Capítulo 10: Tale of the gods

Cast dos Deuses

Staryon - Deusa do Equilíbrio do Universo

Bloodyan - Deus da Magia de Sangue

🎶Somos apenas uma sala cheia de estranhos
Procurando por algo para nos salvar
Sozinhos juntos, estamos morrendo de vontade de viver
E estamos vivendo para morrer
Morrendo de vontade de viver, vivendo para morrer
Somos apenas uma sala cheia de estranhos🎶

Bring Me The Horizon – Strangers

POV DO NARRADOR

Éons antes que o tempo como conhecemos começasse a existir, quando o espaço era uma vastidão silenciosa e desprovida de limites, três irmãos ancestrais pairavam como titãs na galáxia primordial: o Criador, o Universo e o Caos. Sua presença brilhava como constelações em gestação, suas formas titânicas envoltas em luz que dançava com as partículas do infinito. Era uma existência solitária, e seus corações, mesmo imensuráveis, desejavam companhia. Unidos por esse vazio comum, decidiram criar vida, um ato que viria a moldar o destino do cosmos.

Juntos, os três canalizaram suas energias inigualáveis. O Criador teceu a essência do que seria justo e harmonioso; o Universo, o fio condutor entre todas as coisas; e o Caos, a força que inspirava mudança e desordem. Na confluência dessas energias, estrelas explodiram em um espetáculo de luz, e dali nasceram os primeiros deuses menores, imbuídos com fragmentos de suas essências. Esses deuses, como filhos de suas forças primordiais, receberam a missão de construir dimensões, planetas e formas de vida que habitariam o vasto cosmos.

No alvorecer dessa nova realidade, a galáxia resplandecia em prata e violeta, um reflexo das energias do equilíbrio cósmico representado por Staryon, a deusa do equilíbrio. Como rios de luz serpenteando pelo tecido da existência, essas cores uniam os deuses, celebrando a harmonia dos primeiros tempos. Mas logo essa harmonia se tornou frágil.

Os primordiais observaram com pesar as rivalidades que surgiram entre os filhos do Criador, do Universo e do Caos. A luz e a escuridão, antes coexistindo em uma dança graciosa, começaram a se enfrentar. A paz deu lugar ao conflito, e o ódio entre os descendentes do Universo e do Caos tornou-se uma sombra constante sobre a criação.

Exaustos das incessantes guerras, os primordiais convocaram uma reunião nos majestosos anéis de Saturno, onde proclamaram uma solução inesperada: casamentos entre os filhos do Universo e do Caos, na esperança de restaurar o equilíbrio. Um desses casamentos marcantes uniu Staryon, a encarnação do equilíbrio, a Bloodyan, o deus da magia de sangue, cujo poder era temido e reverenciado por sua intensidade e imprevisibilidade.

No dia do anúncio, Staryon encontrou os olhos vermelhos de Bloodyan. Havia nele uma intensidade que outros poderiam considerar ameaçadora, mas ela apenas viu um reflexo da verdade que carregava: o Caos também fazia parte do equilíbrio. Bloodyan, por sua vez, sorriu, não apenas pela beleza inigualável da deusa, mas pela provocação involuntária que sua união causava nos filhos do Universo. Para ele, aquela era uma vitória tanto quanto era um novo começo.

Com o passar dos éons, a união entre Staryon e Bloodyan floresceu, desafiando as expectativas de todos. Juntos, formaram um vínculo raro e precioso, um exemplo de que luz e escuridão podiam coexistir sem guerra. Em seu palácio, resplandecente com a energia púrpura do equilíbrio, Staryon descansava, acariciando sua barriga onde duas vidas pulsavam, gêmeas que seriam um símbolo da união de forças opostas.

■■■

O salão de Staryon era adornado com materiais que refletiam a luz de mil galáxias, repleto de corredores que se entrelaçam como os fios do destino, levando os visitantes a visões do universo em constante criação. A deusa se movia com a graça de uma dança celestial, seus passos deixando um rastro de energia roxa que representava o equilíbrio primordial.

