sentir certa raiva pelas decisões que o modelo tomou para com ela.

  — Como foi a terapia? — Hannah praguejou baixinho, queria omitir aquela parte do seu dia.

  Jackson conhecia todos os seus horários de consulta e de medi­cações, então não podia fugir dizendo que não falou com Morgana naquele dia. Sendo sincera, Hannah nunca conseguia mentir para ele.

  — Foi boa — falou e, como previsto, ele ficou em silêncio espe­rando que ela continuasse. — Morgana disse que estou tendo algu­mas recaídas devido à presença constante de gatilhos. Mas eu estou bem — apressou-se em dizer. — São só alguns pensamentos intrusi­vos, nada muito alarmante.

  — Hannah — Jackson chamou preocupado.

  — É sério, Jackie. Eu estou bem — garantiu confiante. — Vou até mesmo para uma balada.

  Hannah não queria que ele se preocupasse. Além disso, tinha uma pontinha de receio que Jackson ficasse aflito ao ponto de largar tudo e voltar apenas para ter certeza de que ela ficaria bem. Às vezes, ele era podia ser bem exagerado e superprotetor.

  — Cuidado nessa balada — disse suspirando. Por enquanto, o cantor deixaria o assunto de lado, pois havia algo que o preocupava mais e era justamente aquela ida à balada.

  Desde que Hannah falou por mensagem que sairia para uma balada, Jackson estava apreensivo, porque, desde que saíram de Nova York, ela não reagia muito bem a lugares fechados e lotados. Mas se Hannah criou coragem para enfrentar aquilo, ele a apoiaria.

  — Caso se sinta mal, volte para a casa de Samuel — aconselhou. — Não esqueça de que não deve misturar os remédios com o álcool, não aceite bebida de estranhos e...

  — Eu sei, Jackie — disse ela deixando uma leve risada escapar. — Não precisa se preocupar tanto. Vai ficar tudo bem. Quando voltar, mando mensagem.

  — Eu... — Jackson foi interrompido pela voz de alguém lhe chamando. — Tenho que ir, o show vai começar.

  — Boa sorte! — incentivou ela. — Não esqueça de me contar como foi. Ah, e faça muitas poses para as câmeras dos seus fã clubes! Estou baixando um monte de fotos deles! — O cantor riu.

  — Não esqueça de tomar os remédios nos horários certos. — Ela não estava os tomando corretamente. — Ligo pra você mais tarde. — O chamaram novamente. — Te amo — disse carinhoso.

  — Te amo.

  — Eu sei. Não tem como não me amar — disse Jackson bem-humorado e ela riu.

  Assim que desligaram, Samuel entrou no quarto dizendo entre­dentes que Mateus veio buscá-la. Outra pessoa que não estava em bons termos com Mateus era seu irmão. Se ele pudesse teria tido um pequeno acerto de contas com o mais novo, porém Hannah ficaria chateada e Rafael ficaria uma fera.

  — Não chega muito tarde, senão eu tranco a porta e te deixo do lado de fora — disse ele fazendo uma expressão carrancuda que logo se desfez em um sorriso bobo quando a irmã depositou um selar em sua bochecha. — Me mande mensagem se for demorar.

  — Volto antes da meia-noite — garantiu.

  Ela saiu da casa e entrou na Lamborghini preta. Mateus estava mal-humorado falando ao telefone. Aquela cena familiar a fez lem­brar de quando tinha algum compromisso juntos em Nova York e ele ficava irado quando o ligavam para falar sobre o trabalho, sendo que era seu horário livre.

  — Logo. Estou chegando. Sim — falou Mateus e deu partida no carro. Ele equilibrava o celular entre a bochecha e o ombro. — Vim buscar a Hannah. — Praguejou. — Você veio direto da faculdade. Sea­board é caminho para chegar aí. Aham. Até. — Hannah pegou o celular antes que caísse. — Obrigado — agradeceu e a olhou de es­guelha. — Está mais bonita.

  — Você também — disse Hannah sorridente. Mesmo em rou­pas mais simples, Mateus se destacava facilmente.

  Conversaram frivolidades durante o caminho e estacionaram dois quarteirões antes da balada lotada – a quantidade de automóveis estacionados ao longo da rua era exorbitante. Summer estava na en­trada esperando por eles e se aproximou rapidamente.

  — Vocês demoraram — disse Summer selando brevemente os lábios do Mateus.

  — Foram só quinze minutos — comentou o mais velho.

