Capítulo 13: Revolution

Serpente de Sangue Carnívora

🎶A terra tem fome de sangue
Há um motim em nós
Oooh oooh
Isso é uma revolução🎶

Revolution (feat. UNSECRET) - Ruelle

POV DO NARRADOR

A luz intensa da bússola tremeu na mão de Baela Targaryen quando ela finalmente deu um passo hesitante em direção a Aegon. O ar ao redor parecia denso, carregado de uma presença sinistra que os espreitava na penumbra. A escuridão oferecia um refúgio perfeito para qualquer criatura faminta à espreita, e a jovem sabia que estavam vulneráveis.

Os únicos pontos de luz na cabana em ruínas vinham da janela quebrada e da porta entreaberta. Baela calculou a distância até Aegon—meros cinco metros. Pouco espaço para manobras. Um movimento quase imperceptível na cozinha atraiu sua atenção: algo deslizava das vigas do telhado, agachando-se entre o velho fogão a lenha e a mesa de madeira carcomida.

Um arrepio percorreu sua espinha. A criatura era alta—quase dois metros—e exalava uma aura de força esmagadora.

— Aeg, temos que ir. — Murmurou Baela, mantendo o tom baixo, consciente da proximidade da porta. Ela poderia escapar, mas Aegon, encurralado na cozinha, corria um risco maior. Os ossos espalhados pelo chão deixavam claro o que acontecia com os que ficavam para trás.

Um som estrangulado escapou dos lábios de Aegon, não mais um suspiro de choque, mas um soluço de dor e entorpecimento. O medo fervilhava dentro de Baela, e o colar de jade valiriano em seu pescoço brilhou intensamente. O brilho atraiu a atenção da criatura.

Então, a voz surgiu.

— Valirianos Targaryen… Eu posso sentir o sangue de dragões em suas veias. E o poder da Jade Valiriana. O mestre ficará satisfeito se eu os levar até ele.

O tom ressoava em Alto Valiriano Antigo, um som distorcido entre humano e besta.

A criatura avançou, saindo da sombra. Quando a luz enfim revelou sua forma, Baela conteve o fôlego. Seu corpo era coberto por escamas de cobra vermelhas como sangue seco. A cabeça achatada, sem vestígio de cabelo, ostentava olhos reptilianos e fendas estreitas como navalhas. A boca, uma abertura grotesca que se estendia até onde um dia existiram bochechas humanas, exibia dentes irregulares e manchados de sangue. Uma língua bifurcada deslizou para fora, testando o ar.

O que outrora fora humano estava agora distorcido em algo monstruoso. Garras afiadas haviam tomado o lugar de dedos, e uma cauda escamosa se movia atrás dele, serpenteando no chão sujo. No peito da criatura, gravado a ferro e magia de sangue, um "V" reluzia à luz bruxuleante.

— Perdoe minha aparência e modos, criança. — Continuou a criatura. — Faz eras que perdi minha forma humana. Há muito tempo não converso com ninguém. Digo, com os Valirianos de puro sangue, é claro. — O tom gotejava sarcasmo. — Meu mestre nos batizou, a mim e meus irmãos, como a Dārilaris Ēngos Āeksia—a Serpente de Sangue Carnívora. Mas pode me chamar de Crown. Você sabe o que isso significa, não é? Eu devoro carne humana. E vocês serão os próximos.

Um sorriso distorcido puxou os cantos grotescos da boca de Crown.

Baela ergueu o queixo.

— Não, mesmo. 

Ela sentia o peso da decisão sobre seus ombros. Com sua magia escassa, talvez suportasse dez minutos. Talvez menos. Não havia escolha.

O ar crepitava com tensão. Aegon, que estava paralisado, enfim ergueu os olhos para Crown, e o ódio neles fez o estômago de Baela se revirar.

Por todos os deuses, não faça nada estúpido, pensou.

Mas Aegon não escutava.

Com um grito furioso, ele disparou contra Crown, os punhos cerrados como se um simples soco pudesse derrotar a besta diante deles.

Crown nem piscou.

Baela agiu antes que fosse tarde. Com um impulso mental, puxou Aegon para trás, jogando-o pela janela quebrada. O vidro estilhaçou ao redor do garoto, que caiu do outro lado com uma oportunidade de fuga.

Crown farejou o ar, os olhos reptilianos fixos nela.

— Magia. Você cheira a magia. — Rosnou, lambendo os próprios lábios ensanguentados.

Baela não recuou. Seus olhos mudaram. O violeta de suas íris se aprofundou, revelando constelações e redemoinhos do universo. A magia rugiu dentro dela, fluindo por seu corpo e espalhando-se pelo chão da cabana em linhas de energia pulsantes.

— Você libertará o meu mestre, sacerdotisa do equilíbrio. Venha!

