Capítulo 14: Black Out Days

Prisão Mágica Valiriana

🎶Esconda o Sol
Vou tirar seu rosto da minha mente
Você devia poupar seus olhos
Mil vozes uivando na minha cabeça
Longe-e-e
E fique longe-e-e
Oh, ei, ei, ei (estou ouvindo vozes o tempo todo e elas não são minhas)🎶

Black Out Days - Phantogram

POV DO NARRADOR

O enorme dragão Caraxes pousou no pátio do castelo de Porto Real, seu impacto levantando uma nuvem de poeira que fez os soldados recuarem instintivamente. O alvoroço tomou conta do local, e entre os presentes, Sir Larys Strong arregalou os olhos, surpreso com a súbita chegada da criatura. Sempre atento às intrigas da corte, o Pé-Torto percebeu de imediato que algo grave havia acontecido.

Quando a poeira começou a assentar, revelou-se a figura de Daemon Targaryen, movendo-se com urgência sobre as costas de seu dragão. Em seus braços, a princesa Baela jazia desmaiada, sua pele pálida e úmida, o corpo marcado por ferimentos.

Caraxes abaixou-se completamente, permitindo que Daemon saltasse ao chão. Com um movimento rápido e preciso, ele ajustou Baela em seu abraço e avançou na direção do castelo. Seus olhos, cheios de ira e desespero, refletiam o caos que assolava sua mente.

— Por que ainda estão parados, porra? Abram essa maldita porta! — Rugiu o príncipe, sua voz carregada de fúria.

Os guardas se apressaram, abrindo passagem para que Daemon entrasse. Atrás dele, Larys observava atentamente, absorvendo cada detalhe da cena. A notícia precisaria chegar à rainha Alicent o mais rápido possível.

Dentro do castelo, Daemon avançou pelos corredores, sua respiração irregular e o coração pesado. O medo consumia seus pensamentos. Ele já quase perdeu Rhaena recentemente, quando a magia em suas veias despertou de maneira violenta. Agora, via-se diante de um pesadelo semelhante.

Baela desobedeceu. Seguiu Aegon até os bairros mais perigosos de Porto Real, movida por um impulso que ele ainda não compreendia. O resultado foi um encontro mortal com uma criatura de aspecto serpentino, algo que não deveria existir.

O ar parecia lhe faltar. Os ataques de pânico o assombravam há anos, mas tornaram-se mais frequentes desde a perda de Laena e do filho que nunca nasceu. Seu peito subia e descia em um ritmo acelerado, enquanto suas mãos tremiam levemente.

Foi então que sentiu um toque firme sobre seu ombro. Ao virar-se, encontrou o olhar sereno de seu irmão, Viserys.

— Irmão, ela ficará bem. — A voz do rei era calma, mas carregava um peso de certeza e preocupação.

Daemon não conseguiu evitar o tremor na voz ao responder:

— Eu não vou suportar perder mais ninguém.

Viserys não hesitou. Tocou o rosto do irmão, seu olhar carregado de afeto fraterno.

— Não irá. Eu prometo.

Daemon fechou os olhos por um momento, permitindo-se um breve instante de fraqueza. Então, encostou a testa no ombro do irmão, encontrando um raro consolo em meio ao caos.

A chegada de Meistre Mellos interrompeu a cena. Ansioso, o velho mestre aproximou-se da princesa, examinando-a com olhos experientes.

— Seus ferimentos são superficiais, alguns mais profundos, mas seus ossos estão intactos. No entanto… — Ele fez uma pausa, observando a tonalidade acinzentada da pele da princesa. — Sua respiração está muito lenta, e seu corpo, gelado. Algo está errado.

Daemon contraiu a mandíbula. Ele já tinha visto isso antes. Quando Baela tinha oito anos, uma febre avassaladora a consumiu, acompanhada por uma dor insuportável. Foi o primeiro sinal de que a magia em suas veias despertava.

Remédios poderiam ajudar. Mas eles estavam em Pedra do Dragão.

A solução surgiu em sua mente como um instinto.

— Colt!

O ar ao redor pareceu vibrar quando um enorme falcão de plumagem roxa surgiu do nada, pousando sobre seu braço estendido. Mellos e Viserys olharam boquiabertos para a criatura mágica.

