Capítulo 10 - Part II
"Não pense separadamente nesta e na próxima vida,
pois uma dá para a outra a partida.
O tempo é sempre curto demais para quem precisa dele,
só que para os amantes ele dura pra sempre."
Rumi (poeta do séc. XIII).
120 d.c
POV DO NARRADOR
Lorde Daemon Targaryen observava o horizonte, onde o mar azul profundo se encontrava com o céu tingido de dourado pelo sol poente. Ele via um futuro promissor para suas filhas com os garotos Velaryon, imaginando as alianças e possibilidades que essa união poderia trazer. Eles estavam na Ilha dos Herdeiros dos Dragões, um paraíso de beleza selvagem e encanto, celebrando os aniversários de Baela e Rhaena.
Ao longe, ele podia ver suas filhas brincando de pular as ondas que lambiam a areia da praia, suas risadas infantis ecoando como uma melodia encantadora que enchia o ar de alegria. As gêmeas corriam descalças, seus cabelos brancos, iguais aos de Laena, brilhando sob a luz do sol. Acompanhadas por Jace e Luke, os jovens príncipes Velaryon, as meninas estavam radiantes de felicidade. Jace, com seu porte confiante, e Luke, com seu sorriso contagiante, seguravam protetoramente as pequenas mãos das meninas, formando um vínculo de inocência e segurança.
Daemon se lembrou de quando ele mesmo era um menino, brincando nas praias de Pedra do Dragão, e um sorriso nostálgico suavizou suas feições severas. Sor Harwin Strong, em pé ao seu lado, observava também com uma expressão serena, talvez rememorando seus próprios dias de juventude e aventuras.
As ondas quebravam suavemente na areia, e a água fria espirrava nas pernas das crianças, arrancando delas risos ainda mais altos e felizes. Baela, sempre a mais audaciosa, desafiava as ondas maiores, pulando com uma alegria quase selvagem, enquanto Rhaena, mais cautelosa, seguia o exemplo de sua irmã com uma risada tímida, mas genuína. Jace e Luke não deixavam que as meninas se afastassem muito, suas mãos firmes segurando as delas com uma proteção quase instintiva.
Daemon sentiu um calor no peito ao observar a cena. Aquele era um vislumbre de um futuro que ele desejava ardentemente para suas filhas — um futuro de segurança, amor e felicidade. Ele sabia que os tempos à frente seriam desafiadores, mas por agora, permitia-se saborear aquele momento de pura alegria e inocência.
Ele respirou fundo, o cheiro salgado do mar, misturando-se com o doce aroma das flores que cresciam perto da praia. O vento acariciava seu rosto, trazendo consigo a promessa de dias melhores.
Ao seu lado, Sor Harwin Strong, comandante da Guarda Real, observava a cena com uma expressão séria mas vigilante. Ele estava ali para garantir a segurança dos príncipes e princesas, especialmente de Jace e Luke, seus filhos com a princesa Rhaenyra Targaryen. Embora não fosse amigo íntimo de Daemon, Harwin respeitava o príncipe por sua liderança e coragem.
— Lorde Daemon, suas filhas são verdadeiras joias. — Sor Harwin comentou suavemente, quebrando o silêncio.
O príncipe rebelde assentiu, sem tirar os olhos das crianças. — Sim, são. E farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que elas tenham um futuro digno de sua nobreza e amor.
Daemon não conseguia acreditar que em uma semana suas pequenas dragõezinhas completariam cinco anos. Seus olhos lilases se encheram de lágrimas ao lembrar que naquela manhã ele trocara os berços de dragão das duas, percebendo como elas estavam crescendo rapidamente.
— Kepa (Papai)! Olha… — As gêmeas chamaram, exibindo orgulhosamente as conchinhas coloridas que encontraram na onda.
As meninas soltaram as mãos de Jace e Luke e correram até o pai, que ergueu os braços para recebê-las com um sorriso caloroso. Daemon se agachou, abraçando as filhas, sentindo o cheiro salgado do mar misturado ao doce aroma da infância. A brisa marinha acariciava seus cabelos prateados, enquanto ele segurava as conchinhas, admirando a simplicidade e a beleza natural.
— São lindas, dragõezinhas do papai. — Daemon falou docemente. Seus olhos percorreram os rostinhos das meninas, o amor transbordando em cada olhar. Para ele, não existia uma preferida; ele as amava incondicionalmente, com toda a intensidade de seu coração rebelde e apaixonado.
As gêmeas sentaram-se em seu colo e sussurraram: — Podemos dar a Muña (mamãe)?
Daemon fechou os olhos por um momento, absorvendo a pureza daquele pedido. Sua amada esposa, Laena Velaryon, estava repousando no castelo, tendo a princesa Rhaenyra Targaryen como companhia. Após os eventos tumultuados causados pela visita do rei Viserys e sua comitiva à ilha, Laena quase perdera o bebê. Agora, ela precisava passar a maior parte do tempo deitada, evitando qualquer movimento que pudesse provocar um novo sangramento.
Sor Harwin, percebendo a sombra de preocupação no rosto de Daemon, manteve uma postura respeitosa, mas ofereceu algumas palavras de conforto.
— Lady Laena é forte. Ela se recuperará, e vocês verão essas crianças crescerem e prosperarem.
Daemon estreitou os olhos, seu olhar frio e calculista desmentindo qualquer traço de vulnerabilidade. As gêmeas, Rhaena e Baela, encararam Sor Harwin sem entender muito bem suas palavras, mas o medo estampava-se claramente em seus rostos infantis. Os olhinhos inocentes encheram-se de lágrimas, refletindo a ansiedade do momento.
Daemon, consciente da presença das filhas e do impacto que aquelas palavras poderiam ter sobre elas, ignorou Sor Harwin deliberadamente. Ele sabia que demonstrar qualquer fraqueza diante das crianças poderia minar a frágil segurança que tentava manter. Em vez disso, ele se inclinou suavemente para as filhas, acariciando-lhes os cabelos com ternura.
— Sim, claro que podem. — Disse ele, sua voz uma promessa suave, quase como uma oração. — Mamãe vai adorar.
Ele se levantou com as meninas nos braços, o olhar fixo no horizonte onde o sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e púrpura. Chamou Jace e Luke, e Sor Harwin seguiu com os meninos, assegurando que os príncipes e princesas estivessem protegidos. As servas acompanharam a uma distância respeitável. A cada passo que dava, Daemon sentia a areia fria sob os pés, um contraste com o calor que emanava de seu coração ao ver a felicidade estampada nos rostos das suas filhas.
[......]
A princesa Laena Velaryon acariciava o rostinho de Baela que estava deitada na cama, com a cabecinha grudada na barriga da mãe, escutando o seu irmãozinho se mexer. A luz suave das velas preenchia o quarto, lançando sombras dançantes nas paredes de pedra e criando uma atmosfera serena e íntima. Laena observava cada movimento da filha com um sorriso ternamente cansado, o amor e a preocupação misturando-se em seus olhos violetas.
— Ele está chutando, Muña (mamãe)! — Exclamou Baela com uma risada cristalina, os olhos violetas brilhando de felicidade. Seus longos cabelos cacheados brancos balançavam enquanto ria.
Mesmo sentindo dor, Laena sorria de alegria, pois sua anjinha estava feliz e seu bebê ainda não nascido estava se mexendo. A incerteza e o medo que haviam acompanhado esta gravidez difícil eram momentaneamente esquecidos naqueles instantes de pura felicidade. Aemon ficava muito tempo sem se mexer e, às vezes, os Meistres não conseguiam escutar seus batimentos, o que deixava Laena e Daemon aterrorizados. Afinal, a era medieval ainda não poderia fornecer os medicamentos e equipamentos necessários para uma gravidez e parto de risco.
— Aemon adora quando minha anjinha vem falar com ele sobre suas aventuras com Moondancer. — Laena sussurrou, acariciando os cachos de Baela.