Crown avançou.

A batalha começou.

Baela desviava, sentindo a magia equilibrar o embate. A criatura era rápida, mortal, mas ela se movia com precisão. Passou sob as pernas de Crown, girou para evitar suas garras, esquivou-se de um golpe que quebrou o chão de pedra, criando uma cratera profunda.

A parede rachou quando Crown a atingiu com um soco, lançando destroços para todos os lados. Baela saltou para trás, ágil, desviando de pedaços de madeira e pedra.

— Não era você quem queria me levar viva? Parece que mudou de ideia, totó. — Provocou, com um sorriso desafiador.

O rugido de Crown sacudiu o ambiente. Ele avançou, impaciente, e Baela sentiu a fadiga se aproximar. Seus movimentos estavam ficando mais lentos. A magia no chão enfraquecia.

Por favor, papai, me salve.

O pensamento mal havia se formado quando Crown a agarrou.

As garras frias envolveram seu pescoço.

Baela foi erguida no ar, os pés perdendo contato com o chão.

— Peguei você, sua sacerdotisa miserável. — Rosnou Crown.

Suas garras apertavam o pescoço de Baela com força esmagadora, obstruindo suas vias respiratórias. A dor era insuportável. Num último esforço desesperado, seus dedos trêmulos tocaram a pele imunda da criatura, liberando o último resquício de magia que ainda conseguia canalizar antes que tudo ficasse preto. A escuridão a envolveu por completo.

Três eventos cruciais aconteceram ao mesmo tempo.

Primeiro, a magia de Baela explodiu com um brilho violeta, consumindo o braço da criatura que a estrangulava. Um grito de dor e ódio ecoou quando o membro desfeito caiu ao chão. Em vez de desabar sem vida, o corpo da princesa permaneceu suspenso no ar, uma força invisível impedindo sua queda. Então, como se fosse impulsionada por mãos etéreas, Baela foi lançada para fora da casa, aterrissando suavemente ao lado do corpo inconsciente do príncipe Aegon.

Segundo, um rugido rasgou os céus quando um enorme dragão vermelho mergulhou sobre a casa. Caraxes veio como um vendaval furioso, pegando a serpente humanóide de surpresa. No mesmo instante, Daemon Targaryen saltou da sela, aterrissando com precisão diante de Crown e desferindo um golpe feroz no peito da criatura. A lâmina de sua espada, Irmã Sombria, atravessou o V marcado em sua carne pelo próprio mestre.

A serpente carnívora rugiu num lamento inumano, sentindo o peso da fúria dos Targaryen. Estava claro: eles estavam prontos para a guerra contra Sethorus Vulcan, o feiticeiro de sangue mais poderoso do mundo, e o herdeiro legítimo de Valíria.

Daemon se afastou com destreza e, com uma única ordem murmurada ao dragão, selou o destino da besta:

— Dracarys, Caraxes.

O fogo do dragão irrompeu com fúria incontrolável. O medo tomou conta da criatura. Quando as chamas a tocaram, um som horrendo de ossos crepitando e gritos demoníacos ecoou por Porto Real. Em poucos instantes, Crown desapareceu em cinzas, assim como seu braço decepado pela magia de Baela.

O terceiro evento se deu de forma sutil, mas não menos grandiosa. A força invisível que salvará Baela não apenas impediu que seus ferimentos se agravassem, mas também lhe transferiu um sopro de magia curativa.

Do alto dos céus, Staryon, a deusa do equilíbrio, sorriu ao tocar o rosto da jovem guerreira.

— Ela é destemida.

— Irmã, precisamos partir. Se ficarmos, pai e mãe saberão que interferimos no destino humano. — Alertou a deusa do vazio. Seu olhar pairava sobre a destruição causada pelas duas forças colossais: o dragão e a serpente.

Era essencial partir antes que o Criador e o próprio Universo percebessem sua presença. Staryon quase comprometeu tudo ao tentar exterminar a criatura nascida da magia de sangue de seu marido, Bloodyan. Foi apenas graças à interferência de sua irmã que a jovem humana conseguiu liberar o feitiço que arrancou o braço do monstro e, posteriormente, fora levada para longe do perigo.

Mas Staryon hesitou.

— Eu sei... Só preciso me despedir de minha filha. Baela e Rhaena... São tão lindas. Elas se parecem comigo.

Bloodyan, o deus da magia de sangue, ficaria emocionado ao saber que as gêmeas haviam herdado sua aparência. Afinal, esse era o seu desejo.

A deusa do vazio suspirou, encarando a irmã com um misto de compaixão e pesar.

— Elas não são suas filhas, Staryon. São apenas sombras do que poderiam ter sido.

