Capítulo 01: Saturn
⚠️ Aviso ⚠️
Esta obra é baseada no universo de Fogo e Sangue, de George R.R. Martin, e está ligada à série House of the Dragon, da HBO Max. A história aborda temas sensíveis, como relações familiares complicadas e insinuações de incesto, que fazem parte do mundo criado por Martin. Embora eu não concorde com esses temas, eles são retratados de forma respeitosa, sem detalhes explícitos. A obra também pode conter cenas com conteúdo explícito moderado e linguagem imprópria, para as quais serão fornecidos avisos antecipados.
O primeiro capítulo se inicia a partir do episódio 07 de House of the Dragon, onde as crianças Baela Targaryen, Rhaena Targaryen, Jace Velaryon e Luke Velaryon confrontam o príncipe Aemond Targaryen, resultando no ferimento de Aemond por Luke. A narrativa segue para o Trono de Madeira, onde as crianças enfrentam as consequências desse confronto.
Desejo uma boa leitura.
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🎶Você me ensinou a coragem das estrelas
Antes de partir
Como as luzes continuam interminavelmente
Mesmo após a morte
Eu daria qualquer coisa para ouvir
Você dizer isso mais uma vez
Que o universo foi feito
Apenas para ser visto pelos meus olhos🎶
Saturn - Sleeping At Last
POV DE BAELA TARGARYEN
Os sussurros ecoavam pelos corredores de Driftmark, uma praga silenciosa e insidiosa. As palavras sobre a "ilegítima" linhagem de meus primos, Jacaerys e Lucerys Velaryon, eram lâminas afiadas que cortavam o ar, destilando veneno nos corações dos presentes. Apenas crianças, fomos expostos a essas amargas mentiras no pior dos momentos: o funeral de nossa mãe, Laena Velaryon. Ainda assim, os adultos nos tratavam como peças insignificantes, como se nosso sofrimento fosse um detalhe irrelevante no grande jogo de poder que eles jogavam.
A raiva borbulhou dentro de mim, um fogo que não podia ser contido.
- Malditos! - Minha voz, carregada de fúria, ecoou pelo salão, cortando o murmúrio venenoso daqueles que falavam por trás de nossas costas. Alguns se encolheram, enquanto outros desviaram o olhar, envergonhados, como se tivessem sido flagrados em um pecado inconfessável.
- Baela, por favor... - A voz suave de Rhaena, minha irmã gêmea, trouxe-me de volta. Havia um apelo nela, um desejo desesperado de evitar mais conflitos. - Eles sempre farão isso. Sempre tentarão envenenar a verdade sobre nossa família, sobre Rhaenyra, sobre tudo. Não vale a pena, não agora.
Respirei fundo, mas o gosto amargo da frustração permaneceu. Sabia que ela estava certa. Nossa dor e luto nunca seriam suficientes para silenciar aqueles que alimentavam o fogo do desprezo. Suas palavras continuariam ecoando até que algo fosse feito. Mas o quê? O que poderíamos nós, jovens e frágeis, fazer contra a maré de mentiras que se avolumavam contra nós?
Olhei ao redor. Os rostos na corte eram um reflexo perfeito da hipocrisia, mascarados por uma cortina de falsa superioridade.
- Talvez... seja melhor levarmos os meninos para ver os registros dos nossos ancestrais Baratheon. - Falei, tentando encontrar um foco que nos tirasse daquele ambiente opressivo. - Eles precisam entender quem realmente são, além dessas mentiras.
Rhaena me lançou um sorriso tímido, e triste, mas havia compreensão em seus olhos. Ela carregava o mesmo fardo que eu, e isso era um consolo amargo.
Quando encontramos Jacaerys e Lucerys, a tensão nos ombros deles parecia se dissipar ao nos ver. Era doloroso perceber o quanto estavam isolados, tão jovens e já marcados por olhares de julgamento e escárnio.
- Jace, Luke... - Chamei suavemente, tentando oferecer conforto. - Gostariam de se juntar a nós na biblioteca? Talvez o silêncio das páginas nos traga um pouco de paz.
Os dois trocaram um olhar rápido, buscando apoio um no outro, antes de assentirem. Em seus rostos havia um alívio evidente, como se, por um breve momento, pudessem escapar do peso esmagador que carregavam.
Seguimos juntos pelos corredores de Driftmark, o som de nossos passos ecoando como um lembrete de que ainda tínhamos forças para seguir em frente. Quando alcançamos a grande biblioteca, os guardas abriram as portas com gestos respeitosos, embora seus olhos também estivessem tingidos de compaixão.