Era um alívio temporário, uma confirmação de que seu filho ainda lutava para nascer. Baela, alheia às complexidades e perigos da situação, beijava a barriga da mãe, dando amor ao irmão ainda não nascido.
Ao lado, Daemon estava sentado em uma cadeira, penteando os cabelos lisos e brancos de Rhaena. Ele deslizava o pente pelos fios sedosos com uma ternura que raramente mostrava em público, mas que suas filhas conheciam bem. Rhaena estava sentada no seu colo pacientemente, seus olhos atentos observando Baela e Laena com curiosidade e um toque de ciúmes.
— Kepa (Papai), já terminamos? Eu quero sentir o Aemon chutando. — Rhaena perguntou, virando a cabeça ligeiramente para olhar Daemon.
— Sim, dragãozinha do papai. — Daemon respondeu com um sorriso.
Colocando o pente na penteadeira, Daemon levantou Rhaena em seus braços e a carregou até a cama, onde a colocou com cuidado ao lado de Baela.
O príncipe rebelde observava Laena e Baela com um olhar terno, mas seus olhos traíam o medo que ele carregava em seu coração. Ele sabia dos riscos, das noites insones passadas ao lado de Laena, segurando sua mão e rezando silenciosamente para os deuses antigos e novos. Cada vez que os Meistres não conseguiam escutar os batimentos de Aemon, era como se uma sombra de desespero se aproximasse, ameaçando engolfar a pequena chama de esperança que eles mantinham acesa.
— Logo, o nosso bebê estará em nossos braços, meu mar. — Daemon disse suavemente, aproximando-se da cama e sentando-se ao lado de Laena, enquanto Rhaena colocava a mãozinha na barriga da mãe para sentir o chute do irmão. Ele pegou a mão de Laena, apertando-a levemente, como se quisesse compartilhar sua força e amor.
Laena assentiu, seus olhos encontrando os de Daemon, buscando e encontrando conforto neles. — Ele logo chegará, meu fogo rebelde. Com irmãs tão doces e protetoras, como Baela e Rhaena, certamente ele será muito amado.
Baela, ainda com a cabecinha encostada na barriga da mãe, olhou para os pais com um sorriso inocente. — Eu vou cuidar dele, prometo.
Rhaena, olhou para Laena com olhos brilhantes. — E eu também, Muña (mamãe). Cantarei todos os dias para o Aemon.
Daemon e Laena trocaram um olhar carregado de amor e esperança.
Laena beijou a testa de Baela, sentindo a suavidade da pele da filha contra seus lábios, e depois fez o mesmo com Rhaena. — E ele terá as melhores irmãs do mundo.
As palavras de Laena flutuaram no ar como uma promessa silenciosa. As gêmeas, imersas em um vínculo quase místico, deitaram-se na cama e se abraçaram, os olhos fechados enquanto sussurravam em sua língua secreta de gêmeos.
Daemon, aproveitando o momento de tranquilidade, puxou delicadamente o rosto da esposa para o seu, os lábios roçando levemente nos dela em um toque que era ao mesmo tempo terno e repleto de desejo contido.
— Eu amo você, meu mar, por toda eternidade. O meu juramento ainda é do seu agrado, minha senhora? — Sussurrou ele, os olhos lilases ardendo com uma devoção feroz, como se cada palavra fosse um juramento sagrado.
Laena o respondeu com um sorriso que iluminava seu rosto, seus narizes se esfregando suavemente em um gesto de intimidade absoluta.
— Sim… Você sempre o diz e o demonstra, todos os dias, incansavelmente, e isso só me faz te amar ainda mais.
As palavras de Laena eram como uma melodia suave, acariciando o coração de Daemon. Ela levantou a mão e acariciou o rosto dele, seus olhos violetas brilhando com o reflexo do amor cru e selvagem que emanava do príncipe. Ele a olhava com uma vulnerabilidade que fazia seus corações baterem em uníssono, uma dança silenciosa de almas que se reconheciam como metades perfeitas de um todo.
Daemon encostou sua testa na de Laena e fechou os olhos, as enormes mãos do Targaryen envolvendo o rosto angelical da esposa. Ele sentia como se cada fibra de seu ser estivesse entrelaçada com a dela, e a simples ideia de perdê-la era insuportável, uma dor que ele não conseguia sequer contemplar. Ele acreditava fielmente que o parto ocorreria perfeitamente bem, cada um de seus atos estava imbuído dessa esperança. Ambos se certificavam de tomar todas as precauções necessárias, privando-se de muitas coisas para garantir a segurança de Laena e do bebê que carregava.
A cadência da batida de seus corações possuía uma sintonia única, como uma canção de amor que ecoava no ar. Suas almas estavam entrelaçadas em um amor tão profundo e poderoso que nem mesmo a morte poderia separá-los.
[.....]
Rhaena, com suas mãozinhas juntas em uma expressão de devoção, murmurou com fervor: — Amém! — enquanto seus olhos violetas, cintilantes de esperança, permaneciam fixos no ovo de dragão de escamas rosadas diante dela. A cama infantil onde ela estava ajoelhada era uma verdadeira obra de arte, esculpida em finas madeiras nobres e adornada com incrustações de prata no formato de escamas de dragão. O nome "Rhaena" estava delicadamente gravado na cabeceira, enquanto o nome "Baela" ornamentava a outra extremidade, unindo as irmãs mesmo no sono.
Daemon, com um sorriso terno e um olhar que transbordava de amor paternal, inclinou-se e depositou um beijo na testa da filha. Ele admirava o entusiasmo infantil dela, uma mistura de esperança e ansiedade que lembrava sua própria juventude. Rhaena vestia uma longa camisola de algodão, de mangas compridas, adornada com intrincados desenhos de dragões, um presente da mãe que parecia envolvê-la em uma aura de misticismo e sonho.
A princesa Rhaenyra Targaryen, a herdeira do Trono de Ferro e madrinha das gêmeas, havia presenteado ambas no último aniversário. Ela deu a Baela, trajes de montaria ricamente bordado com o emblema da Casa Targaryen, pois a pequena princesa de 5 anos, logo montaria e voaria com Moondancer, sua fêmea dragão que crescia a cada dia. Daemon, estava ansioso para ensinar a filha as nuances do voo e as táticas de guerra, vislumbrava o futuro onde sua bebê seria uma rainha consorte poderosa e destemida.
Rhaena, por sua vez, recebeu um ovo de dragão, todo rosa, presente nascido das chamas de Syrax, a dragão fêmea de Rhaenyra. Daemon lembrava-se vividamente do sorriso de pura felicidade que iluminou o rosto da filha ao tocar o ovo pela primeira vez, um sorriso que iluminava o salão com uma luz quase sobrenatural.
Daemon recordava-se com emoção do sacrifício de Solares, o dragão que deu sua vida para que Rhaena pudesse sobreviver ao nascimento. Ele sabia, no íntimo de seu ser, que a alma do dragão havia renascido naquele ovo rosa. Laena, sua amada esposa, havia ensinado à filha uma antiga canção de ninar, uma melodia mágica que encantava o ovo e acalmava o espírito do dragão por vir. Rhaena cantava com uma voz melodiosa e hipnótica, herdada da mãe, enquanto acariciava suavemente o ovo, sentindo a vida pulsante dentro dele. Sua voz era um fio de prata tecendo esperança e magia no ar noturno.
— Agora que a dragãozinha do papai já rezou, penteou os cabelos, escovou os dentes, já deu o beijo de boa noite na mamãe e no papai, está na hora de dormir. — Anunciou Daemon com carinho, a voz rouca de emoções contidas. Carregando a filha e a colocando na cama. Ele a cobriu com o cobertor.
Daemon sorriu, o coração apertado de ternura e preocupação. Ele sabia dos perigos que cercavam sua família, mas também sabia da força que residia dentro de sua pequena dragão. — Papai vai colocar o ovo de dragão na lareira, mas a dragãozinha não pode tocar, ok? — Avisou ele, pegando o ovo com a delicadeza de quem manuseia uma preciosidade insubstituível.