  Enquanto o casal conversava, Hannah reparou em alguns dos estabelecimentos que ainda estavam abertos. Ela, Mateus e seus ami­gos frequentaram a escola dali e todas as lojas da cidade Jackson. Hannah riu.

  — O que foi? — perguntou Summer arqueando a sobrancelha.

  — Nada — respondeu sorrindo. — Só lembrei que a cidade tem o mesmo nome de um amigo. — Mateus revirou os olhos.

  — Vamos entrar. Felipe cansou de esperar aqui fora e disse que ia conseguir uma bebida — disse Summer puxando Mateus para den­tro.

  A medida que adentravam o estabelecimento, a música ficava mais alta. As luzes piscavam alternando suas cores, corpos se remexi­am na pista de dança, conversas se misturavam sob a música e o calor dos corpos tentava se sobrepor à temperatura do espaço climatizado.

  Aquela balada era uma das melhores da cidade. Na verdade, não era como se houvesse um número exorbitante de baladas no Con­dado de Northampton. O estabelecimento era grande e climatizado, as paredes eram em tons escuros e assim que se passava pela porta de entrada, os clientes ficavam sobre uma plataforma que dava uma vi­são abrangente de todo o espaço. Quando as pessoas desciam da pla­taforma, chegavam à área das mesas. No centro do lugar, estava a pis­ta de dança, na lateral esquerda havia mesas mais reservadas com cortinas pretas e na lateral direita ficava o espaço do bar que fazia um L na parede dos fundos.

  Apesar de o espaço estar nitidamente lotado, Hannah não se sentia à beira de uma crise. A doutora Morgana lhe disse que ela de­veria comemorar até as pequenas conquistas ao longo do seu trata­mento. Então, estava orgulhosa com o seu progresso.

  — Está lotada — sussurrou Mateus com os lábios resvalando na orelha de Hannah. Ela se sobressaltou ao sentir a mão firme dele em sua cintura.

  O antigo modelo soltou a mão de Summer e foi para perto de Hannah por costume. Antigamente, quando frequentavam locais lota­dos, ele sempre se colocava ao lado dela de forma protetora e enlaça­va sua cintura para guiá-la ao local mais vago possível.

  — Vamos achar uma mesa mais reservada — disse ele alheio ao olhar questionador da namorada. Mas Hannah percebeu.

  — Vou pegar uma bebida — disse se desvencilhando do toque dele. A passos apressados, ela se afastou do casal.

  Estar perto de Mateus ficava cada vez mais difícil de lidar. Amava tê-lo de volta em sua vida. Porem, tê-lo novamente também significava que as memórias ficavam mais vivas do que nunca e a atormentavam com mais frequência do que era considerado saudável. Além disso, não podia negar a atração que ainda sentia por ele.

  Desviando de alguns corpos e se espremendo entre outros, Hannah conseguiu chegar até o balcão do bar e chamar a atenção de um dos bartenders.

  — Hannah McCleary. Essa é novidade — disse o bartender sor­rindo de lado.

  — Ygor! — exclamou Hannah ao reconhecer o amigo de escola.

  Ygor Kenner foi seu colega de sala desde o sexto ano do funda­mental. Mas acabaram se aproximando apenas na metade do sétimo ano, quando Hannah partiu pra cima de um grupinho de bullies irri­tantes para defendê-lo. Com o passar dos anos e com os compromis­sos da vida adulta, acabaram perdendo o contato, mas isso não dimi­nuiu nem um pouquinho o carinho e o respeito que tinham um pelo outro.

  — Não acredito — disse sorrindo animada. — Você aqui! Pen­sei que não suportasse lugares lotados, barulhentos e fechados.

  Na época da escola, Ygor fugia de toda e qualquer festividade estudantil. Ele dizia: "Não tenho paciência para ficar no meio de um monte de adolescentes que mais parecem animais no cio exalando feromônios". Hannah sempre ria e, quando ele não cedia diante da insistência dela em participar de alguma atividade, eles se escondiam até os eventos escolares terminarem e ficavam lendo, jogando e, em uma certa épo­ca, trocando um beijo ou outro.

  — E eu não suporto — disse Ygor fazendo careta. — Mas o salá­rio paga a faculdade de música. E você, voltou de vez ou está só de passagem? — Ele começou a preparar uma bebida que sabia que Hannah gostava.