Yon, seu dragão de escamas roxas cintilantes, repousava ao seu lado. Suas asas, vastas como o firmamento, batem com suavidade, criando padrões nas estrelas. Seus olhos, profundamente verdes, refletiam o amor incondicional que nutria por sua criadora, pronto para defendê-la contra qualquer ameaça.

— Olá, Yon. — A voz de Staryon foi como um sussurro suave, seu olhar afetuoso caindo sobre o dragão. Ele abaixou a cabeça em reverência, respondendo com um rosnado baixo, uma mistura de carinho e vigilância.

Antes que ela pudesse continuar, um ruído distante cortou o silêncio do palácio, um som gutural que parecia trazer consigo o caos de um novo conflito. Yon se levantou imediatamente, os olhos se fixando no horizonte, onde uma presença familiar, mas perigosa, estava se aproximando. A serpente de sangue, Sanyan, se arrastava até eles, seguida pelo deus Bloodyan.

Com um sorriso irônico, Bloodyan observava o dragão e a serpente se encarando com desconfiança. O deus, sempre envolto em mistério, não se importava com as rivalidades entre suas criações, mas compreendia a tensão que pairava no ar.

— Yon, pare. — A voz de Staryon, serena, mas firme, soou como um comando. Ela estendeu a mão, como se quisesse apaziguar as energias conflituosas. Yon emitiu um grunhido, mas não atacou. No entanto, sua postura ainda era desafiadora.

— Eles nunca se darão bem, não é? — Staryon sorriu suavemente, olhando para Bloodyan, que observava a cena com um semblante pensativo.

— Não, nunca. — Bloodyan respondeu com um tom distante, cruzando os braços. — Yon é a imagem da sua pureza, e Sanyan... bem, Sanyan é a essência do caos. São opostos em tudo.

Staryon riu suavemente, tocando o ventre crescente. A visão de suas filhas, ainda por nascer, preenchia-a com uma felicidade que desafiava qualquer sombra de dúvida.

— O caos e a ordem... mas, de alguma forma, ambos coexistem. — Ela murmurou, mais para si mesma, contemplando o contraste das energias que formavam a base de sua existência.

Bloodyan aproximou-se dela, os olhos vermelhos suavizando enquanto observava sua esposa. Ele acariciou gentilmente sua barriga, seu toque quente contrastando com a suavidade fria de sua pele.

— Como estão nossas filhas? — Sua voz, antes carregada de sarcasmo, agora refletia um carinho profundo.

— Estão crescendo bem. Como sempre. — Staryon sorriu, seus olhos violetas brilhando com a luz da criação. — Elas serão fortes, como nós.

— E tão lindas quanto você. — Bloodyan disse, a sinceridade em suas palavras revelando o amor que ele sentia por ela, mesmo em meio ao seu semblante habitualmente imperturbável.

Staryon olhou para ele com um sorriso travesso, seus olhos violetas cintilando com uma sabedoria antiga.

— Como você mesmo disse, meu amor, a perfeição não é nossa para dar. — Ela tocou o rosto dele suavemente, sua risada leve ressoando como um eco nas paredes do palácio.

A conversa foi interrompida por uma pequena luz que se materializou diante deles, crescendo em uma esfera radiante. Ela girava lentamente, como se um novo mundo estivesse prestes a ser forjado.

— O que é isso? — Bloodyan perguntou, os olhos estreitos em desconfiança.

Staryon olhou com uma expressão de júbilo, apontando para a esfera com uma graça etérea.

— A criação de um novo mundo. Um novo planeta... Terra. E com ele, os humanos, a raça que será minha dádiva para o universo. — Ela falou com um brilho nos olhos, a emoção transbordando de seu ser.

Bloodyan ergueu uma sobrancelha, seus olhos se tornando mais sombrios ao entender o significado de suas palavras.

— Humanos... — Ele repetiu, seu tom carregado de desaprovação. — Você está criando uma raça inferior, uma imitação do que somos?

Staryon o encarou com firmeza, sua voz carregada de autoridade tranquila.