Com um cuidado meticuloso, Daemon colocou o ovo em uma pequena cesta de prata adornada com filigranas dracônicas. Ele acomodou a cesta perto da lareira, onde o calor suave das chamas acariciava o ovo sem ameaçar danificá-lo. Apesar de ser Targaryen e ter uma tolerância ao fogo, Rhaena ainda era uma criança e precisava ser protegida.
— Sim, Kepa (papai). — Respondeu Rhaena com um sorriso sonolento, seus olhos já começando a se fechar.
Daemon observou a filha adormecer, a respiração leve e tranquila. A luz da lareira lançava sombras dançantes nas paredes, como se fossem espectros de dragões antigos, guardiões de tempos imemoriais. Ele se aproximou da cama, ajustou os cobertores sobre Rhaena e beijou-lhe a testa mais uma vez.
A sala estava impregnada de um silêncio reverente, quebrado apenas pelo crepitar das chamas e o suave murmúrio das preces de Rhaena, que ainda pareciam ecoar no ar. Daemon sabia que a espera era dolorosa, mas também sabia que o momento em que o dragãozinho finalmente quebrasse a casca seria um instante de pura epifania, um milagre de vida e fogo que marcaria para sempre a alma de sua filha.
Ele saiu do quarto, e foi ao encontro de sua primogênita, Baela, que estava no jardim do castelo, deitada com Moondancer, ambas dormindo serenamente. A jovem fêmea dragão costumava escapar à noite para se aninhar no quarto de sua montadora, abraçada a ela, uma ligação que refletia a profunda conexão entre as duas. Daemon às vezes se arrependia de ter deixado ambas crescerem juntas no mesmo ambiente, mas o vínculo era inegável. Ele se emocionava ao recordar o nascimento de Baela, coincidente com a eclosão do ovo de dragão, uma cena que marcara sua vida e que ele mandara imortalizar em um retrato para que seus descendentes pudessem ver como fora magnífico e tenso o parto das gêmeas.
Moondancer abriu os olhos, em alerta pela aproximação de Daemon. A dragãozinha soltou um muxoxo, consciente de que ele levaria Baela para dentro do castelo.
— Não adianta fazer essa cara, Moondancer. Baela vai dormir na cama dela. E você com seus pais no fosso dos dragões. Voe! — Ordenou Daemon com firmeza, encontrando o olhar afrontoso da jovem dragão. Ela apenas não lançou fogo contra ele por saber que Baela amava incondicionalmente o pai, e jamais desejaria ferir seus sentimentos.
A asa que protegia Baela do frio e de qualquer perigo que pudesse ameaçá-la se ergueu, concedendo a Daemon a chance de pegar sua filha adormecida nos braços. Ele a levantou com cuidado, sentindo o calor residual do corpo de Moondancer contra a pele da menina.
Daemon observou Moondancer lançar um último olhar de advertência antes de alçar voo em direção ao fosso dos dragões, suas asas cortando o ar noturno com graciosidade. Ele olhou para a filha, adormecida e alheia ao mundo, e sentiu um aperto no coração. Baela, com apenas cinco anos, era extremamente parecida com a mãe, Laena, herdeira de uma beleza surreal que poderiam se tornar tanto bênção quanto maldição.
Ao entrar no quarto das gêmeas, ele a colocou gentilmente na cama, ajeitando os cobertores ao seu redor. A responsabilidade de criar e proteger suas filhas pesava em seus ombros, mas ele sabia que faria qualquer coisa por elas. Beijando a testa de Baela, o príncipe saiu exausto, mas satisfeito.
Ao adentrar silenciosamente no aposento, Daemon encontrou Laena imersa em um sono sereno, seus cabelos derramando-se como neve sobre o travesseiro. Com movimentos cuidadosos, o príncipe retirou sua vestimenta, deixando apenas os calções de linho, e dirigiu-se à bacia de prata para lavar as mãos e o rosto, a água refletindo a luz suave das velas.
Após secar-se, ele se aproximou da cama e, com uma reverência quase ritualística, aconchegou-se junto ao corpo adormecido de Laena. O aroma doce e inconfundível de seu perfume, misturado ao creme de pele e ao cheiro de seus cabelos cacheados, envolveu Daemon em uma nuvem de prazer inebriante, tornando-se um vício do qual ele jamais se cansaria.
Com ternura, ele encostou o nariz no pescoço delicado de Laena, inalando profundamente seu cheiro, sentindo a suavidade de sua pele contra seus lábios. A camisola de cetim branca delineava a protuberância de sua gravidez, um lembrete constante do fruto de seu amor. As mãos de Daemon pousaram protetoramente sobre a barriga de Laena, acariciando-a com uma adoração silenciosa enquanto depositava beijos ternos e fervorosos em seu pescoço e depois na bochecha da esposa.
Cada gesto era carregado de um amor profundo e devotado; não havia a intenção de acordá-la, muito menos de forçá-la a qualquer intimidade. Este era um momento sagrado entre eles, um hábito carinhoso que se repetia todas as noites, algo que Laena já conhecia e que a embalava em seu sono.
— Boa noite, meu mar. — Sussurrou Daemon, a voz carregada de emoção, enquanto se rendia ao conforto e à paz de estar junto à sua amada.
[.....]
As flores de cerejeiras caíam suavemente ao redor do jardim do castelo, transformando o cenário em um mar de pétalas rosadas. Daemon, imerso em contemplação, admirava a beleza etérea de sua esposa, Laena Velaryon. As pétalas, delicadas como seda, pousavam graciosamente sobre os longos e alvos cachos de Laena, criando uma visão encantadora.
Os olhos violetas de Laena, intensos e sedutores, fixavam-se apaixonadamente em Daemon, refletindo um amor profundo e inabalável. Sentados no jardim, ambos absorviam a tranquilidade do momento. Laena, necessitando da vitalidade do sol e do ar fresco, havia caminhado lentamente pelos jardins ao lado de Daemon antes de se sentarem frente a frente.
Daemon, completamente enfeitiçado, não conseguia desviar o olhar de sua amada. Cada traço, cada gesto de Laena o fascinava. Ele via nela uma beleza não apenas externa, mas uma alma deslumbrante e forte, cuja luz interior irradiava uma serenidade e graça que o deixavam em um estado de adoração silenciosa.
Lorde Daemon estendeu a mão, tocando delicadamente o rosto de Laena, seus dedos roçando a suavidade de sua pele.
— Sente-se melhor, meu mar? — Perguntou Daemon, colocando os sedosos cachos brancos para trás da esposa.
— Sim, meu fogo rebelde. Eu disse que um passeio faria bem a nós. — Respondeu Laena, fazendo carinho onde Aemon estava posicionado na barriga, uma expressão de ternura iluminando seu rosto.
— Qual é o outro desejo da minha senhora? — Indagou ele, salpicando beijos nos suculentos lábios vermelhos de Laena.
— Desejo montar em Vhagar. Será por poucos minutos. — Disse Laena rapidamente, percebendo a expressão de desagrado no rosto de Daemon. Ele temia que a brusquidão da sela de um dragão pudesse de alguma forma reavivar o sangramento que Laena havia sofrido recentemente.
Daemon estreitou os olhos, a preocupação evidente em seu olhar. — Laena, você sabe que me preocupo. A sela de um dragão não é lugar seguro para você agora.
— Daemon, meu fogo rebelde, você não pode me manter enjaulada por medo. — Respondeu Laena com firmeza, seus olhos violetas brilhando com determinação. — Vhagar é parte de mim, assim como você e nossos filhos.
Daemon suspirou, sentindo a familiar mistura de admiração e frustração que a determinação de Laena sempre lhe causava. Ele sabia que tentar dissuadi-la era tão inútil quanto tentar domar quatro dragões ao mesmo tempo.
— Apenas alguns minutos, então. E eu estarei ao seu lado todo o tempo. — Disse ele, sua voz carregada de uma mistura de relutância e rendição.