Daemon observou o falcão com cautela. Ele não deveria estar ali. Sem Baela consciente e em pleno controle de sua magia, Colt deveria permanecer inativo. Então, por que aparecera? E por que sua aura mágica parecia mais poderosa do que nunca?

— Traga a maleta de guerra até mim.

O falcão apenas o encarou por um instante, seus olhos brilhando com uma inteligência quase humana, antes de desaparecer em um piscar de olhos.

Em menos de um segundo, Colt retornou, segurando a maleta entre suas garras.

Viserys observou com fascínio.

— A criação de Baela é extraordinária…

No entanto, antes que pudessem agir, Colt soltou um grunhido agressivo. Seus olhos estavam fixos em algo invisível ao olhar humano. Daemon seguiu a linha de visão do falcão e, naquele instante, sentiu a presença.

Uma névoa vermelha, quase imperceptível, envolvia o corpo de Baela.

A magia de sangue.

Daemon sentiu um frio percorrer sua espinha. Aquela magia não tinha interesse nele, nem em Mellos ou Viserys. Apenas em Baela.

— Sir Mellos, isso está além do seu conhecimento. — Declarou Daemon, sua voz sombria.

O meistre assentiu, compreendendo a gravidade da situação.

O falcão voltou a grunhir, apontando com uma das asas para a névoa. Ele estava esperando por um comando.

Daemon cerrou os punhos. Estava hesitando.

— Faça alguma coisa! — Ordenou, sua voz reverberando pelo quarto.

Colt voou rapidamente até Baela, suas penas brilhando com uma intensa luz roxa. Em um único movimento, fundiu-se ao corpo da princesa, tornando-se uma armadura etérea que cobria sua pele dos pés à cabeça.

A névoa vermelha dissipou-se instantaneamente.

Mellos ficou petrificado. Viserys, atônito.

Foi nesse momento que a porta foi aberta com violência. Alicent entrou, sua expressão transtornada.

— Viserys! Aegon está gravemente ferido e desacordado. Sir Mellos, preciso que cuide dele imediatamente!

Daemon sequer olhou para a rainha. Sua atenção estava voltada para Baela, agora envolta na proteção mágica de Colt.

Mas as palavras de Alicent ecoaram pelo quarto.

Viserys hesitou por um instante antes de se voltar para Mellos.

— Vá atender meu filho — ordenou.

O silêncio que se seguiu foi cortante.

Daemon ergueu os olhos lentamente, sua expressão tornando-se fria. Sacou a Dark Sister, o aço valiriano refletindo a luz fraca do aposento.

— O meistre ainda não avaliou minha filha. Ele não sairá daqui até fazer isso.

Viserys deu um passo à frente, sua voz firme, mas não hostil.

— Daemon… eu sei o que está sentindo, mas Aegon precisa de cuidados agora. Baela está protegida.

— Protegida?! — Daemon cuspiu a palavra. — Você acha que uma armadura de magia basta?!

— Eu não deixarei meu filho morrer. — A voz de Viserys foi um decreto.

Por fim, Mellos deixou o quarto, seguindo Alicent.

Daemon permaneceu parado, sua mão apertando o cabo da espada. Ele não olhou para o irmão. Não disse nada.

No pátio, um rugido ecoou pela cidade.

Caraxes sentia a fúria e a dor de seu montador.

E Porto Real sentiu o peso do que estava por vir.

■■■

O pátio do castelo, já carregado de tensão com a presença de Caraxes, mergulhou em um frenesi quando Vermax desceu furioso dos céus. Suas asas batiam com força, levantando poeira e fazendo soldados e servos recuarem instintivamente. O príncipe Jacaerys Velaryon emergiu do dorso da criatura, envolto em uma armadura de guerra marcada pelo voo apressado. Ele saltou do dragão sem hesitação, retirando o elmo cinza com um gesto rápido e determinado antes de se encaminhar para a escadaria.

— Onde está a princesa Baela? — A pergunta de Jace soou como uma ordem, ignorando por completo o chefe da guarda, Sor Harrold Westerling, que tentava recebê-lo com formalidade. Todos ao redor, soldados e servos, se curvaram em reverência ao príncipe, mas ele não lhes deu atenção. Sor Harrold, mesmo tomado pela pressa de Jace, respondeu com seriedade:

— Lady Baela foi gravemente ferida. Já a levaram para os aposentos dela.