— Eu sei disso, mas prefiro fingir que são. — A voz de Staryon fraquejou. — Minhas verdadeiras filhas foram arrancadas de mim pela ganância do Caos. Nem mesmo no vazio há vestígios de suas almas. É como se nunca tivessem existido. Eu as carreguei com amor, cuidei delas, mas foram ceifadas sem piedade... Elas pagaram o preço da traição de seu pai. O único sinal de que um dia existiram está nestas duas meninas humanas. O Criador as fez como um pedido de desculpas. Como eu poderia ignorar isso? Os resquícios de minhas filhas estão nelas... Eu as amo e não permitirei que nenhum mal lhes aconteça.

Sua voz era ao mesmo tempo fervorosa e carregada de tristeza.

A deusa do vazio se abaixou e abraçou a irmã.

— Sinto muito. Mas precisamos ir. Agora.

As duas desapareceram no mesmo instante em que Daemon caiu de joelhos ao lado do corpo ensanguentado de Baela.

O vazio absorveu as divindades, deixando apenas destruição em seu rastro... e o eco de palavras cheias de dor.

— Não! Não, por favor... Baela! Dragãozinha!

O grito de desespero de Daemon rasgou a noite. Seu coração pulsava em pânico ao ver sua filha inerte nos braços.

A Guarda Real chegou instantes depois, acompanhada por carruagens. O cenário era devastador: casas destruídas, a realeza caída no chão. E diante deles, um dragão vermelho colossal rugia em fúria.

Caraxes não aceitava a aproximação de ninguém. Seu grunhido ameaçador fez os soldados hesitarem antes de finalmente colocarem o príncipe Aegon desacordado em uma maca. Quando um dos homens tentou se aproximar de Baela e Daemon, o príncipe lançou-lhe um olhar mortal.

— Meu príncipe, precisamos levá-la. Meistre Mellos precisa avaliá-la imediatamente.

Baela estava ferida, com cortes e arranhões por todo o corpo — cicatrizes das quedas e das perseguições desesperadas para fugir do monstro que assolava Westeros e Essos.

A Guarda Real sabia que falhara. Foram enganados pelos próprios príncipe e princesa e não chegaram a tempo.

Daemon se ergueu lentamente, o rosto transbordando fúria.

— Eu sei, porra. Agora saiam da frente.

Com Baela nos braços, recusou-se a entregá-la àqueles que considerava incompetentes. Seus olhos examinaram a filha com precisão. Apesar dos ferimentos, nenhum osso parecia quebrado.

Caraxes, como se compreendesse o desespero de seu cavaleiro, abaixou-se completamente. Com delicadeza, Daemon posicionou Baela sobre a sela e subiu atrás dela.

Num instante, o dragão alçou voo.

Seu rugido ecoou pela noite.

Westeros nunca mais seria a mesma.

■■■

Dois dragões colossais, Vermax e Arrax, cortavam os céus do Mar Estreito com velocidade implacável, suas silhuetas ardendo contra o horizonte enquanto transportavam Jacaerys e Lucerys Velaryon. Ao longe, a vasta frota Velaryon acompanhava a trajetória dos príncipes, seus estandartes tremulando ao vento. Nos pescoços dos jovens, os colares de Jade Valiriano reluziam, refletindo a turbulência de seus sentimentos diante do medo e do angustiante chamado por socorro de Baela e Rhaena.

O rosto de Luke estava rígido, os olhos arregalados pelo terror. Ele sentiu, como um impacto contra o próprio peito, o momento em que Rhaena foi brutalmente lançada ao chão, sua conexão com a realidade desmoronando ao atravessar o espaço-tempo em uma visão para o passado. Ele era o pilar que a ancorava nessas jornadas, e o súbito colapso dela o fez agir sem hesitação. Com um aperto na garganta, alertou seu avô, Lorde Corlys, da necessidade urgente de retornarem a Westeros. Rhaena precisava dele.

Enquanto isso, Jacaerys era consumido pelo medo e pela fúria. A dor de Baela reverbera por seu próprio ser, um desespero avassalador que o deixava à beira do colapso. Vermax rugiu, sentindo a raiva de seu cavaleiro pulsar como um tambor de guerra. Eles não chegariam tarde demais. Não poderiam.

— Eu irei para Pedra do Dragão! Rhaena está lá! — Gritou Lucerys, sua voz se dissipando na ventania cortante.

Jacaerys apertou os punhos e assentiu, os olhos sombrios de determinação. — Eu irei para Porto Real. Baela está lá, eu posso senti-la.

Sem mais hesitação, os irmãos se separaram. Arrax desviou para a esquerda, rumando para Pedra do Dragão, enquanto Vermax inclinou-se para a direita, voando em direção a Porto Real com ferocidade implacável.

"Fique bem, Baela. Por favor." O pensamento pulsava no coração de Jace enquanto Vermax acelerava, rasgando o céu como uma flecha flamejante.


Continua...

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