Laena sorriu, um sorriso que era ao mesmo tempo vitorioso e carinhoso. — Obrigada, meu fogo rebelde. Com você ao meu lado, não temo nada.
A princesa devolveu o beijo com fervor, fazendo Daemon se desconectar da realidade, perdido na intensidade do momento. Quando Laena sugou seu lábio inferior, o som poderoso de asas bateu acima deles. Vhagar desceu dos céus, pousando majestosamente no chão do castelo, seguida por Caraxes. Os dois dragões observavam seus montadores se beijarem, enquanto as cerejeiras continuavam a derramar suas pétalas sobre eles, criando um cenário de tirar o fôlego.
Daemon afastou-se apenas o suficiente para olhar nos olhos violetas de Laena, seu coração batendo em um ritmo frenético. — Vamos, então. Mas lembre-se, estarei ao seu lado em cada momento.
Laena assentiu, seus olhos brilhando com empolgação e amor. Juntos, caminharam até os dragões, a mão de Daemon envolvendo a de Laena, seus passos sincronizados como se fossem um só.
Os dragões, sentindo a resolução de seus cavaleiros, rugiram em uníssono, prontos para a curta jornada que lhes esperava. E assim, com o coração cheio de paixão e coragem, Laena e Daemon montaram em Vhagar e Caraxes, suas silhuetas se destacando contra o céu. A brisa do vento fazia com que as pétalas das cerejeiras os acompanhassem, dançando ao redor deles como um encantamento, enquanto o sol do fim de tarde lançava um brilho dourado sobre a cena.
Laena segurou firme nas rédeas, sentindo a familiar força pulsante de Vhagar sob ela, enquanto Daemon, montado em Caraxes, não desviava o olhar de sua amada.
Daemon olhou para Laena, seus olhos encontrando os dela. — Apenas alguns minutos. — Prometeu ele, sua voz carregada de preocupação, mas também de rendição.
— Apenas alguns minutos. — Confirmou Laena, seu sorriso sereno refletindo a paz que sentia ao estar nos céus com sua dragão e ao lado de seu amado.
Enquanto voavam, o castelo abaixo se tornava um ponto distante, e as cerejeiras, com suas flores delicadas, pareciam acenar uma despedida efêmera. Naquele momento, suspensos entre o céu e a terra, Laena e Daemon sentiram-se invencíveis, suas almas entrelaçadas, assim como as asas dos dragões que os sustentavam. E assim, sob o brilho suave do entardecer e a bênção silenciosa das cerejeiras, eles se entregaram ao breve voo, uma lembrança eterna da beleza e da força de seu amor.
[.....]
Daemon observava a expressão de dor extrema de sua esposa, um dia e uma noite se transformando em seu pior pesadelo. A bolsa de Laena havia estourado antes do momento certo, e Aemon estava chegando um mês adiantado. Ela não conseguia permanecer na banheira de parto no quarto de Aemon, pois a dor era insuportável e o sangue fluía em abundância, tingindo a água de um vermelho profundo.
O quarto estava impregnado com o cheiro metálico do sangue, misturado com o suor e as lágrimas. Lágrimas grossas escorriam do rosto angelical de Laena, misturando-se com as de Daemon, que caíam silenciosamente. Ele tentava confortar sua esposa, mas sem sucesso. Estava apavorado e traumatizado, os gritos de dor de Laena assombrando-o para sempre.
Do lado de fora, nos campos perto do castelo, Vhagar levantou a cabeça abruptamente, sentindo a agonia de sua cavaleira. O dragão gigante rugiu, um som que reverberou pelos corredores da ilha dos Herdeiros dos Dragões. Os criados, temerosos, mantinham distância, mas sabiam que Vhagar estava conectada com Laena de uma forma que poucos entendiam. O dragão sentia não só a dor de Laena, mas também uma premonição sombria em relação ao que estava por vir.
— Força, princesa. — Implorou Meistre Gerardys, desesperado com o que via sob as saias do vestido ultra sangrentado de Lady Laena. Seu rosto estava pálido, a tensão marcando linhas profundas em sua expressão.
— Eu… não… aguento… mais… — Sussurrou Laena a Daemon, sua voz entrecortada pela dor, enquanto sua mãe, a princesa Rhaenys, passava um pano úmido na testa da filha para aliviar a febre e o suor. O pano, encharcado, ficava quente quase instantaneamente, a febre de Laena queimando como uma fornalha.
Daemon, sentindo-se impotente, segurou a mão de Laena com firmeza, tentando transmitir-lhe força. — Você é a mulher mais forte que conheço, Laena. Por favor, resista um pouco mais. Por nós.
Laena apertou a mão de Daemon com o que restava de sua força, seus olhos violetas inundados de dor e desespero. — Eu tento... mas a dor...
Rhaenys olhou para meistre Gerardys, buscando uma solução, qualquer coisa que pudesse aliviar o sofrimento de sua filha. — Não há nada que possamos fazer?
— Estou fazendo tudo o que posso, minha princesa. — Respondeu o meistre, suas mãos trabalhando freneticamente. — Mas precisamos que a princesa Laena continue forte, ou temo pelo pior.
A tensão no quarto era palpável, a atmosfera carregada de medo e angústia. Cada gemido de Laena perfurava o coração de Daemon, e ele se amaldiçoava por sua impotência. Sabia que a batalha que sua esposa enfrentava agora era muito mais terrível do que qualquer guerra que ele já havia travado.
Do lado de fora, Vhagar rugiu novamente, seu bramido ecoando como um trovão distante. Caraxes, sentindo a inquietação de Vhagar, respondeu com um grito estridente, criando uma sinfonia aterrorizante de dragões. A conexão entre os dragões e seus cavaleiros era palpável, e a angústia de Laena ressoava através de Vhagar, atingindo até mesmo Daemon.
— Lembre-se de Vhagar e Caraxes, de nossa força juntos, de nossas filhas. — Murmurou Daemon, a voz tremendo. — Lembre-se de nossa promessa.
Laena fechou os olhos, tentando se agarrar às palavras de Daemon. Sentia-se fraca, a dor esmagando sua vontade, mas sabia que precisava lutar, por ela, pelas filhas, por Daemon, e pelo filho que estava prestes a nascer. O calor do corpo de Daemon ao seu lado era um ancoradouro em meio à tempestade de dor e medo que a envolvia.
Rhaenys continuava a cuidar de Laena, sua própria dor e preocupação visíveis em cada gesto. — Estamos aqui com você, filhinha. Você é forte. Você pode superar isso.
Os gritos de Laena ecoavam pelas paredes do castelo, um som que ninguém ali esqueceria tão cedo. Suas unhas cravavam-se no lençol, o tecido cedendo sob a pressão. A visão turvava, e cada respiração era uma luta contra a dor implacável. Mas entre o desespero e a angústia, havia uma chama de esperança, alimentada pelo amor e pela determinação de todos ao redor. E assim, com cada segundo se arrastando como uma eternidade, eles esperavam o momento em que o pesadelo finalmente terminasse e a vida prevalecesse.
Daemon sentiu o pânico crescendo dentro dele, as mãos trêmulas enquanto ele segurava Laena, o peso da responsabilidade e do amor quase esmagando-o. — Laena, por favor, fique comigo. Não me deixe.
Laena abriu os olhos, a dor intensa nublando sua visão, mas ainda assim ela encontrou a força para sorrir levemente. — Sempre... com você...
O tempo parecia suspenso, cada instante uma eternidade de dor e medo. Daemon fechou os olhos, sussurrando orações silenciosas, desejando que o sofrimento de sua esposa acabasse e que Aemon viesse ao mundo são e salvo. O som do sangue gotejando no chão, os gemidos abafados de Laena e o murmúrio incessante de Rhaenys criavam uma sinfonia de agonia que ecoaria para sempre na mente de Daemon.