— Não, Bloodyan. Não uma imitação. Uma criação única. — Ela sorriu de maneira enigmática. — Eles terão a capacidade de alcançar o equilíbrio, se aprenderem com os erros do passado.

— Eles são frágeis, limitados, e você os está colocando no centro do universo? — Bloodyan balançou a cabeça, sua frustração evidente. — Você realmente acredita que algo tão... pequeno... pode compreender a vastidão de nossa existência?

— Eles têm algo que nós não possuímos, Bloodyan. Eles têm a capacidade de mudar, de crescer. E é isso que me fascina. Eles são mais do que o caos ou a ordem, mais do que o que você vê à primeira vista. — Staryon falou com calma, mas suas palavras eram carregadas de convicção. Ela virou-se para Yon, que observava a cena com uma paciência silenciosa.

— O que você planeja para eles? — Bloodyan questionou, o tom desafiador e cético.

— Eu dei a eles os ovos de dragão, uma conexão com minha essência. Yon poderá observar seus irmãos, e veremos o que os humanos farão com o que receberam. — A deusa disse, seu olhar refletindo a incerteza e a esperança que permeavam sua criação.

— Você realmente os quer, não é? — Bloodyan murmurou, quase com uma pontada de amargura.

Staryon sorriu suavemente, seus olhos brilhando com a luz das estrelas.

— Eu os quero como parte do universo. Como parte do equilíbrio que eu protejo. E, quem sabe... talvez eles me surpreendam.

— Perdoe-me, meu amor. Fiquei um pouco surpreso com essa revelação. Mas, como sinal de minha boa fé, deixe-me oferecer um presente ao planeta Terra, especialmente aos humanos. — Bloodyan disse, envolvendo Staryon em um abraço firme, seu tom grave encobrindo uma sensação de impaciência.

— Como quiser, marido. — Staryon arqueou uma sobrancelha, o olhar curioso, mas com uma pitada de desconfiança. Algo no tom de Bloodyan a inquietava.

— Darei um fragmento da magia de sangue a eles, para que possam controlar os dragões. — A declaração de Bloodyan foi dada com uma confiança cortante, mas antes que ele pudesse concluir, o caos se desatou. O dragão de Staryon, Yon, atacou com fúria instantânea, as garras afiadas se lançando contra o deus. Ele rugiu com raiva, uma explosão de fúria reagindo às palavras de Bloodyan.

Tudo aconteceu tão rapidamente que Bloodyan não teve tempo de reagir. Staryon, com um impulso rápido, empurrou o marido para longe, lançando-o ao espaço a uma velocidade esmagadora. Em um piscar de olhos, Bloodyan colidiu com um meteoro que passava, e seu corpo se desintegrou, reduzido a partículas de pó cósmico ao tocar a rocha.

Levando apenas um momento para recuperar a compostura, Bloodyan ergueu-se no vazio, ainda confuso, flutuando como se fosse uma extensão do próprio cosmos. Em um movimento repentino, ele se teletransportou diretamente para o castelo de Staryon.

Lá, Staryon mantinha o dragão sob controle, impedindo que Yon atacasse a serpente vermelha de sangue, Sanyan, que estava prestes a disparar um veneno mortal. A tensão no ar era palpável.

— Por favor, Yon, acalma-se. — A voz de Staryon foi suave, mas firme, enquanto tocava o dragão para acalmá-lo. Yon, embora relutante, cessou o ataque ao sentir o toque de sua mestre.

— Não ataque, Sanyan. — Bloodyan gritou, sua voz poderosa e cheia de autoridade, enquanto observava a serpente, que estava pronta para cuspir veneno mortal na direção do dragão. Ao ouvir seu comando, a cobra parou, imóvel.

— Eu não pretendia ofender, Yon. Desculpe. — Bloodyan falou, seus dentes rangendo. O olhar que ele lançou ao dragão era puro desdém, e Yon, com um rugido abafado, respondeu com o mesmo ódio, seus olhos ardendo.

A tensão entre os dois deuses era palpável, como se o ar ao redor deles estivesse prestes a se rasgar. A magia de sangue, uma força corrupta e destrutiva, pairava sobre eles, sua presença ameaçadora.