Dentro da biblioteca, o ar era pesado com o cheiro de pergaminhos antigos e madeira envelhecida, um santuário de silêncio e história. A luz suave das velas iluminava as prateleiras repletas de volumes que guardavam os segredos de nossa linhagem.
- O que estamos procurando? - Jace quebrou o silêncio, sua voz tensa, refletindo seu desconforto.
- As pinturas e registros. - Respondeu Rhaena, puxando um livro antigo com o brasão dos Baratheon gravado na capa de couro. - A história de uma parte da nossa linhagem. Precisamos saber de onde viemos para enfrentar o que está por vir.
O livro parecia pesar mais do que deveria, como se contivesse não apenas fatos, mas as expectativas de gerações. Quando Rhaena o abriu, os retratos dos nossos ancestrais nos encararam com olhares severos, seus rostos marcados pela força e ambição. Havia algo neles que parecia julgar nossa fraqueza, mas também um convite silencioso: aprender, resistir e prosperar.
- Olhe, Jace, esse aqui parece com você. - Apontei para um de nossos tataravós, com seus cabelos escuros e olhos castanhos. Era impossível não ver as semelhanças.
Ele olhou para a imagem, depois para mim, como se procurasse algum tipo de resposta.
- Sério? - Ele perguntou, hesitando como se não acreditasse. Dei um leve aceno confirmando.
- Luke, olha como esse tem o seu sorriso. E você, Jace... - Rhaena interrompeu, sua voz doce, mas curiosa. - Seus traços misturam o melhor dos Baratheon e dos Targaryen. É fascinante. - Ela deslizou os dedos pelas páginas desgastadas, enquanto Luke e Jace se inclinavam para observar melhor as imagens.
A biblioteca parecia maior do que nunca, os livros pesados e as prateleiras imponentes nos engolindo em sua vastidão silenciosa. Era difícil não sentir o peso da história ali, o peso de sermos quem éramos, mesmo quando só queríamos ser crianças por um momento.
Minha mente vagou para longe. Mamãe sempre dizia que os livros eram seus companheiros quando jovem. Ela amava este lugar, este castelo, que guardava tantas memórias de sua infância. Agora, parece que Driftmark perdeu sua luz. Sem ela. Sem Aemon.
Ainda me lembro de quando papai nos disse que ela não tinha resistido. Primeiro foi meu irmãozinho, e depois ela. O parto tirou os dois. Não pude conter as lágrimas quando soube que mamãe escolheu terminar seus dias como uma verdadeira cavaleira de dragão, deixando que Vhagar realizasse seu último desejo.
- Ela era tão corajosa... - Murmurei sem perceber, perdida nos pensamentos.
- Quem? - Jace perguntou suavemente, inclinando a cabeça para me observar com preocupação.
- Mamãe. - Respondi baixinho, limpando os olhos rapidamente antes que ele visse qualquer sinal de lágrimas. - E Vhagar... Eu fico pensando em como ela deve estar se sentindo agora, sozinha de novo.
- Você acha que Vhagar sente falta dela? - Luke perguntou, sua voz baixa, como se estivesse com medo de ouvir a resposta.
- Acho que sim. - Rhaena respondeu por mim, abraçando o livro contra o peito. - Dragões se conectam conosco de um jeito que ninguém mais entende.
Dois dias se passaram desde que voltamos a Driftmark. Dois dias desde que papai trouxe Rhaena e eu de volta para este lugar que costumava ser tão cheio de vida e agora parecia vazio. Daemon mal nos dirigiu a palavra desde que chegamos. Ele parecia distante, perdido em seus próprios pensamentos, enquanto nós ficávamos à deriva.
- Baela? - Jace chamou novamente, desta vez mais firme.
- Hum? - Virei para encará-lo, percebendo o olhar preocupado que ele me lançava.
- Luke e Rhaena foram buscar comida. - Ele hesitou antes de continuar. - Está tudo bem? Quero dizer, você está bem?
Havia algo na forma como ele perguntou, uma gentileza genuína que contrastava com a frieza que tínhamos recebido de papai. Desde que nos conhecemos, Jace sempre foi assim - cuidadoso e protetor.
- Você já está ajudando, Jace. - Respondi, forçando um pequeno sorriso.
Ele sorriu de volta, tímido, mas cheio de compreensão. Por um breve momento, enquanto estávamos ali, sob o peso das prateleiras e da história, a solidão pareceu um pouco mais suportável.
- Gostaria de dar um passeio na praia comigo? - Perguntei suavemente, sentindo a necessidade de um momento longe dos pensamentos pesados. A noite estava caindo lentamente, e logo nossa avó, a princesa Rhaenys Targaryen, nos chamaria para descansar.