O grito final de Laena ecoou pelo quarto como um lamento desesperado, e Meistre Gerardys, com uma expressão de horror, puxou o bebê. O que ele viu o deixou paralisado. Laena choramingou de alívio e felicidade por finalmente ter dado à luz, enquanto Daemon a beijava levemente os lábios pálidos causados pela dor e fraqueza. A princesa Rhaenys, percebendo a gravidade da situação, acenou para que ele fosse ver o bebê, Aemon, enquanto ela cuidava de sua filha. A febre de Laena estava perigosamente alta, e o sangue que a princesa perdia era demais.
No canto do quarto, o ovo de dragão de Aemon, na cor cobre, tremia ainda mais forte, perto da lareira à espera de seu montador. Daemon, ignorando a crescente sensação de pavor no quarto, sorriu ao se levantar, caminhando feliz até o filho. Meistre Gerardys estava de costas para ele, tremendo.
— Pelos deuses! — Falou Meistre Gerardys, horrorizado. O bebê era uma aberração, retorcido e malformado, uma parte da cabeça estava coberta de escamas de dragão na cor cobre. Seus olhos, ao invés de serem humanos, eram fendas lilases, semelhantes aos olhos de um dragão.
Daemon, sentindo a tensão no ar, parou subitamente. — O que foi? — Perguntou, a voz carregada de uma preocupação crescente.
Meistre Gerardys virou-se lentamente, a expressão em seu rosto revelando o horror que sentia. Ele segurava o bebê com as mãos trêmulas, incapaz de esconder a verdade. — O bebê... — Começou, mas as palavras pareciam falhar-lhe.
Daemon deu um passo à frente, sua expressão se endurecendo ao ver o que estava diante dele. A esperança e a alegria que sentira momentos antes evaporaram, substituídas por uma onda de descrença e choque.
Daemon sentia as lágrimas caírem do rosto, escorrendo pelas bochechas que raramente demonstravam qualquer fraqueza. Seus braços se ergueram e meistre Gerardys, hesitante, entregou-lhe o bebê. Aemon estava quente, muito quente, quase febril. As escamas de cobre cintilavam à luz das velas, e os olhos, fendas lilases, pareciam ver diretamente através da alma de Daemon.
— Não... — Murmurou, a voz rouca e cheia de dor. — Como isso é possível?
O bebê soltou um pequeno gemido, um som que parecia inumano, e Daemon sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele olhou para Meistre Gerardys, procurando respostas, mas encontrou apenas medo nos olhos do meistre.
— Deuses... — Começou Daemon, voltando-se para sua esposa, que ainda estava lutando contra a dor e a febre. A cor havia abandonado seu rosto, deixando-a pálida como um fantasma.
Rhaenys, percebendo a gravidade da situação, se aproximou de Daemon, tentando manter a calma. Sua mão firme repousou sobre o ombro dele. — Precisamos cuidar de Laena primeiro, Daemon. E depois... lidaremos com isso.
O ovo de dragão de Aemon, finalmente rachou, o que emergiu foi uma criatura sem asas, cega, mas com a mesma textura escamosa e a mesma cor de cobre. Daemon, lutando contra o pânico que ameaçava dominá-lo, sabia que precisava ser forte, tanto para Laena quanto para o filho que acabara de nascer. Mesmo que esse filho fosse uma aberração, uma mistura de dragão e humano, ele era ainda assim, seu sangue.
Com uma respiração profunda, Daemon tomou uma decisão. — Primeiro, salvaremos Laena. E depois, encontraremos uma maneira de lidar com... com Aemon.
Meistre Gerardys assentiu, ainda chocado, mas começou a tomar medidas para estabilizar Laena. A sala estava cheia de tensão, o cheiro metálico do sangue misturando-se com o odor acre de suor e medo. Enquanto o meistre trabalhava freneticamente, Daemon olhou para o bebê em suas mãos, sentindo um turbilhão de emoções. O calor que emanava da criança era quase insuportável, um lembrete constante de sua natureza híbrida.
Rhaenys continuava a limpar a testa de Laena com um pano úmido, tentando abaixar a febre que ameaçava a vida de sua filha. — Fique comigo, Laena. — Sussurrou ela, a voz cheia de dor e esperança. — Você é forte, minha querida. Precisamos de você aqui.
Laena, com os olhos entreabertos, lutava para se manter consciente. Ela sentia a vida esvaindo-se dela, cada respiração uma batalha. — Aemon... — Falou, sua voz quase inaudível. — Cuide de nosso filho, Daemon...
O príncipe se aproximou da cama, escondendo o bebê para que Laena não o visse, e se assustasse. Ele apertou a mão de Laena, sua determinação renovada. — Eu prometo, meu mar. Cuidarei de Aemon. Mas você precisa ficar conosco. Precisamos de você.
O quarto estava mergulhado em uma escuridão opressiva, o único som sendo os gritos abafados de dor de Laena e o choro estranho e agudo do recém-nascido. A cada minuto que passava, Daemon sentia o peso do destino sobre seus ombros, uma responsabilidade que ele jamais imaginara carregar.
Enquanto o tempo se arrastava dolorosamente, Daemon observou o meistre trabalhar incansavelmente para estabilizar Laena. Sentia uma mistura de desespero e esperança, sabendo que a batalha ainda estava longe de ser vencida.
Com uma última olhada para Aemon, Daemon soube que nada jamais seria o mesmo. Mas, por amor a Laena, suas filhas e a seu filho, ele estava disposto a lutar até o fim.
[.....]
Aemon Targaryen morreu na madrugada após seu nascimento, com um vapor frio saindo de seus lábios brancos, um fenômeno tão estranho quanto inquietante. No mesmo instante, seu dragão, Stary, de escamas de cobre, também sucumbiu de forma idêntica. Daemon, devastado, ajoelhou-se na praia com o filho morto nos braços, lágrimas quentes misturando-se com o vento gelado que soprava do mar.
Ele se culpava por tantas coisas — a visita inoportuna de Viserys com seus filhos, a utilização do poder da bússola por Laena, e a intensa união do sangue de dragão entre ele e sua esposa. Em Valíria, era comum que casais de sangue puro gerassem filhos dessa maneira, vítimas do incesto que permeava seus casamentos ou da magia ancestral e densa em seus genes. Daemon sentia o peso de séculos de tradição e maldições em seus ombros enquanto chorava.
Laena, ainda adormecida com febre e dor, não sabia que seu filho havia nascido daquela forma, nem que estava morto. Seu sono era um alívio cruel, uma bolha temporária de ignorância em meio ao mar de dor que a aguardava ao despertar.
A pira funerária de Aemon foi construída na praia, uma grande estrutura de madeira repleta de tochas e oferendas, implorando pela piedade do Deus Valrok. O pequeno corpo de Aemon estava coberto, protegido do olhar curioso e do julgamento, mas nada podia esconder a verdade de seus corações partidos.
Daemon, carregando as gêmeas Baela e Rhaena, que estavam meio sonolentas e chorosas, lutava para manter-se forte. As pequenas, com apenas cinco anos, não conseguiam entender completamente a perda, mas sentiam o vazio deixado pelo irmão. Jacaerys e Lucerys Velaryon, segurando as mãozinhas das gêmeas, tentavam reconfortá-las, mesmo sem palavras suficientes para explicar a dor.
As princesas Rhaenyra e Rhaenys, ao lado de Laenor Velaryon, compartilhavam o fardo da tristeza. Lorde Corlys, inconsolável, sustentava sua esposa, que chorava ao ver o bebê na pira. A unidade familiar era um consolo frágil em meio ao luto, uma tentativa de encontrar força na companhia um do outro.
Os dragões Vhagar e Caraxes, majestosos e tristes, aproximaram-se da cerimônia. Com um gesto de cabeça, Caraxes e Vhagar acenderam a pira com seu fogo, a chama refletindo nas lágrimas de todos os presentes. Moondancer, a jovem fêmea de Baela, observava com olhos tristes o corpo deformado e sem asas de seu irmão, Stary, ao lado de Aemon.