— Mas você fez, marido. Os dragões não são escravos, e não permitirei que minha criação seja subjugada pelos humanos, tirando-lhes o direito de decidir quem podem ou não aceitar como seus montadores. — Staryon falou, sua voz carregada de fúria. Ela estava claramente irritada, e o olhar em seus olhos deixava claro que o perdão seria difícil de conquistar. — Cuidado com o que diz, porque na próxima vez, não serei a mediadora entre vocês.

O silêncio que se seguiu foi pesado, interrompido apenas pelos ecos das energias cósmicas. O castelo parecia ressoar com a tensão entre os deuses. Os murmúrios celestiais haviam desaparecido, e tudo ao redor deles parecia distorcido, refletindo a crescente discórdia.

Os irmãos de Staryon, então, chegaram. Seus olhos estavam fixos em Bloodyan, cheios de desprezo e raiva.

— Irmã, precisamos conversar, você e eu. — Ret, o deus da arbitrariedade, falou com um tom mordaz, seu olhar gelado fixo em Bloodyan. A animosidade entre ele e sua irmã gêmea, Justice, era bem conhecida, e o rancor entre eles nunca deixava de transparecer.

— Eu vou embora, querida. Voltarei quando o incompetente do seu irmão não estiver mais aqui. — Bloodyan lançou uma provocação a Ret, seu sorriso carregado de escárnio. A reação de Ret foi imediata: ele enrijeceu, as memórias de uma derrota humilhante nos torneios dos deuses queimando em sua mente.

— Vai à merda, seu imbecil! — Ret rosnou, a raiva transbordando. Bloodyan, no entanto, apenas riu, como se se alimentasse do conflito.

— E lá vamos nós de novo... — Justice murmurou, visivelmente entediada, antes de se aproximar de sua irmã com um olhar cansado.

— Já chega, vocês dois. — Staryon interveio com autoridade, e os dois caíram em silêncio, embora o ódio ainda fosse palpável. Bloodyan beijou suavemente a testa de Staryon, enquanto seus olhos continuavam fixos em Ret, e Ret fez o mesmo, lançando um olhar desafiador de volta.

Quando Bloodyan e sua serpente se retiraram, a atmosfera dentro do castelo mudou. Os irmãos de Staryon agora se encaravam com uma seriedade implacável. Staryon sentiu, com uma precisão dolorosa, que mais problemas estavam por vir.

— A guerra é iminente, Staryon, e precisamos do seu apoio! — Insistiu Ret, sua voz cortante como lâminas de julgamento.

Staryon ergueu o olhar com esforço, seus olhos irradiando uma luz púrpura que parecia tanto infinita quanto cansada. Uma mão protetora repousava sobre sua barriga volumosa, onde o brilho dourado de duas novas vidas pulsava.

— Não haverá guerra, irmão. Os deuses primordiais adormeceram juntos e só despertarão unidos. Qualquer tentativa de desordem será inútil. — Rebateu ela, com firmeza que mal mascarava a exaustão.

Ret, o deus da arbitrariedade, recuou por um instante, mas sua determinação persistiu.

— Você sabe que isso não é verdade. Os filhos do Caos estão tramando contra nosso pai, o Criador. Se eles tomarem o poder, tudo será destruído. Justice, mostre a balança! — Ordenou ele, dirigindo-se à irmã gêmea, a deusa da justiça, que observava em silêncio.

Justice ergueu a mão, e um par de balanças translúcidas materializou-se diante deles. Os pratos estavam em descompasso, o desequilíbrio brilhando como uma ferida aberta no tecido do universo. Nesse instante, Staryon vacilou, uma dor súbita percorrendo seu corpo. Yon, seu dragão, aproximou-se imediatamente, tocando-a com a ponta de seu focinho escamoso, emitindo um baixo ronco de preocupação.

— O desequilíbrio afeta você, Staryon. Não pode ignorá-lo. — Justice falou com pesar, seus olhos tristes fixos na irmã.