- Sim. - A resposta de Jace foi simples, mas sua expressão demonstrava alívio.
Saímos da biblioteca, deixando para trás o ambiente pesado de memórias, e seguimos pelos corredores até alcançarmos a saída que nos levava à praia. O vento fresco e a brisa do mar nos envolviam assim que chegamos à areia fria. Sentamos juntos, de frente para o oceano, e ficamos em silêncio, apenas observando as ondas quebrando na costa.
Apesar de Driftmark ser uma ilha rochosa e acidentada, havia uma sensação de paz no som do mar, como se ele estivesse nos acolhendo com seus sussurros.
Eu olhei para Jace, que estava em silêncio. Sua expressão fechada indicava que ele estava carregando mais do que parecia. Eu sabia o quanto ele e Luke estavam sofrendo, mas ninguém parecia perceber. Enquanto Rhaena e eu recebíamos algum consolo de nossa avó, Jace e Luke ficaram à margem, como se o mundo ao redor deles continuasse em movimento enquanto eles ficavam parados no tempo.
Olhei para o céu noturno, para a lua cheia brilhando com uma intensidade suave, cercada por estrelas cintilantes. O frio da noite não me incomodava tanto quanto o peso da saudade que sentia. Então, comecei a falar, sem realmente saber se Jace estava me ouvindo.
- Minha mãe sempre dizia que a lua e as estrelas tinham uma magia especial. - Minha voz parecia suave na quietude da noite. - Quando estávamos em Pentos ou Volantis, eu sentia muita falta dos nossos avós. E ela me dizia que eu deveria falar com a lua e as estrelas, que elas ajudavam a nos conectar com aqueles que amamos.
Jace virou lentamente o rosto para mim, os olhos curiosos, e eu continuei, sentindo que precisava dividir aquilo com ele.
- Ela dizia que, mesmo longe, poderíamos sentir a presença deles, mesmo que já não estivessem aqui. Como a mamãe... o meu irmãozinho... e o Sir Strong. - Falei com a voz baixa, como se as palavras pudessem trazer de volta um pouco do conforto que eu ainda sentia pela lembrança deles.
Havia um silêncio, e Jace apertou minha mão, como se estivesse buscando algo no conforto do gesto.
- Eu sinto muito pela sua perda, Jace. - Digo suavemente, sentindo meu coração apertar ao vê-lo tão calado.
Ele olhou para mim, e por um instante, nossos olhos se encontraram. Então, com a voz quase inaudível, ele disse:
- Você acha que eles vão me ouvir?
O medo em sua voz me tocou profundamente, e, por instinto, me aproximei um pouco mais. Olhei para o céu, tentando dar-lhe a confiança que ele precisava.
- Eles vão ouvir. - Respondi com firmeza, embora minha própria dor ainda estivesse ali. - Eles sempre ouvem.
Ofereci-lhe um sorriso tímido e, sem dizer mais nada, deixei-o ter o momento dele, a sua própria conversa com o céu. Levantei-me lentamente e, enquanto me afastava, dei uma última olhada para ele. Jace estava agora completamente imerso na noite, olhando para as estrelas, talvez buscando um sinal, talvez apenas tentando encontrar algum consolo.
Enquanto caminhava de volta ao castelo em busca de Rhaena, sentia uma leveza no coração. Talvez, naquele pequeno momento, eu tenha conseguido ajudá-lo a carregar um pouco de sua dor.
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POV DE JACAERYS VELARYON
O silêncio da noite envolvia Driftmark como um manto, quebrado apenas pelo som do vento que sussurrava entre as árvores. Meu coração pesava no peito, como se carregasse uma âncora invisível.
Fechei os olhos, tentando encontrar um resquício de paz. Mas em vez disso, tudo o que senti foi o vazio deixado por ele.
- Sinto sua falta. - Minha voz era apenas um sussurro, quebrando a quietude ao meu redor. Era para ele que eu falava, para o homem que, em silêncio, sempre esteve presente quando mais precisei. - Você sempre esteve lá para nós... para mim.
Amava meu pai, Laenor Velaryon, e jamais negaria o lugar dele em minha vida. Mas ele... Ser Harwin Strong tinha sido mais do que um cavaleiro ao serviço da minha mãe. Ele era uma força constante, um protetor silencioso que nunca pediu nada em troca.
O vento soprou suavemente, e por um instante, senti algo diferente, como se o ar carregasse uma resposta. Não era apenas uma brisa; era como se o mundo ao meu redor parasse para ouvir.