Após soltarem rajadas de fogo, Vhagar e Caraxes emitiram rosnados angustiados, um lamento dracônico que ressoou com a perda de seu filhote. Eles esperavam que tanto Aemon quanto Stary fossem purificados e retornassem ao ciclo natural, encontrando uma nova vida na reencarnação.
O vento da noite levou as cinzas para o mar, enquanto Daemon, segurando as gêmeas mais apertado, sussurrava promessas silenciosas de proteção e amor. Naquele momento, sob as estrelas silenciosas e o brilho distante dos dragões, a dor e a esperança se entrelaçaram em um luto eterno.
[.....]
O grito de perda de Laena ecoou por todo o castelo, um som tão cheio de dor que fez até as pedras antigas estremecerem. Baela e Rhaena arregalaram os olhinhos, lágrimas brotando de imediato enquanto começavam a chorar, desesperadas para ver a mãe. Laena acabara de descobrir sobre a morte de seu filho, Aemon.
A princesa Rhaenyra e o príncipe Laenor Velaryon, junto com Jace e Luke, tentaram de todas as formas acalmar as meninas. Eles as seguravam em seus braços, murmurando palavras de consolo e distração, tentando afastar o trágico peso da situação. Mas a tragédia pairava como uma sombra, impossível de ignorar.
Corlys e Rhaenys estavam ao lado da filha, seus rostos marcados pela mesma dor. Eles tentavam confortá-la, mas a perda de uma mãe é uma ferida profunda e inigualável. As palavras pareciam vazias, as mãos que apertavam os ombros de Laena não podiam fazer nada para aliviar o sofrimento que a consumia.
Daemon, seus olhos vermelhos de tanto chorar, abraçou Laena apertado, sentindo a agonia dela ressoar com a sua. Ele beijou sua testa com ternura, como se aquele gesto pudesse, de alguma forma, compartilhar e diminuir a dor. Eles choravam juntos, unidos na perda de Aemon.
Laena soluçava incontrolavelmente, seus lamentos se misturando com o som das ondas que batiam contra as rochas abaixo. A presença reconfortante de Daemon ao seu lado era seu único consolo. Eles estavam cercados pela família, mas a dor era tão pessoal, tão íntima, que parecia isolá-los em um mundo de sofrimento próprio.
[.....]
Três dias se passaram e o estado de Lady Laena piorava a cada minuto. Suas forças, exauridas pelo trabalho de parto, estavam ainda mais debilitadas pela dor esmagadora da perda de seu filho. A febre subia implacavelmente, e a perda de sangue deixava sua pele outrora radiante quase sem vida. Nem mesmo o meistre Gerardys, com toda sua sabedoria, conseguira curá-la. Lady Laena estava muito pálida, com lábios e unhas descoloridos, e olheiras profundas marcavam seus olhos apagados. A febre intensa fazia sua pele suar excessivamente, deixando-a úmida e pegajosa. Seus cabelos desgrenhados e sem brilho caíam sobre seu rosto magro e frágil, enquanto seus lábios secos e rachados revelavam a desidratação que a consumia. As gêmeas, Baela e Rhaena, foram poupadas de ver a mãe nesse estado deplorável; seria traumático demais para seus corações infantis.
Lorde Daemon estava ao lado de Laena, acariciando seus cabelos cacheados. A pele negra dela estava pálida, gotas de suor escorriam de sua testa. Seus olhos violetas, que antes brilhavam com vida e força, agora lutavam para permanecer abertos. Daemon, com uma mão trêmula, passava um pano úmido pela testa de Laena, enquanto os servos observavam a princesa tristemente, conscientes da tragédia iminente.
— Meu mar… — Daemon a chamou suavemente, a voz quebrada e os olhos lilases marejados.
Ele temia que Laena adormecesse e nunca mais acordasse, apesar de saber, no fundo do coração, que ela não sobreviveria a mais uma noite. A negação ainda prevalecia em sua mente, uma tentativa desesperada de afastar a cruel realidade.
— Hum… — Laena disse, já podendo escutar as trombetas do oceano reivindicando sua alma.
— Não me deixe! Por favor… por favor… — Implorou Daemon, sentindo a pele dela esfriar cada vez mais.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Laena. Sua hora estava chegando. Ela podia ouvir o chamado para o submundo de Valrok, uma canção fúnebre que só ela podia compreender.
— Perdão, por partir! — Ela falou fracamente. E, com um último desejo, suplicou: — Leve-me para ver Vhagar, uma última vez, por favor.
Laena queria, ao menos, despedir-se de seu dragão e agradecer pelos anos de lealdade e companhia. Daemon, com um beijo suave na testa e outro nos lábios de sua amada, obedeceu. Ele a carregou nos braços, sentindo o peso de seu corpo frágil e a eminência da perda. A cabeça de Laena repousava em seu peito, uma das mãos dela tocando suavemente seu rosto, como se quisesse memorizar o toque final.
Descendo as escadas da torre com passos rápidos e firmes, Daemon não se importava com as lágrimas dos servos que os viam passar. A senhora desta ilha era amada por todos, e cada lágrima era uma prova desse amor e respeito.
Chegando ao pátio onde Vhagar aguardava, o enorme dragão ergueu a cabeça ao ver sua montadora. Laena, com esforço monumental, levantou a mão para tocar Vhagar.
— Vhagar… — Sussurrou ela, sua voz quase inaudível. — Obrigada… por tudo.
Vhagar soltou um baixo rosnado, seus olhos se encheram de lágrimas. Ela estava perdendo novamente a pessoa que amava e ficando sozinha. Daemon colocou Laena gentilmente no chão, ao lado de Vhagar, para que ela pudesse sentir o calor do dragão pela última vez. Laena fechou os olhos, um leve sorriso de paz em seus lábios, uma expressão serena em meio à agonia.
— Leve-me para voar, uma última vez. — Ela suplicou a Daemon e Vhagar, agarrando-se à poderosa fêmea, ansiosa para sentir o vento selvagem no rosto e estar nos braços de seu amado marido uma última vez.
Daemon soluçava copiosamente, pois sabia que não teria como carregar Laena e subir em Vhagar sozinho. Ele precisava de Caraxes, já que Vhagar jamais permitiria que ele a montasse e a comandasse sem ser seu montador. Por Laena, a fêmea se agachou e se deitou o suficiente para que ele tentasse. Caraxes desceu até o pátio, seus olhos em lágrimas, sentindo as emoções de Daemon. Com suas asas vermelhas, Caraxes ajudou Daemon a subir com Laena, fazendo de suas asas um apoio.
Daemon, com um esforço monumental e lágrimas escorrendo pelo rosto, carregou Laena novamente e subiu pelas asas e pescoço de Caraxes até Vhagar. Enquanto ele conseguia se posicionar na sela, Laena estava de lado, abraçada a ele, cada respiração dela se tornando mais fraca.
— Voe, Vhagar! — Comandou Laena ao dragão, sua voz um sussurro desesperado.
Vhagar, entendendo o pedido de sua amada montadora, abriu suas enormes asas e, com um poderoso bater, ergueu-se no ar. O vento chicoteava ao redor deles, trazendo um misto de frio e liberdade. Laena, nos braços de Daemon, sentiu o mundo abaixo se afastar enquanto voavam. Seus olhos violetas se abriram brevemente para capturar a beleza do mar e das terras abaixo, uma última visão de um mundo que ela estava deixando para trás.
Daemon segurava Laena firmemente, sentindo a vida se esvair dela a cada segundo. Suas lágrimas se misturavam com o vento, e ele a beijou gentilmente na testa, sussurrando palavras de amor e despedida.
— Eu sempre te amarei, meu mar... Ficaremos juntos, minha promessa será cumprida. — Disse Daemon, a voz embargada pela dor.