Staryon respirava com dificuldade, apoiando-se em Yon enquanto seu olhar tentava encontrar alguma solução em meio ao caos que a rodeava.

— Duvido que Bloodyan tenha mencionado isso para você — Provocou Ret, com uma ponta de malícia.

As palavras pareciam um golpe físico. A deusa arqueou o corpo, segurando o ventre como se pudesse proteger as vidas que abrigava. Yon rosnou alto, um aviso claro para que seus irmãos recuassem.

— Retire o que disse, agora! — Grunhiu Staryon, entre os dentes cerrados, sua voz ressoando como trovões distantes.

— Staryon, ouça. No momento em que a guerra começar, nossa mãe se vingará de formas que ninguém pode prever. Declare seu apoio, por favor. O bem deve prevalecer contra o mal! — Insistiu Ret, tentando se aproximar.

— Ninguém é completamente bom ou mau, irmão. Todos carregamos falhas e sombras. Agora saiam, eu preciso de silêncio! — Decretou ela, sua voz, ainda que enfraquecida, carregando a força de uma ordem divina.

Os irmãos hesitaram, mas recuaram, trocando olhares de frustração e preocupação. Com sua saída, o cosmos parecia respirar novamente, embora de forma instável. Ainda assim, o universo respondia à aflição de Staryon. Explosões distantes reverberam pelo espaço como ecos de sua agonia.

A dor a dominava. Um líquido dourado escorreu de suas pernas, um testemunho físico da crise que se desenrolava. Yon se curvou mais para sustentar sua criadora, enquanto o dragão emitia sons graves de angústia.

■■■

O Castelo de Sangue Celestial, outrora o coração pulsante da serenidade divina, agora era uma ruína de seu antigo esplendor. Os vitrais, que antes contavam histórias de amor eterno e harmonia cósmica, entre Staryon e Bloodyan, estavam rachados, como se refletissem as fissuras no próprio tecido do universo. Uma sombra densa se espalhava pelos salões, carregada pelo eco distante de gritos e promessas quebradas.

No centro deste caos, a deusa da discórdia, Nêmesis, fitava o irmão com olhos frios como gelo antigo, sua presença pesada como o prelúdio de uma tempestade.

— A guerra começou, irmão. Não há mais volta. — Sua voz era um veneno doce, carregada de uma calma cruel.

Bloodyan virou-se lentamente, seus olhos vermelhos cintilando como brasas vivas. Havia algo inumano em seu olhar, uma mistura de incredulidade e fúria que queimava como um inferno contido.

— O que você disse? — Ele sibilou, a voz baixa, mas carregada com uma ameaça que reverbera pelas paredes.

— Foi ontem. Enquanto você estava preso em seu transe. — Nêmesis deu um passo à frente, indiferente ao abismo de emoções que se agitava em Bloodyan. — O caos se desencadeou no cosmos. A balança foi quebrada, e não há mais equilíbrio.

Os dedos de Bloodyan se fecharam ao redor do pescoço dela com uma velocidade que o próprio tempo não pôde acompanhar. A força que emanava dele era palpável, uma energia pulsante de sangue e magia.

— Eu avisei... — Sua voz era um rugido controlado, cada palavra um golpe invisível. — Disse que ninguém ousaria agir até que Staryon estivesse segura. Até que minhas filhas estivessem a salvo.

Nêmesis, mesmo sufocada, deixou escapar um sorriso fraco, como se saboreasse o sofrimento do irmão.

— Foi o pai. O Caos. Ele ordenou. — Disse entre ofegos. — Em seu sono profundo, ele viu a brecha. A guerra era inevitável.

Bloodyan a soltou com um empurrão violento, dando um passo para trás. Suas mãos tremiam, não de cansaço, mas da força incontrolável das emoções que o dominavam.

— Minhas filhas? Staryon? — Sua voz agora era um murmúrio, quase um sussurro, mas cada palavra estava carregada de desespero.

Nêmesis esfregou o pescoço, seus olhos ainda fixos no irmão. Pela primeira vez, havia algo próximo de compaixão em sua expressão.