  Ygor era uma pessoa naturalmente calma e reservada e que, por ironia do destino, acabou sendo "adotado" pela dupla mais extrover­tida do seu colégio, Hannah McCleay e Justin Kent H. Não podia ne­gar que desde que sua família saiu do que considerava ser seu lugar­zinho de paraíso na Ásia, os dias eram infernais para si. Desde a esco­la até as brigas dos pais em casa, tudo lhe exauria. Hannah e Justin tornavam seus dias mil vezes melhores e suportáveis.

  Ele não era de sair por aí declarando em alto e bom som os pró­prios sentimentos, mas quando gostava de alguém, suas ações o de­nunciavam e, com aqueles dois, isso era claro como o sol.

  — Estou passando uma temporada na casa do Samuel — res­pondeu Hannah.

  — Hum, vai ficar por quanto tempo? — perguntou ele se esti­cando para alcançar uma garrafa nas prateleiras.

  Ygor era um pouco mais baixo do que Hannah, tinha cabelos pretos, pele muito pálida, olhos pretos e uma língua afiada. Ela lem­brava um pouco de Samuel quando estava com ele, a diferença era que Ygor não era visto como um delinquente na época da escola e não tinha inclinações assassinas para com a humanidade como seu ir­mão quando estava de mau humor.

  — Até setembro. Eu moro com... Ah! — Ela se assustou quando um copo foi colocado com força no balcão.

  — Ygor, quero outra dose de rouge — uma voz masculina soou ao seu lado. Hannah encarou o recém-chegado.

  — Justin! — falou com o sorriso quase rasgando a sua face.

  — Hannah — disse o homem alegre. Ele a abraçou a erguendo do chão. — Finalmente nos vimos pessoalmente. — Hannah riu incré­dula.

  Justin Kent Holder era o irmão mais novo de Rafael e um dos amigos próximos de Hannah. Conheceram-se no jardim de infância, dois anos após Hannah conhecer Mateus. Desde então, ela e Justin es­tudaram juntos. Ao longo, dos anos continuaram a trocar mensagens – tanto que ele vivia reclamando que ela ainda não havia ido visitá-lo desde que chegou em Seaboard. Foi Justin quem a incentivou a ir para Bridgeport com Jackson e deixar sua vida desmoronada para trás.

  — E os diabinhos estão juntos outra vez — disse Ygor vendo os amigos compartilhando um sorriso travesso.

  Durante a infância deles, a cidade inteira conhecia a dupla tra­vessa e sabia que quando eles estavam juntos, era melhor não tirarem os olhos dos pestinhas para evitar, por exemplo, que alguma vaca fos­se parar no meio de um lamaçal. Quando os danadinhos grudaram em Ygor, eles passaram a ser conhecidos como os Diabinhos YHJ.

  — Já estava ficando com saudades — dramatizou Justin.

  Justin Kent H. era um cara com uma personalidade extrema­mente animada e extrovertida. Assim como o irmão, Rafael, ele era o tipo de pessoa que conseguia fazer as pessoas gravitarem ao seu re­dor. Era alto e meio musculoso, com cabelos castanhos, olhos azuis, pele parda e uma cicatriz horizontal sobre o nariz, que ninguém real­mente sabia como havia ocorrido.

  — Nós nos vimos há quatro meses, lembra? — disse Hannah dando um tapinha no ombro do amigo. — Você apareceu lá em casa de madrugada e o Jackson pensou que era alguma assombração fa­zendo o Brutus latir sem parar.

  — Você se adapta bem ao papel de assombração — provocou Ygor sorrindo arteiro. Justin lhe mostrou o dedo do meio, o que fez os amigos rirem.

  O trio continuou conversando e compartilhando as novidades de suas vidas e logo trataram de criar um grupo no aplicativo de mensagens para reviverem os Diabinhos YHJ.

  Ygor estava se dividindo em dois para fazer seu trabalho e dar atenção aos amigos, mas, no fundo, estava pouco se lixando se o ge­rente ia reclamar ou não. Trabalhava ali feito um condenado e o salá­rio nem era lá essas coisas. Já Hannah e Justin se mantinham colados ao balcão do bar entre cotoveladas e resmungos dos outros clientes para continuarem a conversar com o amigo, distribuindo vários olha­res mortais quando alguém tentava os empurrar ou saía soltando pia­dinhas.

  — Você veio sozinha? — perguntou Justin enquanto Hannah saboreava seu delicioso licor.

  — Não, vim com Mateus e a namorada para comemorarmos a mudança do Felipe.

  — Bem que eu pensei ver um cara parecido com o Felipe vagan­do pela pista de dança mais cedo — disse o mais novo apoiando as costas no balcão e varrendo o local com o olhar.