- Jace! Eu também sinto a sua falta. Por favor, cuide muito bem dos seus irmãos.
As palavras chegaram a mim como um eco distante, e meu coração apertou ainda mais. Era sua voz. Não sabia se era real ou fruto do meu desejo desesperado de ouvir algo dele novamente. Mas não importava. As lágrimas brotaram antes que eu pudesse contê-las.
- Eu irei. - Prometi com a voz embargada, deixando as lágrimas correrem livremente. - Sempre.
Por um momento, senti um calor reconfortante ao meu redor, como se ele estivesse ali, me observando, me encorajando. E então, assim como o vento que veio, ele se foi.
Enquanto limpava as lágrimas, um nome surgiu em minha mente. Baela. Foi ela quem me trouxe até aqui, quem me encorajou a buscar conforto nas estrelas e no vento, a falar aquilo que guardava em meu peito. Eu devia a ela esse momento, essa chance de me despedir.
O céu noturno acima brilhava com estrelas, e eu as encarei por um longo momento, deixando o silêncio me envolver novamente. Não era o fim da dor, mas agora havia algo mais. Um propósito. A promessa de cuidar dos meus irmãos, de honrar a memória dele.
Senti um peso menor em meus ombros ao me levantar. Obrigado, Baela. Murmurei em pensamento, antes de me afastar daquele lugar, levando comigo a certeza de que nunca estaria realmente sozinho.
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A tensão no salão era insuportável. A rainha consorte Alicent Hightower, com o rosto contorcido em uma máscara de frustração, estava prestes a exigir que eu, Luke, Baela e Rhaena fôssemos severamente punidos. A raiva em seus olhos deixava claro que sua sede de vingança não fora saciada, especialmente depois de falhar em tomar o olho de meu irmão, Lucerys. Mas antes que ela pudesse pronunciar uma palavra, um grito furioso ecoou pela sala, cortando o ar como uma lâmina.
- Não! Isso é suficiente! - A voz de Baela, cheia de dor, silenciou todos os presentes.
Ela avançou como uma fúria abrasadora, afastando-se dos braços protetores de nossa avó Rhaenys. Com passos firmes, parou diante de seu pai, o príncipe rebelde Daemon Targaryen. Seu corpo tremia de emoção, os punhos cerrados, e seus olhos violetas - tão iguais aos dele - brilhavam com lágrimas de mágoa e raiva.
- Baela? - Daemon murmurou, atônito. Sua voz hesitou, como se ele não reconhecesse a filha diante dele.
- Onde você estava, papai? - A voz dela, pequena mas carregada de uma dor que parecia maior do que sua idade, cortou o silêncio como uma faca. - Onde estava quando fomos atacadas e feridas? Onde estava quando ele... - Ela apontou para Aemond com desprezo. - Zombou da morte da mamãe? Quando ele desrespeitou sua memória, na casa dela?
Daemon abriu a boca para falar, mas Baela não permitiu.
- Não, não me interrompa! - Ela deu um passo à frente, batendo em seu peito com os punhos, impotente contra a solidez do homem que era seu pai. - Você nos abandonou! Eu, Rhaena... nós perdemos nossa mãe e você nos deixou sozinhas! Como pôde, papai? Como pôde simplesmente nos esquecer? Você nem sequer olha para nós!
Rhaena soluçava baixinho, ainda agarrada à nossa avó. Mas Baela estava tomada por algo mais profundo: uma mistura de fúria e desespero. Ela se afastou um passo, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto, e sua voz se quebrou em um sussurro dilacerante.
- Eu queria que você nos amasse de novo. Só isso. Será que pedimos demais? Será que somos tão insignificantes assim para você?
Daemon ficou paralisado, como se cada palavra fosse um golpe direto ao coração. Mas Baela não terminou.
- Você quer nosso perdão? Então prove que ainda é nosso pai. Prove que se importa. Porque, nesse momento, eu não vejo mais o homem que eu amava, que nos protegia. Só vejo alguém frio, vazio... alguém que nos rejeitou.
A sala inteira estava muda. Cada pessoa parecia prender a respiração, fascinada e desconfortável diante daquela explosão de dor e verdade. Alicent, que até então parecia querer intervir, permaneceu imóvel, seu rosto empalidecendo.
Daemon finalmente cedeu. Ele se ajoelhou diante de Baela, aproximando-se dela como um homem quebrado. Seus olhos violetas, normalmente duros e cheios de arrogância, estavam tomados por lágrimas que ele não conseguiu conter.