— Staryon vive. Mas suas filhas... — Ela fez uma pausa, como se as palavras fossem pesadas demais até para ela. — As gêmeas foram tomadas pelo Vazio. Elas não sobreviveram.

A dor tomou forma no rosto de Bloodyan. Seus olhos, antes flamejantes de raiva, agora eram poços de sofrimento profundo. Ele caiu de joelhos, suas mãos segurando o chão como se precisasse se ancorar para não ser engolido pela vastidão de sua dor.

Os corredores ao seu redor vibraram, como se a própria magia de sangue que ele controlava estivesse reagindo à sua angústia. O ar tornou-se pesado, opressivo, como se o universo compartilhasse do luto de seu deus.

— Eles destruíram tudo... — Murmurou Bloodyan, a voz fragmentada por soluços que ele não conseguia conter. — Minha família... minha vida...

Nêmesis se aproximou, ajoelhando-se ao lado dele. Sua mão tocou o ombro do irmão, um gesto raro de ternura.

— Não há como voltar, irmão. O Criador os envenenou contra nós. Para eles, somos os monstros. E agora, destruímos um quarto dos planetas que eles construíram. É tarde demais para arrependimentos.

Bloodyan ergueu o rosto, suas lágrimas misturando-se ao brilho vermelho de sua magia. Ele sabia que as palavras dela eram verdadeiras. O ponto de retorno havia sido ultrapassado.

— Eles não permitiram nem um funeral... — Ele disse, a voz carregada de um ódio recém-desperto. — Até na morte, nos privaram de honra.

Nêmesis assentiu, levantando-se.

— Todos os deuses já tomaram seus lugares no campo de batalha. Os filhos do Criador contra os filhos do Caos. Escolha o seu lado, Bloodyan. E lute.

■■■

Do lado de fora, o universo tremia. Estrelas piscavam, apagando-se como velas ao vento. Os campos celestiais, antes repletos de luz e vida, estavam agora cobertos por uma escuridão densa, entrecortada pelo brilho das armaduras divinas.

Os filhos do Criador se reuniam em perfeita formação, suas armas reluzindo como a aurora. Do outro lado, as forças do Caos avançavam como uma maré negra, suas sombras engolindo tudo em seu caminho.

No meio do exército do Caos, Bloodyan caminhava. Sua armadura de sangue pulsava com magia viva, e sua espada, recém-forjada pela dor, emanava uma luz carmesim. Ao seu lado, sua anima celesty, uma fera colossal feita de carne e chamas, rugia em sintonia com o ódio de seu mestre.

Ele sabia que não havia redenção. Não havia paz. Apenas a guerra.

E quando os dois exércitos colidiram, o universo estremeceu.

■■■

Os planetas e seus habitantes, mesmo distantes, começaram a sofrer as consequências devastadoras dos poderes lançados sem piedade pelos deuses.

Uma enxurrada de magias colidia em explosões que abalaram os mundos ao redor. Os anima celesty, criaturas divinas de pura energia, lutavam ferozmente contra os deuses e suas manifestações de poder. Bloodyan, o deus da magia de sangue, brandia sua espada, cortando o chão ao meio e libertando uma cascata de magia carmesim. Assim que a energia tocava os deuses rivais, suas vontades eram subjugadas.

A serpente vermelha Sanyan, o anima celesty de Bloodyan, ergueu sua cabeça colossal e lançou jatos de ácido ardente. O líquido fervente derretia os deuses, transformando-os em pó dourado, o sangue divino que cintilava no ar antes de desaparecer. Aquele brilho marcava o início de uma nova dor: a jornada dos mortos para o Campo de Punição, onde seriam reconstruídos lentamente, sentindo na carne espiritual a consequência de suas ações.

No horizonte, trovões ressoavam como o grito do universo. Raios partiam céus inteiros, e os elementos naturais entravam em caos: vulcões irrompiam em explosões mortais, mares engoliam cidades inteiras, e furacões devastaram florestas em segundos.

Foi então que um rugido ensurdecedor fez o caos silenciar por um instante.

— Ela está vindo… — Murmurou um dos deuses do Caos, com o rosto pálido de terror.