  Justin não era tão próximo de Felipe e muito menos de Mateus, mas por causa de Hannah era impossível não os conhecer.

  — Achei o Mateus.

  — O local está cheio, como você...

  — Não é como se ele fosse difícil de achar — a interrompeu. — Vamos lá — disse Justin puxando Hannah pelo pulso. Ela se despediu brevemente de Ygor enquanto era arrastada pelo mais novo.

  A dupla tentou passar pelos corpos frenéticos, mas foram arras­tados por um pequeno grupo para a pista de dança, onde Hannah se perdeu de Justin. Ela até que poderia se deixar levar pela música e dançar, mas estava se sentindo sufocada por aquela aglomeração.

  — Precisa de companhia? — perguntou um cara alto parando na sua frente.

  — Não, obrigada — recusou Hannah sorrindo educada. Ela ten­tou passar pelas pessoas ao redor, mas foi puxada por ele.

  — Vamos lá. Uma dança — insistiu o desconhecido sorrindo e a segurando pelo pulso.

  — Eu realmente não quero. — A antiga modelo procurou aflita por algum rosto familiar. Aquilo lhe trazia péssimas recordações.

  — Não se faça de difícil — disse o homem, colocando a outra mão na cintura de Hannah, tentando puxá-la para perto, enquanto ela fazia força para se afastar.

  — Eu já disse que...

  Ela estava pronta para dar um bom gancho de direita para tirar aquele sorrisinho prepotente da cara dele, mas alguém foi mais rápi­do.

  — Se você não tirar as mãos dela agora, vai ficar sem elas. — Uma voz autoritária emergiu ao lado deles. Mateus afastou de forma brusca o braço que estava a prendendo pela cintura.

  — Ah, qual é, cara? É só uma música e se quer achar uma gata pra você pode ir procurar em outro canto que essa daqui já é minha — disse alto, o que fez algumas pessoas próximas passarem a prestar atenção na cena que se desenrolava.

  Anos antes, Hannah já não gostava de chamar atenção, mas teve que se acostumar a ela quando sua vida passou a estar na mira de diversas câmeras. Todavia, nos dois últimos anos da sua carreira, ela passou a odiar aquilo e temia as câmeras como se fossem armas engatilhadas prontas para dispararem bem no seu coração.

  — Eu já mandei tirar as mãos de cima dela. — Mateus afastou ferozmente a mão que antes apertava o pulso de Hannah. — Falarei apenas uma vez e espero que seu avançado intelecto possa entender — disse sarcasticamente, avaliando o outro homem da cabeça aos pés. — Não ouse encostar nela. Não ouse se aproximar ou chegar a menos de dois metros dela. — Aproximou-se ameaçadoramente do outro que recuou um passo. — A menos que queira sofrer as consequências e posso lhe garantir elas não serão nada boas para você. — Sorriu cru­el e limpou uma poeira invisível no ombro do desconhecido. — Esta­mos entendidos? — O homem assentiu. — Fale.

  — Estamos — disse, gaguejando e se afastando apressado.

  Aos poucos, aqueles que prestavam atenção à cena foram se dispersando, mas Hannah continuava petrificada no lugar. Sua respi­ração se reduziu a uma leve brisa e seu coração batia como se ela ti­vesse corrido uma longa maratona. Sentia que a qualquer momento suas pernas cederiam.

  — Você está bem? — perguntou Mateus gentil. Ele se aproxi­mou e segurou a mão dela acariciando com o polegar o seu pulso.

  Era um costume de Mateus sempre manter os olhos em Han­nah, isso muito antes de irem para Nova York. Mas, após ficarem fa­mosos, aquele costume se agravou, se transformando em possessivi­dade.

  — Ele a machucou? — Ela meneou com a cabeça ainda zonza. — Vamos para casa, certo? — falou se aproximando.

  Seus hálitos se misturavam e eles estavam a apenas dez centí­metros um do outro. Poderiam dizer que era culpa do pouco espaço e das pessoas ao redor que a todo momento esbarravam em seus cor­pos, mas ambos sabiam que aquilo seria uma mentira deslavada. Sempre se atraíam de forma magnética e, muitas vezes, inconsciente­mente seus corpos se encaixavam.

  Mateus encarou intensamente os olhos de Hannah e, mesmo que estivessem sob as luzes pulsantes daquele lugar, ele sabia que aqueles olhos lhe encaravam da mesma forma. Sua mão livre formi­gava para enlaçar a cintura dela e cortar a distância entre seus corpos, mas e depois o que faria? Se arrependeria?