- Baela... Rhaena... minhas filhas. - Sua voz era um sussurro rouco. - Perdoem-me. Eu fui um tolo, um covarde. Eu nunca deveria ter me afastado.
Ele abriu os braços, e Baela hesitou, olhando-o com olhos ainda cheios de dúvida e dor. Foi Rhaena quem se moveu primeiro, correndo para os braços do pai, soluçando. Isso quebrou o resto das barreiras de Baela, que finalmente cedeu, jogando-se contra ele, socando seu peito antes de agarrá-lo com força, como se temesse que ele desaparecesse novamente.
Daemon as segurou como se sua vida dependesse disso, pressionando beijos em seus cabelos, murmurando desculpas repetidas vezes.
- Eu estou aqui. Nunca mais vou deixá-las sozinhas. Nunca mais.
O rei Viserys pigarreou, trazendo todos de volta ao presente.
- Aemond pagará por sua insolência. - Sua voz era dura. Alicent, ao lado dele, abaixou o olhar, incapaz de argumentar. - Peço desculpas às minhas sobrinhas por tudo o que passaram.
Daemon ergueu-se com Baela e Rhaena ainda agarradas a ele, mas não desviou os olhos de Aemond, que o encarava com um misto de medo e desafio. O olhar de Daemon era puro aço, prometendo vingança.
Quando todos se retiraram, a sala parecia mais vazia, mas Daemon continuou ali por um momento, abraçando as filhas. Ele as beijou na testa e sussurrou:
- Eu contarei histórias para vocês esta noite. Histórias que nos lembrarão quem somos.
Rhaenys levou as meninas para seus aposentos, mas não antes de ambas beijarem a bochecha do pai, algo que parecia um sinal de que, apesar de tudo, o amor ainda não havia sido perdido.
Daemon se volta para minha mãe com um olhar carregado de culpa e remorso, os ombros caídos sob o peso do que acabara de ouvir. Ele se levanta lentamente, como se o esforço fosse mais do que físico - uma tentativa de se recompor, de retomar o que quase perdeu. A dor de sua própria falha parecia consumir cada passo que ele dava, e ele se moveu em direção ao corredor com uma expressão que, pela primeira vez, parecia vulnerável.
- Irei me retirar e ver minhas filhas. Com licença. - Sua voz, embora ainda firme, trazia uma fragilidade que não conseguia esconder.
Mas antes que pudesse sair, a porta se abriu com violência, e um dos guardas do fosso dos dragões entrou, apressado, reverenciando-se diante de nós, visivelmente alarmado.
- Meu príncipe! - Ele exclamou, a respiração pesada de pânico.
Daemon o encarou com um olhar de aço, sua expressão se endurecendo, ainda incapaz de deixar transparecer qualquer outra emoção além de frieza.
- O que aconteceu? - Sua voz era cortante, mas havia algo mais ali, um brilho de preocupação velado sob a frieza.
O guardião hesitou por um momento, antes de finalmente falar, sua voz trêmula.
- Moondancer... A dragão fêmea de Lady Baela... Ela atacou e matou um dos guardiões esta noite. Ela estava fora de controle, tentando sair do fosso a todo custo. Só conseguimos contê-la agora.
O impacto das palavras caiu sobre nós como um peso. Meu avô, Corlys, foi o primeiro a quebrar o silêncio, passando a mão pelo cabelo de Luke com um suspiro pensativo.
- Impressionante. - Ele murmurou, como se reconhecesse a ferocidade em Moondancer, e em Baela.
Daemon, por outro lado, não hesitou.
- Eu irei ver Moondancer agora. - A determinação em sua voz não era apenas a de um pai, mas a de alguém que estava satisfeito em ver a intensidade com que sua filha reagirá. Um brilho de orgulho cintilou em seus olhos.
Eu o observei em silêncio, sabendo que havia mais do que simples ação no que estava acontecendo. Moondancer não havia atacado apenas por instinto, mas porque sentia as mesmas emoções tumultuadas de Baela. O desrespeito de Aemond, a dor do ataque aos seus próprios, a tensão que permeou cada respiração... Moondancer estava respondendo ao caos que invadiu sua cavaleira, um reflexo da força e da intensidade de Baela.
- Baela! - Eu disse em um suspiro de admiração. Sua conexão com a dragão era imensa e poderosa. Moondancer sentira, e não havia como esconder isso.
Aquela força, aquela coragem que Baela demonstrava, não apenas enfrentando os perigos ao seu redor, mas sentindo tudo com uma intensidade que poucos poderiam suportar... Ela era durona. Ela era uma guerreira.
E tudo isso só me fazia gostar dela ainda mais.
Continua...
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