Do alto, o gigantesco dragão roxo Yon descia, cortando o céu com suas asas colossais. Sobre ele, a deusa Staryon, vestida em sua reluzente armadura roxa do equilíbrio, irradiava uma aura tão intensa que fez deuses e anima celesty hesitarem. O campo de batalha congelou.

— Se ela escolher um lado, estamos perdidos… — Disse um dos deuses aliados de Bloodyan, com a voz vacilante.

Staryon desceu do dragão com a agilidade de uma caçadora. Quando seus pés tocaram o chão, o impacto quebrou a terra em uma onda de força devastadora. Sua espada do equilíbrio, longa e brilhante, apontou diretamente para Bloodyan.

— Você passou dos limites, Bloodyan. — Sua voz era fria, mas carregava uma fúria contida.

Bloodyan a encarou, sua expressão carregada de culpa e pesar.

— Eu não queria que fosse assim... nunca quis machucar você, Staryon.

— Mas machucou. E agora pagará o preço.

A serpente vermelha sibilou, erguendo-se em defesa de seu mestre. Yon rugiu e investiu contra ela, iniciando uma batalha feroz. Chamas roxas e ácido vermelho se chocavam, criando explosões que iluminavam o campo de batalha.

Enquanto isso, Staryon voou em direção a Bloodyan. O deus levantou sua espada de sangue, mas hesitou.

— Por que você hesita? — Gritou ela, girando no ar e desferindo um golpe que ele mal conseguiu bloquear. — Isso não é amor, Bloodyan! Isso é egoísmo! Você destruiu tudo por causa do seu orgulho.

— Eu fiz isso pelas nossas filhas! Eu fiz isso por nós!

O olhar de Staryon cintilou com mágoa.

— E matou nossas filhas no processo. O universo cobrou a sua dívida por meio delas.

As palavras dela atingiram o deus como uma lâmina invisível. Ele caiu de joelhos, sua espada tremendo em suas mãos.

— Eu... eu sinto muito… — Murmurou, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Sentir muito não traz equilíbrio, Bloodyan. — Ela ergueu a espada novamente, mas hesitou, sua própria dor transparecendo.

Nesse instante, Yon rugiu triunfante. Com um último ataque, o dragão cuspiu fogo roxo na serpente, que se contorceu em agonia antes de ser consumida e transformada em pó dourado. Bloodyan gritou de dor, sentindo a ligação com sua anima celesty se romper.

— Sanyan!

O deus se ergueu em um rompante de fúria. Sua aura carmesim explodiu ao redor dele, tingindo o céu de vermelho-sangue.

— Você não entende! Tudo isso foi para proteger você!

— Proteger-me?! Você destruiu o equilíbrio do universo!

Eles avançaram um contra o outro. Espadas e magias colidiam em um espetáculo de luz e destruição. Os golpes eram ferozes, mas também cheios de mágoa. Cada movimento deles não era apenas uma luta física, mas o reflexo de um amor que se tornara insuportavelmente doloroso.

Em um momento crítico, Staryon se ajoelhou no chão e lançou sua magia roxa diretamente no estômago de Bloodyan, que caiu de joelhos, ofegando.

— Faça... termine logo… — Sussurrou ele, a espada caindo de suas mãos.

Ela hesitou, mas sabia que não podia deixar o desequilíbrio continuar.

— Eu te amo, Bloodyan. Mas não posso perdoar você.

Com um último movimento, ela atravessou seu peito com a espada. O deus vomitou sangue dourado antes de desintegrar-se em pó, desaparecendo para o Campo de Punição.

Staryon caiu de joelhos, soluçando, enquanto o universo ao seu redor parecia lamentar com ela. Yon pousou ao seu lado, rugindo em agonia ao sentir a dor de sua criadora.

— Está feito… — Afirmou ela.

Mas ela sabia que o preço ainda não estava pago. Montando Yon, a deusa voou até o núcleo do universo, onde a forma adormecida de sua mãe, o Universo, aguardava.

— Mãe... eu entrego tudo. Minha espada, meu dragão, minha existência. Restaure o equilíbrio.