— Estarei te esperando, meu fogo rebelde… Eu te amo. — Murmurou Laena, sua voz um suspiro fraco enquanto Vhagar voava. Seus olhos se fecharam lentamente, o corpo relaxando nos braços de Daemon. A pequena mão que repousava no rosto dele caiu sem vida, pousando sobre o vestido branco. Daemon sabia que ela havia partido, mas o céu parecia um lugar apropriado para sua última viagem. Vhagar rugiu, um som poderoso que ecoou pelo céu, um lamento pela perda de sua montadora.
Daemon, com o coração em pedaços, segurou o corpo de Laena com ainda mais carinho, jurando que ela nunca seria esquecida. O vento cortante e o som das asas batendo ao redor deles pareciam ecoar a dor de Daemon, enquanto ele mantinha Laena próxima, sentindo a perda em cada fibra de seu ser. O voo continuou, com Vhagar carregando não apenas os corpos, mas também as memórias e o amor eterno entre Laena e Daemon.
Quando Vhagar finalmente pousou na praia, com a ajuda de Caraxes que os acompanhou, Daemon desceu carregando Laena da mesma forma que subiu. Quando seus pés tocaram a areia, seus joelhos cederam, e o Targaryen soluçou copiosamente, suas lágrimas caindo no rosto e no corpo de Laena. Ele não conseguia mais segurar a dor esmagadora.
Ele segurava Laena firmemente, recusando-se a deixá-la ir, sentindo o peso insuportável da perda. O cheiro salgado do mar misturava-se com o aroma delicado de Laena, agora apenas uma lembrança. A areia fria sob seus joelhos e o vento gelado no rosto contrastavam cruelmente com o calor que ele desejava ainda sentir no corpo dela.
Foi assim que Rhaenys, Corlys, Laenor e Rhaenyra encontraram Daemon, ajoelhado na areia, agarrado ao corpo sem vida de Laena, suas lágrimas mescladas com a brisa salgada do mar. Eles viram o sofrimento cru em seus olhos, um homem quebrado, cuja alma havia sido levada junto com Laena. Rhaenys se aproximou lentamente, suas próprias lágrimas escorrendo, enquanto Corlys e Laenor permaneciam imóveis, lutando para compreender a magnitude da perda.
— Ela se foi… — Daemon sussurrou, a voz quebrada pelo choro.
Rhaenyra colocou uma mão gentil no ombro de Daemon, tentando oferecer um conforto impossível. A dor era palpável, um vazio que nenhum deles sabia como preencher.
A respiração de Daemon estava pesada e irregular, cada inspiração um esforço monumental contra a dor que o sufocava. Seus dedos tremiam enquanto acariciavam o rosto de Laena, sentindo a frieza que havia tomado conta de sua pele. Ele olhava para ela, tentando memorizar cada detalhe, cada linha de seu rosto, sabendo que nunca mais a veria viva novamente.
[.....]
Baela e Rhaena sentiram o toque delicado de sua mãe, em seus rostos, passando suavemente como uma brisa leve. Seus dedos eram macios, cheios de amor, um consolo que trazia paz aos corações infantis. As gêmeas suspiraram e, por um momento, tudo parecia estar bem. Laena, com um sorriso sereno, cobriu seus corpinhos enquanto cantarolava a canção de ninar favorita delas, uma melodia suave que sempre as fazia sentir seguras.
— Muña (Mamãe)! A senhora está bem? — Perguntaram as gêmeas em uníssono, abrindo os olhos sonolentos. Viram Laena sorrindo para elas, seu rosto iluminado por uma luz suave, quase etérea. Elas não sabiam que aquele momento era a alma de sua mãe se despedindo, um último gesto de amor antes de partir para sempre.
Laena não respondeu, o sorriso dela era triste e terno, suas mãos acariciavam os cabelos das filhas com uma delicadeza que só uma mãe poderia ter.
— Durmam, minhas anjinhas… Eu amo vocês. — Sussurrou Laena, a voz embargada pela emoção. — Eu sempre estarei com vocês, nos seus sonhos, nos seus corações.
Baela e Rhaena fecharam os olhos novamente, sentindo-se seguras e amadas. Não perceberam que era a última vez que sentiriam o toque de sua mãe, a última vez que ouviriam sua voz doce e carinhosa. Laena beijou cada uma na testa, suas lágrimas caindo silenciosamente, misturando-se com os cabelos das meninas.
Enquanto Laena se afastava, seu coração doía, mas ela sabia que havia deixado um pedaço de si com suas filhas. O quarto parecia mais frio sem sua presença, mas a lembrança de seu amor e carinho continuaria a aquecer os corações de Baela e Rhaena para sempre.
[.....]
Rhaenys Targaryen observava na câmara fúnebre da ilha dos Herdeiros dos Dragões, o corpo sem vida de sua filha, sua dor evidente em cada lágrima que descia pelo rosto. Nenhuma mãe deveria enterrar sua filha, pensava, enquanto seus soluços ecoavam pelas paredes frias da câmara. A rainha que nunca foi, passou um pano no rosto angelical de Laena, tentando encontrar algum consolo na tarefa de preparar sua filha para o descanso eterno.
As servas, abaladas e com os olhos vermelhos de tanto chorar, trouxeram o vestido violeta e as joias, aquelas que Laena tanto amava, para vestir sua senhora uma última vez. Cada detalhe era cuidadosamente colocado, uma homenagem silenciosa à beleza e à dignidade que Laena representava.
— Minha filha chegará em Valrok, bela e digna de uma princesa valiriana com sangue Velaryon e Targaryen. — Disse Rhaenys, limpando suas lágrimas com determinação.
Enquanto trabalhava, cada movimento parecia um rito sagrado. Os dedos de Rhaenys tremiam levemente, mas ela continuava, seu coração pesado com a perda. As joias brilhavam sob a luz das velas, refletindo a beleza de Laena mesmo na morte. O vestido violeta envolveu o corpo de Laena, um símbolo de sua nobreza e da herança que carregava.
— Você será lembrada, minha querida. — Murmurou Rhaenys, colocando um colar delicado ao redor do pescoço de Laena. — Sempre.
As servas se afastaram respeitosamente, observando enquanto Rhaenys finalizava os preparativos. O silêncio na câmara era profundo, quebrado apenas pelos suaves murmúrios de Rhaenys enquanto ela se despedia de sua filha. Cada lágrima que caía era um testemunho do amor eterno de uma mãe por sua filha, um amor que transcenderia a morte e o tempo.
Finalmente, Rhaenys se afastou, observando o trabalho concluído. Laena estava deslumbrante, um retrato da princesa que sempre foi, pronta para sua jornada final para Valrok.
— Adeus, minha filha. — Sussurrou Rhaenys, sua voz quebrada pela dor. — Que você encontre paz e felicidade além deste mundo.
Ela sabia que, apesar da perda, o amor e a memória de Laena viveriam para sempre em seu coração e nas histórias que seriam contadas sobre sua vida e sua beleza.
[.....]
Daemon abriu a bússola valiriana e encarou as ondas violentas do mar. Era madrugada, e as almas seriam guiadas naquele momento para o submundo de Valrok. A bússola iluminou o penhasco, seus ponteiros girando sem parar antes de finalmente apontarem para o mar. O vento gelado cortava seu rosto enquanto ele cantava em alto valiriano, a melodia que acalmava os dragões fluindo de seus lábios como um feitiço. Ele inclinou a cabeça, esforçando-se para captar os sons misteriosos, ouvindo notas que arrepiavam sua espinha, uma melodia fantasmagórica que parecia dançar nas brisas do mar.
— Laena! — A voz de Daemon vacilou quando viu a alma de sua esposa caminhando em direção ao mar.
As notas musicais de Daemon chegaram ao oceano, que respondeu. Sons profundos e antigos emergiram das profundezas, uma sinfonia de trombetas e cânticos nefandos dos servos do submundo, guiando as almas perdidas de forma hipnótica. Os cachos longos e brancos de Laena voavam para trás, o vestido violeta tremulava com o vento. Seus olhos violetas estavam tomados por uma hipnose sombria que a obrigava a seguir até o mar e ter a sua alma reivindicada. Nenhuma alma poderia resistir àquele chamado.