  Não. Mateus nunca se arrependeria de se envolver com Han­nah, mas lamentaria as feridas que aquilo gerava em ambos.

  Hannah quase se deixou entorpecer por aquela atmosfera. Mas havia um lado seu que estava bem consciente.

  — O que aconteceu? — perguntou Summer se espremendo en­tre os corpos dançantes e alçando a voz sobre a música.

  — Nada demais — respondeu Mateus recuando alguns passos, mas seus olhos continuavam conectados aos de Hannah assim como suas mãos permaneciam enlaçadas.

  Estava preocupado. Mesmo com a escassa iluminação, ele viu que Hannah estava pálida e seu corpo tremia. Mateus queria abraçá-la e tirá-la daquele lugar o mais rápido possível.

  — Não me parece que não foi nada demais — falou Summer tentando conter a irritação. — Você quase voou da nossa mesa para chegar aqui.

  — Foi apenas um babaca importunando a Hannah — ditou sé­rio e encarou a namorada. — Ela não está se sentindo muito bem, vou levá-la para casa.

  — Mateus — chamou a namorada entredentes.

  Summer estava irritada e desconfiada. Não gostava de ser dei­xada no escuro sem ao menos saber o que estava acontecendo com o próprio namorado. Aquele comportamento dele a lembrava do Ma­teus que conheceu cinco anos antes.

  — Oi, Mateus — outra voz se sobressaiu sobre a música. O trio olhou para o recém-chegado, que sorria amigável. — Eu posso levar a Hannah para casa, sem problemas — disse Justin se aproximando da amiga trêmula.

  O mais novo puxou Hannah para perto a afastando do toque de Mateus, o que ela agradecia. Ele a enlaçou em um abraço reconfortan­te de forma que Hannah ficasse de costas para o casal. Ela encostou a cabeça no peito de Justin e inspirou profundamente. Concentrou-se em sentir o cheiro do perfume dele que se misturava levemente ao odor do álcool. Tentou ouvir o som da respiração do amigo e contar cada inspiração e expiração. Precisava se acalmar.

  — Já vou tirá-la daqui, Hannah bebê — murmurou Justin em seu ouvido.

  — Eu vou levá-la — disse Mateus firme.

  — Por que ele não pode levá-la? — questionou Summer e enca­rou Justin. — Você é amigo dela, não é? — Justin assentiu mantendo o sorriso.

  — Eu já disse que...

  — Eu vou com o Justin — Hannah interrompeu os encarando brevemente. — O objetivo da noite é comemorar a mudança do Feli­pe. Não seria justo deixá-lo sozinho.

  Ela se despediu rapidamente do casal e caminhou até o carro abraçada a Justin. Hannah ficou em silêncio durante todo o percurso até a casa de Samuel. Havia conseguido se acalmar, mas seus pensa­mentos continuavam a fervilhar e faziam questão de lembrá-la que a forma como Mateus havia se comportado era assustadoramente fami­liar.

  — Chegamos — disse Justin estacionando na frente da casa de Samuel.

  — Obrigada pela carona — agradeceu beijando a bochecha dele e descendo do carro.

  — Hannah — chamou antes que ela fechasse a porta do veículo. — Não fique pensando muito no que aconteceu hoje, tá? — Aquilo beirava o impossível. — Qualquer coisa me liga e vamos marcar ur­gentemente alguma coisa com o Ygor. — Hannah assentiu e eles se despediram.

  Ela entrou na residência e apoiou as costas na porta. O interior da casa era iluminado pela luz dos postes da rua e da lua que entrava pelas janelas de vidro.

  Não estava surpresa pela atitude de Mateus. Estava atordoada por ter visto após tantos anos uma fagulha daquele com quem havia criado uma vida inteira em Nova York e com quem quase havia casa­do. O mesmo homem por quem seu coração parecia ainda fraquejar e isso a irritava.

  No escuro daquela casa, ela finalmente se permitiu chorar.

Olá, docinhos!

O que pensam que essa reaproximação do Mateus e da Hannah vai gerar?

O que será que a Hannah ainda não está preparada para contar para a família?

Uma curiosidade: tanto a ChocoCoffee como a balada e as casas dos personagens são os únicos lugares que não existem na vida real, todos os outros mencionados existem.

Espero que estejam gostando e que continuem acompanhando

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