A voz do Universo ecoou, poderosa e serena:

— Seu sacrifício será aceito, filha. Mas saiba que o preço será alto. Você ficará no vazio até que tudo esteja equilibrado novamente.

Com um último adeus ao seu amado dragão, Staryon cravou a espada em si mesma, desaparecendo em uma chuva de pó dourado. Yon rugiu uma última vez antes de ser petrificado, sua forma imponente eternamente guardando o equilíbrio do universo.

O campo de batalha silenciou, e os deuses restantes caíram em si, contemplando o preço de sua arrogância. O universo começava a se reconstruir, mas as cicatrizes daquela guerra jamais seriam apagadas.

■■■

As eras se passaram enquanto Staryon permanecia adormecida no vazio, abraçada às suas filhas, protegendo-as da vastidão fria que a isolava do universo. Sua respiração serena era como o pulsar distante de uma estrela moribunda, impossível de detectar pelos outros deuses. Enquanto isso, o universo seguia seu curso, e os planetas evoluíam sem a interferência direta da deusa do equilíbrio.

Bloodyan, agora solitário e consumido por sua mágoa, observava a Terra com olhos cheios de amargura. Ele a via prosperar, suas criaturas crescendo, evoluindo e criando civilizações. Porém, ao invés de sentir orgulho ou fascínio, ele só via as sombras do que havia perdido. Seu coração gritava por Staryon, mas sua ausência o transformava em algo mais sombrio e implacável.

Flutuando acima do planeta azul, ele murmurava para si mesmo, com a voz embargada de dor:

— Você me deixou, Staryon. Escolheu o vazio em vez de mim. Não sei mais como amar ou como perdoar. Eu clamo por você, mas o silêncio é tudo o que recebo.

Ele apertou as mãos, e a energia carmesim começou a emanar de seu corpo, envolta em uma aura caótica que fazia a atmosfera da Terra tremer. O planeta parecia respondê-lo, como se temesse o poder do deus.

— Se você não vier por amor, então que venha por desespero. — Seu olhar ficou sombrio, e ele ergueu as mãos, invocando sua magia.

Com um movimento lento e calculado, Bloodyan começou a plantar sementes do caos. Ele enviou fragmentos de sua energia para as profundezas da Terra, onde antigos ovos de dragão, fossilizados e esquecidos, começaram a despertar. As criaturas, criadas há eras por Staryon para proteger o equilíbrio, seriam agora corrompidas por ele.

— A ganância dos mortais será minha arma. Eles encontrarão os ovos, os usarão para seus propósitos egoístas e, quando o caos reinar, você será forçada a agir. Você usará sua magia, Staryon. Mesmo que seja para me deter.

Ele sorriu, um sorriso amargo e triste, enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.

— Eu não quero lutar contra você de novo, meu amor. Mas é a única maneira de te trazer de volta. Você me deixou sozinho por tempo demais.

Enquanto isso, em uma caverna oculta na Terra, um grupo de pastores valirianos tropeçava em uma ninhada de ovos de dragões gigantescos enterrados sob camadas de rocha e pó. Os ovos pulsavam com uma energia vermelha vibrante, como se fosse um coração vivo. O mais jovem dos pastores, tocou com hesitação, e, naquele instante, a energia de Bloodyan se infiltrou em sua mente.

— Sim... humano. Toque-o. Reclame o poder que você não compreende.

A conexão foi instantânea, e o ovo começou a rachar, liberando um brilho ofuscante. Os mortais, movidos por curiosidade e ambição, começavam a se tornar peões no jogo do deus do sangue.

Mas no vazio, um brilho sutil percorreu o corpo de Staryon. Era pequeno, quase insignificante, mas pela primeira vez em éons, ela franziu levemente as sobrancelhas enquanto dormia. Algo no universo havia mudado. Algo estava errado.

Bloodyan continuava a observar, seus olhos fixos no planeta Terra abaixo.

— Eu espero por você, Staryon. Espero por sua ira. Porque só ela será capaz de curar meu coração partido.

Continua…

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