Daemon não tinha certeza se seu plano daria certo, mas precisava tentar. Com o coração martelando no peito e a mente em um turbilhão de desespero e determinação, ele se lançou do penhasco. O ar cortante assobiava em seus ouvidos, e por um breve momento, ele sentiu a vertigem da queda livre, o mundo girando ao seu redor. A sensação de peso foi substituída pelo frio abrasador do impacto.
Ao penetrar a superfície do oceano, uma explosão de sensações tomou conta de seu corpo. A água salgada era fria como gelo, suas garras líquidas envolvendo-o em um abraço implacável. O choque da temperatura roubou-lhe o fôlego, e ele sentiu a densidade esmagadora das profundezas comprimindo seu peito. Seus ouvidos foram inundados por um rugido ensurdecedor, uma cacofonia de vozes antigas e melodias submersas que pareciam ecoar da própria alma do mar.
Enquanto afundava mais fundo, o brilho etéreo da bússola valiriana iluminava seu caminho, revelando vislumbres de criaturas abissais, formas grotescas e sinuosas que se moviam nas sombras. Cada movimento na água parecia desacelerado, um balé lento e hipnótico, enquanto a pressão crescente pressionava contra seu corpo, cada fibra de seu ser em alerta máximo. Daemon lutou contra a corrente, seus músculos queimando com o esforço, mas sua determinação era inabalável.
O oceano parecia um mundo à parte, uma vastidão de escuridão pontuada por brilhos fugazes e sombras ameaçadoras. Daemon sentia a presença dos monstros, os servos do submundo, suas formas horrendas dançando à margem de sua visão, enquanto ele avançava, implacável, em direção à alma de Laena.
Os monstros faziam uma fileira, guiando a alma de Laena aos confins do mundo e ao submundo de Valrok. Daemon nadou o mais perto que conseguiu, seus músculos gritando em protesto, mas sua determinação inabalável. Ele apontou a bússola, cuja luz valiriana irradiava ao seu redor, em direção a Laena.
Na cabeça dele, uma única esperança persistia: se ele conseguisse trazer a alma dela de volta à praia, poderia colocá-la novamente no corpo e assim ela poderia voltar à vida. A luz da bússola cortava a escuridão, revelando a figura etérea de Laena, sua forma translúcida e hipnotizada seguindo o cortejo de monstros. Cada segundo era uma batalha contra o tempo e os elementos, o mar tentando arrastá-lo para longe de Laena.
— Laena! Meu mar… — Daemon chamou, submerso, enquanto bolhas saíam de sua boca. Os monstros se viraram para ele, furiosos.
Mesmo submerso, sua voz chegou até Laena, que se virou e parou, olhando-o com lágrimas nos olhos. Os monstros rugiram, chocados pelo Targaryen ter quebrado a hipnose com sua voz e amor.
— Desgraçado! Ainda não é a sua hora, maldito Targaryen. Não interrompa uma alma sendo levada, ou a garota sofrerá as consequências com o Deus Valrok. — Disse um dos monstros, que possuía cauda de peixe, mas o resto do corpo era de sombras.
Daemon sentiu o desespero apertar seu peito, mas não desistiria. Ele estendeu a mão para Laena, as lágrimas misturando-se à água salgada ao seu redor.
— Laena, volte para mim! — Implorou ele, a voz rasgando seu coração. — Não posso viver sem você. Eu imploro, lute!
A alma de Laena hesitou, o amor profundo e inquebrável entre eles brilhando em seus olhos. Ela estendeu a mão em direção a Daemon, tentando alcançar o marido.
Os monstros avançaram, tentando impedir o reencontro. Daemon segurou a bússola com força, um brilho intenso irradiando do artefato, afastando as criaturas. Ele nadou com toda a força, o coração batendo descompassado, alcançando finalmente a mão de Laena.
No momento em que suas mãos se tocaram, uma explosão de luz iluminou as profundezas escuras do oceano. Daemon sentiu um puxão, e de repente, estava de volta à superfície, segurando o corpo inerte de Laena.
Ele a trouxe para a praia, suas lágrimas caindo no rosto dela. — Por favor, volte para mim, Laena. — Sussurrou, desesperado, tentando reacender a vida na amada.
Os minutos se arrastaram dolorosamente até que, finalmente, Laena soltou um leve suspiro, seus olhos violetas se abrindo lentamente. Daemon a segurou com força, seu coração transbordando de alívio e amor.
— Eu te amo, meu mar. — Declarou ele com voz rouca, os olhos ardendo com emoção. Quando seus lábios se encontraram em um beijo apaixonado, um vento súbito soprou ao redor deles, fazendo os cachos brancos e longos de Laena se erguerem como se dançassem ao ritmo de sua paixão. O momento pareceu congelar, e por um instante, a magia do amor e da união os envolveu, tornando aquele momento eterno e mágico, como se o próprio mundo parasse para testemunhar o poder de seu amor.
Laena sorriu fracamente, as lágrimas se misturando com o suor e a água salgada que escorriam por seu rosto. Seu olhar encontrou o de Daemon, e ela viu nele a determinação e a loucura que a impulsionava. — Você é completamente louco. — Afirmou, sua voz carregada de amor e admiração, fazendo-o rir, pois ambos sabiam que não havia nada no mundo que pudesse impedir Daemon Targaryen de fazer loucuras por ela.
Mas, no fundo, Laena sabia que seu destino não mudaria. Ela segurou o rosto de Daemon com as mãos trêmulas, sentindo a textura da pele dele sob seus dedos. Seus olhos se encheram de tristeza e resignação, mas também de uma profunda conexão. — Eu sempre estarei com você, Daemon. — Sussurrou, os lábios roçando os dele em um último beijo suave e cheio de significado — Mas no seu coração e na sua alma.
Daemon sentiu um frio na espinha ao perceber um movimento atrás de Laena. Uma sombra enorme e terrível emergiu das profundezas, olhos brilhando como brasas. Era o próprio Deus Valrok, reclamando a alma de Laena.
— Não! — Gritou Daemon, tentando puxá-la para mais perto. — Por favor, não a leve!
A mão fria e sombria de Valrok envolveu Laena, seus olhos violetas enchendo-se de tristeza ao olhar para Daemon.
— Meu fogo rebelde… — Sussurrou ela, antes de ser puxada para longe, seu corpo desaparecendo nas profundezas escuras.
Daemon caiu de joelhos na areia, o coração destroçado. Suas lágrimas se misturaram com a água do mar, e ele gritou em agonia, a dor de perder Laena novamente rasgando sua alma. O Deus da Morte havia reclamado sua amada, e ele sabia que nada poderia trazê-la de volta.
— Eu sempre te amarei, meu mar… — Gritou ele, a voz quebrada pela dor, ecoando pela praia deserta. — Eu vou encontrá-la no submundo, e em todos os outros mundos, para ficarmos juntos, minha promessa será cumprida!
A promessa ecoou pelo ar, carregada de determinação e amor eterno. Daemon sabia que mesmo a morte não poderia separá-los verdadeiramente. Ele estava disposto a desafiar os próprios deuses para encontrar sua amada novamente, não importando em quantas vidas ou mundos precisasse procurar.
Uma voz profunda e ressonante ecoou das profundezas, reverberando na alma de Daemon.
— Promessas são frágeis, Daemon Targaryen. — Avisou Valrok, sua voz como um trovão distante. — Seu amor é forte, mas não pode desafiar o destino. A alma dela é minha agora. Lute como quiser, mas não mudará nada.
O vento uivou ao redor dele, carregando suas palavras para o vasto oceano. A dor da perda rasgava sua alma, e ele sabia que nunca mais seria o mesmo. Ele sabia que, mesmo que vivesse mil vidas, a dor de perder Laena nunca desapareceria.
Continua…
Nota da autora: Chorei que nem uma condenada, escrevendo esse trágico capítulo. A terceira parte que é o final, tá quase pronta. Até o próximo capítulo.
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