Jace não esperou por mais explicações. Sua corrida pelos corredores do castelo foi um rastro de passos firmes e cumprimentos apressados. As servas, ao vê-lo passar, murmuravam entre si, impressionadas com a figura imponente do jovem príncipe. Admiravam sua beleza feroz, sua presença carregada de poder, e algumas consideravam, com inveja, que a princesa Baela era uma garota de sorte.

Ao chegar aos aposentos da noiva, a porta já estava aberta. Daemon, que cuidava dos ferimentos da filha, ergueu os olhos ao perceber a chegada de Jacaerys.

— Filho! — Daemon exclamou, levantando-se de imediato para abraçá-lo. O toque paternal carregava um alívio silencioso, mas Jace mal registrou o gesto. Seu olhar ficou preso ao estado de Baela, e o horror atravessou seu rosto.

Ela estava pálida como mármore, os lábios quase brancos, o corpo marcado por cortes profundos e hematomas. Colt, o falcão, repousava exausto ao lado de sua dona, e Jace percebeu que a criatura havia crescido, sua magia mais intensa do que nunca. O coração do príncipe apertou-se com uma preocupação sufocante.

— Como soube que estávamos aqui? — Daemon perguntou, desfazendo o abraço e voltando a aplicar um unguento nos ferimentos de Baela. Os servos entravam e saíam, trazendo ervas e ingredientes que o príncipe exigirá.

— Luke viu Rhaena se machucando, e eu senti o medo de Baela quando ela foi ameaçada. Voamos o mais rápido possível. O que aconteceu com ela? — Jace respondeu, aproximando-se da cama e tomando a mão fria da noiva entre as suas.

Daemon suspirou, a mandíbula tensa.

— É uma longa história. — Murmurou, antes de começar a relatar os eventos: o acidente de Rhaena, a decisão inconsequente de Baela de seguir Aegon, e como tudo quase resultou na morte dela.

Jace ouviu em silêncio, a expressão sombria. Algo não fazia sentido. Ele sentia que um perigo ainda rondava Baela, algo além dos ferimentos físicos. Foi então que o brilho do colar de jade Valiriano em seu pescoço intensificou-se, respondendo ao medo e ao terror silencioso que emanam dela.

Daemon interrompeu seus cuidados, alarmado com a intensa luz que irradiava do colar de Jace. No mesmo instante, o colar de Baela reagiu, refletindo a mesma energia.

Jace apertou a mão da princesa com mais força. Ele sentiu a magia se entrelaçar, um vínculo que ia além do físico, puxando-o para dentro da consciência de Baela.

— O que está acontecendo, Jacaerys? — Daemon perguntou, perplexo com o espetáculo mágico diante de seus olhos.

Jace não respondeu. Seus olhos pesaram, e ele mergulhou na conexão, o mundo ao seu redor esmaecendo.

■■■

Baela estava perdida.

A caverna que a envolvia era um vazio absoluto — sem som, sem luz, sem cheiro. Seus sentidos haviam sido arrancados de si, uma punição cruel deixada pela entidade não humana que a tocara. Ainda assim, havia um eco em sua mente, um fragmento de consciência que a fez se lembrar: ela havia arrancado o braço de Crown, usando a magia do equilíbrio.

Mas a que custo?

A escuridão se fechava ao redor dela, sufocante. Cada tentativa de respirar parecia um esforço vão, e seu coração martelava contra as costelas em desespero.

Então, algo se moveu.

Um vento cortante passou por Baela, frio como um sussurro de morte. Um cheiro pútrido invadiu suas narinas, como carne em decomposição. A princesa engasgou, levando a mão ao nariz.

E foi quando percebeu: não estava sozinha.

A névoa vermelha serpenteava ao seu redor, carregada de murmúrios em Alto Valiriano Antigo. Palavras doces, venenosas, feitas para compelir à obediência. Baela conhecia esse feitiço. Estava em seu grimório.

Mas ela não era uma marionete.

A magia do equilíbrio brilhou ao seu redor, uma luz roxa que afastou a névoa e dissipou parte da influência que tentava se prender a ela. Mas a luta não acabou. O vermelho voltava, oscilante, disputando espaço dentro dela. Seus olhos — normalmente violetas, salpicados como constelações — tingiram-se de um rubro fraco.

Sethorus.

Baela sentiu a presença dele antes de ouvi-lo.

A névoa recuou e, no meio dela, surgiu uma lápide dourada, adornada com selos antigos de aprisionamento. Uma energia doentia exalava daquela tumba, e a voz que veio a seguir fez a espinha de Baela gelar.

— Olá, criança Targaryen. — O tom era frio, cruel, repleto de um poder que atravessava os séculos. — Estava ansioso para finalmente conhecê-la, Baela Targaryen. Você matou uma das minhas criações mais extraordinárias. Confesso que estou impressionado.

Baela engoliu seco.

— Quem é você? — Sua voz soou firme, mas o coração batia como um tambor de guerra.

A resposta veio na forma de uma risada. Uma gargalhada antiga, horrenda, que ressoou por toda a caverna.

— Logo você saberá.

A lápide brilhou em vermelho, uma energia escorrendo em sua direção. Baela tentou se mover, mas seu corpo não respondeu. A magia de sangue ainda a prendia, sugando sua força.

Foi então que uma luz diferente atravessou a escuridão.

Seu colar.

A ligação com Jacaerys.

O brilho jade da pedra expandiu-se, rompendo a névoa vermelha. O toque de Jace veio como um ancoradouro, puxando-a de volta. Ela sentiu seu calor, sua presença, e algo dentro dela gritou:

Jace!

A conexão se fortaleceu. A magia dos colares selou-se em torno dela, afastando a influência sombria. O horror desapareceu, e Baela caiu num sono profundo, protegida pela luz que Jace emanava.

O pesadelo havia terminado.

Por enquanto.

■■■

A chegada de Arrax em Pedra do Dragão causou um alvoroço entre os guardas. O dragão branco e dourado voava com imponência, suas asas vastas projetando sombras sobre os pátios de pedra negra. Os soldados, acostumados à visão de bestas dracônicas, ainda assim sentiram um arrepio percorrer a espinha ao verem o príncipe Lucerys Velaryon montado em sua sela.

Arrax desviou-se da torre, descendo com graciosidade feroz até o fosso dos dragões. Seu peito estufado vibrava com um rugido grave, saudando Syrax e Tyraxes, que aguardavam no interior da caverna iluminada pelo brilho das tochas. Os guardas do fosso, acostumados com a intensidade dos dragões, curvaram-se ao príncipe que desmontava.

— Bem-vindo de volta, príncipe Lucerys.

Luke saltou da sela com a destreza de quem crescera no ar. O elmo prateado dos Velaryon caiu de suas mãos quando ele o removeu, e seus cachos escuros, livres do confinamento, caíram até o queixo.

— Obrigado. — Murmurou, a voz carregada de cansaço e ansiedade.

Ele deslizou a palma pela escama áspera do pescoço de Arrax, sentindo o calor familiar da criatura que era tanto sua companheira quanto sua extensão. O dragão resfolegou, impaciente, antes de se afastar para juntar-se aos seus.

Luke não perdeu tempo. Seu coração batia forte enquanto subia os degraus de pedra negra, os passos ecoando no silêncio atento dos servos que se curvaram à sua passagem. Cada batida de seu coração era um apelo mudo, uma súplica que ele só perceberia ao cruzar as portas do salão de guerra.

Rhaenyra estava lá.

— Mamãe!

A palavra escapou de seus lábios como um sopro, mas ecoou pelo salão como um trovão.

Rhaenyra, sentada à mesa com os olhos absortos nos mapas e relatórios de guerra, virou-se num sobressalto. A taça de vidro escorregou de seus dedos e se estilhaçou ao tocar o chão. Mas ela não olhou para os cacos. Não olhou para os olhares perplexos dos lordes ao redor. Seus olhos estavam fixos nele.

— Luke...

O nome de seu filho, um sussurro embargado, mal teve tempo de se formar antes que ele corresse até ela. O elmo foi esquecido no caminho. Os braços de Rhaenyra se abriram, e Luke atirou-se neles sem hesitar.

— Meu doce menino...

Ela o apertou contra si, os dedos se embrenhando nos cabelos desalinhados, sentindo a pele quente contra a sua. O cheiro de sal, vento e cinza envolveu Rhaenyra, trazendo memórias de quando ele era pequeno demais para voar, quando ainda cabia inteiro em seus braços. Mas agora, ele era um jovem guerreiro.

Ainda assim, para ela, continuava sendo seu menino.

O alívio transbordou em lágrimas silenciosas enquanto ela fechava os olhos, agradecendo aos deuses.

Ele estava vivo.

Estava em casa.

Continua...

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